sábado, 30 de setembro de 2017

Autárquicas 2017


O dia é de reflexão, é o que dizem por aí. Seja lá isso o que for, não concordo. Maturidade, isso sim, é a meditação que se basta a si própria. Prefiro-a à reflexão pois se tivesse de optar por esta última, sabendo o que sei de parte do país autárquico que somos, reflectir seria apenas um enorme dispêndio de dolorosa mágoa. Mágoa, por me saber entre gente que parece infinitamente mais preocupada com os aplausos da plateia, e com a própria sensação de superioridade moral, imagine-se, do que com os resultados concretos da hipocrisia, esbulho ao erário público e sede patológica pelo poder, que sempre manifestaram, mesmo na cela. A justiça condena, mas para eles a justiça é uma inimiga da liberdade. E não sendo possível compreender tamanha falta de lógica para aceitar a hipocrisia de novo a sufrágio, ainda que ela seja uma parte importante da explicação, até parece que já só resta dizer; recompensa justa, claro! Uns soldados da igualdade, praticamente uns santos! E são estes os “sucessos” que acabam por nunca se revelarem como ofensa pessoal para os demais. Não reflecti, apenas meditei, pois a vida é um palco e o show tem de continuar. E como agora 2+2, são cinco, liguem os holofotes. Amanhã vou votar! Afincadamente, mesmo que a aritmética esteja errada! Paz e amor, irmãos…

 

Mário Rui
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O ‘feicebuque’


Umas vezes tirano, outras amigável, é assim o ‘feicebuque’. Em certas ocasiões encarnação da sedução, esbanjando simpatia, docilidade e alegria, no mais dos casos pronto para sentenciar o fim do outro. Se calhar, uma diversão que jamais sacia. Que coisa louca, diria a minha avó, e não sei se com toda a razão. E então se soubesse como é possível transformar um contacto único numa olimpíada de beijos, dir-me-ia certamente para ter cuidado com os que me querem impor goela abaixo misérias embelezadas. Porque assustadoramente livre, esta rede sem rede, talvez ainda me lembrasse da necessidade de não fazer parte de um rebanho de presas fáceis. Mas pronto, lá vou eu subindo a ladeira do progresso, supersticioso, de quando em quando crédulo, inabalável e não raras vezes com o orgulho às avessas. Mas é preciso viver o progresso, andar nesta lambança ora tosca e vazia, ora nesta senda dos autoproclamados progressistas. Há que viver todas estas banalidades e convocá-las, enfim, para o desafio que é o entusiasmo de viver neste tempo. Em não sendo possível imitar um passado também ele cenograficamente recheado de outras coisas boas, mas cada vez mais distante de qualquer tipo de realidade, melhor será, se saudade houver, parar um pouco para o rever. É coisa simples de fazer. É só um pequenino momento para a ressaca do que se foi pois o passado nunca está concluído. E não obstante tudo, ainda quer pôr no mundo um querer. E se um dia o presente me perguntar o que foi o passado, falo-lhe de uma claridade velada que amaciou relações cheias da mansidão benévola dos sãos. Fiz-me no tamanho dele e comigo ele foi a toda a parte. Na sua bonomia de velho, deixou-me as portas abertas deitando correntes de ar, espargindo vontades e forças na azáfama dos prazeres mais em voga ao tempo. Esses prazos antes do presente tinham olhos que não mentiam no que deixavam adivinhar. Mas não é por isso que deixo de gostar do presente. Tenho medo é do futuro.

 

Mário Rui
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Cimeira internacional “Alzheimer’s Global Summit”


A cimeira internacional “Alzheimer’s Global Summit” (LER AQUI)

Para a doença em que se morre duas vezes, e a primeira é em vida – coisa estranha mas real - parece não haver ainda poente que a sossegue em definitivo. Doença degenerativa que leva a um galopante ‘ser’ em ‘não ser’, a par de outras, e que não mais significa do que baixar a ponte levadiça da vida, perder as sentinelas e começar a redigir o terrível manifesto da despedida. É, é assim e mais nada do que este assim. A fala faz-se tardia, a ideia enferruja-se e lá vem o tenebroso estado sem viveza mental, incapaz de exprimir emoções por conta própria. E por conta alheia, dolorosa igualmente, ainda que tentada a esperança, resfria toda e qualquer ideia de efusão de sucesso. Mesmo ao mais simples aceno de batuta, a orquestra que ouvíamos afinada, já só dá respostas destoadas. E a vida, que raio de vida, num acabar destes nunca dá qualquer penduricalho de mercê por bons serviços. É um deplorável episódio de fim de viagem. Não sou médico, de cientista seguramente também não faria reputação, tentei então a ciência no amparo ao drama. Não esqueci a sorte, acalentando a ideia de que para a cativar era preciso insistir. Palavra, acho indecente, o resultado não foi o esperado. É por isso que quero acreditar que estes combatentes reunidos na conferência internacional “Alzheimer’s Global Summit” não vão deixar cair os braços na luta contra a doença, contra as doenças. Que vão conseguir enxugar a neblina que cerra a descoberta das curas de modo a que, tanto quanto possível, se erradiquem os coleccionadores de dramas íntimos. Força ciência, porque em cada cura há gente que quer tornar a viver!

 

 

Mário Rui
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