segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Cobradores de impostos


Começo a ficar deveras farto, poderia dizer cansado mas até essa fase já passou, sendo que é aos burros, mamíferos solípedes, perissodáctilos, menos corpulentos que o cavalo e de orelhas compridas, espero que tenham percebido bem a caracterização simples da espécie a que me refiro, que se costuma, quando de barriga bem nutrida, dizer que estão fartos. Se quiserem chamem-me de burro também, eu não vos levo a mal, mas a verdade é que cada vez percebo menos do que por aí vai no que aos impostos diz respeito. E haverá por esse país fora muitos mais burros que, como eu, perplexos ou só revoltados, começam também a desconfiar se toda esta vassalagem e cobrança, não vai dar em nada no que toca ao país que um dia sonhámos para os nossos filhos.

Ou me engano muito ou isto vai ser vendido a talhões. Vendido? Desculpem, talvez oferecido e ainda assim leva jeitos de que ninguém lhe pegue. Oferecido já é muito caro. Perdoem-me se belisco minimamente o patriótico-orgulho de alguém mas, se assim pensam, estão enganados. Sou tão português quanto qualquer outro lusitano, eventualmente apenas com uma pequenina diferença. Essa diferença tem a ver com o facto de achar, há muitos anos, que o corpo se purifica pelo saber e eleva-se por tentativas conscientes.

Ora, de há 37 anos a esta parte, nem o corpo se tem purificado pelo saber nem as tentativas conscientes para o elevar têm surtido efeito. Triste sina a minha. Triste sina a nossa. É desumano que abençoemos quem nos amaldiçoou. Por mim ando muito, mas mesmo muito magoado com esta gente que levou o meu país à falência. Magoado, por me terem mentido durante tantos anos, mas sobretudo por não poder voltar a acreditar nessa mesma gente.

E agora reparem. Já não chega o que o triunvirato, leia-se associação de três cidadãos, cá para nós entidades poderosas para açambarcar toda a autoridade, cá veio fazer, e parece que para ficar por muito, muito tempo, impondo como condição para não morrermos à mìngua, que nos dispamos de todas as nossas vaidades, rendas e orgulhos e, ainda por cima, aquilo que me chega aos ouvidos a cada dia que passa, são novas lusitanas vozes a clamarem – é este o termo certo – por mais impostos.

Do governo, embora contrariado já eu sabia que assim ia ser. A corrupção, como expressão de uma ameaça, a anarquia nos instintos de alguns, afectou gravemente o fundamento dos afectos a que se chama “vida”. Foi esta péssima pseudo-aristocracia que nos levou ao fundo. Uma pseudo-aristocracia que deveria ter tido como ideal não uma função mas antes um sentido. O de elevar a populaça à condição de seres iguais e não à exploração, ao sacrifício de inúmeros homens que, incautos e julgando servir uma boa causa, acabaram oprimidos e reduzidos a homens incompletos, a simples instrumentos.

Pode isto parecer o discurso do descrente, do desanimado, mas o que é certo é que tudo o que é de hoje tomba e sucumbe. Indignem-se os puros do modo que muito bem entenderem. Mas indignem-se! E nunca esqueçam que para os puros, tudo é puro. Para os porcos tudo é porco.

Agora, de outras bandas, tão portuguesas quanto a minha, é que não esperava sinceramente mais um clamor. Um dos últimos, quiçá o derradeiro apelo, veio directamente do bastonário dos médicos que defende a criação de um imposto, mais um, sobre a fast-food. Ora Sr. Dr., trate lá dos doentes e deixe os que ainda são bravos na governança no desempenho tranquilo e, espero, pela última vez, sério, do trabalho que têm pela frente. A fast-food Sr. Dr. é a broa e o caldo quente da minha gente. E com a sua pretensão fica-me a ideia de que o Sr. quer taxar outra coisa qualquer. Será a comida rápida, porque escassa, de quem tem que ir à sopa dos pobres? Também é fast-food mas só a come quem às vezes nem prato tem para a aquecer.

Com tanta parda eminência a ditar “faladura”, há-de chegar o dia, e não demorará muito, que a gota de água se achará rio. Nessa altura, o pastor, o marceneiro ou o mendigo hão-de revelar maior génio do que todos os lógicos que nos arrastaram para este abismo.

Mário Rui

Sorrisos - Manufacturamos realidades




Mário Rui

FazDebook


Se acha a cultura cara, então experimente a ignorância.

Mário Rui (Parte II)

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O dirigente do Bloco de Esquerda, Francisco Loução, voltou a dizer, ontem num comício, que "precisamos de um 25 de Abril na Economia para proteger o que é nosso". Deve estar esquecido do 11 de Março de 1975. E se as pessoas que o ouviram soubessem o que representou essa data e o que significaram as nacionalizações que se lhe seguiram, tinham fugido a sete pés do dito comício. É que é sempre bom não ter a memória curta. E parlapatões políticos já os temos aos montes. Falar é fácil. Difícil é fazer.



Mário Rui