domingo, 30 de setembro de 2012

I lost my self-esteem






































"Enquanto vocês brincavam à política partidária, perdi o meu emprego, e a minha casa, e o direito a cuidados de saúde, e a minha reforma e a minha auto-estima". Quem assim fala é o movimento Chamomile Tea Party, pela mão do artista plástico Jeff Gates, que refere que este cartaz de propaganda serve para promover a civilidade, honestidade e união no debate político dos EUA. Em Portugal o mesmo cartaz ajusta-se perfeitamente à realidade que se vive. A única diferença é que por ser tão simples nas suas pretensões, não admira que quase sempre se ache frustrado nas suas esperanças!!! À boa maneira da política-lusa.

Mário Rui

E se assim fosse na velha Europa?







































Campanhas presidenciais EUA. Sempre foram muito sujas e repletas de ataques mútuos entre os candidatos. Há quem diga, neste país, que em Outubro o melhor que pode acontecer aos eleitores, é fecharem o nariz tal é a 'violência' nauseabunda das palavras entre os presidenciáveis. "Reagan é demasiado velho", "Dewey odeia-te e aos teus filhos", "Van Buren usa roupas de mulher", "Clinton aprendiz de embusteiro", enfim é o léxico de que se lança mão na terra do tio Sam para chegar à Casa Branca. E se assim fosse na velha Europa? Estaríamos melhor? Quem sabe?
 
Mário Rui

sábado, 29 de setembro de 2012

Quem nos dá este solzinho, quem é?


















"Agora sol na rua a fim de me melhorar a disposição, me reconciliar com a vida. Passa uma senhora de saco de compras: não estamos assim tão mal, ainda compramos coisas, que injusto tanta queixa, tanto lamento. Isto é internacional, meu caro, internacional e nós, estúpidos, culpamos logo os governos. Quem nos dá este solzinho, quem é? E de graça. Eles a trabalharem para nós, a trabalharem, a trabalharem e a gente, mal agradecidos, protestamos.

Deixam de ser ministros e a sua vida um horror, suportado em estóico silêncio. Veja-se, por exemplo, o senhor Mexia, o senhor Dias Loureiro, o senhor Jorge Coelho, coitados.
Não há um único que não esteja na franja da miséria. Um único. Mais aqueles rapazes generosos, que, não sendo ministros, deram o litro pelo País e só por orgulho não estendem a mão à caridade.

O senhor Rui Pedro Soares, os senhores Penedos pai e filho, que isto da bondade as vezes é hereditário, dúzias deles. Tenham o sentido da realidade, portugueses, sejam gratos, sejam honestos, reconheçam o que eles sofreram, o que sofrem. Uns sacrificados, uns Cristos, que pecado feio, a ingratidão.

O senhor Vale e Azevedo, outro santo, bem o exprimiu em Londres. O senhor Carlos Cruz, outro santo, bem o explicou em livros. E nós, por pura maldade, teimamos em não entender. Claro que há povos ainda piores do que o nosso: os islandeses, por exemplo, que se atrevem a meter os beneméritos em tribunal. Pelo menos nesse ponto, vá lá, sobra-nos um resto de humanidade, de respeito. Um pozinho de consideração por almas eleitas, que Deus acolherá decerto, com especial ternura, na amplidão imensa do Seu seio. Já o estou a ver
- Senta-te aqui ao meu lado ó Loureiro
- Senta-te aqui ao meu lado ó Duarte Lima
- Senta-te aqui ao meu lado ó Azevedo
que é o mínimo que se pode fazer por esses Padres Américos, pela nossa interminável lista de bem-aventurados, banqueiros, coitadinhos, gestores que o céu lhes dê saúde e boa sorte e demais penitentes de coração puro, espíritos de eleição, seguidores escrupulosos do Evangelho.
E com a bandeirinha nacional na lapela, os patriotas, e com a arraia miúda no coração. E melhoram-nos obrigando-nos a sacrifícios purificadores, aproximando-nos dos banquetes de bem-aventuranças da Eternidade.

As empresas fecham, os desempregados aumentam, os impostos crescem, penhoram casas, automóveis, o ar que respiramos e a maltosa incapaz de enxergar a capacidade purificadora destas medidas.
Reformas ridículas, ordenados mínimos irrisórios, subsídios de cacaracá? Talvez. Mas passaremos sem dificuldade o buraco da agulha enquanto os Loureiros todos abdicam, por amor ao próximo, de uma Eternidade feliz. A transcendência deste acto dá-me vontade de ajoelhar à sua frente. Dá-me vontade? Ajoelho à sua frente indigno de lhes desapertar as correias dos sapatos.
Vale e Azevedo para os Jerónimos, já!
Loureiro para o Panteão já!
Jorge Coelho para o Mosteiro de Alcobaça, já!
Sócrates para a Torre de Belém, já! A Torre de Belém não, que é tão feia. Para a Batalha.
Fora com o Soldado Desconhecido, o Gama, o Herculano, as criaturas de pacotilha com que os livros de História nos enganaram.

Que o Dia de Camões passe a chamar-se Dia de Armando Vara.

Haja sentido das proporções, haja espírito de medida, haja respeito. Estátuas equestres para todos, veneração nacional.
Esta mania tacanha de perseguir o senhor Oliveira e Costa: libertem-no.
Esta pouca vergonha contra os poucos que estão presos, os quase nenhuns que estão presos como provou o senhor Vale e Azevedo, como provou o senhor Carlos Cruz, hedionda perseguição pessoal com fins inconfessáveis. Admitam-no.

E voltem a pôr o senhor Dias Loureiro no Conselho de Estado, de onde o obrigaram, por maldade e inveja, a sair. Quero o senhor Mexia no Terreiro do Paço, no lugar D. José que, aliás, era um pateta. Quero outro mártir qualquer, tanto faz, no lugar do Marquês de Pombal, esse tirano.
Acabem com a pouca vergonha dos Sindicatos. Acabem com as manifestações, as greves, os protestos, por favor deixem de pecar.
Como pedia o doutor João das Regras, olhai, olhai bem, mas vêde. E tereis mais fominha e, em consequência, mais Paraíso. Agradeçam este solzinho. Agradeçam a Linha Branca. Agradeçam a sopa e a peçazita de fruta do jantar. Abaixo o Bem-Estar.
(...)Para isso já há dinheiro, não é? E vocês a queixarem-se sem vergonha, e vocês cartazes, cortejos, berros. Proíbam-se os lamentos injustos. Não se vendem livros? Mentira.
O senhor Rodrigo dos Santos vende e, enquanto vender, o nível da nossa cultura ultrapassa, sem dificuldade, a Academia Francesa. Que queremos? Temos(...) literatura e os ministros e os ex-ministros a tomarem conta disto.

Sinceramente, sejamos justos, a que mais se pode aspirar? O resto são coisas insignificantes: desemprego, preços a dispararem, não haver com que pagar ao médico e à farmácia, ninharias. Como é que ainda sobram criaturas com a desfaçatez de protestarem?
Da mesma forma que os processos importantes em tribunal a indignação há-de, fatalmente, de prescrever.

António Lobo Antunes in 'Visão'

Mário Rui

A Lei da Conservação das Massas




















Antoine Lavoisier foi realmente um génio. Quer no seu tempo, quer hoje mesmo. "Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma". A Lei da Conservação das Massas, publicada pela primeira vez em 1760, por Mikhail Lomonosov, depois estudada por Lavoisier e finalmente experienciada e aplicada por alguns portugueses, só a partir do ano de 1974 se revelou em todo o seu esplendor e utilidade. Portugueses que até conseguiram dar-lhe uma nova definição; 'Lei da Conservação, Multiplicação e Não Distribuição das Massas'. Depois digam que não temos cientistas sociais tão bons quanto os outros.
Mário Rui

Velhacos seres


















O meu continuado pessimismo e falta de respeito para com os políticos que nos levaram à ruína mais não me  dá senão a certeza de que nunca mais lá chegaremos.  Bem me podem alguns espectadores atentos tentar convencer  que a culpa foi do líder  A e não do B ou do C.  Todos eles foram demasiado maus na condução da coisa pública. E não se imputem culpas aos portugueses. Serão sempre os últimos a aceitar  qualquer factura que lhes queiram cobrar já que sempre foram os únicos que se sacrificaram, que  foram espoliados, despojados dos seus bens, afinal em nome de coisa nenhuma. E se de todo este  calvário houver, e há, fiéis depositários  e especialmente  infiéis ganhadores, então esses serão com toda a certeza os líderes que nunca tivemos, os partidos que nunca olharam para o bem comum mas antes  para o seu próprio umbigo, os sindicatos  que pararam o país ansiosos por sonhos inatingíveis,  os presidentes que fecharam os olhos e os apertaram bem para bem dormirem e  depois serem reeleitos.  Todos estes velhacos seres humilham e desabonam qualquer cidadão honesto. Não passam de seres litigantes e pretendentes. Valem pouco.  De resto, no ciclo em que estamos, o  único impropério que lhes devemos dirigir é mesmo de ´políticos’.  E como a fortuna de toda esta escumalha nos maltrata, ´político´  em Portugal já só significa  calamidade. O sistema, por cá, é um velho e ambicioso charlatão. Tudo se vende no grande mercado da tal política, menos juízo, o que falta a muita desta gente e não sobra a ninguém. Sem querer ofender as leis da civilidade, só me resta  acrescentar que, tomadas em conjunto, todas estas considerações apontam para a conclusão de que uma sociedade livre e responsável apenas pode ser criada mediante a participação activa dos cidadãos honestos como um todo. E o que jamais deve ser aceite é outra revolução que nos leve à instauração de um novo Estado que instale novos dominadores. Primeiro passo; acabar com os actuais. Meta seguinte;  queremos antes de mais apontamentos para um romance de vida que terá o mérito de ser verdadeiramente português. Então não  concedamos protecção aos maus comportamentos. Se voltarmos a usar o voto como arma, pois que seja para o despedimento colectivo da cáfila que nos desgovernou ao longo das últimas décadas. Há certamente outros melhores. É tudo uma questão de mudança.

Mário Rui

terça-feira, 25 de setembro de 2012
















Mário Rui

O comboio sem carril


















Se uns estão a contas com a justiça, outros há que já se preparam para novo 'arranjo' de mais uns kilómetros de linha férrea. Querem lá ver que vamos ter outra vez robalos. Pelo sim, pelo não, melhor é avisar quanto antes os chefes de estação da linha Lisboa-Porto. Ah, pois! Agora já não existem. Então avisem pelo sistema de som  «... ... atençãum, atençãum a todos os srs. passageiros. Ao quilómetrum corenta encontram-se dois indivíduuuuns a tirar as medidas ao carril. O mais certo é ficarmos sem carril para o comboium. Vamos parar e fujam todos ...»

Mário Rui

A dívida existe mesmo?














Sei que dívidas tenho. Tenho uma dívida a um banco, contraída para comprar a casa onde moro e garantida por uma hipoteca, que pago mensalmente. E tenho pequenas dívidas pontuais no meu cartão de crédito, que vou saldando conforme me convém.

A maior parte das pessoas que conheço tem uma estrutura de dívida semelhante, que paga com maior ou menor difi culdade, mas vai pagando sempre. De facto, enquanto uma empresa pode ter um limiar de endividamento elevadíssimo, que pode ir subindo para além do sustentável com alguma chantagem (“Se não puder comprar matéria-prima, declaro falência, lanço os trabalhadores no desemprego e os credores fi cam a arder!”), os particulares têm em geral de ser mais comedidos (com as óbvias excepções de dirigentes do PSD e amigos de Cavaco Silva, como Dias Loureiro ou Duarte Lima), pois não possuem as mesmas formas de pressão.

Há uns anos, começámos a ouvir falar do volume excessivo da dívida pública (que hoje rondará os 124% do PIB) e disseram-nos que precisávamos de a pagar urgentemente.

Devíamos dinheiro a bancos estrangeiros e, como precisávamos de pedir mais dinheiro para despesas correntes, não podíamos correr o risco de falhar uma prestação dos empréstimos anteriores. Tínhamos vivido acima das nossas possibilidades, disseram-nos. O Governo de Passos Coelho, quebrando as promessas eleitorais, pôs fim aos subsídios de férias e Natal com impostos extraordinários, cortou os nossos salários com aumentos de IRS, cortou subsídios e pensões, aumentou os preços de serviços e fez cortes a eito na saúde e na educação garantindo que a única saída para a crise era empobrecermos. E, como esses cortes não chegariam, também ia ser preciso vender empresas públicas para fazer dinheiro depressa.

Tudo isto, recorde-se, para reduzir a nossa dívida, que gerava défi ces insustentáveis, já que para pagar mensalidades dos empréstimos antigos se contraíam novos empréstimos a juros mais elevados.

Foi em nome do pagamento desta dívida que nos foram impostos sacrifícios e que se foi sacrifi cando o Estado social.

É em nome do pagamento desta dívida que se vendem os bens do Estado a preço de saldo. É em nome do pagamento desta dívida que se sacrifi cam os mais pobres, com o argumento de que temos de competir com a mão-de-obra barata da Ásia. É em nome do pagamento desta dívida que se desbaratam os investimentos feitos na educação, na investigação e na tecnologia nos últimos anos. É em nome do pagamento desta dívida que se sacrificam os cuidados de saúde — considerados um luxo incomportável num país endividado como o nosso. É em nome do pagamento desta dívida que se diz aos jovens que emigrem, que se diz aos pobres que não sejam piegas, que se diz aos trabalhadores que têm de ser formiguinhas trabalhadeiras e deixar de cantar canções do Lopes Graça nas manifestações.

Mas que dívida é esta? Para começar,quanto devemos exactamente e a quem?

Alguém já viu a lista das dívidas? Quem a certificou? Quem a auditou? Quem são os credores? E devemos de quê? O que comprámos? O que pedimos emprestado?

Em que condições? Quando? Quem pediu? Quem recebeu? Onde e quando

Para onde entrou o dinheiro? Para que serviu? Ainda podemos questionar se o dinheiro foi bem gasto ou não. Se serviu principalmente para encher os bolsos das empresas das PPP, da Soares da Costa, da Mota-Engil, do grupo Espírito Santo, do grupo José Mello, se serviu para fazer estádios ou se serviu algum objectivo social meritório, mas antes disso eu gostava de saber se devemos mesmo, a quem, quanto e porquê. E não sei.

É que essa é a informação a que eu tenho acesso na minha hipoteca e no meu cartão de crédito. Essa é a informação que qualquer credor tem de mostrar (e provar) quando exige pagamento. Não há uma operação que eu pague que não venha discriminada nos meus extractos. Mas sobre as dívidas cujo pagamento hipoteca o futuro dos nossos filhos, não nos dão explicações.

Podem dizer-me que são transacções com histórias muito longas, que vêm de longe, que são coisas muito complexas, que não íamos perceber. Mas a verdade é que não existe absolutamente nenhuma razão para que esta informação não nos seja fornecida em todos os detalhes, actualizada e explicada, na Internet, onde toda a gente a possa consultar e auditar.

Podem dizer-me que tenho de confiar naquilo que me diz o Governo, o Banco de Portugal, o Tribunal de Contas. Mas o problema é esse. É que eu não confio.

Nem um bocadinho.

E penso que há uns milhões que também não confiam. É que todos sabemos que há vigaristas que se acoitam nos organismos do Estado, a começar pelo Governo, para servir interesses inconfessáveis. Podemos confiar no Banco de Portugal ou no Tribunal de Contas quando ambos se deixam enganar como anjinhos pelas declarações dos administradores do BCP e do BPN ou pelas contas das PPP? Alguém saberá alguma coisa verdadeira sobre a dívida? Na verdade, deveremos alguma coisa?

Vitor Malheiros "Público", 25 de Setembro de 2012  
Mário Rui

O independente


















“O ‘independente’ costuma esvoaçar à volta dos grandes grupos de interesses, dos lóbis universitários, do PSD e do PS. Verdade que não frequenta sessões de militantes, nem se candidata a cargos que o possam pôr em evidência pública. Prefere o género ‘encontro’, ‘simpósio’, ‘seminário’ ou conferência, onde se roça com assiduidade pela gente importante e, principalmente, pela gente séria e onde com o tempo (com pouco tempo) começa ele próprio a adquirir sem excessivo esforço a sua reputação de importante e sério. Não incomoda ninguém, não provoca ninguém, quase não se nota e é útil para encher uma cadeira ou fazer uma pergunta.

Mas não se imagina que o ‘independente’ escolhe ao acaso, como um pássaro tonto, os meios por onde circula e as relações que laboriosamente angaria. Sabe perfeitamente para onda sopra o vento: onde poisa o PS e onde poisa o PSD. Quem tende a ‘subir’ e quem tende a ‘descer’ e, portanto, para usar o termo pornográfico corrente, em quem deve ‘apostar’. Depois de uma eleição ou de uma remodelação, muitas vezes até ganha. Serve para tapar um ‘buraco’, para afastar um apoiante incómodo, para resolver com mansidão e ‘neutralidade’ uma querela entre dois ‘caciques’. A televisão e os jornais declaram o ‘independente’ uma ‘cara fresca’ e ele entra esfusiante pelo Estado dentro na completa ignorância do que sejam a administração e a sociedade portuguesa. Para, naturalmente, fugir dali a uns meses como um sendeiro triste, à procura de um novo dono.”

Vasco Pulido Valente, “Público”, 16-10-2011

Mário Rui

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

A relativa medida de ver as coisas


















Morreu na passada terça-feira o líder comunista espanhol  Santiago  Carrillo. Sobre o mesmo já muito se escreveu. Toda uma vida dedicada a uma causa e, por isso mesmo, para os menos avisados, parece ficar a memória de um homem coerente, lutador, enfim talvez um homem bom. Depois de lida a sua hisória de vida, tudo se altera. A imprensa deu nota do seu desaparecimento. Como é habitual, especialmente por parte de uma certa imprensa, foram-lhe tributados os mais rasgados elogios. Mas é pena que só uma das facetas deste homem tenha sido lembrada.  Os que mais atentamente seguem este modo de fazer notícias ficam sempre defraudados com este ‘rigor’ jornalístico. Quiséssemos nós acreditar  em tais factos, ditos ou escritos, e mais não conseguiríamos senão o rótulo de simples papalvos que tudo engolem, fruto de uns 'opinion makers'  que apenas nos dão as receitas que mais lhes convêm. Por mim, mesmo que o homem possa ter sido? um farol para muitos, tudo nele se esfuma e perde razão quando lida a sua passagem por este mundo selvagem.  Enquanto Conselheiro da Ordem Pública, respondendo directamente perante Largo Caballero, foi o responsável pela aplicação do terror de massas, pela coordenação das duzentas checas existentes em Madrid, assim como da gestão dos massacres multitudinários de Paracuellos del Jarama, onde em inícios de Novembro de 1936, foram executadas cerca de 3 000 pessoas tidas por inimigas da República. A maioria dessas vítimas eram padres, religiosas - algumas de setenta e oitenta anos de idade - membros da aristocracia, simples professores, comerciantes e até crianças de colo.
Há poucos anos, familiares e descendentes das vítimas moveram uma acção a Carillho, ao PCE e ao governo espanhol. A acção judicial foi recusada por Baltasar Garçón, o homem que provocou a detenção de Pinochet com o argumento do envolvimento do ex-chefe de Estado chileno na desaparição de 3000 opositores. Muitos defenderam a inocência de Carrillo naqueles massacres. Contudo, após o colapso da URSS, abertos os arquivos do Comintern, confirmou-se o directo envolvimento do líder comunista na preparação de listas, logística, transporte e abate de prisioneiros. Carrillo foi acusado por Enrique Lister nas suas Memorias de un luchador, e Dimitrov confirmou o carácter implacável do homem que viria a ser um dos fundadores do chamado euro-comunismo. Mais, Carrillo foi também responsável pelo morte de muitos anarquistas do CNT e de centenas de comunistas espanhóis libertados dos campos de concentração alemães no imediato pós-guerra, considerados "infectados pelo vírus do fascismo".
Há anos, a Universidade Autónoma de Madrid concedeu-lhe o título de doutor honoris causa. Vá lá eu perceber este mundo! Então, mas entre Carrillo e o carniceiro Pinochet que diferenças podemos ver? Apenas uma. Para tudo na vida há sempre dois pesos e duas medidas. É tudo uma questão de melhor ou pior intoxicação informativa.
Bem gostava eu que me ensinassem do valor sagrado da justiça – da justiça que apenas tem em vista o bem dos outros, e para si mesma nada reclama senão o direito de ser posta em prática. A falta de ética, o torpor dos sentidos e a cobardia de muitos não são mais que a prova provada de que, afinal, tudo é relativo.
O que faz falta é a pestana bem aberta. Façam-no, em vosso próprio proveito.
É o mundo em que vivemos.
Mário Rui

Para a biografia de Mário Soares ficar completa, precisa destas entradas...

Aproveitando a colaboração de um comentador:

« Sob o governo de Guterres [...] os cofres do estado abriram-se generosamente para a Fundação Mário Soares. Instalada num edifício camarário, recebia 7 500 contos anuais do governo para arrendar um gabinete a Soares (a que este tem direito como ex-presidente). O Ministério do Ambiente [sabemos quem era o ministro?] atribuiu-lhe 300 mil contos para uma nova sede; só o partido «Os Verdes» questionou a relação entre a Fundação Mário Soares e o meio ambiente. No final de 2001, através do ministro da Cultura, Augusto Santos Silva, recebeu 6 000 contos só para digitalizar os arquivos [umas jóias guardadas: documentos inéditos do G.O.L. dos anos 1910-34]. Durante cinco anos, Soares obteve do estado, para a fundação, 752 807 contos.

[...] Após dois mandatos, quase octogenária, Maria Barroso ficou dispensada da presidência da Cruz Vermelha pelo ministro da Defesa, Paulo Portas. Gerou-se polémica de alta densidade, como se o domicílio dos Soares fosse a nação inteira.»

J. Freire Antunes, Os Espanhóis e Portugal, 1.ª ed., Oficina do Livro, [Lisboa], 2003, 521, passim.
« [...] O tal Soares aqui deu o espectáculo da sua mediocridade, da sua demagogia parva, e andou no meio da praticamente total abstenção dos portugueses, a fazer gestos vãos e gaffes valentes, com alguma audiência da esquerda, e o necessário amparo oficial. Aí a imprensa apresenta a viagem como extraordinário êxito de um estadista... etc. etc.. Seria necessário ler a daqui para ver como foi...»

Rio, 4.I.77. Carta do Professor Marcello Caetano ao Autor.

Joaquim Veríssimo Serrão, Correspondência com Marcello Caetano: 1974-80, 2. ed., Bertrand, Venda Nova, 1995, XXXV (p. 73).

Sobre a contribuição para a Fundação lembro-me muito bem da história dos 300 mil contos. Na altura já houve alguma polémica, por causa do valor e de ter recebido pouco tempo antes uma importância igualmente elevada.

Porém, este indivíduo vive sempre em estado de graça com os media, o que é bem exemplar da mediocridade e cretinismo dos que os dirigem. Isso por um lado; por outro subsiste a venalidade de serem subservientes para quem os adulou durante o consulado como presidente.

Porca miseria, como diriam os italianos.

in "Portadaloja", Setembro 2012

Mário Rui

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

'A independência é a obsessão da minha vida'


















Uma voz ponderada a ler aqui. António Barreto não tem medo de morrer, mas sim de não viver o suficiente para ver o país sair da crise.
Mário Rui

domingo, 16 de setembro de 2012

Uma partida inesperada




















O vice-presidente da Caixa Geral de Depósitos (CGD) António Nogueira Leite, afirmou há dias que se “pira” do país, ler aqui, se houver novos aumentos de impostos. Na hora em que escrevo estas linhas estou positivamente em pranto, qual charco de lágrimas à minha volta, tal é o modo como fui apanhado desprevenido com a sua eventual ida.

De facto, o país e eu, não nos conformamos com a ideia do abandono de tão proeminente figura da nossa praça. Dito pelo próprio, é ainda mais pungente este acto de coragem, de galhardia. Porém, como ficará Portugal se tal coisa vier a acontecer? Mais pobre, certamente. Alvitro mesmo uma choradeira nacional a este querido líder, à boa maneira do último adeus a Kim Jong-il. E a fazê-lo corar de vergonha. Ao Quim filho, entenda-se. Estou certo do que significarará esta partida intempestiva.

De resto é por isso mesmo que, antecipadamente, aproveito para avisar as autoridades competentes no sentido de que façam algo enquanto é tempo. As lágrimas que rolarão pela face de milhões de portugueses farão transbordar rios que, com a sua solidária energia,  levarão as margens a parecerem castelos de cartas. Será o desmoronamento total. O caos e a anarquia. Um povo sem timoneiro que, por mais mil anos, no mínimo, digo eu, ficará ao sabor da sua triste sorte. Um milénio para encontrar uma nova luz, candeia que ilumine o nosso caminho.

Não te vás, António. Tudo o que te queremos dizer é que nunca te perderemos de vista. Gostávamos mais de te ver por cá mas, se esse fôr o teu desígnio, pois que embarques na senda do teu sucesso. Bem sei que já o sentiste junto do teu povo. No entanto, estender esse teu braço solidário, ternamente amigo e virtuoso, deve ser um bem que a todos deve assistir. Até aos outros que habitam o sítio para onde tu vais.

Capitularemos! Nós todos. Ainda assim, como há serviços tão subidos que só a admiração ou a glória os pode recompensar, cá ficaremos à nossa sina para jamais te esquecermos. Mas olha, António; se de facto partires, leva contigo mais uma dúzia. Dos bons. Vê se arrebanhas um número jeitoso dos que nos levaram ao actual estado de felicidade colectiva. Pelo sim, pelo não, arranja-lhes um casulo que é assim uma espécie de princípio de uma nova e ainda melhor vida. Para nosso continuado bem.

Por último, é nosso imperativo dizer-te mais uma coisinha; a mocidade é realmente temerária; presume muito porque sabe pouco. Como és jovem, António!

Mas como o teu povo afinal parece-te ser um auditório de tolos, então vai-te, vai-te. Cá permaneceremos já que tal velhaca gente há-de vir a ser fecunda. Mesmo sem a tua companhia.

Mário Rui 

"É preciso que nada venha complicar ” o ajustamento



















As opiniões circulam como as moedas, poucas pessoas são capazes de verificar o seu peso, toque e valor intrínseco. Como é possível que um homem destes  ainda fale? Votou ao desprezo a supervisão da esfaimada banca nacional,  deixou que a degeneração moral dos banqueiros fosse qualificada de “regeneração” politica e, agora, ainda lhe sobra tempo para uma espécie de “sinceridade” imprudente. Tudo isto é de uma nudez indecente e desprezível.  A ambição cega do mando e do poder tem feito infeliz muita gente.

Mário Rui

sábado, 15 de setembro de 2012

Um desastre para todos?


























 Há dias Mário Soares defendeu que "seria um desastre para todos" se a actual legislatura "fosse até ao fim"

Lá isso é verdade! Mas também não é menos verdade que, se uns sentem na pele e na dignidade os efeitos do roubo nacional, outros ainda o não experimentaram. Em especial os que têm uma fundação. É que também há gente que nunca conseguiu considerar a sua ventura superior ao seu mérito. É pena. Lá vem à baila a história dos soberbos que costumam ser ingratos; consideram os benefícios como tributos que se lhes devem. Quanto ao povo, a fantasia ainda é infelizmente a lanterna mágica da nossa alma. Por estas e outras mais é que é importante que nos reconheçamos e saibamos ter o discernimento necessário  por forma a alterarmos ou mudarmos razoavelmente a forma e o teor da nossa estúpida vida. Nem tudo o que reluz é oiro.


Mário Rui

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

No limite da tolerância


























O fim da III República – No limite da tolerância

O efeito da subida das contribuições nos rendimentos dos portugueses – ver aqui.

Mário Rui

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012

O triunfo dos porcos


















11 de Setembro de 2001. Se para os EUA, e para parte de algum mundo – há partes deste mundo que não fazem parte de mundo algum -, esta data marca decididamente o virar de uma página negra na história dos humanos, não é menos verdade que em Portugal  estamos, agora, tardiamente como sempre, a viver a nossa própria tormenta. Um número grande de maus espíritos tanto esticou a corda que o edifício acabou por ruir. Nesta atitude clara e impunemente levada a cabo, sobram das cinzas os que pariram semelhante estado de coisas. E o curioso é que, infelizmente, mantêm-se de pedra e cal como se não tivessem sido eles os fazedores de tal festa das trevas. Confrangedor o modo como se comportaram e a aposta que fazem em assim permanecer! Todos eles concorreram fortemente para a era democrática do facilitismo, banharam-nos com «spots» do viver melhor, do sol e das férias, do divertimento mediático. Afinal atiraram para trás das costas as boas lições de moral. Esta gente sempre espectacularizou o mal, mas sempre de modo calculado. O fim era e é sempre o mesmo. Benesses em proveito próprio e em nome de uma sociedade mais justa e igualitária. Assim nos contavam a história. Os mais incautos deixaram-se embalar pela música falconizada de reles empregados de partidos que, sem grande esforço, subiram na vida. Passaram velozmente de apagadas figuras de ornamento a senadores. Esqueceram a revitalização ética que tanta falta fazia ao país, quiseram ensinar-nos que vivíamos uma época em que o dever devia ser anestesiado, que a ideia de sacrifício estava deslegitimada. Mais; juntaram a todas estas práticas a ideia de que, cada um de nós, não tinha de se dedicar a um fim superior a nós mesmos. Colaram-nos uma etiqueta onde se podia ler que os direitos subjectivos podiam dominar os mandamentos imperativos. Tolos. Tão tolos foram e são que espetaram com um país no último estádio da sua amada cultura ética.  Exaltaram o bem-estar e os prazeres que pensavam estar a ofertar-nos mas jamais foram capazes de perceber que a sociedade civil estava ávida de ordem, de moderação e especialmente de homens com carácter. Os direitos subjectivos de que atrás falei, e que estes reles empregados de partido nos quiseram inculcar, governaram a nossa cultura. Mas nem tudo devíamos ter permitido! A devassidão política imparável que habita o país, plasmada num dia-a-dia que mais não foi, e é, senão transgressões libertinas de quem se alcandorou à condição de mandante, em nome de quem?, só podia levar à dissolução do que somos enquanto povo. Se temos razões de queixa, então só há um caminho a seguir. Doravante estará nas nossas mãos a regulação dos prazeres desta gente sem maneiras ou princípios. Bem sei que a parte que podemos fazer é incomensuravelmente pequena quando comparada com a força de que se investiram estes ajudantes de xerife. Ninguém ignora, com efeito, que estas continuam a ser experiências muito isoladas. Mesmo assim vale a pena arriscar. As opiniões publicas, e já agora as publicadas, podem muito bem ser massivamente hostis à perspectiva egocêntrica, interesseira e avarenta de quem conduziu Portugal ao abismo. O momento actual deve estar manifestamente empenhado nesta última via. Se mais não nos for possível, pelo menos, gritemos, escrevamos, chamemos nomes feios a este equívoco nascido do 25 de Abril. Os dirigentes que temos e que não nasceram de revolução nenhuma. Essa foi outra patranha com a qual, manhosamente, nos besuntaram o coiro. À distância de quase 40 anos, se calhar bem nos saberia hoje tê-la feito de outro modo. Teríamos certamente evitado todo este sexo selvagem característico das relações de força. O problema é que de facto não aconteceu revolução. O outro regime caíu por si mesmo. De podre! O actual também já le chegou. Tombou, fruto do extraordinário esforço de dinamização, de conservação, de gestão optimizada do “eu próprio”.  O imperativo narcísico dos que podem, incessantemente glorificado pela cultura higiénica dos que aspiram a poder, levou-nos à tragédia grega. Não apostem mais neles! Suplico-vos!

Mário Rui

A dignidade que se finou.















Veja quais as medidas anunciadas por Vítor Gaspar para 2012 e 2013, do lado da receita e da despesa

Para 2012, as medidas que Vítor Gaspar anunciou do lado da receita:

- Aumento da tributação para imóveis de elevado valor (igual ou superior a um milhão de euros), em sede de imposto de selo. O valor do agravamento não foi revelado.

- Aumento da tributação sobre rendimentos de capital. Taxa a aplicar, nomeadamente juros, dividendos e royalties passa para 26,5%. Esta taxa também será aplicada às mais-valias mobiliárias.

Para 2013, as medidas anunciadas do lado da receita:

- Os bens de luxo terão taxas agravadas. Os imóveis de mais de um milhão de euros (que já será feito em 2012), mas também os carros de alta cilindrada, barcos e aeronaves sofrerão novo aumento da tributação. O valor não foi referido.

- Escalões do IRS vão sofrer alterações. Vão ser reduzidos, aumentando a taxa média efectiva de imposto; A taxa máxima mantém-se nos 46,5%.

- Mantém a taxa de solidariedade em sede de IRS;

- As transferências e pagamentos a off-shores terão uma tributação mais severa

- Já tinha sido anunciado o aumento das contribuições para a Segurança Social dos trabalhadores e a diminuição dessas contribuições para as empresa. Hoje ficou a saber-se que com o aumento da taxa geral para a segurança social de 1,25 pontos, de 34,75% para 36%, vai levar ao aumento da taxa para os restantes trabalhadores. Os trabalhadores independentes, ou seja, os recibos verdes vão passar a pagar 31,7% à segurança social, contra os actuais 29,6%.

- Em sede de IRC, serão introduzidas alterações para aumentar a base de incidência, limitando-se as deduções. Não foram referidos valores.

Para 2013, do lado da despesa:

- Acelerar diminuição no número de funcionários públicos.

- Redução das pensões

- Racionalizar componente salarial que não estão nas remunerações base.

- Aproximar o regime laboral do público ao privado, caminhando para a convergência

- Acelerar convergência do regime de segurança social do regime publico com o regime geral.

- Racionalizar acesso à prestações sociais e garantir mecanismos controlo.

- Aplicação de novas regras do subsídio desemprego;

- Atribuir critérios mais exigentes nas prestações sociais

- Racionalizar planos de investimento das empresas públicas

Mário Rui

domingo, 9 de setembro de 2012

Os passos da austeridade

 































O avanço civilizacional de Portugal. Obra da tolerância de muitos, nós, que desculpam a hipocrisia de poucos.

Mário Rui

Impressão digital de jovem democracia






































‘O primeiro-ministro justificou sexta-feira, 7 de Setembo, as novas medidas de austeridade como uma resposta à “situação excepcional” de “emergência financeira nacional”, mas tal não significa que sejam provisórias. O Governo assume que o corte de um salário por ano tanto ao sector público como ao privado - pelo aumento das contribuições para a Segurança Social (SS) - tem carácter permanente. E, a haver reposição salarial, começará pela função pública.’

O que nós sempre quisemos foi o respeito da ética mas sem a mutilação de nós próprios e sem obrigações impossíveis: o espírito da responsabilidade e nunca o dever incondicional. Depois das liturgias da demo-cracia plena, eis-nos na hora do minimalismo ético. É este o caos a que o controlo dirigista dos costumes, levado a cabo por políticos sem princípios, nos levou. Não, não é a crise mundial. Se fosse, o mundo tal como o conhecemos, há muito teria desaparecido. Esse discurso reduz-se a galga, balelas! Os nossos legítimos desejos de satisfação, de felicidade e de realização íntima, foram de novo substituídos pelas exigências de renúncias e de austeridade. O que reina há já muito tempo são os desejos e direitos subjectivos dos que quiseram, e conseguiram, estabelecer esta nova ordem nacional. Em seu próprio proveito. Os coveiros históricos do meu país! É-me indiferente o nome pelo qual os devemos chamar. Todos eles, afinal, mais se assemelham ao homem que aspira a coisas grandes e que considera todo aquele que encontra no seu caminho, ou como meio para, ou então como retardamento e impedimento. Enquanto assim fôr, não gastarei a energia das minhas pernas nem a agilidade das minhas mãos, nem para um leve aceno de deferência pelas vossas pessoas. Atraso civilizacional. Regressão. Voltar ao princípio. São sinónimos da vossa estada por cá.

Mário Rui

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Guimarães assistiu ao Funeral de Portugal




Só possível em Portugal! Já que foi aqui, diz-se, que nasceu o Condado Portucalense, pois então que seja aqui, Guimarães, que finalmente se enterre este nosso país. E já agora com a solene presença da G.N.R., com salva de tiros e o mais que quisermos. Sintomático! Mesmo teatralmente falando, tudo isto pode ser encarado de uma de duas formas. Ou acabou-se o decoro de algumas instituições e pessoas ou então é mesmo o fim. Responda quem souber. Em todo o caso ainda há uma tereceira alternativa. É rirmo-nos a bandeiras despregadas tal é o estado a que chegámos. E com fato de gala! "Esta é a ditosa pátria minha amada, à qual se o Céu me dá que eu sem perigo torne, com esta empresa já acabada, acabe-se esta luz ali comigo." Se Camões fosse vivo, que falta nos faz, estaria hoje com os dois olhos (o cego voltaria a ver esta nacional finitude) esbugalhados e a pensar; « .. o que faço eu aqui?».Triste, tristíssimo tudo isto!!!!!!!!!!!!

Mário Rui

Despautérios ditos educativos


























Embustes. Embustes ditos educativos foi o que uma geração de pretensos cuidadores da coisa pública, e nomeadamente na área do ensino, nos deram ao longo de 37 anos. Nós percebemos bem a lacuna em que estes cuidadores sempre chafurdaram. Gente impreparada para o que quer que fosse, à excepção da sua sua própria visão num futuro individual risonho, gente que mais não fez senão desbaratar o tesouro educativo-profissional em nome duma política mentirosa e de massas, revolucionários intelectualóides, que só trouxeram caos e miséria educativa. 

Se o anterior regime discriminava, e infelizmente fazia-o, ainda assim manteve por muitos anos uma aposta  séria no ensino técnico-profissional. Os que vieram a seguir foram e são tão tolos, tão estupidamente curtos de vista que nem o valioso património que havia a aproveitar souberam guardar. Tiveram todas as condições para o fazer. Nem que fosse às escondidas! Mas não. Sempre lhes faltou inteligência para traçar o caminho certo. 

Também já não nos sobra tempo para continuarmos a tentar explicar a esta horda, como fazer. É que ‘burro velho, não aprende línguas’, como diz o povo. Mas não é por ser velho, é mesmo por ser burro. Bem poderíamos, nós que enveredámos por esse ensino técnico-profissional na década de 60/70, o dito ensino excluidor e de eleitos, ensinar a esta gente de ora como fazer. Era tão simples! 

Quando realmente nos propomos a tal desiderato, foge-nos, qual areia entre os dedos, a vontade de ensinar a gente inculta o modo de fazer bem. E foge-nos apenas porque nos fica o sentimento de que eles não querem aprender. Há insondáveis interesses que camuflam a aprendizagem que deveria determinar o saber ser-se bom dirigente. 

Enquanto esta geração de pessoas não for varrida da cena política nacional, e chamem-me conspirador, Portugal não será modelo para ninguém. Bem podem esforçar-se por fazer mais e melhor que nunca lá chegarão. E então no ensino, muito menos. Ninguém pode ensinar aquilo que não sabe. 

Continuem a usar as vossas melhores vestes, a vossa verborreia palavrosa e já agora mantenham o fato e a gravata. Todo este caldo há-de continuar a dar-vos estatuto social. 

Nós, os que aprendemos nas oficinas de torno e bancada, a apanhar choques eléctricos, a fazer desenho-técnico, mas também a ler Camões, Eça e tantos outros, jamais alinharemos convosco. Nem nos falem do que não sabem ò cuidadores de coisa nenhuma.

Não há modo de mandar, ou ensinar mais forte, e suave, do que o exemplo: persuade sem retórica, impele sem violência, reduz sem porfia, convence sem debate, todas as dúvidas desata, e corta caladamente todas as desculpas. Pelo contrário, fazer uma coisa, e mandar, ou aconselhar outra, é querer endireitar a sombra da vara torcida.

Mário Rui

terça-feira, 4 de setembro de 2012

«Laranja Mecânica», 41 anos depois.






“Laranja Mecânica”, a história do jovem que amava violência, sexo e Beethoven, 41 anos depois

Estreia em Portugal a 29/11/1974 – Cinemas Castil e Império – Lisboa

O filme «Laranja Mecânica», de Stanley Kubrick, comemora este ano o seu 41º aniversário. Ao tempo, a censura do Estado Novo não era “só” política. Tal como não podíamos beber Coca-Cola, por causa do condicionamento industrial, também nos era vedado ir ao cinema ver filmes como o “Último Tango em Paris”, certamente por causa da cena da manteiga.

Depois de uma ante-estreia nos EUA, em 19 de Dezembro de 1971, o filme faria a sua estreia comercial em Londres, logo no início de 1972, a 13 de Janeiro, quase quatro anos depois da estreia do último Kubrick, o também inesquecível “2001 Odisseia no Espaço”.

Ainda hoje recordo o porteiro da sala de cinema, figura sinistra que, antes de mais nada, nos pedia o bilhete de identidade para conferir a idade. Fosse o filme para maiores de 18 anos e tivéssemos nós um mês a menos e lá ia tudo por água abaixo. Filme, dinheiro e expectativas!

Apenas em Novembro de 1974, entretanto teve de ser feita uma revolução para o filme poder pisar solo lusitano, foi possível a sua estreia em Portugal. Fui vê-lo. Como tantos outros da minha idade, na altura todo aquele enredo nos pareceu demasiado confuso e violento. Saídos de um regime que tudo controlava e em que tudo nos era “oferecido com critério?”, a “Laranja Mecânica” surgiu mais tarde aos nossos olhos como algo que nos fez perceber o que era o filme e o quotidiano que nos rodeava.

Afinal retratava a violência de jovens delinquentes liderados por um egocêntrico, desequilibrado mental, um alucinado que despreza a lei, a sociedade, a família e a religião. O filme demonstra nitidamente a violência banalizada, não só a violência dos jovens, do uso das drogas, do sexo grupal, da insignificância pela vida humana, mas mostra também a violência da própria sociedade, da polícia. Do poder do governo através da ciência, querendo manipular a sociedade usando para isso experiências que anulam o próprio ser humano de pensar e agir por si próprio, de seus instintos naturais.

Tudo isto se passava em 71/74. Afinal tão igual aos dias de hoje. Que mente brilhante a de Stanley Kubrick! Já não está entre nós e os que se lhe seguiram também já não vão seguramente fazer obras com tanta profundidade.

Como éramos tão inocentes naquele tempo. E como chegámos a 2012, ao novo século, a pensar que sabemos tudo. Temos respostas para todos os desafios da vida. O problema é quando a vida vem e muda as perguntas!  

Mário Rui

Ah,! se tivéssemos mar ...


















Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE) demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente (do grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses." Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco. Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.

Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia, sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do Haiti? Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado que nós. Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de 2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a água é quente, se tem irmãs, etc.

Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel em Havana e agora já nem a Badajoz vai. Não se faz. E é desagradável constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar que os que vamos fazer durante todo o ano. Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém interessante e viajado lá em casa. Eu vi perca egípcia em Telheiras? fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras. Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.

Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino, assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de robalo de Chernobyl.

Crónica de João Quadros no Negócio On-Line

Mário Rui

domingo, 2 de setembro de 2012

Os fracos arengam, quando os fortes dominam















A procuradora-geral Adjunta Cândida Almeida afirmou sábado que «Portugal não é um país corrupto» e que existe uma «percepção» exagerada da dimensão deste crime, sublinhando que é dos poucos Estados europeus onde se investigam «grandes negócios do Estado».
«O nosso país não é um país corrupto, os nossos políticos não são políticos corruptos, os nossos dirigentes não são dirigentes corruptos. Portugal não é um país corrupto. Existe corrupção obviamente, mas rejeito qualquer afirmação simplista e generalizada, de que o país está completamente alheado dos direitos, de um comportamento ético (…) de que é um país de corruptos», disse a directora do Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP), numa conferência na Universidade de Verão do PSD, em Castelo de Vide.

Não tem, não! Não tem bom-senso, não tem classe para ocupar o lugar que ocupa e não tem o direito de chamar a todos os portugueses sérios, de palermas e de ignorantes. Se de facto Portugal fosse um país governado por gente competente, o que também não acontece, o mínimo que se apontaria a esta senhora seria o “olho da rua”. 

Como é possível num país da velha europa, num país dito civilizado?, que se consinta semelhante discurso? Ofensivo do bom nome de português honrado que se preze. A roçar a má-educação e a fazer de todos nós, os que se sentem ofendidos, como que uma espécie menor, a quem se oferece mentira sobre mentira e assim vamos  ‘cantando e rindo’. Mas, o que mais será preciso fazermos de modo a que nos tratem com a dignidade que merecemos?

Não podemos continuar a fitar os olhos no  Sol, nem o pensamento no divino! Já há muito que chegou a altura de nos rebelarmos. Nos dias de hoje sentimo-nos roubados, injustiçados e mal geridos. Não querendo o poder na rua, só nos resta uma alternativa. Nem voto nulo, nem voto em branco. Abstenção. Pura e dura! 

E no dia em que essa abstenção corresponder a cadeiras vazias na Assembleia da República, talvez os senhores políticos que nomeiam gente desta para cargos de capital importância para a sadia vida comunitária ( digam-me que não são os políticos, enganem-me que eu gosto), talvez, chegada essa hora, percebam quais os valores de que estamos necessitados. Inocentemente quero acreditar que deste modo e ainda que não consigamos descobrir muitas verdades, pelo menos extirpamos uns tantos erros.

E agora só peço à senhora que proferiu o tal discurso mal-educado, que se veja confrontada, ler aqui!, com um seu par-de-função, e que resolva este contraditório. A bem dos portugueses impolutos e a bem de um lugar que se quer Nação, Pátria, farol!

Demita-se senhora procuradora-geral Adjunta Cândida Almeida. Não nos volte a injuriar, nem nos vote ao desprezo!

Se acharem por bem, e a propósito desta iluminada alocução, também convirá ler mais aqui.

Mário Rui