quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Tragédias


De facto, em volta de toda esta tragédia fumega uma onda de cansaços, de fatalismos, de decepções e de medos de novas decepções. Há ainda a própria violência do monstro-fogo que tem levado o melhor do nosso heroísmo, que assim se perde em miseráveis e penosos becos sem saída. Uma extraordinária força de vontade tem impelido a melhor da nossa índole humana no «vamos para diante». A luta pela vida dos outros tem sido um quadro excepcional onde só os valorosos bombeiros têm oferecido o seu ‘bom coração’, quantas e quantas vezes infelizmente sacrificado ao seu bem! Quem lhes havia de querer tirar este respeito? Morreu mais uma bombeira, de 21 anos, a combater os incêndios em Portugal. Há que dizê-lo: extinguiu-se a chama de mais um ser corajoso, fiel, daqueles que não recuam diante de trabalhos penosos e negligenciados por outros. Os que desta vida destemidamente se têm despedido em honra da sua própria vida, são já muitos. É tempo de lhes entregar, desde logo, a nossa veneração, mas é também chegado o tempo de repreender o “pastor” e o “prado”, não importa quem são, mas jamais os bombeiros, pela sua imprudente prevenção, pela sua comedida suavidade de decisão. Em especial repreender o “pastor” que se deita na erva para ver passar a vida ruminando com ar muito sério, esquecendo as agruras de quem se troca pelas nuvens tempestuosas do inferno.

Para a bombeira da Corporação de Carregal do Sal, fica a nossa homenagem e o nosso muito obrigado. Que descanse em paz.

Mário Rui