domingo, 11 de setembro de 2011

Depressão pós Verão



Com o final do Verão vêm sempre as inquietações de um novo ciclo e as tristezas do regresso à rotina. É chato isto de ver os dias de cão chegarem ao fim. Mais chato é saber que crescemos e esses dias dificilmente virão outra vez.


Quanto a mim, este foi provavelmente o último Verão gozado à séria. E quando digo à séria, falo mesmo a sério. Este final de Verão significa um novo ciclo para mim. Agora só há lugar para trabalhar. E como se isso não bastasse, será um trabalho bem longe daqui e dos que me são queridos. Ou seja, de vocês!

É pena ter de admitir que compreendo agora perfeitamente os que sentem a falta dos famosos três meses de férias, dos dias quentes sem fazer nenhum, dos sonos e das horas trocadas, da falta de preocupações e do habitual convívio com os amigos. Agora estou convosco!


O final do Verão significa também voltar àquela escrita que nos sai agora esquisita, própria de quem não abre um sumário há meses, àquele friozinho na barriga natural do primeiro dia de aulas ou de trabalho, àquele formalismo do costume e àquela rotina que nos consome.


Mas nem tudo é mau. Com o final do Verão vêm também coisas positivas. Eu apenas não sei quais, ainda. É como saber que estudar faz bem, mas só percebermos isso uns anos depois. Ou como comer chocolate, sabendo que engorda, mas só nos apercebermos disso quando nos inscrevem no Peso Certo.


Enfim, é tão triste isto de crescer e ter responsabilidades acrescidas, como ter de continuar a tirar a areia que ficou esquecida no bolso das calças.

Rui André

Mentira



Viver sob o signo de uma mentira não é fácil. Primeiro, porque na maior parte das vezes não nos queremos conformar com a veracidade dos factos, mesmo quando eles estão à nossa frente. Algumas pessoas chamam a isso estupidez, outras ingenuidade. Depois, porque uma mentira repetida muitas vezes jamais se torna uma verdade.


Mas há mentiras boas e mentiras más. As boas pressupõem uma surpresa agradável ao homem ou à mulher da nossa vida, uma partida ao melhor amigo ou um “eu não sei de nada!” que nos protege de qualquer inconveniência da qual não fizemos parte.


As más, pelo contrário, não são agradáveis, antes corroem o espírito de quem engana e de quem é enganado e deixam ao descoberto a mesquinhez e a falsidade de quem as alimenta.
As mentiras más são isso mesmo. Más. Mesquinhas. Vis. Não importa quem as inventa, quem as diz ou quem as sustenta. Não importa a sua forma, cor ou conteúdo. Não importa sequer a raça, o credo ou a religião de quem as produz.


Depois existem as mentiras grandes e as mentiras pequenas. As mentiras óbvias e as mais discretas. As dos que nos governam e as dos que nos querem governar. As dos casais e as dos solteiros. As dos assistentes de vendas e as das empregadas de limpeza. As dos vizinhos e as dos desconhecidos. As dos pequenos e também as dos mais crescidos.


Seja como for, uma mentira má é sempre condenável. Por isso, por muito tentadora que seja, não nos devemos nunca sujeitar a ela. Fuja-se que ela é um mal que arde por dentro e incendeia a alma dos que gozam com ela e dos que com ela sofrem.

E apesar de curta, a mentira dói sempre mais do que a verdade porque nela vive a única coisa que precisa de ser provada: o incerto.

Rui André