quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Diferentes concepções jornalísticas-filosóficas



Ele há coisas que eu não consigo engolir. Só em seco. Vamos então aos factos. Diz o Código Deontológico dos Jornalistas, entre outras coisas, que é dever dos mesmos recusar funções, tarefas e benefícios susceptíveis de comprometer o seu estatuto de independência e a sua integridade profissional. O jornalista não deve valer-se da sua condição profissional para noticiar assuntos em que tenha interesse. Ora bem, esta última parte do ‘interesse’ é assim como que uma coisa que parece mas não é, nebulosa , difusa e ao mesmo tempo parda. Nunca sabemos ao certo para que lado pende o furor do jornalista ou o seu critério jornalístico no que, seja à informação, à entrevista ou à simples crónica, diga respeito. Bons e que seriamente levem a peito ‘as funções de que foram investidos”, há poucos. Sei muito bem do que falo porque da minha proximidade ao meio, e em especial à entrevista, com a idade que tenho e com centenas de emissões de rádio que já fiz, já são muito poucos os que quanto a esta matéria me ensinam alguma coisa. Não me entendam como arrogante ou dono de algum dom especial, mas concedam-me, pelo menos, o benefício da dúvida. Quando na minha aldeia, lá volto eu ao meu lugarejo de perdição, corria o ano de 1982 ou 83, já nem sei bem, lá estava eu e outros como eu, a defender acerrimamente uma rádio para Estarreja. Dos outros não falarei porque só eles saberão o que dizer. Quanto a mim, já por esse tempo sabia muito bem separar o trigo do joio em termos de comunicação social, leia-se rádio, e especialmente entender os apetites vorazes de alguma gente que, julgando-se acima de qualquer suspeita, por respeitável que até fosse, sempre me queria empurrar para o lado da conversa que mais lhe interessava. E eu percebia bem a razão de tal tendência. Mas como a arte de frequentar os humanos assenta essencialmente no à-vontade que postula um longo treino, sempre levaram sopas porque o meu papel a tanto me obrigava. Leram bem? Obrigava! O meu pensar era, e é, ao ar livre e então mais não fazia senão recentrar a conversa para o tema escolhido sempre que o entrevistado começava a divagar comprometendo assim, não só a minha independência como a dele próprio. E fazia-o com total imparcialidade já que para mim tanto se me dava, como se me deu, que o entrevistado fosse da direita, da esquerda ou do centro. Do PPD, do PS, CDS incluído, MES, PCP, PEV, o que aparecesse. Estava-me, e estou-me borrifando para todos eles. Já perceberam certamente que falávamos sobre política partidária e, quando acertada a temática do programa, não havia lugar para divagações que não as que havíamos combinado. Jogo limpo. Às vezes deparava-me com alguns, sobretudo em épocas eleitorais, e sabe Deus quantas fiz, que já vinham munidos de papel onde constavam as perguntas que eu ‘deveria’ fazer. Antes mesmo de as ler, retorquia: «...neste programa só há uma pessoa a colocar questões e só há uma a responder. De outro modo não há entrevistador, nem entrevistado...» Assim foi por muito tempo e daí que tenha comprado umas guerras que por sinal muito jeito me fizeram já que aprendi que há outras maneiras, outros “truques” para visitar certas pessoas. E então quando os meus actos se dirigiam a uma só causa, por sinal louvável, a Rádio de Estarreja, aí sim mais me comprazia levar por diante o fim a que me tinha proposto. Neste particular, nunca agi de máscara e portanto sempre repeli de uma maneira perfeitamente delicada qualquer curiosidade que não se dirigisse ao meu “traje”.
Bom, acho que já falei de sobra acerca de mim próprio e é chegada a altura de partilhar convosco uma aborrecida, para mim, entrevista da jornalista da SIC, Ana Lourenço, feita ao Dr. António Vitorino do PS. O programa chamava-se, ou chama-se “Contracorrente”. Os dois falavam sobre as reformas do Sr. Pof. Silva e a dita Ana Lourenço refere ao Sr. Dr. Vitorino que anda uma petição na internet a pedir a demissão do presidente da República... A sonsa da jornalista se calhar não sabe, talvez porque não queira saber, que anda uma outra petição na internet a pedir o julgamento do Sr. Sócrates. Com muitos mas mesmo muitos mais milhares de assinaturas ... É caso para perguntar se esta jornalista perguntou ou falou ou vai falar nisto a alguém no seu programa? Até quando teremos gente desta na televisão? O Sr. Silva ou o Sr. Sócrates parecem-me idênticos em termos de actuação política. Eu talvez condenasse ambos a apresentarem-se na barra do tribunal. Mas com jornalismo deste calibre, qualquer um de nós fica desarmado. Acreditem se quiserem: as diferentes concepções jornalísticas-filosóficas não são nada de fortuito. Crescem, pelo contrário, em relação e parentesco umas com as outras. Eu bem sei...


Mário Rui

O dinheiro à grande e à portuguesa



O dinheiro assemelha-se a um sexto sentido sem o qual não podemos fazer o uso completo dos outros cinco. As modernas democracias emergentes que geram tudo menos a evolução dos povos.

Mário Rui