sábado, 23 de março de 2013

É o que temos.

























A propósito do anunciado regresso de Sócrates ao espaço televisivo português, primeiro passo para outros voos semelhantes aos que já fez no passado e com péssimos resultados, é bom que todos percebamos duas ou três coisas essenciais à compreensão do ‘modus faciendi’ da tristérrima política nacional e da não menos censurável comunicação social que temos. Desde logo, e dando por adquirido que lhe assiste todo o direito de falar, o que me custa perceber é a razão pela qual o nosso audio-visual acha que só os políticos devem ocupar espaço e tempo nas suas emissões. Verdade incontornável, quer o interlocutor se chame José, Leite, Ângelo, Mendes, Sousa ou outrossim! Há, no universo de quem tem por missão informar o país do que se vai passando quotidianamente, não uma nobre vontade de fortalecer mentalmente os destinatários quanto ao que os rodeia mas, isso sim, uma espécie de promoção de uma mercadoria que se vende. Neste domínio, a informação televisiva em particular, e de modo sectariamente dirigido, veio fazer com que o princípio de neutralidade e objectividade destronassem as boas lições de moral pública. Um noticiário, uma entrevista, um comentador político com assento numa TV, são idealmente construídos para além do que nos interessa verdadeiramente. O primado das inverdades, para não lhes chamar mentiras, sobre os bons valores, entra casa adentro do espectador num misto de espectacularidade, de sensacionalismo que apenas evidencia uma concorrência partidária e nada mais que isso. Este é o pior lado de um jornalismo que bem se pode chamar o dos fretes. Depois, bom depois temos os aproveitadores destas inenarráveis façanhas ditas comunicacionais, que tão bem transformam em capital próprio, ou de grupo, as suas alocuções inflamadas. O comentário político desta gente não pretende auxiliar ninguém na busca da resolução dos seus problemas diários, mas antes dar palco à teatralização do desempenho que tiveram enquanto ex-decisores de qualquer coisa, desempenho que, no mais das vezes, apenas serviu para nos deixar assim prostrados como país que queríamos ser. Serve assim como uma espécie de expiação de pecados pessoais, como se tal pudesse apagar do nosso viver o mal que nos causaram. Junte-se-lhe depois, com identidades diferentes, é certo, a indomável necessidade na defesa do partido, do programa, da bancada, do grupo! Não existe mais nada no absoluto destes comentadores que vá além disto. É pouco, não é? Mas é o que temos. Lamento que, na liturgia do que deveria ser comunicação social austera e pensamento político ensinador, apenas tenhamos referentes éticos de baixo valor. Deste modo, não consigo descortinar processos de integração ou de normalização social que nos acudam nos difíceis tempos que correm.

Mário Rui