sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Não ser



Quem me dera voltar à inocência

Das coisas brutas, sãs, inanimadas,

Despir o vão orgulho, a incoerência:

- Mantos rotos de estátuas mutiladas!
Ah! arrancar às carnes laceradas

Seu mísero segredo de consciência!

Ah! poder ser apenas florescência

De astros em puras noites deslumbradas!
Ser nostálgico choupo ao entardecer,

De ramos graves, plácidos, absortos

Na mágica tarefa de viver!
Ser haste, seiva, ramaria inquieta,

Erguer ao sol o coração dos mortos

Na urna de oiro duma flor aberta!…

(Florbela Espanca)


Mário Rui

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