terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Pobres dos pobres...



Eu bem me esforço por dar à estampa uma ou outra crónica que fuja ao pessimismo e à descrença que nos habita há já bastante tempo. Leio, ouço, vejo, na tentativa de encontrar algo que possa servir-me de alimento para escrever umas linhas carregadas de tons mais alegres, mais esperançosas, quanto ao dia-a-dia do país. Creiam-me nessa busca incessante de retratar Portugal e os portugueses com alma alegre e coração feliz.

Mas o que hei-de eu fazer se, nesta demanda, só encontro o oposto do que pretendo. Será defeito meu, ou efectivamente no pé em que estamos só me aparecem ridicularias, imbecis actos, de gente que com muito mais responsabilidade pública que eu, insiste em fazer dos outros simples bobos da corte, ou pior ainda, acéfalos do reino.

Pois muito bem, como não se me atravessam no caminho histórias bonitas, vou contando com as tristes para fazer delas um pouco da estória que nos cerca. E esta versa o tema da velhice solitária, quantas vezes desrespeitada por alguns e, infelizmente, acarinhada por muito poucos. Não obstante tal, a estes últimos honra lhes seja feita. Quanto aos primeiros deixemo-los de lado. Não queremos ser parceiros deles.

Mesmo assim não resisto à tentação, que de resto sempre me atormenta, de vos contar o desprendimento de uma tal senhora dona Judite de Sousa, jornalista da TVI, quando numa recente reportagem se deu ao cuidado de visitar, para inglês ver, ou melhor para TV encher, duas velhinhas que vivem sós com as suas agruras. Pretendia a dita jornalista dar um ar sério quanto ao modo como estas pessoas idosas vivem na capital do Império. Lisboa, claro.

Às questões colocadas pela senhora dona Judite, lá iam respondendo as idosas: “aumentaram a luz; aumentaram a água; aumentaram o gás; subiram os remédios”, etc,etc. Outra senhoa idosa lá se dispôs também a mostrar o estado em que estava. Um pouco menos reinvidicativa, tinha alguma relutância em mostrar a saca de medicamentos que tinha de tomar diariamente e que lhe custavam os olhos da cara. O preço estava pela hora da morte e assim sendo lamentava-se da sorte que nunca lhe tinha batido à porta.

É claro que a senhora dona Judite, que até é professora de futuros jornalistas, mais não pretendeu que preencher espaço informativo, que não formativo, pois mais se assemelhava a alguém que parecia estar a falar com deficientes mentais. Mas não estava de facto. Lá levou a pequena reportagem até ao fim, por vezes dando ares de comoção pois assim convém quando se fala às massas e na presença de duas vidas traçadas com destino pesado e incerto.

As idosas vivem com menos que o salário mínimo para as suas despesas, o que de resto é transversal a muitas, mas mesmo muitas outras pessoas que morrem sem que ninguém dê por isso, tal é a necessidade básica de se alimentarem, de se curarem das suas maleitas, o que sempre significa penúria e falta do essencial para sobreviverem.

O que teria sido, em minha opinião, uma lança em África no que toca a esta reportagem, era a senhora jornalista ter perguntado às velhinhas se elas sabiam quanto ganhava por mês a senhora dona Judite de Sousa, quer na TV pública, quer agora na privada TVI. Poderia ter-lhes dito e perguntado o que pensavam as idosas disso. Certamente que iria ouvir o que deveria ouvir: que era uma vergonha...

E assim continua a ir um país que em vez de criar riqueza, vai criando ricos. Pobres dos pobres.

Mário Rui

A Esterilidade do Ódio



Dando de barato a minha eventual senilidade, sabe-se lá, quase me dá vontade de lhe juntar a minha dúvida existencial, e em particular a interrogação que me fica a propósito da minha sanidade mental. Estarei porventura a ser mesmo mau em relação à minha própria pessoa? Serão visões? Ou será que ainda raciocino?

Senão, reparem: ontem mesmo assisti num canal de televisão português, à hora nobre das notícias da noite, a uma verdadeira reportagem e, assim dita, digna de menção honrosa. Não importa quantos foram os minutos deitados ao lixo, leia-se dinheiro, para a levar por diante. Eventualmente isso até será de somenos importância.

A reportagem tratava então de dar a conhecer às crianças que frequentavam uma escola, o significado da “Não-Violência”, do Dia Escolar da Paz. Pois bem, para tal efeméride nada melhor que pedir ás meninas e meninos que trouxessem de casa umas quantas almofadas e, vai daí, alinhado que estava o exército, comece-se a guerra. Almofadada daqui, almofadada dali, óculos de alguns pais partidos, julgo que estes seriam a retaguarda dos exércitos beligerantes, e assim se ia desenrolando a luta.

Interrogados alguns professores sobre a utilidade de mais um momento didáctico para os alunos, só consegui ouvir vacuidades e nenhuma ideia com substância que minimamente fosse capaz de explicar tão estúpida actividade. Os miúdos, esses, coitados, quando questionados sobre o evento pouco ou quase nada adiantaram. É que eu acho que nem eles próprios sabiam bem o que estavam a comemorar quanto mais da importância, repito, de tão cretino acto de recreio bélico que encarnavam.

Agora digam-me lá se de facto estou a ver mal o assunto. Então mas isto é pedagogia infantil? É para incitar à guerra, por muito aveludada que seja, será então para dotar os meninos de instintos guerreiros, ou tudo isto não passará só da tristeza que é o ensino, a vários níveis, em Portugal.

Será que na mente destes professores não há lugar para mais imaginação senão a deste exemplo. Será que actividade escolar com tal conteúdo, vazio, não fomenta o ódio em vez do diálogo, da compreensão das coisas boas passíveis de serem feitas em prol dum mundo mais fraterno. Ou, olhem, sentar os meninos nas carteiras e deixar que lessem Eça de Queirós, que exercitassem a mente e o espírito. Tenho quase a certeza que aos alunos faria bem e a certeza absoluta que aos professores faria ainda melhor. O problema da escola portuguesa é que ninguém pode ensinar aquilo que não sabe.

Mas já que falei em Eça, ao menos, professores, leiam este pedacinho escrito pela sua pena. Depois, se a tanto vos ajudar a arte e o engenho expliquem aos meninos o que este pensamento significa:

«O ódio é um sentimento negativo que nada cria e tudo esteriliza: - e, quem a ele se abandona, bem depressa vê consumidas na inércia as forças e as faculdades que a Natureza lhe dera para a acção. O ódio, quando impotente, não tendo outro objecto directo e nem outra esperança senão o seu próprio desenvolvimento - é uma forma da ociosidade. É uma ociosidade sinistra, lívida, que se encolhe a um canto, na treva. (...) Mas que esse sentimento seja secundário na vasta obra que temos diante de nós, agora que acordamos - e não essencial, ou supremo e tão absorvente que só ele ocupe a nossa vida, e se substitua à própria obra.
Mário Rui

sábado, 28 de janeiro de 2012

Patriotismos



«O chanceler brasileiro António Patriota afirmou ontem em Davos, na Suiça, que a situação dos direitos humanos em Cuba "não é emergencial".»

Então das duas uma: ou a mãe não lhe tinha posto este nome, ou então melhor teria sido que se dedicasse à rega da horta.

Mário Rui

Acontece, mas ...


Oh Rodrigo, fala lá com o rapaz que insere as legendas quando não ficas mal. Tu, que até és bom 'pivot', não te podes dar ao 'luxo' de ter gente desta no teu "Jornal".
Mário Rui

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

KODAK



A centenária Kodak, pioneira na invenção da película fotográfica, pediu falência nos EUA. Anúncio do fim de uma era?

Mário Rui

Diferenças, para que vos quero?


Esta imagem é do jornal 'Sol' de hoje. Não serão precisos comentários quanto à amizade que une as duas figuras públicas da nossa praça. É caso para dizer que quando se trata de política à portuguesa, tudo vale. Basta que alguns estômagos consigam digerir uns quantos sapos vivos e tudo está bem. O que já não dispensará comentários é este texto com um pouco mais de 10 anos, escrito pelo querido da direita a propósito do da esquerda. Ainda assim, texto demasiado violento, em minha opinião, para ser digerido. Mas, como se vê, tudo parece mentira, tudo é facilmente encaixável por parte de quem até parece não ter sido minimamente beliscado na sua honorabilidade. Francamente, um e outro, por razões obviamente diferentes, até parecem iguais. A mim parece-me que é necessário também um momento especial para reconhecermos as diferenças entre nós e os outros. Enfim…
Mário Rui

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Repensar a vida


"Essa divisória que nos separa do mistério das coisas a que chamamos vida."
E no futuro? Viveremos assim?

«É preciso repensar a nossa vida. Repensar a cafeteira do café, de que nos servimos de manhã, e repensar uma grande parte do nosso lugar no universo. Talvez isso tenha a ver com a posição do escritor, que é uma posição universal, no lugar de Deus, acima da condição humana, a nomear as coisas para que elas existam. Para que elas possam existir… Isto tem a ver com o poeta, sobretudo, que é um demiurgo. Ou tem esse lado. Numa forma simples, essa maneira de redimensionar o mundo passa por um aspecto muito profundo, que não tem nada a ver com aquilo que existe à flor da pele. Tem a ver com uma experiência radical do mundo. Por exemplo, com aquela que eu faço de vez em quando, que é passar três dias como se fosse cego. Por mais atento que se seja, há sempre coisas que nos escapam e que só podemos conhecer de outra maneira, através dos outros sentidos, que estão menos treinados… Reconhecer a casa através de outros sentidos, como o tacto, por exemplo. Isso é outra dimensão, dá outra profundidade. E a casa é sempre o centro e o sentido do mundo. A partir daí, da casa, percebe-se tudo. Tudo. O mundo todo.»
Al Berto, in "Entrevista à revista Ler (1989)"


Mário Rui

Amizades




"Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas."

Mário Rui

Duetos Improváveis - Rui Reininho e Quim Barreiros



Não é nada que me espante esta associação musical. O que verdadeiramente me causa alguma perplexidade é saber quem é que mudou de registo. Esse é que é o meu enigma!

Mário Rui

Misérias



Na Etiópia, país onde em muitos povoados, as crianças vão à escola nuas tal é a miséria das famílias e a avareza de grande parte dos seus governantes.

"Há muito poucas repúblicas no mundo, e mesmo assim elas devem a liberdade aos seus rochedos ou ao mar que as defende. Os homens só raramente são os dignos de se governar a si mesmos."

Mário Rui

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Diferentes concepções jornalísticas-filosóficas



Ele há coisas que eu não consigo engolir. Só em seco. Vamos então aos factos. Diz o Código Deontológico dos Jornalistas, entre outras coisas, que é dever dos mesmos recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade profissional. O jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesse. Ora bem, esta última parte do ‘interesse’ é assim como que uma coisa que parece mas não é, nebulosa , difusa e ao mesmo tempo parda. Nunca sabemos ao certo para que lado pende o furor do jornalista ou o seu critério jornalístico no que, seja à informação, à entrevista ou à simples crónica, diga respeito. Bons e que seriamente levem a peito ‘as funções de que foram investidos”, há poucos. Sei muito bem do que falo porque da minha proximidade ao meio, e em especial à entrevista, com a idade que tenho e com centenas de emissões de rádio que já fiz, já são muito poucos os que quanto a esta matéria me ensinam alguma coisa. Não me entendam como arrogante ou dono de algum dom especial, mas concedam-me, pelo menos, o benefício da dúvida. Quando na minha aldeia, lá volto eu ao meu lugarejo de perdição, corria o ano de 1982 ou 83, já nem sei bem, lá estava eu e outros como eu, a defender acerrimamente uma rádio para Estarreja. Dos outros não falarei porque só eles saberão o que dizer. Quanto a mim, já por esse tempo sabia muito bem separar o trigo do joio em termos de comunicação social, leia-se rádio, e especialmente entender os apetites vorazes de alguma gente que, julgando-se acima de qualquer suspeita, por respeitável que até fosse, sempre me queria empurrar para o lado da conversa que mais lhe interessava. E eu percebia bem a razão de tal tendência. Mas como a arte de frequentar os humanos assenta essencialmente no à-vontade que postula um longo treino, sempre levaram sopas porque o meu papel a tanto me obrigava. Leram bem? Obrigava! O meu pensar era, e é, ao ar livre e então mais não fazia senão recentrar a conversa para o tema escolhido sempre que o entrevistado começava a divagar comprometendo assim, não só a minha independência como a dele próprio. E fazia-o com total imparcialidade já que para mim tanto se me dava, como se me deu, que o entrevistado fosse da direita, da esquerda ou do centro. Do PPD, do PS, CDS incluído, MES, PCP, PEV, o que aparecesse. Estava-me, e estou-me borrifando para todos eles. Já perceberam certamente que falávamos sobre política partidária e, quando acertada a temática do programa, não havia lugar para divagações que não as que havíamos combinado. Jogo limpo. Às vezes deparava-me com alguns, sobretudo em épocas eleitorais, e sabe Deus quantas fiz, que já vinham munidos de papel onde constavam as perguntas que eu ‘deveria’ fazer. Antes mesmo de as ler, retorquia: «...neste programa só há uma pessoa a colocar questões e só há uma a responder. De outro modo não há entrevistador, nem entrevistado...» Assim foi por muito tempo e daí que tenha comprado umas guerras que por sinal muito jeito me fizeram já que aprendi que há outras maneiras, outros “truques” para visitar certas pessoas. E então quando os meus actos se dirigiam a uma só causa, por sinal louvável, a Rádio de Estarreja, aí sim mais me comprazia levar por diante o fim a que me tinha proposto. Neste particular, nunca agi de máscara e portanto sempre repeli de uma maneira perfeitamente delicada qualquer curiosidade que não se dirigisse ao meu “traje”.
Bom, acho que já falei de sobra acerca de mim próprio e é chegada a altura de partilhar convosco uma aborrecida, para mim, entrevista da jornalista da SIC, Ana Lourenço, feita ao Dr. António Vitorino do PS. O programa chamava-se, ou chama-se “Contracorrente”. Os dois falavam sobre as reformas do Sr. Pof. Silva e a dita Ana Lourenço refere ao Sr. Dr. Vitorino que anda uma petição na internet a pedir a demissão do presidente da República... A sonsa da jornalista se calhar não sabe, talvez porque não queira saber, que anda uma outra petição na internet a pedir o julgamento do Sr. Sócrates. Com muitos mas mesmo muitos mais milhares de assinaturas ... É caso para perguntar se esta jornalista perguntou ou falou ou vai falar nisto a alguém no seu programa? Até quando teremos gente desta na televisão? O Sr. Silva ou o Sr. Sócrates parecem-me idênticos em termos de actuação política. Eu talvez condenasse ambos a apresentarem-se na barra do tribunal. Mas com jornalismo deste calibre, qualquer um de nós fica desarmado. Acreditem se quiserem: as diferentes concepções jornalísticas-filosóficas não são nada de fortuito. Crescem, pelo contrário, em relação e parentesco umas com as outras. Eu bem sei...


Mário Rui

O dinheiro à grande e à portuguesa



O dinheiro assemelha-se a um sexto sentido sem o qual não podemos fazer o uso completo dos outros cinco. As modernas democracias emergentes que geram tudo menos a evolução dos povos.

Mário Rui

domingo, 22 de janeiro de 2012

A uma amiga



Ao ver escoar-se a vida humanamente

Em suas águas certas, eu hesito,

E detenho-me às vezes na torrente,

Das coisas geniais em que medito.



Mário de Sá-Carneiro


Mário Rui

sábado, 21 de janeiro de 2012

Descoroçoamento de uma nação



Oh Sr.Prof. Cavaco. Esperava de si outra atitute que não a tão vulgar quanto a normalmente utilizada pela maioria dos políticos que temos. O senhor que, parece, tão sensato, tão racionalmente contido no que faz e diz, por esta vez esteve mal. E não lhe concedo perdão por tudo o que nos disse acerca do seu parco rendimento, quando o país definha, está de rastos.

Faz-me lembrar o comandante daquele navio que recentemente, e ao que se diz, terá sido dos primeiros a abandonr o barco quando viu as coisas mal paradas. Então um timoneiro feito o senhor, dos poucos em que ainda depositávamos alguma réstea de esperança e bom-senso, dá um golpe de asa destes? Tudo isto se assemelha a uma tragédia grega, das antigas que não das actuais, rica, poética e de tradição religiosa.

Muitos dos cidadãos que se revêem na sua imagem enquanto Presidente de um País que parece nunca sê-lo, sem trabalho uns, outros qualificados ou não, optam pela emigração. Para África, para o Brasil, para a Europa. O senhor parece não perceber que se o fazem é porque nem ao ordenado mínimo têm acesso, às vezes foge-lhes do prato a comida e a roupa com que se hão-de vestir. E depois revoltam-se e com razão porque de facto não compreendem que os sacrifícios nunca atinjem a sério os mais privilegiados.

Os que, como o senhor, não conseguem viver com 10 mil euros por mês, ou os que acham que lhes é devida uma remuneração de 45 mil euros por mês porque se auto-intitulam de verdadeiras cabeças pensantes que movem Portugal. Movem, movem, para o abismo. As suas queixas mais não são que indignas e um insulto aos portugueses. Então, mas agora juntou-se definitivamente aos que sempre nos maltrataram, sendo que era o senhor que ainda há bem pouco tempo dizia, e com razão, que há limites para os sacrifícios? Seja menos ambíguo e diga-nos lá do que estava então a falar.

Será que quer engrossar a fileira dos que sem uma pinga de vergonha, nos levam tudo em proveito próprio. Dos famélicos que vivem e reinam há já quase 40 anos por sobre a miséria e o descoroçoamento de uma nação. Está pois aberta a audiência. Que o réu decline a sua identidade. É tudo o que se lhe pede.

Mas vou-lhe dizer mais. Eu e os meus, a gente moderna e pobre, somos prudentes, com supremas convicções. A nossa desconfiança manteve-se sempre em guarda. Desconfiámos sempre das seduções de algumas palavras que nos pareciam prudentes e ponderadas por parte de alguns políticos. O senhor também o é! Político. E sabe qual a razão porque sempre assim fomos e continuaremos a ser?

Só porque sempre tivemos receio, medo, de sucumbir às armadilhas que qualquer um dos ditos nos poderia pôr no nosso caminho. E realmente puseram-nos já muitas. Agora, adicionemos mais uma. A sua! É a nossa circunspecção de «gato escaldado» que nos induz a não mais acreditarmos em vãs palavras de conforto e de esperança num futuro melhor. Consigo parece que também não vamos lá.

Mário Rui

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Estrelas em ascenção



Pelo sim, pelo não, convém sempre inspeccionar o restaurante da unidade 169 (que estranho número) do exército norte-coreano. É o que faz o querido-líder Quim, aliás Kim Jong-un.

Quantos séculos precisa um espírito para ser compreendido? – aí está também uma medida, um meio de criar uma hierarquia e uma etiqueta necessárias: para o espírito e especialmente para esta nova estrela.

Mário Rui

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

O último dos aventureiros aristocratas



Que querem que vos faça? Tenho uma admiração especial por este homem. Porquê? Porque era gordo, fumava charuto, foi o ícone da liberdade ocidental, tinha mau feitio, permanentemente instável, gostava das jogadas arriscadas, foi prisioneiro e conseguiu evadir-se, publicou livros, esperou sempre deixar o seu nome ligado a qualquer coisa de grandioso, tinha eloquência nos debates parlamentares, na década anterior à segunda grande guerra esteve quase sempre contra as opiniões dominantes entre a classe política inglesa, sempre soube que não se podia negociar com Hitler, foi o único que proferiu a célebre frase "sangue, suor e lágrimas" na defesa do seu país, se aliou a alguns inimigos na perspectiva de lhes levar a melhor, por vezes errático e irresponsável, fez sentir a todos que as causas pelas quais lutava, valiam a pena e, finalmente, foi o último dos aventureiros aristocratas.

Se conheceram ou se conhecem outro assim, avisem-me por favor

Mário Rui

O de ontem igual ao de hoje.



Corria o ano de 1937, já quase no seu fim, quando foi promulgado o decreto para valer como lei que recebeu o n.º 28219. O dito estabelecia então uma licença anual obrigatória , pesadamente paga pelos portugueses que usassem “isqueiro” ou outros “acendedores”. Naquela altura, o Estado mostrava-se implacável com quem pretendia aproveitar-se dos avanços da tecnologia , e então fazia pagar por essa liberdade todos aqueles que se propunham empobrecer a protegida indústria fosforeira. Mais tarde passou por cá mais um avanço da tecnologia. O “rádio-transistor”. E, então, português que se prezasse lá encostava o “transistor” ao ouvido para, alegremente umas vezes, tristemente outras, escutar o que o regime de antanho queria dizer ou fazer.
Bom, quer no caso do “isqueiro”, outros “acendedores” ou “rádio-transistor, sendo que para este último também se pagava uma taxa, qualquer simples utilizador dos mesmos, sempre andava escondido quer fosse para acender o cigarro ou ouvir rádio. De outro modo, corria o risco de ser fortemente penalizado por umas personagens aberrantes, fiscais das finanças ou mesmo da polícia, cujo único modo de vida era justamente andar à caça destes “malfeitores”. Já estávamos no século XX mas a verdade é que aqueles bacocos governantes não percebiam, ou não queriam perceber, que o mundo pulava e avançava em nosso redor, sendo que por cá havia um especial que se dedicava a pensar por todos os portugueses. A páginas tantas, até teria alguma razão no seu intímo para o fazer. Pensaria ele que dessa maneira poupava o ‘consumo’ de inteligência à população. Burro, tá bom de perceber. Aliás chamavam-lhe fascista. Eram ainda assim muito poucos os que se apoderavam dessa designação para qualificar o homem. Mas enfim. Relativize-mos as coisas. Depois de Abril de 74, já eram muitos ou quase todos os que, sem qualquer pudor, assim o qualificavam. Também facilmente se percebeu na altura, e muito melhor nos anos que se seguiram, o quão vantajoso era, e é ainda hoje, para alguns, fazer uso dessa terminologia. Sim porque hoje já não há fascistas, nem nada que se lhe pareça. Pura mentira. Hoje o que há é gente que pensa como a gente de então, só que de forma mais subtil. Que bonito soa a alguns quando dizem que se “acabou o mau tempo de outrora” e que a partir dessa revolução dos cravos, estamos em “boa sociedade”, de um entusiasmo terno, generoso, e que felizes somos por sentirmos o rococó dos efeitos da democracia plena. Vão-se encher de moscas que a mim nunca me enganaram. Foi preciso responsabilizar e julgar impiedosamente os sentimentos dessa gente, gente dos tais quarenta e oito anos de noite deveras escura, como seria imprescindível julgar hoje mesmo outra gente de carácter errado e que há tantos anos nos conta apenas e tão-só a falsidade deste mundo português que habitamos. Mas não há remédio que “cure” esta gente de agora. Até ver...
Não estou a ser justo? Então vejam: não a memória dos tempos em que o legislador reprimia quem possuia "isqueiros", outros "acendedores" e “transistores”. Mas as memórias que hoje permitem registar e guardar essas outras memórias. A memória dos computadores, os discos rígídos, os discos multimédia, os "discos" SSD, os vulgares leitores MP3/4, os telemóveis com capacidade de armazenamento.
Por iniciativa do PS, que pelos vistos os outros partidos acompanham, está em discussão uma lei que, se aprovada, implicará o agravamento de mais de 20 € do preço do disco de 1TB onde qualquer bom pai pretende guardar as fotos de família. Ou de mais de 50 € na aquisição de um disco multimédia onde queremos armazenar os filmes que fizemos ao longo da vida, ou outros que comprámos.
Dizem que é para proteger os autores e os seus direitos e não para gerar uma receita mais para o Estado. Mas quais autores e que direitos? Os autores que, por via das novas tecnologias, viram multiplicado por mil o poder de difusão das suas obras? Aqueles que se tornam conhecidos em dias quando no tempo do vinil demoravam anos a mostrar o seu talento? Que direitos de autor (e de que concreto autor) violo eu quando adquiro uma PEN para guardar os meus documentos, as minhas fotos, as minhas crónicas para a rádio ou para outro qualquer meio de informação que muito bem me apeteça?
Está visto, continuamos no mesmo País bacoco e pacóvio onde a capacidade das máquinas não se sobrepõe nem se substitui à falta de inteligência de quem nos dirige. Este legislador, em pleno século XXI, nem percebe que de qualquer parte do mundo se encomendam hoje esses dispositivos, transportados num vulgar envelope postal. Ou será que, para além do absurdo de taxar a aquisição de novas tecnologias, pensa o parlamento determinar com força de lei que os inspectores do fisco ou os polícias voltem a abordar quem suspeitem ter cometido o crime de não pagar tributo pela memória?
Os estrangeiros ficam espantados e sentem-se atraídos pelos enigmas e invenções dos nossos governantes. Não seria bom para Portugal que tais governantes emigrassem e com eles levassem longe tanta sabedoria? Emigrem pois e desapareçam da nossa vista. Não queremos correr mais esta etapa convosco!

Mário Rui

Lei da cópia privada. Discos rígidos, telemóveis e MP3 podem ser taxados | iOnline

Lei da cópia privada. Discos rígidos, telemóveis e MP3 podem ser taxados iOnline

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Explicação



Existe uma explicação muito simples para o facto de raramente me ‘verem’ escrever sobre política ou economia, finanças ou gestão.
Não se trata, neste caso, de falta de inspiração ou de pouca vontade de me sujeitar a críticas que possam resultar de posições mais radicais. Escrever sobre temas assim é chato, porque nada do que se possa escrever sobre eles me satisfaz. E eu ganharia muitos mais inimigos se vos lembrasse todos os dias que têm mais impostos para pagar e menos dinheiro nos bolsos.
Pedir desculpa aos políticos incompetentes por raramente escrever sobre eles está fora de questão. Ou aos vigaristas, ladrões e terroristas das Instituições públicas e privadas que sem vergonha nenhuma nos roubam todos os dias. Eles também nunca nos pediram desculpa pelo estado do país e do mundo, pelos espíritos que corromperam, pelo fardo e pelo destino que nos deixaram, pelas consciências e futuros infelizes que nos construíram e pelos buracos financeiros, e outros, que cavaram.
Escrever sobre o estado da política ou da economia não faz mais senão contribuir para o pessimismo e para a depressão social. E, estranhamente, contribui também para elevar o ego daqueles que, dissimuladamente afirmando que querem o bem geral, não fazem senão parte de uma seita que, subjugando tudo e todos, só querem poder e controlo.
Não é preciso sequer lembrar-vos que a actual situação do país é fruto da incompetência e da sede de poder desses mesmos senhores, que a corrupção que lhes corre nas veias envergonha os homens honestos, e que a sua tirania e avidez desmedida nos lança para o abismo.
As minhas crónicas não são a cura para ninguém. Não são sequer a fórmula mágica para resolver os vossos problemas. Mas quando os há, fiquem a saber que não estão sozinhos!
Por isso, se ainda me deixarem, vou continuar a escrever sobre aquilo que nos diz mais respeito, procurando diminuir a distância entre nós com assuntos com os quais se identificam e confiando que é sobre isso que gostam de ler. Está bem?
Quanto a esses restantes senhores de quem não falamos ou escrevemos, lembremo-nos apenas de que eles lá estão. Porque qualquer dia…

Rui André

sábado, 14 de janeiro de 2012

Despesas



Despesas: Ministério da Justiça confirma compra pelo ex-Secretário de Estado
Símbolos maçónicos comprados com dinheiro público.
Saiba quanto gastou o ex-secretário de Estado da Justiça, José Magalhães, para decorar o gabinete.

'In jornal Correio da Manhã´

Um indivíduo que conduza a sua vida em linhas de um embuste constante, acabará, ou na cadeia, onde há pouco que intrujar, ou por se tornar suspeito a todos e por isso já não poder intrujar ninguém. A mim, este, como de resto muitos outros, jamais me intrujarão pela muito simples razão de que os acho, a todos eles, verdadeiros carrascos de um país que jamais quiseram erguer. Sempre se governaram a si próprios e nunca em prol dos outros. Agora e relativamente a este senhor, vou ser mesmo grosseiro; sempre lhe senti, desde a quadratura do círculo, o fedor do seu horrível hálito político, sempre lhe reconheci a origem do seu próprio mundo de esterco politiqueiro. Gente desta é como uma espécie de peste emocional que, bem entrincheirada e em segurança, vem capciosamente envenenando o Povo que vota. Pobre deste Povo... ... de nós mesmos!

Mário Rui

Naufrágios



Um barco Carabinieri (polícia paramilitar italiana) aproxima-se do navio de cruzeiro de luxo Costa Concordia depois deste ter encalhado ao largo da pequena ilha toscana de Giglio, Itália. (clicar na imagem para aumentar).

E novos ventos vieram, novas pedras se nos puseram nas nossas rotas e eis que a moderna tragédia acontece. Ontem, como hoje, a realidade não é muito diferente. Talvez apenas os meios para que ela aconteça sejam diversos. Os modos de a tornarem menos violenta apressam-se, e bem, por forma a que poupemos mais seres que sempre nos fazem falta. Ora por menos vigília, ora por menos sorte, a realidade da espuma dos dias que por nós passam, continua a ser de fonte, às vezes benéfica, muito mais vezes de ordem maléfica. O mundo está inventado. Não é da natureza humana querer ultrapassá-lo. Só o podemos melhorar e sabe-se lá quantas vezes é difícil fazê-lo. Nos perigos grandes, o temor é muitas vezes maior que o perigo.

Mário Rui

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Não ser



Quem me dera voltar à inocência

Das coisas brutas, sãs, inanimadas,

Despir o vão orgulho, a incoerência:

- Mantos rotos de estátuas mutiladas!
Ah! arrancar às carnes laceradas

Seu mísero segredo de consciência!

Ah! poder ser apenas florescência

De astros em puras noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo ao entardecer,

De ramos graves, plácidos, absortos

Na mágica tarefa de viver!
Ser haste, seiva, ramaria inquieta,

Erguer ao sol o coração dos mortos

Na urna de oiro duma flor aberta!…

(Florbela Espanca)


Mário Rui

Irritações



Deixei de me irritar com os outros e de me ocupar deles, limito-me a ver como quem espreita para dentro de um aquário… por vezes comento, por vezes entristeço-me mas faça o que fizer não ocupo o mesmo espaço. Palavra!

Mário Rui

Quem somos nós?



“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”
Quem somos nós?
Em que acreditamos?

Quem nos forma/deforma?

Quem (e como) formamos/deformamos?
Em prol de que projecto de vida actuamos?

Situados em que premissas estão os nossos afectos?

Sobre que pilares se constrói, hoje, a estrutura interna de cada sujeito?
Quem se ensina a si mesmo tem um tolo como professor.

O mundo está nos eixos?
Mário Rui

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Corações




Um coração para transplante caiu no meio da rua quando era levado até o hospital La Raza, na Cidade do México.

A foto, divulgada esta quinta-feira, mostra o momento em que membros da equipe médica recolocam o órgão na caixa térmica usada para o transporte e a conservação.
O diretor do hospital, Falcony Rodrigo Lopez, anunciou depois que o transplante do coração foi realizado com sucesso, apesar da queda.

A única certeza que eu tenho é a incerteza. Não obstante este estado de ser e pensar, ainda acredito que há corações bondosos. Bem hajam!


Mário Rui

Primeiro vem o estômago, depois a moral...



Oh Dr. Maltez; esqueça lá o seu erudito discurso. Tenha bem presente que não está a dar aula a nenhum dos seus intelectuais alunos e muito menos a Portugal. Esta sua explicação doutrinária desemboca sempre no mesmo. É tão simples! Organizações secretas, encobertas, escondidas, abafadas e o mais que lhe queiramos chamar, só servem para quem quer um maior número de votos, promoção social, poder político, ou um assento no supremo, ou ser simplesmente o Grande Chefe. É só por isso que organizações como a que o senhor defende, ontem como hoje, são como uma espécie de justiça e mentalidade de ditadores, como que a corda que garrota o progresso de Portugal.O povo a quem dirige o seu verbo, sente-se infeliz e medíocre, repulsivo, impotente, sem vida, vazio. E a sua ciência política, como de resto a de outros, deveria em meu entender era dar respostas simples mas confiáveis a tão agonizante país. Guarde opiniões destas para si mas não as divulgue a nós.Temos fome de verdades ... ... e primeiro vem o estômago depois a moral...
Mário Rui

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A coisa vai linda.



Estava eu descansado da vida e não pensando sequer em escrever hoje no "Fogo Lento" e, eis senão quando, dou comigo a ler mais uma inspirada opinião a propósito da Maçonaria. A opinião é livre mas sempre há-de ter limites, sobretudo em relação àqueles que por direito próprio, leia-se devoção a uma causa nobre, devem ser comedidos nas opiniões que emitem.

Desta feita, o Senhor Cardeal D.Policarpo, pessoa que de resto muito estimo, pela calma, sabedoria e subtileza com que diz, resolve vir a terreiro a modos de me interromper o descanso, para também opinar sobre maçons e futebol. Uma coisa tem tudo a ver com a outra, tá visto.

Esperava sinceramente outra opinião sobre o assunto, por forma a manter uma boa imagem do Senhor Cardeal. Mas não. Desta vez desiludiu-me. Para o Senhor Cardeal Patriarca, não há necessidade de um maçon se assumir publicamente. “Não vejo porquê. A páginas tantas, também vão ter que assumir se são do Sporting ou do Benfica? Não me parece necessário.”

Ah... então não é necessário? O ponto que D. José Policarpo questiona é a eventual influência em decisões políticas: “A maçonaria, enquanto tal, ter influência directa em coisas políticas, isso está mal. Agora se são maçons, ou católicos, ou do Sporting, isso não me parece importante”. Então, mas será que só o Senhor Cardeal é que ainda não percebeu o que é isso duma sociedade secreta? Citando, Pedro Lomba, "o que leva numa democracia e numa economia de mercado, um grupo de indivíduos livres, alguns deles ricos e com poder, a pensarem que precisam de constituir uma nova organização maçónica para atingir os seus intentos? Será que precisam de uma organização com esse feitio para poderem prosperar?" De facto estes "agentes secretos" deverão andar a tratar da nossa vida, para a melhorar, claro, e a tratar da vidinha deles para se governarem.

Oh Senhor Cardeal! O Senhor fuma, isso todos sabem, mas será que o Senhor também inala? Deixe-me lá continuar a prestar-lhe alguma atenção. Não me desgoste mais. Agradeço-lhe muito.

Mário Rui

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Na vida, quem sabe jogar o jogo, leva sempre vantagem.



Quando se é Rei, tudo é permitido. Quem é, quem é que põe a mão na mãozinha da Shakira? O Blatter? Claro que não. Ele é só ajudante de sherife e nem sequer foi aprendiz de feiticeiro. Paciência. Na vida, quem sabe jogar o jogo, leva sempre vantagem.

Mário Rui

China, China, ninguém vive sem mudança...



Afinal nem tudo são rosas na tal China, um país, dois sistemas. Vá lá acrescentem-lhe então mais um. O protesto de manifestantes contra as más condições de trabalho em fábricas de brinquedos em Hong Kong. E em quantas mais? Centenas, milhares, milhões? China, China, ninguém vive sem mudança e muito menos com a boca tapada. Um destes dias convirá que se tirem as amarras e as precárias condições de vida a milhões de pessoas. Não obstante a vossa diplomacia externa, tão suave, tão aveludada, não será melhor olhar para dentro? E a substítui-la pela fraternidade profissional e pessoal com todos os sapateiros, carpinteiros, mecânicos, técnicos, físicos, educadores, professores, escritores, administradores, mineiros, camponeses e, já agora com os estudantes. Lembram-se daquela praça Tiananmen ...? Se a fotografia retrata a revolta em Hong Kong, como será no resto do país? Incrédulo fico eu, e sem perceber como é que esta passou para o lado de cá. Mais tarde ou mais cedo, a necessidade forçar-te-á, a ti China, a entender que os outros já descobriram as leis da vida... E o velho sábio um dia disse:


«Plantei a semente de palavras sagradas neste mundo.

Quando muito depois de morta a palmeira aluir o rochedo;

Quando a magnificência de todos os reis não for mais que podridão das folhas secas;

Através dos dilúvios mil arcas guardarão a minha palavra:

Ela prevalecerá.» (Wilhelm Reich)

Mário Rui

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Jornalismo à toa


Por muito que queira fugir à tentação de falar sobre o meu país e no mais das vezes criticando a sociedade que o compõe, é-me impossivel fazê-lo, confesso a minha fraqueza, já que a panóplia de acontecimentos e não acontecimentos que nos inunda o espírito, hoje, amanhã e depois de amanhã, é de facto por demais apelativa para que me deixe ficar quedo e mudo.

E se há alturas em que o ponho, ao país, lá bem no cume de tudo o que deve ser louvado, outras há em que só me apetece rir, criticar, ou por vezes vociferar contra ele. Os países são pessoas, com rostos identificados, com usos e costumes que à sua maneira cada um dos cidadãos que o povoa bem conhece. Daí que, sempre que falo ou escrevo sobre o país que somos, estou consequentemente a dirigir-me a todas essas pessoas e, por estranho que vos possa parecer, a dirigir-me também a mim mesmo.

O espirito humano tende sempre a criticar porque sente. No meu caso assim é também, embora eu ache que estaria bem melhor no seio daqueles que estão sempre na margem daquilo a que pertencem. Mas eu sou eu e por isso nunca abandonei o meu Deus e nunca aceitei a Humanidade tal-qual ela é. Sobrelevando Fernando Pessoa, que a par de Luis de Camões é considerado um dos maiores poetas da língua portuguesa, também ele assim o dizia. Intui-se facilmente que, nem de perto nem de longe me estou a tentar comparar a qualquer um destes vultos maiores, ainda que o tentasse até ao resto da minha vida. Jamais lá chegaria, entendamo-nos!

Esta espécie de intróito fi-lo eu porque de ora em diante, e não me querendo alongar por saber que poucos serão os que me vão ler, vos vou falar, ou melhor partilhar convosco a propósito do que me fez rir e ao mesmo tempo meditar, nos últimos dias. Por certo não deixará de ser interessante, mais pela parte do riso e obviamente menos pela parte meditativa. São estados diferentes, e se o riso nos assite mais facilmente, já o mesmo não se passará quanto ao lado da meditação. Pois riam se quiserem e meditem se vos aprouver.

Os acontecimentos a que antes aludi, são basicamente dois e que eventualmente pouca importância terão para os meus leitores mas, para mim, despertaram-me a ponto de sobre eles discorrer um pouco.
O primeiro tem a ver com um jornal dito de referância, o Público, que rotineiramente leio, mas em relação ao qual começo a ter sérias dúvidas se não estará a trilhar o caminho de um tablóide do tipo Murdoch, leia-se News of the World. É que são já tantas as peças jornalísticas e afins de mau gosto e mal escritas, que me atrevo a dizer que nesta evidente agonia, já se procura a busca do impossível através do inútil. Para além das novas que diariamente nos mostra, de resto a exemplo do que fazem os outros, parece-me ter perdido uma boa parte dos excelentes analistas e cronistas que há um par de anos ainda por lá se mantinham.

Razões para o êxodo, não me perguntem quais porque eu só constato e não investigo. Motivo para rir tive eu em recente edição em que nos é proposta a leitura, todos os sábados e a partir de 21 de Janeiro, de informações sobre as principais agências secretas mundiais. Estou a falar, ou antes o jornal propõe-se contar, e passo a citar, «informações de modo a que cada um de nós saiba tudo sobre o mundo dos espiões antes que eles saibam».

Cheira-me a anúncio de noite de circo ambulante em aldeia alentejana. Com a devida vénia, pela parte que me toca, ao circo ambulante e às bonitas aldeias alentejanas. Mas continuando. Vai então o jornal, à boa maneira de Julian Assange à portuguesa, pôr a nú os principais segredos de agências como a CIA, KGB, SIS, Mossad e por aí fora. Designar como proveitosa e sobretudo essencial aos portuguesas este meritório trabalho jornalístico, é como dar uma bicicleta a um peixe. Muito útil ao condado portucalense. Francamente.

Se isto é jornalismo de eleição então eu tenho que dizer que há almas sobre quem pesa como que uma maldição o não lhes ser possível ser hoje gente da Idade Média. Como ainda me estou a rir, este é o lado bom da história. Mas eles lá sabem o porquê do caminho escolhido. Quanto a este jornalismo, estamos conversados.

O outro acontecimento que vos queria enfatizar, prende-se com a discussão histérica e estéril acerca da Maçonaria e suas lojas. Ela é televisões, rádios, jornais, eu sei lá que mais. Sobre tão nobre acontecimento tive eu a sorte de, numa das minhas últimas crónicas publicadas no meu blogue, intitulada “A natureza das coisas”, dissecar.

Não sendo minha intenção ocupar-vos mais tempo, repito tão só uma pequenina parte da minha percepção sobre o assunto que na altura escrevi; « ... assim sendo, eu acho que estas e outras sociedades secretas acabam resultando num conjunto de homens ditos nobres – serão?- que separam de si os seres nos quais se manifesta o contrário destes estados de alma elevados e altivos.
Devo estar enganado, mas então qual a razão substantiva para tanto secretismo que a envolve? Dos anos de vida que já levo, e relativamente a tais pretensas bondosas acções, quer-me parecer que qualquer tipo de homem nobre sente-se a si próprio como determinador de valores, valores que procura disseminar e que nunca os idealiza ou põe em prática de modo secreto.
Quanto ao secreto, sinto que as portas assim fechadas são de facto o melhor meio para dominar o Poder, para o subverter em proveito próprio. Seja na Justiça, na Saúde, na Educação e no mais que lhe queiram acrescentar. Será aí, nesse diabo desses secretos actos, que algum dia assentou a prosperidade de Portugal? Será por isso que sempre fomos a cauda do pelotão? ....»

E agora riam-se vocês se tal vos der prazer. Eu já enchi o meu ego de sonhos de boa disposição e há muito percebi que o mundo exterior existe como um actor num palco: está lá mas é outra coisa.
Mário Rui

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Tu cá, tu lá!



Mário Rui

Dos homens superficiais.



Há muitas luzes apagadas e aquele que com a vista penetrou bem fundo no Universo, adivinha muito bem quanta sabedoria reside no facto de os homens serem superficiais.

Marinho e Pinto, Bastonário da Ordem dos Advogados, foi constituido arguido pelo crime de difamação de um juiz. Pelo que disse publicamente de um juiz de direito, em diversas ocasiões, nunca lhe citando o nome, num exercício corajoso de ignomínia. Já estamos fartos de almas como a deste bastonário. Não é, nem nunca será um verdadeiro e puro artista , nem na concepção, nem na execução. É justamente por isso que o seu drama é uma coisa ao mesmo tempo fria e ardente, tão apta para gelar como para inflamar. A justiça precisa é de quem faça sempre a mesma coisa. Pode ser fria ou ardente, mas que seja sempre e só uma. De outro modo, qualquer dia só lançará mão de palavras com intenção difamadora e ao mesmo tempo verborreia afável. Assim, ninguém compreenderá que tipo de homem é este. O conselho que lhe dou, também sou conselheiro, é que viva com uma imensa e orgulhosa calma: sempre para além de. Ter e não ter, arbitrariamente, razão, há-de levá-lo um dia ao deserto. E aí, mesmo as palavras fortes, somem-se com os ventos fortes de tal lugar. De facto há homens muito superficiais e há sempre, mais tarde ou mais cedo, um tímido olhar de solidão. Porque não te calas, Marinho?

Mário Rui

Mais uma leitura



Mário Rui

Fim das ilusões, ilusões do fim.



Não sendo uma edição recente, é de 2006, não deve deixar de ser lido.

Sinopse do livro:


"Este livro tem dois lados, o dos modelos e o dos factos. É um texto escrito em módulos, permitindo que a sua leitura seja feita por capítulos isolados. Em cada capítulo é explorada uma razão sufi ciente para se identificar o que gera a dinâmica da crise política em Portugal. Se cada capítulo é suficiente para se compreender como se chegou até aqui, é a articulação de todos os capítulos que estabelece a plataforma para se sair daqui. Para se romper a circularidade que vai do fim das ilusões para as ilusões do fim é necessário promover a emergência do real, rompendo o labirinto de espelhos em que os protagonistas políticos aprisionaram Portugal."

Mário Rui

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Vão e voltem que desse modo ajudarão muita gente a mudar de opinião a vosso respeito.

Afinal fico satisfeito pelo facto de não ser o único a perceber que, neste nosso mundo, ainda prevalecem o lucro e a ambição desmesurada, em lugar da solidariedade para com o país que vai definhando. Assim o disse em crónica anterior, assim o continuo a assumir. E mais! Sobre esta deslocalização parece-me mesmo que todos querem ascender ao trono. Como se a felicidade dos milhões estivesse sobre o trono. Para aqueles que se exilam voluntáriamente, sós ou aos pares, e atendendo às circunstâncias em que o fez o grupo Jerónimo Martins, só nos resta não erguer a mão contra eles. Pelos vistos outros lhe seguirão os passos, e o nosso destino não é tornarmo-nos enxota-moscas. Vão e voltem que desse modo ajudarão muita gente a mudar de opinião a vosso respeito.
Mário Rui


O porta-voz do CDS, João Almeida, sugeriu hoje que os consumidores têm «todo o direito» de adaptarem o seu perfil de consumo na sequência da decisão do grupo Jerónimo Martins transferir a sua sede social para a Holanda.
A declaração de João Almeida, também vice-presidente da bancada do CDS-PP, foi feita no período de declarações políticas do plenário da Assembleia da República e causou manifesta surpresa entre as bancadas da oposição.
Ao longo desse debate, Bloco de Esquerda, PS, PCP e Partido Ecologista 'Os Verdes' defenderam mudanças na lei ao nível da tributação dos lucros das empresas em território nacional, tendo em vista impedir a sua fuga para o estrangeiro, mas nunca colocaram a possibilidade de qualquer exercício de penalização ao nível do consumo de bens vendidos pelo grupo Jerónimo Martins, proprietário dos supermercados Pingo Doce.
Para o porta-voz do CDS, «se é legítima» a opção de um empresário nacional transferir a sua sede social para outro país, «ainda que possa ser criticável, também é legítimo aos consumidores retirarem consequências dessa opção e adaptarem o seu comportamento».
«Como é evidente, qualquer consumidor tem todo o direito, perante uma opção destas do empresário, de adaptar o seu perfil de consumo», acrescentou João Almeida.
Tal como antes fizera o deputado do PSD Virgílio Macedo, também João Almeida situou a causa do problema da decisão do grupo Jerónimo Martins na perda de competitividade fiscal do país.
João Almeida referiu a este propósito que, durante a vigência dos governos socialistas, 15 dos maiores grupos económicos nacionais também mudaram a sua sede social para o exterior, «realidade que o PS agora pretende ignorar».
Na resposta, o deputado do Bloco de Esquerda Pedro Filipe Soares acusou o CDS de revelar que «o seu amor pelos contribuintes já desapareceu».
«Afinal, o CDS acha normal que este grupo económico saia do país, porque no passado outros 15 já saíram», respondeu o dirigente do Bloco de Esquerda
Lusa/SOL

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Portugal é maior do que os líderes que temos




"Portugal é maior do que a crise que vivemos", afirmou o chefe de Estado, pedindo uma "união de esforços". A crise tem paternidade: precisamente aqueles que andam agora a sacudir a água do capote e que nem sequer a reconhecem. A crise, para esses, tem pais incógnitos...

Quem nos cantará uma canção, uma canção de encantar, uma canção tão leve, numa solarenga manhã, que consiga expulsar as ideias negras que atormentam a nossa cidadania e, com tais sons afáveis, expulsar também os que nos deixaram chegar a tal estado?

Mário Rui

É esse o vosso desejo, meus impacientes amigos?



A Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, dominada pela família Soares dos Santos, mudou-se para a Holanda. O capital não tem pátria, já se sabia. E Soares dos Santos é um patriota, como o atestará qualquer um dos seus empregados, a quem paga ordenados de terceiro mundo. Ou António Barreto, dirigente da Fundação do mesmo. Um patriota que prefere pagar impostos aos holandeses, para poupar umas massas... Assim não vamos lá. Bom, mas por morrer uma andorinha não acaba a primavera. Problema será se morrerem muitas andorinhas. E se muitos mais abalarem, então o problema agudizar-se-á. De facto este é um mundo onde imperam em primeiro lugar, o lucro e a ambição e então depois, alguma, pouca como se vê, solidariedade para com um país que vai definhando. Parece-me que aquilo que mais falta faz a Portugal são "pensadouros", onde muita gente possa encontar sempre o 'fim perfeito'. Quem sabe se à volta de tais "pensadouros" não iríamos encontrar sistemas positivistas onde fundar a nossa fé e largar de mão os nossos pessimismos tenebrosos, de decepções e medos. Talvez conseguíssemos essa escala de valores que nos levaria ao desafogo, ao postular de uma sociedade mais feliz. Talvez sim...


Mário Rui

domingo, 1 de janeiro de 2012

Aguentemo-nos...



Mário Rui

Novo Ano


Será uma utopia, realidade , ficção, facto paranormal?

Mário Rui

Ano Novo



Um 2012 tão bom quanto possível