quinta-feira, 31 de maio de 2012

Felinas leituras





















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Mário Rui

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Bons exemplos

Há em primeiro lugar o nobre patriotismo dos patriotas: esses amam a pátria, não dedicando-lhe estrofes, mas com a serenidade grave e profunda dos corações fortes. Respeitam a tradição, mas o seu esforço vai todo para a nação viva, a que em torno deles trabalha, produz, pensa e sofre: e, deixando para trás as glórias que ganhámos nas Molucas, ocupam-se da pátria contemporânea, cujo coração bate ao mesmo tempo que o seu, procurando perceber-lhe as aspirações, dirigir-lhe as forças, torná-la mais livre, mais forte, mais culta, mais sábia, mais próspera, e por todas estas nobres qualidades elevá-la entre as nações. Nada do que pertence à pátria lhes é estranho: admiram decerto Afonso Henriques, mas não ficam para todo o sempre petrificados nessa admiração: vão por entre o povo, educando-o e melhorando-o, procurando-lhe mais trabalho e organizando-lhe mais instrução, promovendo sem descanso os dois bens supremos - ciência e justiça.

Põem a pátria acima do interesse, da ambição, da gloríola; e se têm por vezes um fanatismo estreito, a sua mesma paixão diviniza-os. Tudo o que é seu o dão à pátria: sacrificam-lhe vida, trabalho, saúde, força, o melhor de si mesmo. Dão-lhe sobretudo o que as nações necessitam mais, e o que só as faz grandes: dão-lhe a verdade. A verdade em tudo, em história, em arte, em política, nos costumes. Não a adulam, não a iludem; não lhe dizem que ela é grande porque tomou Calecute, dizem-lhe que é pequena porque não tem escolas. Gritam-lhe sem cessar a verdade rude e brutal. Gritam-lhe: - «Tu és pobre, trabalha; tu és ignorante, estuda; tu és fraca, arma-te! E quando tiveres trabalhado, estudado e armado, eu, se for necessário, saberei morrer contigo!» Eis o nobre patriotismo dos patriotas.
 
Eça de Queirós
 
P.S. -  Esta não é a ditosa pátria minha amada ... .... Não, não, Eça, o génio, enganou-se quanto ao futuro.  Esta, a das fotografias , é o resto do fim que amargamente nos reservaram como anarquia dos instintos e pela qual está abalado o fundamento dos afectos a que se chama «vida»!  Até quando sobreviveremos a isto?
 
Mário Rui


Homenagem
















O presidente dos EUA, Barack Obama, homenageia o músico Bob Dylan com a Medalha da Liberdade, maior prémio civil americano, durante cerimónia na Casa Branca, em Washington.

Mário Rui 

terça-feira, 29 de maio de 2012

Sob pressão


























Miguel Relvas foi acusado de pressionar e ameaçar uma jornalista do Público. A primeira não é grave. Neste jogo jornalismo/política cada um dos intervenientes deve ser capaz de lidar com as pressões constantes do outro lado, procurando que a respectiva visão prevaleça sobre a outra. E para que não haja dúvidas, isto acontece. Sempre!
A segunda é grave e é curioso que neste país do ‘deixa andar’ um caso destes passe aparentemente impune não só aos olhos do próprio governo que tarda em agir, como da maioria da opinião pública, apática e passiva tal e qual estamos habituados.
A ser verdade a versão de que Miguel Relvas chantageou uma jornalista, ameaçando que revelaria aspectos da sua vida privada caso esta publicasse uma notícia sobre o caso das secretas, não me parece haver outro destino para esse senhor senão o olho da rua. A promiscuidade entre a política e o jornalismo, em casos como este, é prejudicial não só para a imagem destes últimos, como da própria democracia.
É verdade que os Governos – não só o nosso – sentem a necessidade de controlar os media para assegurar que a informação que é fornecida beneficie as suas visões políticas. Mas é também verdade que a diferença entre moldar e gerir os media para gerar mensagens, interpretar e avaliar as notícias e controlar o timing de publicação e a intrusão governamental nas notícias, manipulação, intimidação e sedução dos media, é uma linha muito ténue que distingue o que é grave para a democracia de um país e aquilo que é apenas um trabalho rotineiro de assessores e ministros na sua relação com a comunicação social.
E este não é caso único. Basta lembrar os famosos afastamentos de Manuela Moura Guedes ou de Pedro Rosa Mendes, só para citar alguns. Ou o agora repescado caso de Tony Blair suspeito de ter assinado um acordo com Rupert Murdoch, o magnata e proprietário da News Corporation.
Desenganem-se aqueles que pensam que nenhuma destas situações é prejudicial para o país. É e muito. Para o país e para a democracia. E, já agora, para a imagem dos próprios políticos e jornalistas.
E a ser verdade, Pedro Passos Coelho tem aqui uma boa oportunidade para cerrar o punho e mostrar quem manda verdadeiramente. E pode aproveitar também para marcar vincadamente as diferenças relativamente ao seu antecessor.
Rui André

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Clube Desportivo de Estarreja - Um sonho, uma obra




















A propósito deste clube, maior que todas as vitórias alcançadas, poderia ficar horas a discorrer. De todo o modo seria fastidioso, para alguns, lerem o tanto que eu tinha para contar. Já são seguramente 50 anos de mútua companhia. Companhia sempre agradável, pesem embora algumas derrotas que sempre nos prostram e nos deixam tristes.

Mas a verdade é que sobre essas tristezas, amarguras às vezes,  sempre o C.D.E. soube destilar  a sua doçura. Uma doçura que ontem, como hoje, assenta essencialmente nos homens e mulheres que sempre lhe deram corpo, alma e alento. Mais jovens, menos jovens, idosos, toda uma panóplia de gente cuja única meta foi, e há-de ser, o erguer bem alto o nome de uma colectividade de provecta idade, mas sempre rejuvenescida.

São caminhadas longas que felizmente muitos bem conhecem. Fazem parte intrínseca do nosso ego.  Ontem fomos mais uma vez campeões! Alturas houve em que já o havíamos sido. Não importa o dia, importa sim que por cada vitória conseguida, todos nós nos emocionámos , todos nós vertemos uma lágrima, todos nós aplaudimos de pé os feitos obtidos. A nossa fidelidade, quer se trate do adepto, do técnico, do dirigente, do jogador, do roupeiro, e do mais que vos aprouver, como se tem visto ao longo de tantos anos, faz parte do amor intrínseco que ressalta da sua própria definição: Clube Desportivo de Estarreja.

É como uma espécie de reconhecimento, ou de idiosincracia do gosto – ou ainda mais pungente – trata-se de afinidade electiva. Que mágoa me percorre por não poder aqui citar os nomes de todos quantos, à sua maneira e com o seu contributo, sageza e coragem, nunca deixaram que esta ideia viva de se ser C.D.E. esmorecesse. Até os velhos amigos, já desaparecidos, o que remendava as redes das balizas, o que consertava as botas de travessas, a senhora que vendia tremoços e castanhas assadas à porta da sua casa, há que anos, até o vendedor de chupas-chupas, até o adepto mais incómodo, todos eles engrandeceram sabiamente a beleza de uma obra.

Acho mesmo que o mundo deste clube, repleto de belas coisas do passado e do presente, vai continuar rico de felizes instantes porque sempre há-de fazer boa cara à desventura que por aí possa vir. Que venha. Todos juntos, como sempre foi nos momentos mais difíceis, cá estaremos para, em uníssono, dizermos: « Pois muito bem! Vamos lá experimentar-te». Há pois, dentro de nós, um, ou vários imperativos categóricos.

Saudar efusivamente as morais que até aos dias de hoje mantiveram acesa a chama. Todas as morais. Aplaudi-las, prestarmos as nossas homenagens. Agradecer também aos que, ao clube, trouxeram honrarias na disputa da bola no sítio onde ela deve ser discutida. No campo que foi pelado, tanto quanto no campo que hoje é relvado. Devemos prestar provas ao C.D.E., perante nós mesmos, para demonstrarmos que fomos, somos e continuaremos a ser o fiel companheiro desta sublime entidade.

Aos campeões de outrora resta-nos o agradecimento sentido pelos feitos alcançados. Aos campeões de hoje resta-nos o humilde, mas muito fraterno acenar de parabéns que mais não é senão o nosso desejo de que sejam matéria, fragmento, abundância, barro, para uma carreira pessoal e profissional prenhe de alegrias.

Obrigado a todos!  Obrigado C.D.E.!

Mário Rui

sábado, 26 de maio de 2012

Gritarias dos que julgam que podem.




















Esta é a foto vergonhosa do que é permitido aos donos da bola: neste país a quem é permitido poder gritar a agentes da polícia sem que seja imediatamente advertido ou preso? Que cidadão pode condicionar e coagir uma força de autoridade sem que esta lhe faça saber, sem ambiguidade, que a autoridade é ela mesma e não quem berra mais alto?

Mário Rui

Felicidade




















Convinha-me lê-lo. O livro. Carlos Zorrinho, à semelhança do outro , sem diminutivo, queria também deixar a sua marca. E lá o fui lendo. Até chegar a meio e me fartar de tanta opinião dialéctica, tanta tentativa vã de nos ensinar a fazer uma gestão correcta da tal felicidade. Desde logo não consegui perceber como se faz a gestão do que quer que seja, e muito menos da felicidade, se antes do mais não tivermos acesso a ela. E não temos. Sim não é, para se gerir a coisa há que possuir a coisa! 

Depois também não consegui perceber, defeito meu pois claro, o que é isso de ‘lição de sapiência’ para explicar o tema, a sua gestão e o seu impacto na transformação do mundo.  Ou não interpreto bem ou então ‘lição de sapiência’ é aula a mais para que consiga interiorizar o dito conceito. 

Numa sociedade como a nossa, em que se morre de fome e de miséria, em que se vê a violência a toda hora, em cada esquina, francamente esperava ver no livro novas fórmulas, até as espirituais, para almejar o fim em vista. Não as vislumbrei.

"A felicidade consiste em ser o que se é", afirmava Erasmo de Roterdão no Elogio da Loucura. Conhecer e respeitar aquilo que somos, as nossas necessidades, encontrar modos para exercer o que somos, pode ser um caminho saudável para a existência. Distante de padrões estipulados socialmente, longe da hipocrisia social que exige a anulação do que se é, como forma de ser, podemos valorizar tudo o que produz vida em nós.  

De facto, também me parece que só longe de padrões – péssimos - estipulados socialmente, sobretudo pelos donos do meu país, longe da hipocrisia social que exige a anulação do que se é, como forma de ser, é que talvez se consiga uma razoável forma, mais positivista de cá estarmos.

Talvez seja triste descobrir que algumas coisas não são como pensávamos que fossem. Mais triste talvez seja perceber que o que escolhemos como caminho não é bem como imaginávamos ser. O que fazer diante de situações dessa natureza? Como produzir vida em nós?

 Em primeiro lugar, fala agora um ignorante na matéria mas seguro dos males que nos impedem de sermos felizes, haveria que desalojar das cadeiras do poder  as “lições de sapiência”  que nos querem incutir e, claro, os seus mentores. São os mesmos há demasiados anos. Leiam os jornais. Todos os dias. Reparem no que lá se diz. Diariamente todos se transformam em usurpadores da felicidade que os mais infelizes querem conquistar. A todas as horas há escândalos que nos envergonham.

Assim, como é possível alcançar o desiderato da felicidade?

No livro em causa, até o prefácio, escrito por Almeida Santos , mais não parece ser senão uma blindagem corporativa. Uma espécie de ‘grupo do elogio mútuo’. E estamos a falar de felicidade. O que será quando se fala de outras coisas?

“Gestão da Felicidade”, setenta e nova páginas para ler, custou-me quase 11 euros. Na altura comprei outro: “Os Anos Blair”, oitocentas e treze páginas, 20 euros. Não discuto conteúdos nem gostos. Perceberam agora o que é felicidade para alguns? Eu já!

Mário Rui

Atenção !!!!!

























Mário Rui

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Obras-primas







































"As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade."

Carlos Drummond de Andrade

Mário Rui

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Momentos




Difícil, difícil é atirar-mos para trás do nosso caminho as recordações que nos encheram o corpo de alegrias, de dias quentes e noites cálidas, onde só a leve brisa de um vento não dominante  nos envolvia por todo o nosso eu. Sensações únicas que nos dotaram de aromas finos capazes de distinguir o belo e meigo do rude e feio. E como eu os vivi! Aromas de cores diferentes mas sempre com paixões inibriantes e com sons alucinantes especialmente porque convocavam a uma diferente maneira de viver instantes. Curtos ou longos, não importava, eram marcos de uma realidade instintivamente subtil, adorável e que só a dois se conseguem perceber. Essas vozes que só falam no mais profundo e reflexivo dos silêncios. É por isso que eles sempre foram de ouro. Aí têm o mistério que sempre me foi dado a conhecer. E gozei-o ardentemente.  Agora tenho o meu ser acampado. Não esquecido. Só sossegado.

Mário Rui

quarta-feira, 23 de maio de 2012

O regresso do Pinóquio


"Sócrates é o pinóquio e recebeu 220 mil euros".

Mário Rui

A entrevista


















« O presidente executivo da Mota-Engil, Jorge Coelho, que também já exerceu funções governativas admitiu que "só um indivíduo que não está bom da cabeça é que vai exercer uma função pública".
Jorge Coelho, que falava na Hora H, uma iniciativa promovida pelo Jornal de Negócios, sublinhou que a vida pública traz muito desgaste.
"Há um ambiente complicado para quem exerce funções públicas" , afirmou Jorge Coelho, referindo que "o desgaste e a meditatização" não é favorável para a pessoa em causa.
No entanto, o responsável recordou que este é um problema não só de Portugal, mas é algo genérico.
"Como diria o outro... a vida está difícil, até diria para o jornalista", afirmou, sem grande detalhe recordando apenas que "todos têm o meu telemóvel que é o mesmo há 30 anos e eu sempre atendi toda a gente".»

in 'Jornal de Negócios - 22 Maio 2012


Telemóvel há 30 anos? Ora estamos em 2012, portanto em ... (estou a fazer a conta)... 1982 já o Dr. Coelho falava com toda a gente que ainda o não tinha porque simplesmente não existia. Ah, talvez tenha sido por isso mesmo que, tentando falar com toda a gente que gostava de o ter ouvido em 4 de Março de 2001, tragédia da ponte de Entre-os-Rios, não o conseguiu fazer, tão velho era já o seu telemóvel. Ora então se não consigo falar com ninguém, demito-me!!! Só agora consegui perceber essa demissão. É assim. Foi gente desta que nos governou. Só um indivíduo que não está bom da cabeça é que dá entrevistas destas. Oh, dia glorioso! Oh suprema razão dos esfomeados que o pão do incrível alimenta! O futuro é uma história fantástica. Como o eco de uma canção fatela, assim regressa a nós o nosso rei. Que emigre o nosso rei.
Mário Rui

terça-feira, 22 de maio de 2012

Feliz rua
















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Se a imagem for forte, desenvolver-se-á como uma semente. Por isso é tão importante escolhê-la. Os materiais qu utilizamos são sempre os mesmos. Mas poderemos sempre extrair deles o rosto que quisermos. É verdadade para o sumptuoso arranha-céus, como é verdade para uma pequena mas feliz rua.

Mário Rui

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Mundo virtual



















Sala onde funcionam os servidores do Facebook em Prineville, no estado do Oregon - USA.

Mário Rui

domingo, 20 de maio de 2012

Vitórias e angústias
















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No futebol, como de resto em tudo na vida, há os que vencem e os que perdem. Obviamente que aos vencedores, o sabor da vitória é como que um tónico que sempre reconforta e revitaliza intímos quantas vezes destroçados. Às vezes não pelo facto de a terem merecido, mas apenas porque ganharam. Ora, nestas condições, por sorte, ou por infortúnio do adversário, ganhar é fazer história. É verdade para as guerras estúpidas que se travam por esse planeta fora, como é verdade para as pequenas escaramuças que se jogam no tapete verde de um campo de futebol. Maldita chama da avidez que, nem sempre maléfica, peca na maior parte das vezes por ser brutal, insensível e, um dia, tendo o nosso fim sido alcançado, só com orgulho falaremos das longas caminhadas que fizemos para lá  chegar. Assim o quer a nossa soberania. Posso compreender tudo isto à luz dos desejos, dos sonhos e até das vontades de nos suplantarmos a nós próprios. Mesmo que nos sintamos infantilmente altivos com uma pequenina mas sofrida vitória. O que verdadeiramente me causa algum embaraço no que à derrota diz respeito, quando efémera e de pouca ou nenhuma valia para o avanço civilizacional dos povos, é o saber que esse amargo sabor do perder arrasta consigo mesmo dúvidas e perplexidades existenciais que, bem vista a coisa, não fazem a meu ver qualquer sentido. Corpos caídos no verde, semblantes carregados de dor, almas doridas sem norte, sonhos desfeitos com tanta mágoa. Relativizem-se as coisas. Afinal até a própria árvore tem necessidade de tempestades, de dúvidas, até de vermes roedores, até de grandes hostilidades, a fim de poder mostrar a natureza e o poder da sua consistência. Mas nunca rebenta se não for suficientemente forte. Porque razão assim não há-de ser com aqueles que perdem uma luta tão simples e muitas vezes uma luta que nem sequer merece uma profunda meditação? Contemo-nos a nós mesmos entre os vencedores. É a única maneira conhecida de dar o passo em frente. Até quando se escreve é não somente para se ser compreendido, mas também para o não ser. E se não formos compreendidos, deixamos de escrever? Não. Continuaremos a fazê-lo nem que seja apenas para nos libertarmos das nossas angústias.

Mário Rui

sábado, 19 de maio de 2012

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Rei, ama ou quiçá dama.

















Descartes afirmava que tinha a religião do seu rei ou a religião da sua ama. No fim da sua vida, radicalizou a dúvida e colocou em questão até mesmo os sentidos, duvidou da génese da percepção. Ainda assim, olhando para ele mesmo, percebeu que há coisas mais difíceis de serem postas em dúvida pelos sentidos, como o facto de ele estar onde está, vestido de determinado jeito, agindo de determinada forma. E se tais coisas não passarem de um sonho? Ou se tudo aquilo que vê – por exemplo, as próprias partes do seu corpo – não passarem de meras ilusões? Nesse momento ele já não conseguia mais distinguir o real do ilusório. Foi conterrâneo de François Hollande.

Religião, em França, felizmente ainda há. Rei, já não! Amas também já rareiam. Sobram só damas. Cuidado Hollande... ...

Mário Rui 

terça-feira, 15 de maio de 2012

De que é que se fazem as notícias?

















Lá vou eu voltar à vaca fria. Mas nem sequer quero falar de devoções, esperanças ou fé. Já o fiz noutra altura. Só quero relembrar que  no passado dia 13 de Maio estiveram reunidas em Fátima, em peregrinação e oração, cerca de 300 mil pessoas. Certamente que sabiam bem o que lá faziam.

No Brasil, imagem em cima, eram cerca de 100 mil e pelo mesmo motivo. Estou certo que também sabiam bem o que os movia.

Entre uns e outros, quase meio milhão. Realmente despiciendo. Tanto ou tão pouco que a imprensa escrita portuguesa quase votou ao desprezo o acontecimento.

O jornal Público (cada vez mais inofensivo) dá-lhe o relevo de uma insignificante página interior e, ainda por cima, com um título meio sórdido. Nem me interessa referi-lo. 

O jornal i dedica ao assunto seis folhas e com uma notícia de primeira página com o relevo merecido. Faz toda a diferença. Mas de facto foi o único!

Ai isto não é povo? Não é merecedor de relato? É povo, como alguns jornalistas dizem e escrevem com suprema intelectualidade, ignorante, boçal e pouco culto?  Esta pobre imprensa pensa sempre a curto prazo. Notícia é o homem que se atirou do lameiro, o político que faltou à reunião do partido, o sindicalista que abomina o patrão, o relâmpago que atinge o avião do presidente. Já nem o homem que morde o cão serve de caixa ao periódico nacional. Bonito!

Pois é este mesmo povo, "pobre povo que lavas no rio", que senta nos cadeirões do poder, qualquer que ele seja, o director do jornal, o político, o fazedor de leis, o catedrático, o comissário.  Nessas alturas há notícias! Tudo novas granjeadas pela tal mole humana inculta. 

Vão-se catar jornais e jornalistas com a vossa moralidade. Para que mude de opinião a vosso respeito, leia-se dos socialmente imorais e hostis, será necessário que me dêm provas. O mesmo tipo de provas que se exigem dum construtor civil: a casa tem de ser visível e habitável. Se deixarem de usar cobardemente aquilo que mais vos interessa, em proveito de quem quer que seja, ainda sou capaz de vos estimar e de me preocupar com o vosso destino. De outro modo, ficaremos longinquamente distantes.

E já agora retenham esta ideia: povo é o conteúdo de habitantes que irá formar uma Nação, e Nação por sua vez será o resultado encontrado no conteúdo formado pelo seu Povo. O culto e o inculto. Gozam do mesmo estatuto, que se chama dignidade.

Mário Rui

Ser RP

















A profissão de Relações Públicas em Portugal goza de uma infeliz e errada interpretação que prejudica e desconsidera os verdadeiros profissionais da actividade.

Ser Relações Públicas em Portugal é muito mais do que a actividade a que está ligada a personalidade das festas ou quem as organiza. Esta é, aliás, uma visão redutora e infeliz, porque a maioria dessas pessoas não conhece sequer as mais elementares práticas e conceitos do mundo das RP, como por exemplo um press-release ou um press kit.

Ser Relações Públicas é muito mais do que isso, porque, acima de tudo, a profissão tem como objectivo principal o de criar ou manter o equilíbrio entre a identidade e a imagem de uma organização através de um esforço deliberado e planeado. Por outras palavras, interessa ao profissional de RP construir uma relação e compreensão mútuas entre uma Instituição e os seus demais públicos, internos ou externos.

Um RP é, portanto e antes de mais, um especialista em comunicação que se serve dela para criar dinâmica e influenciar a opinião pública. Significa isso que um bom RP tem a intuição certa e um conjunto de ferramentas e capacidades que lhe permite estabelecer relações frutíferas entre os públicos (internos e externos), empresas, grupos, meios de comunicação e, não menos importante, os próprios jornalistas, apesar da relação de desconfiança que paira sobre os dois. Um bom RP cria, gere ou modifica os meios e os canais de comunicação necessários para esse objectivo.

Posto isto, parece-me que a actividade de Relações Públicas está francamente turva na mente de grande parte dos portugueses. E, mais grave ainda, parece-me que o valor, o reconhecimento e o impacto que a profissão pode gerar – no retorno das empresas e na mente dos actuais e potenciais clientes - são muitas vezes descurados pelos responsáveis empresariais.

É hoje difícil ultrapassar o estigma que vê o profissional de RP como o anfitrião de festas e outros eventos. E é uma pena que uma profissão com tremendo potencial e uma área tão fulcral no seio das instituições, como é a Comunicação, continue a ser relegada para um plano inferior em quase todas as grandes e pequenas áreas de negócio.

Rui André  (in http://achobem.tumblr.com/)

domingo, 13 de maio de 2012

















Há coisas que não se compreendem apenas com a razão.
As experiências de cada um, intransferíveis e totalmente pessoais, dão origem a esta energia ou sentimento, ou como se queira definir a fé. E deve-se desejar que ninguém tente abalar a fé que a cada um conforta. Ainda que dela se discorde.

Mário Rui

sábado, 12 de maio de 2012

País da vergonha.




















Ó Pedro. Sinceramente!...
Há de facto homens que, quando se aproxima o grande sofrimento, ouvem a ordem contrária e nunca têm ar mais altivo , mais belicoso, até parece que mais feliz, do que quando chega a borrasca. Então isto diz-se? Será que é a própria tempestade que te dá os teus mais altos momentos?





















Há horas em que coro por causa deste rubor. Há horas que me envergonham da minha portugalidade. A reflexão (ou meditação?) brasileira perdeu toda a sua dignidade. A vida não é propriamente um argumento. Se fosse preferia à frente desta empresa o Godinho do ferro velho...

Mário Rui

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Rádio Voz da Ria - 25 anos por Estarreja





















Vinte de Junho de mil novecentos e oitenta e sete. Tarde soalheira de Verão e alguns frágeis pingos de chuva à mistura, como que querendo marcar, em dois tempos distintos, o anúncio da aparição de uma nova realidade para Estarreja. O palco escolhido, bem lá no alto como convinha, era o amplo salão do 2.º andar do então quartel-sede dos Bombeiros V. de Estarreja. As pessoas iam subindo, as mesas estavam dispostas, havia que tomar assento, e assim se iniciava a sessão que haveria de marcar a fundação da Rádio Voz da Ria, a Emissora Concelhia de Estarreja. Era afinal da Assembleia dos Sócios fundadores da nova Rádio que iríamos tratar. E tratámos, a contento de todos e de um só. O Concelho de Estarreja.

Chegar até aqui, implicou na altura o compromisso, diria solene e veementemente interessado, de uns tantos que, através das então Rádio Horizonte de Estarreja, Rádio Moliceiro de Pardilhó e Rádio Independente de Salreu, decidiram por bem fundir-se, juntar teres e saberes e finalmente dar à luz do dia um verdadeiro abanão no panorama socio-cultural de Estarreja. 

Mas esta junção empenhada não bastava. Havia que tocar a rebate e constituir a primeira Direcção da Cooperativa entretanto legalmente constítuída. A esta competiria elaborar todo um intrincado processo de candidatura a um alvará de frequência de radiodifusão. Era o Estado a exigir regras para o exercicio da nossa actividade. Colocado este novo desafio, nem por isso nos calámos. A Voz da Ria continuava no ar.

Da eleição dos novos orgãos sociais a quem incumbia esta dura tarefa, resultou uma cadeira de Presidente para o  José Eduardo Matos. O Departamento de Informação ficar-lhe-ia confiado. Uma outra para Vice-Presidente e para nela ter assento o Mário Rui Oliveira. Departamento de Programas seria a sua área. O João Santos sentar-se-ia noutro rijo lugar, o do Departamento Comercial. O Departamento Financeiro, um banco também rijo, mais que comprido, seria entregue ao Albino Ferreira. Ao José Luis Moreira dos Santos, a quem ternamente chamávamos de sindicalista, assentava-lhe bem o cadeirão dos Recursos Humanos. Vinha a seguir o Secretariado. Mais um assento e desta vez para dar ao Severiano de Oliveira. O Departamento Desportivo, qual lugar que rolava quanto uma bola, era entregue ao António Teixeira da Silva. Finalmente, mas não menos importante, o Eduardo Silva reclamava uma cadeira e uma bancada. Dois móveis que lhe faziam falta. Foi-lhe doado o Departamento Técnico.

Se bem me recordo, nesse mesmo dia, começámos a desenhar o extenso processo de candidatura. Noites e noites à volta com os papéis onde a cada letra ficavam expressos, entre outros requisitos:  a memória descritiva do pedido, indicando em mapa à escala de 1:25 000, a área municipal de cobertura, a demonstração da viabilidade económica e financeira, a descrição detalhada da actividade a desenvolver , com relevo no horário de emissão e mapa de programação, o projecto técnico das instalações  (equipamentos, antena, estúdios, etc). O prazo de apresentação de candidaturas expirava em 3 de Janeiro de 1989.

Para a prossecução de todos estes objectivos é justo e importante trazer à estampa os nomes do advogado Casimiro da Silva Tavares que amavalmente cedia as instalações da então Casa do Povo de Estarreja, de resto local que servia de sede à Rádio, e do economista Armando Vigário, que tanto ajudou na elaboração da viabilidade económica e financeira. Duas figuras que , cada uma à sua maneira e tendo em conta outra experiência de vida, fruto das suas idades, nunca nos largaram de mão e sempre disseram: ‘estamos cá para ajudar.’

Enquanto trabalhávamos, meses a fio, no projecto, a rádio mantinha a sua emissão regular. Verdade que de modo ainda não completamente legal mas assim era permitido fazer. Paralelamente ao acompanhamento necessário à manutenção da emissão, viamo-nos confrontados no dia-a-dia com outras questões.

O saudoso João Evangelista, motor primeiro da Rádio no concelho de Estarreja, honra lhe seja, quem não se lembra dele a emitir na banda do cidadão, no interior do seu carro, alegrava os sábados à noite. Era pura festa e às vezes, não por mal, assustava uns tantos ouvintes com passatempos que só da sua imaginação podiam sair.  Havia que pôr alguma água na fervura. Lá o íamos fazendo.

O Geraldo Macedo, brasileiro de nascença, que ia colaborando com a Direcção no tratamento de algumas questões administrativas, de quando em vez lembrava-se de efectuar uns sorteios de relógios. Vendia as senhas para o efeito e para ajudar a rádio, mas nem os ditos nem o produto de tal venda  apareciam. Ríamo-nos no nosso bom tom de cordialidade mas sempre atalhando aqui e acolá no sentido de precaver situações do tipo. 

Mas quer os mencionados, quer mesmo nós, os da Direcção, também errávamos. Um belo dia o Fernando Vilar e eu próprio agendámos uma entrevista com o então Governador Civil de Aveiro, Gilberto Madaíl. A presença do técnico era necessária e então lá fomos acompanhados do Eduardo Silva.  Equipamentos prontos, fios por todos os lados no gabinete do Governador e, ao sinal do Eduardo, lá começámos a conversa. Volvida cerca de meia-hora, estendia-se o seu braço : «párem, párem, da entrevista nada ficou gravado...». Vergonha estampada nas nossas caras, tudo foi por água abaixo.  Afinal, talvez vicissitudes do nosso saudável e tenaz amadorismo  que nos haveria de levar ao ajustado modo de fazer rádio.

Histórias a contar poderíam ser muitas mais. Dificuldades a sobreporem-se redobradamente também as houve. Tudo ultrapassámos, tudo vencemos. Depois calaram-nos. Período de nojo para as rádios locais que se haviam candidatado ao alvará e respectivo licenciamento de emissão.

Então, a 23 de Dezembro de mil novecentos e oitenta e oito, a Direcção emitia um comunicado:

“ A Rádio Voz da Ria cumpre hoje o seu último dia de emissão ilegal, encerrando, como todas as outras, logo às 24 horas. Fundada há quase dois anos , a Voz da Ria termina assim o primeiro ciclo da sua vida.

Para trás ficam emissões diárias e um trabalho constante de divulgação dos nossos valores , de defesa dos nossos interesses e de acompanhamento dos pequenos-grandes problemas diários das nossas colectividades, freguesias, do nosso concelho e da nossa região ribeirinha.

Procurámos ser a voz de todos e de cada um. Entretanto, na intenção de cumprir o objectivo de sermos a emissora concelhia de Estarreja  já há muito iniciámos o processo de concurso à única frequência prevista para Estarreja. Nascida com o intuito de dotar o nosso Concelho de uma rádio capaz e de qualidade , a Cooperativa Rádio Voz da Ria viu o seu fundamental projecto ser finalmente reconhecido pelas rádios até aqui concorrentes. Assim, a Rádio Voz da Banda, de Salreu, foi já integrada na estrutura da Voz da Ria.

Também foi recentemente iniciada a integração da Rádio Cultural de Salreu  nesta Cooperativa de Radiodifusão. A Direcção da Voz da Ria, nesta última emissão, quer agradecer aos ouvintes , anunciantes, entidades, e colectividades todo o esforço feito e apoio dado.  A todos, mas a todos, o nosso muito obrigado. Partimos com a alegria de termos cumprido a primeira parte da nossa missão. E partimos com a tristeza de quem perde algo , mas com a esperança convicta de renascermos dentro de poucos meses.  Até sempre! até breve!”

Volvidos alguns meses, voltámos. Foi-nos atribuído o alvará.  Pagámo-lo, fizemos obras , renascemos. Os nossos propósitos, o nosso querer, estavam certos. O Concelho de Estarreja ficou mais rico, mais sábio. Com a devida modéstia, limitámo-nos a ser ambiciosos, na companhia de todos quantos nos ajudaram, e a obra produzida não foi mais que um vidro de aumento que se estendeu a quem o quis olhar. Assim foi e ainda hoje assim é.

Mas é justamente por tudo isso que convirá repetir que o grande agradecimento vai para todos os que acompanharam os primeiros passos da Rádio Voz da Ria. A carga foi penosa, às vezes incerta a sua esperança. Ainda assim, nenhum ideal nos pode agradar no seio deste hoje já que, os que se nos seguiram, também tiveram e têm que inventar consolações para serem filhos do futuro. Boa sorte para eles. Bem hajam todos.

Viva a Rádio Voz da Ria.

Mário Rui

Ócios
















Ora, ora. O ócio em conjunto com o tempo, reduzem tudo a nada!

Mário Rui

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Ano primeiro - Rádio Voz da Ria, Emissora Concelhia de Estarreja






(Clicar nas imagens para aumentar)

Mário Rui

As censuras portuguesas





Há curiosidades que são isso mesmo. Tendências para averiguar ou ver. Em Portugal, há poucas infelizmente. A somar a esta da burla das barragens, há também a das SCUTS e muitas, muitas outras. Mas o que é realmente lamentável é que em alguns canais televisivos nacionais – públicos e privados – trazer à luz do dia estas reportagens continua a ser coisa impensável.  Nas privadas (algumas) não passam porque seria inimaginável ultrapassar certos interesses promíscuos com os chamados inoxidáveis do poder.  Nos públicos, a coisa seria ainda mais melindrosa. Os mesmos inoxidáveis, mas agora do regime, não permitiriam que tal visão dos tristes acontecimentos que têm lugar no país, fossem mostrados ou sequer aflorados, não fosse o povo percebê-los. Eles só autorizam tudo o que não os incomode. Afinal, o objectivo da antiga censura consistia em tornar o adversário inofensivo. A nova censura, a de agora, esvazia subtilmente a expressão para a tornar também inofensiva. A única diferença é que o faz através de um método mais radical e menos visível. Nem por isso menos digno que o da “velha senhora”.

Mário Rui

quarta-feira, 9 de maio de 2012

Obscenidades

















Qualquer coisa vai mal no reino de Angola. Os colonizadores lutaram por um estilo de vida que pudesse trazer algum bem-estar às populações locais. É certo que nem sempre o fizeram do melhor modo. De resto, a luta armada dos movimentos de libertação angolanos acabou por correr com quase todos eles. Atitude ainda hoje discutível, mas alguns angolanos e uns tantos 'portugueses bem pensantes', assim o determinaram.

Na tentativa de defender interesses portugueses lá instalados, Salazar enviou tropas. Esforço sem visão, já que de facto aquele território não era nosso. Em sua defesa, vã, morreram milhares de soldados portugueses. Abnegados e honestos soldados que, enquadrados na conjuntura de então, no mais das vezes nem tinham ideia do que defendiam. Partiram deste mundo, tão simples e tão ingloriamente. Políticas. De ontem e de hoje.

Em todo o caso, quer-me parecer que as canseiras de alguns destinaram-se tão-só a satisfazer os luxos de outros. Atentem bem nestas imagens e digam-me lá se foi para isto que o povo angolano também se sacrificou. Simplesmente obsceno! A ideia de liberdade moral é do domínio do primitivo no que toca à nomenclatura deste país.

Mário Rui



Um fim amargo





















Lembro-me bem: era uma noite quente de Verão quando nos beijámos na praia. Sentia-me confiante, seguro e talvez por isso não tenha perdido tempo. Não hesitei. Acabei por partilhar contigo as minhas paixões e motivações e tu as tuas. Atraía-me o teu cheiro, a forma como te vestias e como parecias tão genuína naquilo que dizias e fazias.

As SMS no final da noite já a caminho de casa, as mensagens no vidro embaciado do carro, as surpresas a meia da noite, tudo fazia parte da forma como eu encarava a nossa relação. O problema é que eu a encarava não como ela era na realidade, mas como eu desejava que ela fosse.

A pouco e pouco a verdade dos teus actos e das tuas palavras deixou de fazer sentido, mesmo que eu não quisesse nunca acreditar nisso. Custava-me acreditar nisso. E um dia, sem que eu quisesse acreditar também, despediste-te de mim e abandonaste os sonhos e as pontes que tínhamos construído para atravessarmos os dois os pontos longínquos que davam para o nosso futuro.

Disseste-me fria e cruelmente que não dava mais e deixaste de estar ali presente. Por isso pensei baixinho “vai à merda!”, querendo convencer-me de que isso me fizesse deter a raiva que passava a sentir por ti.

Eu sentia-me bem na pele de protector e sentia que tinha de cuidar de ti, das tuas fragilidades e inseguranças. Talvez por isso tivesse doído mais. Mas agora estou bem! E apesar de já cá não estares ainda continuas presente - tão presente. E quando tento tocar-te ou alcançar um pedaço que seja de ti, dou por mim a arrastar inutilmente o braço e o corpo, mas sempre sem te conseguir chegar.

Demasiado tarde percebi que tentações já não havia. Deixara de haver. Tudo deixara de haver. E como continuo sem te conseguir tocar, penso invariavelmente “vai à merda!”. Afinal a única tentação eras tu. E talvez ainda sejas!

Rui André  (in http://achobem.tumblr.com/)

V.P.V. e os cronistas


















“Primeiro, aprender a escrever. Convém. Com tudo o que isso implica. Segundo, saber algum assunto muito bem, uma disciplina muito bem, ou economia, ou história ou outra coisa qualquer. Ter uma formação básica boa. E depois, em princípio, nunca falhar, porque uma coluna é um hábito. As pessoas lêem o jornal, estão habituadas, é mais uma questão de hábito. “Deixa-me ver o que é que este diz hoje?” Se as pessoas falham ou são irregulares ou salta-pocinham muito… Por exemplo, eu começo sempre a ler a ‘Spectator’ pelo Taki [Theodoracopulos, comentador político]. Ele nunca falha. Só falhou há 30 anos quando foi preso, mas depois continuou a escrever.”

“E dizer o que se pensa. Se não disser o que se pensa, não é interessante. As pessoas vão à procura de uma diferença. Não se trata de fazer uma diferença. Há uns tontaços a fazer isso pelos jornais. Ninguém os leva a sério. O grande problema de se tentar ser original – não estou a falar dos que são mesmo – é inventar coisas para ser diferente e depois ter um mínimo de coerência. As coisas têm de ligar umas com as outras. Não têm que inventar discordâncias para se fazerem originais. Mas também não devem fazer o contrário.”

“Não vejo por que é que um colunista deva ser capado politicamente. O que acho é que não se pode ser as duas coisas ao mesmo tempo. Sempre que estive dentro de alguma coisa, parei [de escrever] – tanto durante o Sá Carneiro, como durante o MASP [Movimento de Apoio Soares à Presidência]. Não escrevi. Nem isso era possível com nenhum dos dois.”

Vasco Pulido Valente, historiador e cronista político, “Público”, 21-11-2011

Mário Rui