domingo, 13 de abril de 2014

Capitães de Abril ausentes das comemorações na AR















Não sou dos que se pelam particularmente por discursos de alguns militares, mesmo tratando-se de gente de Abril, assumo-o, pois sempre me vem à memória um período de rancor castrense que a certa altura dominou o quotidiano português, ciclo que trouxe consigo sangue e lágrimas a muito boa e pacata gente apenas porque o desejo de eternidade política de alguns desses militares não deixava espaço de pensamento diferente a outros portugueses. No entanto, como o tempo cura mais que o sal, é hoje inegável que esses mesmos se ajustaram, e bem, à história, e assim colocaram as suas esperanças quanto ao futuro de um país novo no lugar antes ocupado por um desejo de subjugação relativamente aos demais. Nem todos terão apostado na fuga aos modos de tal tempo mas também acho que o eventual dano vindo da banda dos que ainda se encontram aprisionados por essa irredutibilidade já não representa ameaça a ter em conta. Não estarão nesse rol os militares da Associação 25 de Abril, motivo pelo qual não percebo a recusa em ouvi-los nas comemorações dos 40 anos da revolução. O método pouco elegante de censura prévia não dá ao dirigismo oco da presidente da AR sequer aparência de discussão democrática. Até posso estar enganado, mas fica-me a sensação de que há na senhora uma forte agitação alienante urbano-política, contra a qual devia lutar, que a leva a fazer interpretações prévias desagradáveis e que só têm valor retórico, se tanto. Dá-las como politicamente inquestionáveis não é nada honesto. Certamente não seria discurso à feição da ciência política corrente, mas são já tantos os subentendidos absurdos da segunda figura do Estado, que a força de compressão politiqueira, nesta e em outras matérias, causada ao seu ideário, só me pode deixar zonzo e com a certeza de que a senhora, politicamente falando, é mais uma apagada figura de Estado. Que diabo, ir à AR quem pergunte o que somos ou mesmo o que poderíamos ainda ser, não me parece mal maior tanto mais que talvez fosse prémio de um esforço respeitável dado a quem por essa conquista lutou. Bem sei que a ocasião discursiva iria servir para dar uma dentada, a par seguramente de uma concorrência enérgica, em tudo o que de menos bom se tem passado no país político mas, pensando mais longe, seria afinal mordedura em quinhão que também nos pertence e dada por gente, goste-se ou não, que não vem propriamente de um certame de cretinos. Se é lá, na “casa da democracia”, que se deve lembrar Abril, pois então que a festa não se resuma às golas dos ternos de circunstância nem aos colarinhos altos de cerimónia e muito menos aos grilhões simbólicos de gente julgada sábia, mas antes se alargue a outros que mesmo não destilando palavras maravilhosas, saibam repercutir sinceridades. A Associação 25 de Abril, por tudo o que representa, não iria por certo tornar a festa numa terrível falange de revoltados e, julgo eu, emprestar-lhe-ia pelo contrário um conjunto de atitudes procuradas por muitos portugueses. Isto também é democracia e o oposto disto é justamente a origem da burrice nacional no que ao pensamento cívico de certas pessoas diz respeito! Ao pedido, exigência ou lá o que foi dos capitães de Abril, responderam alguns; «ninguém é dono do 25 de Abril». Pois não, esquecem os mesmos é que hoje somos todos filhos desse dia. Uns mais que outros e não fora essa data e estariam hoje os da recusa sabe-se lá onde. Talvez muito longe de um começo de orientação no mundo.

 

Mário Rui
____________________________ ________________________________

25 de Abril

 
 
 
 
 
Mário Rui
____________________________ ________________________________

A pensão





















Mário Rui
____________________________ ________________________________