sexta-feira, 24 de junho de 2011

Nobre ou não?



Lá que o homem saltitou de partido em partido, lá isso é verdade. Também é certo que tal atitude não enobrece quem quer fazer da sua vida política um ideal ou um caminho pensado como o mais ajustado (se é que o quer). Deixa-nos sempre a impressão, pelo menos a mim, que de facto se anda à procura de qualquer coisa sem se saber muito bem que coisa é essa.

A menos que, no espírito do insigne médico esteja, tão-só, a vontade de, com o seu contributo e em qualquer força política, poder dar um honesto sinal do que significa ser-se um cidadão responsável e de pleno direito cívico, interventor, o que de resto faz verdadeiramente falta a este País. Ainda assim, duvido que esse protagonismo possa evidenciar-se no seio de um partido político, mas enfim. Se calhar, na sociedade dita civil, independente, tal desiderato ficasse em plano mais saliente e necessário. Se assim tivesse acontecido, até lhe desculparia os saltinhos partidários, ou apartidários como tantas vezes referiu, e a humilhação a que se sujeitou aquando daquelas votações repetidas. Uma bastava para perceber a moral da história.

Depois, confirmar como exigência que só a cadeira presidencial da Assembleia da República o satisfazia, é igualmente pretensiosismo que talvez esteja para além do que se espera de um candidato ao Parlamento. É realmente P’ra...lamentar.

Tudo isto me parece um episódio grotesco, obviamente pouco digno, porque bem apreciada a coisa, julgo não estar na mente do dito o tal imperativo de cidadania pura e dura que viesse fazer a diferença que tanto clamamos.

Bom, mas deixe lá Sr. Dr. F. Nobre porque, pese embora toda essa triste e efémera passagem pela politica, os outros também não foram muito convincentes, nem tão pouco sérios, em relação aos argumentos apresentados para a sua não aceitação na «casa da democracia».

É preciso ter-se experiência política, traquejo, dizem eles. É mentira, digo eu. Não é preciso ter-se nada disso para se ocupar a cadeira mais alta da Assembleia. Basta ser-se sério, saber incutir valores, referências, ter-se o sentido do respeito pelos outros – sobretudo pelas suas vidas pessoais ou de outra índole, saber conduzir os contraditórios e esses predicados o senhor terá com toda a certeza.


Mas também, e sobretudo, é preciso, no início da jornada, saber tomar o caminho certo. Esse trilho escolhido é que o desarmou.


Só não o aceitaram, porque cá a política é feita disto mesmo. Apenas tem lugar quem em todo ou em parte seguiu uma religião, uma política ou um líder (dos fracos que temos). Se a obra, em matéria social, é portanto socialmente inútil, como aos olhos dos que o rejeitaram parece ser, então o sonho é a pior das cocaínas. Este último pensamento não é meu. Foi Fernando Pessoa quem o constatou. Presumo que vivenciando-o.

Por último, custa-me a crer que, para alguém que bebeu compêndios e compêndios de medicina, a cadeira da Presidência seja lugar que cause algum engulho. Se me é permitida humilde opinião, que não conselho, se um dia voltar à luta, atenção ao caminho certo. Mostre-lhes os livros por onde aprendeu a ser homem. É que nas bancadas do Parlamento (onde se discutem os problemas do País) estão lá várias pessoas que nunca perceberam que o que hoje é grão seco levanta-se amanhã sobre as ondas do campo como a espiga mais alta e mais cheia. Só precisa de rega.


Mário Rui