sábado, 5 de abril de 2014

Freitas do Amaral quer “voto obrigatório”

























Freitas do Amaral quer “voto obrigatório”  (LER AQUI)
Quem o viu, enquanto democrata-cristão, e quem o vê agora tornado verdadeiro socialista das causas por ganhar. Um verdadeiro espanto! Antes era apodado da direita reaccionária, agora da esquerda e com voz de dominação, tom que por si só parece querer significar a aposta no lado negativo das experiências democráticas. Diz ele; "não tem nada de antidemocrático. Se a vacinação e o seguro automóvel são obrigatórios em Portugal por que é que o voto, que define o que vai ser o nosso país, não pode ser obrigatório?". Claro, pensamento político como este apoiado em tão similares circunstâncias, só podia sair de uma mente brilhante nascida na cristã democracia combinada com a grande tradição liberal socialista. Grande professor! Uma liberdade assim feita, como o senhor a espaços apregoa, é um real equilíbrio entre a liberdade e a justiça social como que estrutura refinada da ciência política nacional. Mesmo assim eu apostaria mais depressa numa vacina que combatesse as suas confusas esperanças e então depois celebraria contrato de seguro que lhe permitisse afiançar a sua persistente reconstrução democrática. Só depois, muito depois de analisar o resultado da terapia e crendo na eficácia da mesma, é que dedicaria algum tempo à reflexão da sua robusta interpretação do voto. Então defende a aplicação do "voto obrigatório" como forma de eliminar a abstenção e até de motivar os jovens a participar na vida cívica e política portuguesa? Muito bem, mas fale-nos primeiramente da presença de um poder invisível que corrompe a democracia, da existência de grupos de poder que se sucedem mediante eleições livres, sem votos impostos (eu imagino o que seria com votos forçados), que até hoje permanecem como forma única de um poder que só a alguns interessa. Somar a tudo isto o “voto obrigatório”, que o senhor defende, é reconhecer ainda piores intermediários entre os indivíduos singulares e a nação no seu todo. Não percebeu o senhor que quem se abstém não o faz por simples aversão à chuva, ao sol, à geada ou à subida da calçada? Boa e muita desta pensada atitude só se abstém já que há muito percebeu não poder contar com os mais sábios, os mais honestos e os mais esclarecidos entre os seus concidadãos no desempenho de tão nobre acto de gerir a coisa pública. Essa sim, é uma das mais substantivas e atinadas razões para que prefiram o sossego dos seus lares à mansão das ilusões apregoadas no pré-voto. E que fique bem claro; todo este meu discurso apenas vale porque de facto até hoje só nos deram uma definição e prática mínimas do que é uma democracia. No dia em que o senhor e outros como o senhor nos disserem que Portugal, como país do futuro, deixará de contar convosco, então a principal causa da abstenção desaparecerá e com ela voltará o voto em quantidade, mas não o obrigatório. E bem me pode falar do exemplo seguido por outros países quanto a tal modo de votar. Não nos quer falar antes do modo de governo que sustenta essas nações? Por exemplo, encher o índice de descrições com os impostos que esses cobram aos seus cidadãos, com o montante que não roubam às pessoas, com as pensões que não lhes tiram, com a corrupção que pouco os afecta, com a justiça célere e bem aplicada que têm, com o mês que não vai para além do dinheiro disponível para gastar, com a banca que não explora, com o Estado que não rouba? Anda agora a falar de voto à força como se isso fosse o acto necessário para nos elevar da condição de bichinhos em que nos transformaram à de verdadeiros anjos no paraíso celestial. Se quiser falar, fale, mas do outro, do voto livre, pois se ouvido o coagido, os votantes só de imaginarem essa palavra saem correndo desinteressados do que quer que se diga depois. Esqueça lá de vez as suas doses homeopáticas de pretensa descontaminação moral da política que nos assiste pois do que precisamos é de constante reflexão e revisão do itinerário sinuoso que você e outros tantos como o senhor nos deram. De missa laica, estou eu farto, de voto obrigatório tão-pouco nos oferece qualquer garantia de que os serviços prestados pela pretensa necessidade irão condizer com suas promessas. Portanto, à sua ideia, e a si mesmo, ofereço-lhes um vácuo de credibilidade. Adeus!
 
Mário Rui
____________________________ ________________________________