terça-feira, 29 de maio de 2012

Sob pressão


























Miguel Relvas foi acusado de pressionar e ameaçar uma jornalista do Público. A primeira não é grave. Neste jogo jornalismo/política cada um dos intervenientes deve ser capaz de lidar com as pressões constantes do outro lado, procurando que a respectiva visão prevaleça sobre a outra. E para que não haja dúvidas, isto acontece. Sempre!
A segunda é grave e é curioso que neste país do ‘deixa andar’ um caso destes passe aparentemente impune não só aos olhos do próprio governo que tarda em agir, como da maioria da opinião pública, apática e passiva tal e qual estamos habituados.
A ser verdade a versão de que Miguel Relvas chantageou uma jornalista, ameaçando que revelaria aspectos da sua vida privada caso esta publicasse uma notícia sobre o caso das secretas, não me parece haver outro destino para esse senhor senão o olho da rua. A promiscuidade entre a política e o jornalismo, em casos como este, é prejudicial não só para a imagem destes últimos, como da própria democracia.
É verdade que os Governos – não só o nosso – sentem a necessidade de controlar os media para assegurar que a informação que é fornecida beneficie as suas visões políticas. Mas é também verdade que a diferença entre moldar e gerir os media para gerar mensagens, interpretar e avaliar as notícias e controlar o timing de publicação e a intrusão governamental nas notícias, manipulação, intimidação e sedução dos media, é uma linha muito ténue que distingue o que é grave para a democracia de um país e aquilo que é apenas um trabalho rotineiro de assessores e ministros na sua relação com a comunicação social.
E este não é caso único. Basta lembrar os famosos afastamentos de Manuela Moura Guedes ou de Pedro Rosa Mendes, só para citar alguns. Ou o agora repescado caso de Tony Blair suspeito de ter assinado um acordo com Rupert Murdoch, o magnata e proprietário da News Corporation.
Desenganem-se aqueles que pensam que nenhuma destas situações é prejudicial para o país. É e muito. Para o país e para a democracia. E, já agora, para a imagem dos próprios políticos e jornalistas.
E a ser verdade, Pedro Passos Coelho tem aqui uma boa oportunidade para cerrar o punho e mostrar quem manda verdadeiramente. E pode aproveitar também para marcar vincadamente as diferenças relativamente ao seu antecessor.
Rui André