domingo, 2 de março de 2014

Contratos Públicos – A base da má espécie assistencialista.


 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 

 
Contratos Públicos – A base da má espécie assistencialista.
 
Acho mesmo que apesar da miséria que pelo país grassa, não devemos ser uma Nação miserabilista. Miséria é pobreza, lástima, miserabilismo é um velho fado português que apenas serve de obstáculo à mudança. Ora, como não podemos esperar eternamente por Godot ou por D.Sebastião, seres vagos esperados ao fim de cada dia e que habitualmente servem de pretexto para resolver tristes existências sem sentido, não posso criticar os que do Carnaval, período de festas profanas compreendido entre o dia de Reis e a quarta-feira de cinzas, se decidem por folguedo libertador de tensões e apreensões. Aprovo-os e gosto de os ver nessa demanda de alegria, jocosidade e sobretudo no transmitir de cor e regozijo popular, votos que afinal são licença para que todos possam contrair renovados anseios quanto ao futuro que se avizinha. No mínimo, que seja para fazer dele coisa menos castigadora. Aqui chegados, cumpre-me dar nota daquilo que me desgosta e me leva a não encontrar selagem para bolso roto que não vislumbra torniquete que vede o sumidouro dos dinheiros públicos. Segundo a “Base de Contratos Públicos Online”, fico a saber que sob o manto felizmente transparente do Entrudo, o Estado, todos nós, gastámos cerca de duzentos e cinquenta mil euros em apoios festivos a oito cidades, só oito, do país. Eu imagino quantas mais engrossarão o rol das bafejadas e não constantes da dita Base de Contratos. Dirão alguns que tal soma representará dividendo suculento a colher e que sem tais auxílios seria impossível levar por diante a festa. Muito bem. Mas é despesa a mais, e pública ainda por cima, e se é verdade que traz lucros, parece-me que os mesmos dificilmente servirão na ajuda à administração comunitária. Ajudam muito à vida dos privados, e não tendo eu nada contra os privados, bem pelo contrário, julgo ser já tempo, especialmente devido ao tempo que nos devora, de meter ordem nos gastos que nos gastam. Afinal, se longo é o inverno dos que vivem sós, humildes e com sacrifícios mil, seria de nobre tom apoiar prioritariamente toda uma imensa vontade geral que pede melhores condições de vida e que decididamente não aparece em nenhuma base de apoio estatal ou local. Mesmo tratando-se de uma festa que aplaudo, não posso deixar de dizer que não é útil, mas pernicioso, que o Estado ou mesmo o poder local declarem que o festim tem os mesmos direitos políticos que a pobreza. E acresce que, se a “quem quer festa sua-lhe a testa”, também fica bem, a quem de direito, ensinar a pescar em vez de sempre dar o peixe. Aos foliões, verdadeira alma do Entrudo e aos que fazem dele um momento de alegria popular, presto o meu agradecimento. Aos que repetidamente exigem dinheiro ao país para tudo e para nada, porque sempre se queixam matreiramente de ausência de recursos próprios, aconselho moderação. Ao Estado, peço reflexão, consideração, justo equilíbrio de forças e tendências. Aos espertos, lembro só que é um mal pensarem que todo o mundo é idiota. E Viva o Carnaval!
 
 
Mário Rui
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