quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O estado do Estado





















Já não chegava o resto. Agora está aí a ‘municipalização dos impostos’

Há o Estado - apetecia-me escrevê-lo com letra pequena e feia como um bode - e há o cidadão. Do segundo não quero falar pois que a definição que lhe é dada é sobejamente conhecida.  Mesmo assim, gosto de a relembrar: cidadão é um indivíduo que convive em sociedade, respeitando o próximo, cumprindo com suas obrigações e não gozando dos seus direitos. Estado é um imenso dragão faminto, ansioso por arrecadar cada vez mais impostos, de tal modo que, sem dó nem piedade, cerca e controla todos os contribuintes através da poderosa máquina estatal de arrecadação, leia-se roubo, tributando tudo quanto pode ser espoliado ao pacato tributado! O cidadão, nos tempos que correm, quase não se atreve a sair à rua. Um passo inadvertido, em falso, e está condenado à usura de quem tem por missão o desprezível saqueamento do pouco que lhe resta. O cidadão não tem casa própria, pois embora a tenha pago, todos os anos satisfaz a ’dívida’ que já não tem, o dízimo, à ‘municipalização dos impostos’. O cidadão já comprou, e caro,  o seu próprio esgoto doméstico, mas periodicamente é obrigado a submeter-se à taxação que lhe é imposta. Paga todos os meses o saneamento variável e o saneamento fixo. Algum cidadão sabe o que é tal coisa? O cidadão não pode pisar a calçada de ânimo leve.  Se  quer caminhar, há também uma tarifa para a utilização do solo que calca. O cidadão, ainda que habite no subsolo, ‘incha’ com mais uma décima, desta vez por ocupação do mesmo. O cidadão não se pode dar ao luxo de ver televisão. Logo que pague a uma entidade privada, está obrigado a pagar igualmente ao Estado. Contribui a dobrar mas vê sempre a mesma merda de TV e sempre a mesma merda de Estado. O cidadão, se não quer ficar às escuras, enche os cofres do Estado e de alguns privados, para assim poder alumiar o recanto do casebre. Neste caso, os alumiadores até lhe chamam ‘taxa de exploração’ sendo, ao menos nisto, parecidos com sinceros. O cidadão precisa de se lavar, beber líquidos, fazer a barba. Ah, precisa assim de tanta coisa? Tá bem, então vamos lá fazer as contas: paga o 1.º escalão, paga o 2.º escalão, paga o 3.º escalão, paga a quota de serviço, paga os recursos hídricos e paga mais um adicional à ‘municipalização dos impostos’. Chega? Se não chegar digam pois desembolsaremos mais. Até ao tutano. O cidadão comprou um carro, ou melhor, deixam-no utilizar um carro. Benfeitoria só destinada aos tolos. Não? Metade do preço do dito, são impostos. A outra metade são coimas devidas ao Estado. Mas coimas estúpidas, posto que se o cidadão se esquece de encher a barriga ainda e mais uma vez à ‘municipalização dos impostos’, através daquelas inimputáveis máquinas de extorquir dinheiro público, acho que as apelidam de parquímetros, até se arrogam o direito de “marcharem” com os automóveis para a Polícia. Nesta e em algumas outras situações, dão-se ao cuidado de contratar uns tantos almoxarifes para fazer o trabalhinho. Viva a Idade Média! Triste estado de coisas. Triste Estado que temos. É mais prevenção armada com receio de revolta que propriamente regime político amigo do cidadão. Eu, que não sou comunista, comparando tanta malfeitoria, até já me pergunto se, a haver  uma única vantagem que fosse nesses antigos regimes ditos socialistas, aqueles onde um só pensava por todos os outros, não seria a de serem os seus regimes mais honestos que o nosso. Também lá viviam cidadãos, mas sabiam de fonte segura que nada lhes pertencia, tudo lhes era exigido e pouco ou nenhum regateio lhes era permitido. Mas sabiam-no claramente!  Por cá, há igualmente um único poder social que, ao ser reconhecido, me repugna. E é mentiroso. Repugna-me e é mentiroso porque tal força bruta que me indigna ainda acha em mim um eco último de estima e simpatia. Como é cretino este regime, este Estado. Todos lhe devem e ninguém lhe paga, deve ser a ideia dominante.  Ainda por cima pensa que me está a dar um magnífico atributo de vivente, quando afinal o que me oferece, de modo traiçoeiramente simpático é, concordo, não me matar, mas conservar-me a trabalhar para assim aproveitar-se maldosamente do meu labor. No final das contas todas que nos cobra e a que antes aludi, esta merda de Estado é uma moeda falsa que só circula porque se apoia na verdadeira moeda. A nossa, a dos cidadãos pagantes. O resto são tretas!


Mário Rui