segunda-feira, 10 de junho de 2013

« Esta é a ditosa Pátria minha amada »























« Esta é a ditosa Pátria minha amada »

A que me viu nascer e meu deu o sol da minha infância, os dias bons da minha juventude e, mesmo mais sombria em tempo adulto, me ofereceu a esperança de morrer lusitano. Dói-me apenas o saber que ao longo desta caminhada tive como parceiros homens que decidiram enegrecer o sentido de se ser de cá, julgando com isso que gravariam o seu nome na placa da história desta nobre terra. Não importa, pois o que de nós restará há-de ser a memória dos que por obras e feitos notáveis inscreveram a sua identidade na narração futura de um país de gente que sempre lutou pela dignidade do nosso pedaço de terra. Gente que nunca conheceu outro palco senão o da labuta, o da mesa não farta mas ainda assim feliz, gente que jamais tomou assento à mesa do rei, fugaz mas atinada na sua afirmação de portugalidade e por isso mesmo verdadeira defensora do brio de uma pátria. Agora consigo perceber do modo como fui, eu, e se calhar muitos como eu, honrado com companhias destas. Quem sabe se não teremos sido ingratos sempre e quando estivemos ao lado dos supérfluos em vez de cantarmos bem alto o nome dos que nos elevaram à condição de pessoas modificadoras da causa. Isto é que é ser português! Orgulharmo-nos por tanta generosidade recebida e fazermos por esquecer muita dádiva envenenada. Não faremos a contabilidade das festas públicas que cantam loas à lusa-pátria uma vez por ano! É dia efémero que não marca na alma e no corpo deste povo o sinal dos tempos. Preferimos os dias todos, os séculos que encheram páginas e páginas da história universal e levaram mais longe o nome da terra que habitamos. Para nosso descontentamento fizemo-lo demasiadas vezes com a barriga vazia e o pé descalço. Nós bem sabemos que assim foi. Mas porque prevenidos sempre vimos o que falhou, demos o nosso melhor em nome da mudança necessária. Sagazes, prudentes, com juízo, levámos ao colo a palavra que nos define. Portugal! Conseguimos mil anos de vida e este percurso seria incomportável sem luta, sem ilusões, sem prestígios. Tão grandes somos que nem sequer temos inimigos desprezíveis. Cá dentro ou lá fora, lidamos com eles, fabulando! A mais não somos obrigados. Tiraram-nos o pão vezes sem conta, outras tantas deram-nos supostos prazeres, rosas bordadas de espinhos. Tão pouco sabedores da nossa assumida inteligência, nunca conseguiram perceber que colhê-los sem nos ferirmos foi o requinte da sabedoria e habilidade deste povo de Viriato. Podem vir ventos, tempestades ou até trovas matreiramente apaixonadas. A autoridade de Portugal é e será sempre a razão e o argumento de uma só língua. Continuaremos a ser singelos no falar que nos une, mas dobrados no propósito que nos move. E o sentido do propósito é indivisível, é Portugal!! O de Camões, da ditosa Pátria minha amada.

Mário Rui