segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Batista da ONU


























A indignação que por aí vai quanto ao verbo e à desfaçatez de um tal de Batista da Silva - pretenso ex-bolseiro da Gulbenkian, consultor do Banco Mundial, coordenador mandatado pelo Secretário-Geral da ONU, professor universitário – só me pode fazer rir. Felizmente que, neste final de ano, apareceu alguém que nos deixou uma pincelada de humor e boa disposição, sobretudo tido em conta o modo cénico, quase perfeito, que utilizou para enganar alguns doutos falantes da nossa praça. Com papas e bolos… se enganam os tolos, diz o velho ditado. E ainda bem que subsistem alguns tolos, tal é a ânsia de dar a palavra a qualquer bicho-careta que aterre no país. Num artigo de Nicolau Santos, no último Expresso, o título é este:  “O que diz Artur e o governo não ouve”. Claro que, não atestada previamente a veracidade pessoal e profissional de tão eloquente orador, o resultado só poderia ser este. Uma espécie de prof. Karamba, ao melhor estilo  de aprendiz de feiticeiro, cuja sabedoria se repercutiu não só pelo Expresso, SIC (incluindo presença no "Expresso da Meia Noite"), TSF e Reuters, como também bradou pela  TVI que recorreu a declarações proferidas na concorrência para abrir pelo menos um noticiário. Assim é que eu gosto. Quando for para zurzir no governo de Portugal, bom ou mau, isso são outras contas, convidem-me a mim. Não tenho títulos académicos, pouca verborreia me assiste, de economia nada percebo, mas para dizer que a “receita” do governo não dá certo, que estamos na senda da Grécia, que temos que “inverter” as políticas e toda a inenarrável lenga lenga que há décadas aturamos, isso, até eu faço. Para tomar assento na mesa de Bagão Félix ou Maria Barroso, também estou disponível,  conquanto não diga como o prof. Marcelo que “o governo está optimista, mas os portugueses não”. Acho-me capaz de melhor pese embora a minha honrada ignorância. Então os portugueses deveriam estar optimistas? Por estas e outras tiradas é que eu condeno veementemente, não o doutor Batista da ONU, mas antes quem somou mais um nome ao pobre panorama opinativo do país. Não havia necessidade de tal adição. Se já temos tantos peritos-especialistas na avaliação da coisa pública, para quê mais um? Bom, mas pensando mais profundamente, também não há-de ser por isso que o mundo se finará. E, se calhar, até será bom para a nossa auto-estima. Enquanto os ouvimos, não lhes concedendo muito crédito, nunca nos acharemos frustrados nas nossas esperanças. O que eu lamento a sério é que o conhecimento já foi um bem associado ao verbo saber. Agora, já só é um mal público ligado ao verbo desconhecer. Viva o Batista da ONU. Convidem-no de novo para gáudio da corte.

Mário Rui