segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

A culpa, a dor e os amantes de si mesmos.


























A quem interessar ler, aqui está o Orçamento do Estado para 2013. Mal o relógio bata as doze badaladas, entra em vigor. Bom Ano Novo para todos, sobretudo com fé.

Não faz um orçamento assim quem o quer, nem introduz um novo modo de vida quem o pretende: ambos dependem da conjugação de inumeráveis pessoas e numerosas circunstâncias antecedentes e concomitantes sobre que um homem simplesmente não pode ter dominação.

É essa a razão pela qual este Orçamento tem o tamanho e a assinatura de, pelo menos, 36 anos, 5 meses e 21 dias. Do tempo que se lhe seguiu já todos nós falámos muito e, às vezes, bem. Mas também convém que se realce o que ficou para trás. Convém que se fale do tempo que para alguns parece nunca ter existido, o tempo ido e que certamente agora mais nos atormenta! Sim, eu sei qual foi o nosso princípio. Só não sei qual será o nosso fim. É que quando um trabalho inicial é mal feito, qualquer tentativa de melhorá-lo, por bem intencionada que seja, normalmente provoca dor. Que prazer me dava não ter dor. 

Mário Rui

sábado, 29 de dezembro de 2012

A discrição




















«Nós não somos duas pessoas, eu sou primeiro-ministro e também sou cidadão. E apesar de não utilizar o mesmo registo quando falo com a minha família ou com os meus amigos ou quando falo com os cidadãos, na minha qualidade de cidadão também, que muitas vezes uso quando falo como primeiro-ministro, isso não significa que diga coisas diferentes», afirmou Passos Coelho.

Este modo de dizer promete muito e dá pouco. Fosse eu capaz de descodificar esta, e outras comunicações, e estaria agora a formular uma opinião, a minha, a propósito do que disse o primeiro-ministro. Mas não sou capaz. A tanto não me ajuda o “engenho e a arte”. Bem percebo que não somos sempre o que queremos, mas o que as circunstâncias nos permitem ser. No entanto, manda a prudência, se não somos capazes de dizer o que pensamos, então o melhor é ficarmos calados. Tem uma vantagem. Não embaraçamos os nossos interlocutores. Por outro lado, tendências populares-discursivas ininteligíveis exigem sempre muita discrição.

Mário Rui

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Os regimes caem assim

Vasco Pulido Valente

Público, 28/12/2012

Os regimes caem assim


Os jornais vêm cheios de artigos de "opinião", assinados pelas mais fantásticas criaturas: pelo director disto, pelo presidente daquilo, pelo dono daqueloutro. A substância e o estilo são sempre de amadores, que resolveram comunicar à Pátria (e quem sabe se ao mundo) a sua irresistível receita para nos salvar. A prosa em si própria não passa de uma variação ou de um puro plágio do que por aí anda escrito. Escrito e dito na rádio e na televisão por políticos de vária pinta - o que aprenderam de cor e despejam por cima de nós, sem a menor espécie de escrúpulo. Os "moderadores", com um arzinho submisso e acolhedor, não abrem a boca, mesmo quando lhes passam à frente do nariz monstruosidades que qualquer adolescente identificaria a dormir.

Ninguém, de resto, pergunta a estes profetas qual é o seu currículo ou em que trabalham agora. Enganar o próximo é o fim universal dos currículos (quem andou pela universidade tem uma ideia de como se fabricam). E, por isso, o nome acaba por bastar, às vezes com indicação de um cargo ambíguo, ou desconhecido, e a tranquilizante segurança de que se trata de um "professor". De onde ou de quê, muito raras vezes se investiga. Num país de falsos drs., para já não falar em engenheiros de grande ambiguidade, a palavra "professor" confere logo a uma criatura a autoridade do Papa; o que permite depois que ela sirva ao indígena ignorante e aflito o sermão económico que bem entender. Há milhares de peixes neste turvo aquário e poucas maneiras de os distinguir.

Tanto mais que o jornal médio português - por causa da crise, dos despedimentos e de maus costumes - não emprega fact-checkers. Nada impede o primeiro maluco - desde que seja baixo, gordinho e ligeiramente careca - de meter a mão no colete e se apresentar num "órgão de referência", declarando que é Sua Majestade, Imperador dos Franceses, Rei de Itália e Protector da Confederação do Reno. Não digo que, ao princípio, não levantasse uma ou outra suspeita. Mas como o homem conhecia muito bem a geografia da terra, fizera na véspera uma conferência num hotel de cinco estrelas, fora apresentado por um "professor" e era partidário da renegociação do "memorando", a redacção começou a tremer. E, com a redacção, o director: e se lhe escapasse aquela extraordinária notícia?... Do resto, toda a gente se ri. Sem razão. Porque a moral da história é esta: em Portugal, a diferença entre a honestidade e a vigarice desapareceu. Os regimes caem assim.

Mário Rui

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

Bom Ano 2013




Como eu gosto de gente que dá estilo ao seu carácter. Os que regem, tal como os que sentem. Se um dia a música se sumir e com ela se forem os sentimentos de quem vibra escutando-a, então sim, o mundo será arrancado ao seu 'mundo'. E que importa a teoria Maia se até o mau gosto tem os seus direitos. Se não tivessemos aprovado a arte, pouco mais nos restaria!

Bom Ano para todos os meus amigos.

Mário Rui

Desigualdades


















Militantes do PCP-Coimbra alegam que não sabiam que era crime pintar as "monumentais" ( jornal Público).

É caso para perguntar: então, e se as "monumentais" não estivessem incluídas na Zona Especial de Protecção de um monumento nacional, os 'pintores' já não seriam acusados da autoria de um crime de dano qualificado?

O que acontece é que a má educação consiste especialmente nos maus exemplos. E é pena, já que às vezes são os apologistas e defensores da igualdade os que mais trabalham por desigualar-se!

Mário Rui

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

O Batista da ONU


























A indignação que por aí vai quanto ao verbo e à desfaçatez de um tal de Batista da Silva - pretenso ex-bolseiro da Gulbenkian, consultor do Banco Mundial, coordenador mandatado pelo Secretário-Geral da ONU, professor universitário – só me pode fazer rir. Felizmente que, neste final de ano, apareceu alguém que nos deixou uma pincelada de humor e boa disposição, sobretudo tido em conta o modo cénico, quase perfeito, que utilizou para enganar alguns doutos falantes da nossa praça. Com papas e bolos… se enganam os tolos, diz o velho ditado. E ainda bem que subsistem alguns tolos, tal é a ânsia de dar a palavra a qualquer bicho-careta que aterre no país. Num artigo de Nicolau Santos, no último Expresso, o título é este:  “O que diz Artur e o governo não ouve”. Claro que, não atestada previamente a veracidade pessoal e profissional de tão eloquente orador, o resultado só poderia ser este. Uma espécie de prof. Karamba, ao melhor estilo  de aprendiz de feiticeiro, cuja sabedoria se repercutiu não só pelo Expresso, SIC (incluindo presença no "Expresso da Meia Noite"), TSF e Reuters, como também bradou pela  TVI que recorreu a declarações proferidas na concorrência para abrir pelo menos um noticiário. Assim é que eu gosto. Quando for para zurzir no governo de Portugal, bom ou mau, isso são outras contas, convidem-me a mim. Não tenho títulos académicos, pouca verborreia me assiste, de economia nada percebo, mas para dizer que a “receita” do governo não dá certo, que estamos na senda da Grécia, que temos que “inverter” as políticas e toda a inenarrável lenga lenga que há décadas aturamos, isso, até eu faço. Para tomar assento na mesa de Bagão Félix ou Maria Barroso, também estou disponível,  conquanto não diga como o prof. Marcelo que “o governo está optimista, mas os portugueses não”. Acho-me capaz de melhor pese embora a minha honrada ignorância. Então os portugueses deveriam estar optimistas? Por estas e outras tiradas é que eu condeno veementemente, não o doutor Batista da ONU, mas antes quem somou mais um nome ao pobre panorama opinativo do país. Não havia necessidade de tal adição. Se já temos tantos peritos-especialistas na avaliação da coisa pública, para quê mais um? Bom, mas pensando mais profundamente, também não há-de ser por isso que o mundo se finará. E, se calhar, até será bom para a nossa auto-estima. Enquanto os ouvimos, não lhes concedendo muito crédito, nunca nos acharemos frustrados nas nossas esperanças. O que eu lamento a sério é que o conhecimento já foi um bem associado ao verbo saber. Agora, já só é um mal público ligado ao verbo desconhecer. Viva o Batista da ONU. Convidem-no de novo para gáudio da corte.

Mário Rui

domingo, 23 de dezembro de 2012

Coisas da política








Os gregos, tal como os portugueses, ainda hoje estarão a tentar perceber de que modo é que os políticos em funções, nos respectivos países, já se redimiram dos seus erros governativos. Erros que conduziram os seus povos à penúria e, pior que isso, a um retrocesso civilizacional  que todos vamos sentir brevemente. A procissão ainda só vai no adro. Contudo, o jornal económico alemão Handelsblatt, já conseguiu vislumbrar a mente brilhante de um homem  que percebeu o desafio que tinha pela frente  e lhe respondeu à altura. Esta apreciação feita, pelos vistos, por ‘jornalistas’, até nem me espanta por aí além. Em toda a parte há pessoas que têm como ocupação escrever em periódicos. Mesmo só escrevendo, que não pensando, são capazes das mais vis manobras de diversão só para enganar incautos. Mas a informação, veiculada pelo “Notícias ao Minuto”, diz mais. Então é assim: « O primeiro-ministro grego Antonis Samaras foi considerado o Político Europeu do Ano pelo jornal económico alemão Handelsblatt». Mais adianta: « A escolha coube ao antigo ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Hans Dietrich Genscher».  Boa redacção! Fico sem perceber se a escolha foi do jornal, se do antigo ministro. Também não interessa, o defeito de interpretação deve ser meu. Adiante. Hans Dietrich Genscher remata, dizendo que a clareza das posições de Antonis Samaras e a sua capacidade em reforçá-las lançaram as bases de confiança necessárias para que os parceiros europeus aprovassem o resgate. Concluí-se pois que o primeiro-ministro grego está amnistiado dos errros (ou crimes?) políticos que outrora terá cometido. Indulto assim concedido, e ainda por cima pela mão de alemães, contraria aquela nossa manifestação de dúvida quanto aos germânicos propósitos de solidariedade europeia. E pensávamos nós que eles eram mauzinhos. Moral da história: afinal a desgraça, que humilha a uns, exalta o orgulho de outros. Nem que sejam ex-políticos, actuais políticos ou mesmo alguns escribas da ‘opinião publicada’. É caso para perguntar se não será melhor reabilitar alguns antigos e actuais políticos portugueses, que também perceberam muito bem o que era preciso fazer pelo interesse do país, tal foi, e é, a sua intrepidez face aos desafios que encontraram pelo caminho. É claro que para o efeito convém sempre arranjar outros alemães, mas igualmente mentirosos. Os sérios não estarão p´ra aí virados.  Em suma, de nada vale a celebridade, quando os grandes crimes também a conseguem. E venha então depois outro empréstimo. De honradez!

Mário Rui

sábado, 22 de dezembro de 2012

Armas


















"A única coisa que pára um tipo mau com uma arma é um tipo bom com uma arma” . Palavras do director executivo da National Rifle Association (NRA), a associação norte-americana que promove o direito à posse de armas.

É uma escolha, desta associação, entre as alternativas. Por mim, entendo que não podemos prever o futuro, mas podemos sempre criá-lo. Necessariamente com outras armas. O problema é que todos querem dinheiro e são poucos os que querem doutrinas. E há tantas e tão boas...

Mário Rui

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

The Rolling Stones - You Can't Always Get What You Want (Live) - OFFICIAL




Toda a criação é cruel. É por isso que não podemos, nem mesmo no Natal, ter tudo o que desejamos.

Mário Rui

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Textos de arrependimento natalício




















Mensagem de arrependimento de Cavaco Silva, hoje, na apresentação dos votos de Boas Festas entre o Presidente da República e o Governo

«Tempo para pararmos um pouco (já parámos), olharmos à nossa volta (é um deserto) e reflectirmos sobre aquilo que fizemos (os que trabalharam, pagaram) , aquilo que deixámos de fazer (correr consigo – nem que tivesse sido na última maratona de fim-de-ano) , aquilo que não devíamos ter feito (aturá-lo) e aquilo que podíamos ter feito melhor (não o ter deixado falar tanto)

E vem então a opinião da segunda figura do Estado:

Assunção Esteves: “É do nosso interesse que o Presidente viva 2013 com força, determinação e abnegação”. (Estamos conversados)

Mário Rui

D.Januário e os seres feitos de barro




















A cada tirada deste homem, já com idade para ter juízo, menos eu gosto dele. Ele é comentador político, sempre a puxar para o mesmo lado, ele é comentador de futebol, também para um lado só, ele é o tal que pede rebelião aos portugueses, mas de ‘barriguinha’ cheia. A sua, claro. Enfim, um verdadeiro artista. A somar às anteriores, agora vem mais uma; o bispo pede tolerância e lança um apelo ao nosso espírito natalício no caso do padre preso por suspeitas de abusos sexuais a crianças no seminário do Fundão. Até inspira os católicos para que rezem por ele. Pede tolerância e compreensão cristãs para o padre, mas quanto às crianças alegadamente abusadas, as vítimas, para essas, esqueceu-se das palavras condoídas.

«Se se provar que é verdade prova-se que somos seres feitos de barro e, por isso mesmo, como diz o nosso povo ‘não cuspas para o ar’, porque pode cair na tua cabeça». É que, pelos vistos, na opinião tola do bispo, condenarmos moralmente um padre acusado de pedófilia é o mesmo que nos passarem um visto para, um dia, sermos todos pedófilos.

“... ... o padre tem que ser presumido na sua inocência, a investigação tem de continuar, não pode ser julgado nada na opinião pública. Estes casos só se resolvem com justiça e transparência e é por aí que passa o testemunho de solidariedade da própria Igreja”, defende o bispo.

Como eu lamento que, noutras circunstâncias e a propósito de outras andanças, o bispo não se tenha mostrado igualmente solidário para com os acusados. Quantas vezes inocentes e também sem culpa formada. E sobre o julgamento na praça pública, a que alude, também seria bom que, na sua qualidade de sacerdote com ordens de missa, pensasse primeiro e dissesse depois. Ou será que a vozearia na praça pública só a si foi concedida? Quando não convém critica-a, não é? O que dirão os outros da sua? Não queira o senhor bispo engrossar ainda mais o caudaloso rio de imprudências que já tantos nos obrigaram a transpôr. Às vezes, a intemperança da língua não é menos funesta para os homens que a da gula.

Mário Rui

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Glenn Miller - In The Mood [HQ]





15 de Dezembro de 1944: Glenn Miller desaparece nos ares a caminho de Paris

Desde que ganhou o seu primeiro trombone, aos 11 anos, Glenn Miller  apaixonou-se pela música. Aos 34 anos, forma a sua própria banda e põe em prática a ideia de um clarinete ponteando secções de saxofone. Esse “som Glenn Miller”, tão característico e revolucionário, rapidamente o levou ao estrelato mundial. Com sucessos como “Tuxedo Junction” e “In the mood”, a sua orquestra reunia multidões pelos EUA. Em 1941, “Chattanooga Choo Choo” tornou-se o primeiro álbum na história a vender um milhão de cópias. Pouco depois do meio-dia de 15 de Dezembro de 1944, nos últimos meses da Segunda Guerra Mundial, um monomotor de nove lugares vinha de Twinwood, sul da Inglaterra, com destino a Paris. Dois oficiais da Força Aérea dos EUA estavam a bordo, além do major Glenn Miller, o aclamado músico de carreira internacional. O tempo, embora mau, estava a melhorar, mas em minutos o avião desapareceu entre as nuvens. E nunca mais foi visto. Já lá vão 68 anos!

Mário Rui

Assim não!






















Passos Coelho disse; “... não temos de aguentar esse privilégio injustificado que é a reforma dos pensionistas que ao longo da sua carreira descontaram parte do seu salário na expectativa (mais do que) justificada de receber a compensação do Estado na altura devida".

Pelo vistos o primeiro-ministro só critica as pensões dos ricos. Os ricos que ganham à volta de 1500 euros, ou seja uma horda de milionários mandriões. Francamente! Por muito que às vezes queira confiar, desconfiando, que alguma severidade tenhamos que pagar, tal é o estado de subjugação a que alguma agiotagem nacional nos condenou, com pensamentos destes e ainda por cima assim comunicados, fico deveras incomodado.  Mais.  De facto, ter privança com quem assim governa é contrair responsabilidade que não nos cabe assumir, tão grande é o mal que nos faz. Passos, é mais um que está armado! Em parvo, infelizmente.

Mário Rui

sábado, 15 de dezembro de 2012

A foto do meu contentamento

















Não sei bem de que modo é que esta fotografia ‘tocou’ cada um. Também não me interessa, não é momento para isso, dissecar muito sobre a manifestação popular que lhe deu origem. Todos sabem qual foi, e a razão que a motivou. Importa-me, isso sim, relevar não só da oportunidade do fotógrafo, que aliás deveria ser merecedor de encómios e justo galardão, como da mensagem que a mesma encerra. Em contexto de convulsão social, fica a imagem de quem, com olhar doce e cara bonita, parece querer dizer ao poder;  “... resolveremos o nosso contencioso se ambos os lados consentirem cedências...”. Por outro lado, o poder, em missão espinhosa e sempre incompreendida, como que consente um olhar e mão repousantes que lhe confere uma benevolente e  quase solidária maneira de estar no protesto.  Em suma, eu legendaria: “ como a chuva amolece a terra, o pranto da mulher abranda o coração do forte”

Em 2011, o espanhol Samuel Aranda,  fotógrafo a trabalhar para o  ‘The New York Times’, venceu o prémio ‘World Press Photo of the Year 2011’, com a fotografia de uma mulher segurando uma vítima resultante dos protestos contra o presidentete Saleh in Sanaa, no Yemén, em 15 de Outubro desse ano. Na altura foi dito que a foto mostrava um pungente e compassivo gesto, um momento de alta sensibilidade pelo infortúnio alheio, de uma grande importância para a humanidade.

A foto do português José Manuel Ribeiro cor­reu mundo e tem um va­lor ico­no­grá­fico e humanista, quanto a mim de incalculável mérito que, por si só, leva inquestionável vantagem sobre a do prémio de 2011. Não sou, mas se fosse decisor nesta matéria, seria esta a ‘World Press Photo of the Year 2012’. Se dúvidas persistissem quanto à mensagem e ao momento único captado, então era só uma questão de leitura. Mas é justamente isso que alguns teimam em não querer fazer. Por ser português? Talvez. E se voltasse a ser um espanhol? Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!

Mário Rui

Rugas


















É pena que no duelo entre a juventude e o tempo, só haja um vencedor. É por isso que eu acho que a velhice nunca deixou brilhar ninguém. Embora alguns o contestem e eu respeite a diferença de opinião.

Mário Rui

Protesto


















Quando unimos o nosso interesse individual ao geral, feito protesto, devemos dar-lhe um jeito genuíno, corpo, permanência e, se possível, sincera nudez.

Mário Rui

Da irascibilidade de alguns







































Por muito que faça no sentido de perceber a esteira de violência juvenil que grassa em solo norte-americano, sempre me sinto defraudado quanto aos resultados. Naturalmente que psicólogos, sociólogos e outros que mais,  gente de resto bem preparada para lidar com o assunto, já muito disse e estudou sobre esta barbárie. Não sendo minha intenção pôr em causa as conclusões que ressaltam desses  estudos, até porque não reconheço em mim competência para o efeito, nem por isso fico sossegado e muito menos convencido relativamente às conclusões obtidas e aos meios entretanto postos em marcha para interromper esta longa saga de horrores. Afinal, se todos eles e consequentes medidas correctivas já tivessem frutificado, certamente que hoje não estaríamos de novo em presença de outra tragédia. Há gente, nomeadamente uma certa comunicação social de leve análise, que insiste em apontar o livre comércio de armas, nos EUA, como origem e razão para estes torpes casos. Lamenta-se que este olhar simplista leve a que a pena de alguns articulistas se reduza a esta análise o que, por si só, invariavelmente conduz os leitores, às vezes nações inteiras, a raciocínios tão primários e irrelevantes quanto ilusórios. Obviamente que a proliferação e o livre acesso a armas de fogo representam, em minha opinião, a marca distintiva de uma sociedade já de si bélica, para não dizer violenta. Aí residirá certamente uma das causas, mas apenas uma e quiçá não a principal, da violência gratuíta, até prazenteira para certa gente. O que não se compreende é que estados ditos socialmente evoluídos,  apostem em tal prática. Mas apostam, e embora não consigamos sequer conceber tal atitude , percebe-se da sua existência. É o vil metal, entenda-se o lucro através do dinheiro, a moeda de troca que tudo justifica para encher a arca da aliança. Bem vistas as coisas, assim se passa na América, que se proclama farol do mundo, como na Etiópia ou Sudão que infelizmente nem luz, quanto mais farol, têm! Neste particular não diferem muito. Os três.  Relativamente às origens que levam aos morticínios a que antes aludia, claro que a famigerada arma de fogo pesa sobremaneira no acto de matar. Mas não fiquemos desatentos aos demais males que acossam a juventude e até os menos jovens. Convém jamais esquecer, quer seja na América ou em Portugal, que as crianças nascem frágeis e inocentes; que o seu desenvolvimento deve ser protegido e promovido pela família; que esse desenvolvimento deve ser educacionalmente orientado e que só ao fim de muitos anos de educação estão em condições de se juntarem ao mundo adulto. E, quando este percurso é interrompido, a delinquência emerge, particularmente quando a família, a escola e a comunidade falham na sua função ou quando permitem que a pobreza, a ignorância ou o abandono se intrometam no dever de educar adequadamente as crianças. Sem valorizar estas crenças, é difícil aceitar que as crianças sigam um trajecto de vida imaculado. Não menos vital é questionar se nós, os adultos, não teremos a cota-parte mais importante, e quantas vezes a falta voluntária mais básica contra o dever, que induzem os mais novas a condutas de risco. Bem sei que a educação dos nossos filhos não é uma ciência exacta. Nem poderia ser! Mas, para citar então uma destas, a matemática, também sei que menos por menos dá mais. Neste caso, e afiançadamente, mais infracção,  mais relações complexas, mais delito, mais transgressão e mais tiros. E, amigos meus,  com respeito à pistola que o desfere, a verdadeira que brota fogo e chumbo, então o lugar que mais lhe convém é mesmo o fundo do poço. Assim me dizia meu avô. E como sabia do que falava! Ou não tivesse ele emigrado, como tantos outros, no início do século XX,  para esse tal sonho americano. Mas regressou à velha Europa.

Mário Rui

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Os imbecis que destruíram Portugal




















Os imbecis que destruíram Portugal

 


A dívida do nosso país pode ter muitas causas. Endógenas e exógenas, micro e macroeconómicas, conjunturais ou estruturais.  Há todavia um traço comum que, a meu ver, é a principal causa do estado a que chegámos, independentemente das dificuldades que todos os países enfrentam, da crise internacional e de tudo o resto que gostam de nos vender.
A causa de que falo é simples e nada tem de rebuscada: o nosso país tem sido governado por um grupo de pacóvios com tiques de parolo. Os novo-riquismo da política portuguesa é sem duvida o maior cancro da democracia partidária.
O dinheiro público, quando gasto de forma racional, não é contabilizável. A boa utilização destes recursos traduz-se em melhorias que, direta ou indiretamente, permitem à sociedade manter níveis de desenvolvimento elevado. E só com desenvolvimento o crescimento pode ser sustentável. E o pior é que isto nunca aconteceu neste país.
De que serve construir dezenas e dezenas de autoestradas se não temos dinheiro para nelas circular, nem tão pouco para as pagar ou sustentar? O maior centro comercial da europa? A maior ponte da europa? E ter alguma coisa à nossa medida, não pode ser? É coisa de pobre? De que serve gastarmos milhões em formação se não temos empregos? E aeroportos sem aviões? E dezenas de estádios de futebol às moscas? E escolas sem alunos? Submarinos ou cortes na saúde? Tanques ou reformas? E parcerias feitas para o Estado ser prejudicado? Privatizações em cima do joelho? E os dinheiro que jorrou da UE durante décadas, em que foi investido? Snack bares atrás do sol-posto? Jipes para passear nos montes alentejanos? Não querem gastar a próxima tranche da Troika em plasticina e paus de giz? Quem gastou o que não devia? Quem gastou o que não tinha? Quem gasta o que não tem? Que futuro pensavam estas alminhas iluminadas que iriamos ter? Imbecis.
A forma abusiva, parola, irresponsável, impune, pacóvia, descontrolada, despesista, acéfala e em muitos casos socialmente 'criminosa' como sucessivas gerações de governantes têm vindo a desbaratar o património de todos, os bens e o dinheiro que deveria ser alvo de uma gestão cuidada e rigorosa, é a principal causa do estado de falência em que estamos. O novo-riquismo, a falta de visão, a falta de formação, qualidade e competência dos políticos portugueses é a principal causa desta crise. A génese desta crise é política. Mas infelizmente a irresponsabilidade destas pessoas é directamente proporcional às responsabilidades exigidas pelos mesmos aos portugueses, com as quais são permanentemente confrontados, sem terem culpa alguma. Comemos e calamos.
Gastassem menos, parolos. 
Tiago Mesquita
Quinta-feira, 29 de Novembro de 2012
Jornal Expresso


Mário Rui

domingo, 9 de dezembro de 2012

Ensinamentos












Ensinamentos de Marcelo Rebelo de Sousa durante uma aula de paleontologia, quando dissertava a propósito de fósseis com origem em organismos do passado.: »... pedir a um carnívoro que seja herbívoro ou a uma herbívoro que seja carnívoro, não faz sentido...»

Mário Rui

sábado, 8 de dezembro de 2012

Momentos




















Mário Rui

Minudências




















Até nem é tanto pelo conteúdo, mas é sobretudo pela forma como estas minudências  ocupam espaço no debate nacional, que abomino este jeito volúvel de fazer jornalismo. Já faz tempo que alguma imprensa, sobretudo a escrita, dá destaque a este facto determinante para a nossa vida colectiva. Ela levantou-se, ele sentou-se, assim deveria ter sido, assim não deveria ter acontecido... Jornalismo que vive destas aparências, não vinga por muito tempo. Para bem falar e especialmente para bem se estar, não é o saber que falta a muitas pessoas. O que nelas infelizmente abunda é a ambição. Devemos ter sempre algum cuidado com um certo mundo que nos rodeia. O chamado mundo mago que nos traz encantados, nos mantém iludidos e que sempre nos deve incomodar quando anuncia fortuna e condição não merecidas!

Mário Rui

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

A Junta











Portugal – 4259 freguesias. É obra! Tomando em conta a dimensão do território nacional, a cada trezentos metros há um Presidente de Junta de Freguesia. Perguntarão alguns; então mas só agora demos conta desta enormidade? Talvez! E então? Bem sei que muito, ou quase tudo, está por fazer quanto à moralização da vida pública portuguesa. Até dou de barato que outras prioridades poderiam, e deveriam, ser levadas em conta. Mas também me parece que por vezes vale mais uma má medida que medida nenhuma. Se a austeridade impende sobremaneira sobre os ombros do contribuinte, não vejo razão para que a redução da despesa pública não atinja também os desvarios políticos que se têm cometido ao longo de séculos de história. A verdade é que se Portugal quer avançar, terá necessariamente de rever muitos conceitos de natureza operacional. Dito de outro modo, ninguém vive sem mudança. Em pleno século XXI a menor divisão administrativa do nosso território, tão pequeno ele é, não tem cabimento. Com áreas que podem ser de apenas alguns hectares, e populações que vão das dezenas às centenas de habitantes, a racionalização dos meios ao dispor destes pequenos agregados populacionais é imperativo nacional. Adiante-se no entanto que, outros aglomerados de apreciável densidade justificarão por si só a existência de braços autárquicos que, de algum modo, possam acudir e suprir as necessidades dos habitantes geograficamente mais desfavorecidos. De todo o modo suprima-se de vez essa ideia peregrina do “regedor” e seus fiéis seguidores que, durante décadas a fio, se instalaram nestes pequeninos feudos e, no mais das vezes, apenas serviram o suserano da sua Câmara Municipal. Da mesma cor política, está bom de ver. Subsistindo em condições de aparente autonomia, quase sempre lhe renderam vassalagem ou lhe pagaram tributo. Ora, como estamos cansadinhos de engajamentos de natureza muito obscura, para não dizer obtusa, compreende-se que uma reforma administrativa de cariz que se quer moderno, venha a vigorar. Mas que seja uma reforma com esse quadro inovador. Não nos tragam mais do mesmo. Esse é de resto o meu maior receio. Quanto aos que abominam esta ideia de mudança, é bom lembrar que a actual divisão administrativa do território português já vem do século XIX. Um dos critérios que deveria presidir à criação de uma freguesia era o facto de nenhum dos seus habitantes distar mais de um dia de viajem a pé (ida e volta) entre o local da sua residência e a Câmara Municipal do seu concelho. Com o advento das profusas (e infelizmente mal geridas) vias de comunicação, do telefone, da internet, enfim da aldeia global, essa estrutura administrativa pesada e vetusta só se conserva por razões de um bairrismo serôdio, em que cada localidade agarra-se a ela por motivos sentimentais e sem nenhum motivo racional... pelo menos aquelas cuja existência há muito deixou de se justificar. Deixemo-nos pois de bairrismos balofos e façamos o que há a fazer! A contestação vai ser mais que muita, já se espera. E os que hoje se opõem a esta medida, pelo menos na minha santa terrinha, não os vi na luta pela continuidade de um serviço de urgência no hospital concelhio, esse sim, serviço de importância capital para a população. Estão agora preocupados com a freguesia e com os fregueses. Balelas politiqueiras às quais me furto tal como o diabo foge da cruz. Se a Junta é fardo, e é, aligeire-se a carga. Mais lá para a frente trataremos dos Governos Civis. É óbvio que nestes e noutros casos o valor não está na dissolução pela dissolução, mas na insubmissão que os mesmos nos provocam que pode ser posteriormente transformada num projecto positivo para reconverter o poder real das populações e dar um incremento crucial ao nosso modo de estar por cá.

Mário Rui

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Os erros de uns e os mal-disfarçados cinismos de outros




















De facto devemos prestar provas perante nós mesmos de modo a que sempre possamos demonstar que nascemos para sermos independentes e, acima de tudo, coerentes. E devemos fazê-lo a tempo e horas. É, em minha opinião, o que faz o articulista neste artigo. É importante que não fujamos a essas provas, ainda que possam ser um jogo perigoso e mesmo que sejamos as únicas testemunhas de um tempo não muito longínquo. Hoje, e relativamente a este líder político, até parece que ninguém mais é juíz! Até os que ontem abominavam Cunhal e dele faziam uma ideia acertada quanto ao modelo errado que nos queria impôr, até esses, agora lhe atribuem a condecoração de homem com "sentido histórico". Nao é digno dessa elevação, como dignos não são os que hoje choram lágrimas de crocodilo. O primeiro porque outra cousa não fez senão idealizar uma sociedade que se queria reclamar de um só ditame e uma só doutrina. Até parecia que não tínhamos acabado de pulverizar uma. Os segundos porque simulam uma genuína maioridade mas ainda não perceberam que é o juízo que a confere, e não a idade. Pode parecer opinião a despropósito, mas acho que é isto que nos faz passar de país pobre a pobre país. Os erros de uns e os mal-disfarçados cinismos de outros!

Mário Rui



O fascismo de Álvaro Cunhal continua vivo

É sempre cómica a forma como o jornalismo português transforma um fascista vermelho num grande democrata. Ontem, uma jornalista até disse que "Cunhal sempre lutou por um partido livre e transparente". Um sujeito ouve isto e fica a pensar "mas ainda há células do PCP nas redações?". Meus amigos, Cunhal lutou toda a sua vida contra a democracia. Cunhal tinha uma concepção totalitária da política: só compreendia a linguagem da força, só aceitava um regime de partido único (o dele) e toda a sociedade, dos romances aos tampos das sanitas, tinha de obedecer a um plano central (o de Moscovo). Por outras palavras, Cunhal era fascista.
Antes de 1974, Cunhal fez a vida negra às oposições democráticas, porque o PCP não queria uma transição para a democracia. É ler Norton de Matos, Eduardo Lourenço, Sophia, Sousa Tavares, Alçada Baptista, Bénard, Cunha Leal. Todas estas figuras contestaram, ao mesmo tempo, Salazar e Cunhal. Nos anos 50, Cunha Leal e Norton de Matos afirmaram que Cunhal era pior do que Salazar. No final dos anos 60, Eduardo Lourenço declarou que a oposição democrática não podia dançar o tango com a oposição autoritária (o PCP), porque Cunhal era uma fotocópia de Salazar. Moral da história? Durante o Estado Novo, o grande alvo do PCP não foi Salazar, mas a restante oposição. Daí nasceu esta guerra civil entre as esquerdas (tornada explícita em 1975) e a ditadura intelectual do PCP junto dos meios jornalísticos e intelectuais. Algo que ainda perdura em reportagens que cantam loas a Cunhal em 2012.
Depois do 25 de Abril, Cunhal continuou a lutar contra a democracia. Em actos e palavras, Cunhal foi claro: Portugal não podia caminhar no sentido democrático. É por isso que o líder do PCP sempre desprezou os actos eleitorais. Cunhal passava a vida a dizer que a sua "maioria política" era mais importante do que as "maiorias aritméticas" das urnas. Ou seja, a violência da rua e dos militares do PCP eram mais importantes do que o respeito pelos processos democráticos. Em 2012, os jornais e TV estão cheias de pessoas a dizer que "ora, ora, com tanta manif na rua, o governo perdeu a legitimidade e deve cair". O fascismo de Cunhal continua vivinho da silva.




Henrique Raposo in jornal Expresso de 3 de Dezembro de 2012

sábado, 1 de dezembro de 2012

Boas notícias






















Ora, pois muito bem! Mas quem é que não gosta de boas notícias? Até parece que os nossos instintos refluem agora em todas as direcções, nós próprios somos uma espécie de caos.

Mário Rui

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Conheço bem os meandros desta "luta"



















70 personalidades escrevem a Passos Coelho (ver aqui) e pedem-lhe que se demita

 
Conheço bem os meandros desta "luta", porque já a partilhei em vosso nome. Até ao dia em que destruíram o meu trabalho, a minha simplicidade, o futuro dos meus filhos. É por isso que eu tenho medo de vocês! Um medo sem limites. De todos vós . Em nada diferentes uns dos outros. Quer o tempo seja o de agora, quer tenha sido o vosso próprio tempo. Depois resolvi seguir a minha própria linha de reflexão, investiguei e cheguei à conclusão que há gente que simula expandir uma solidária energia vital só porque se sente bem na vida. Os que julgam que são povo, quando afinal mais não fizeram senão assegurar a sua própria carreira em nome dum futuro risonho. O vosso próprio futuro, mas quase nunca o do povo que dizéis defender. Estou farto de sabotadores da minha tranquilidade, do rumo que há muito julguei certo e, afinal, quando atingido o último instante do meu sofrido dia de trabalho, eis que me roubam a infância que ainda julgava ter pela frente. Assim dito, acho mesmo que o coaxar duma rã no charco tem muito mais sentido que o tempo que medeia de uma lauta refeição a outra a que alguns estômagos  se habituaram.

Mário Rui

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

RESTAURAÇÃO NACIONAL





Um país sem rei nem governo e Alcácer-Quibir a abrir fendas numa já então consolidada pátria. Ao tempo, a nobreza tradicional e a iluminada burguesia entregaram à  Espanha dos Filipes o reino de Portugal. Assim, de barato e de boa-vontade. Chamaram-lhe de União Ibérica. Vejam lá bem do que se haviam de lembrar! Reino unido de Portugal e Espanha, a primeira união europeia a que havíamos de aderir voluntariamente.  Quando tudo isto aconteceu, estávamos mais ou menos no mesmo abismo em que hoje nos encontramos. Nesse tempo, como hoje, e diziam que a troco da nossa independência política, também nos prometeram mundos e fundos. Acabámos por alinhar em guerras que não eram nossas, em armadas invencíveis, trocámos os nossos valores por coisas. Até deitámos ao lixo velhas e honradas alianças. A haver diferenças quanto à adesão, só o facto desta ter sido feita através das Cortes, mas não sem a excepção, vertical e sublime, diga-se de passagem, de um português de seu nome Febo Moniz.  Febo Moniz, funcionário no Paço Real nomeado procurador nas Cortes de Almeirim de 1580 e que se opôs à escolha de Filipe II de Espanha. Quando o rei de Espanha tomou o trono de Portugal, Febo Moniz foi preso, morrendo no cativeiro. Bonita União. Mas, rezam as crónicas, Espanha governava e deixava aos portugueses umas berças do território para administrar. Mais dizem que, a coisa até nem corria muito mal já que não havia alternativa. Como hoje sói dizer-se. Coincidências das adesões. Da mais recente, disseram-nos, haveria de ser o renascimento de um Portugal moribundo. Tretas! Afinal nem o país estava moribundo nem tão-pouco voltou ao estado de graça. Volvidos sessenta anos, os portugueses bons reconheceram o erro e fizeram o 1.º de Dezembro de 1640! O Dia da Independência. Um dia assim, no tempo que corre, há-de vingar, há-de vir, acredito. Só não sei quantas luas serão precisas para voltarmos a ser portugueses. Se até o Dia da Restauração da nossa soberana vida está para se finar, digam-me lá em quem acreditar. Em nós ou em quem voltou a trazer Alcácer-Quibir?   

Mário Rui

1.º de Dezembro

























Mário Rui

domingo, 25 de novembro de 2012

Imputar







































Faz tempo, ou tempos, que não via esta minha velha amiga. Deixa-me saudades a sua leitura de antanho. Parece que se mantém viva, o que saúdo com alegria. Merece-o. Pela perseverança, constância, e já agora pela companhia que me fez numa época em que tudo se resumia ao papel. Depois veio a nova era, a da web, que nos inibriou e tantas vezes me fez sentir mais estúpido. Mas sem culpa que lhe possa imputar. De outro modo onde iria eu descobrir o "im...putar"?

Mário Rui


sábado, 24 de novembro de 2012

Eu tenho um sonho
























Parece que Portugal virou país de desconfiados, de tenebrosas conspirações, de perseguições a preço zero, de gulag’s aterradores, campos de trabalhos forçados, de tratamentos "educacionais",  de adoecimento pela loucura e outras pestes que tais.

Mas afinal que voz é esta que se levanta contra o visionamento, pela PSP,  das imagens da manifestação em frente ao Parlamento, no passado dia 14 de Novembro? Já há quem lhe chame “Brutosgate”. Sempre havemos de ser uns péssimos copistas no que aos epítetos, e não só, concerne.

Uma entidade extra-terrestre poisou nas instalações da RTP e, sem salvo-conduto, invadiu a régie e sacou as imagens de outros extra-terrestres que, munidos de calhaus e petardos do além, galharda e graciosamente receberam a polícia nas escadarias da casa dos deputados.

Tudo isto e o que mais aí vem, enche páginas e páginas da imprensa nacional. Convocam-se os guardiões do tempo, o de agora, e do templo, a televisão nacional,  para blindar  esta e outras instituições que são o baluarte primeiro da nossa amada vida. E bem. É disso mesmo que precisamos.

Primeiro discutam e entendam-se quanto ao modo como tudo terá acontecido, pois esta é uma emergência portuguesa, nacional. Concluída que esteja esta averiguação e castigados os verdadeiros mentores de tão vil ataque, então sim, ficarão os pobres mais ricos, os doentes mais saudáveis, os impostos a descer e o país a sorrir de contentamento.  Finalmente vamos poder dizer ao mundo que  porfiámos convictamente mas conseguimos lá chegar. Ao estado de júbilo permanente.

De todo o modo não o façam sem que antes tratem de resolver o litígio que põe frente-a-frente o meu canário e respectiva mal amada companheira. A minha gata! E já agora, peço-vos encarecidamente, não esqueçais o veredicto quanto ao roubo das meias do meu vizinho, perpetrado pelo Sabú. O caniche tóto do meu outro vizinho, o senhor Malaquias.

Depois, sim. O país sossegado, tranquilo, sem altercações de monta e prenhe de vazias satisfações, vamos então ao que importa.

Chegado esse esperado momento, é altura de conduzirem aqueles rapazes da bófia, os que marcharam violentamente sobre os tais marcianos (só agora percebi a que planeta pertenciam), mais os que ocuparam a régie da RTP, ao destino final. A forca. Tratadas a contento aquelas questões a que antes aludi, é tempo de lhes acabar com a mania de bater. Bem sei que é castigo pesado mas ninguém os manda andar em duetos de dança, que é mais chique do que dizer pas de deux.

Sim, até porque não se percebe a razão pela qual não foram pedir as imagens ao senhor Balsemão ou à TVI ou, ainda melhor, à CNN. Essas teriam sido as portas certas a bater. E não as facultassem eles e, acto contínuo, estariam todos no desemprego. Também era coisa de somenos. Mais meio, menos meio por cento, e a  taxa de desemprego não tugia nem mugia. Agora ir pedi-las à RTP, não lembra nem ao diabo. Que falta de tino. Francamente.

Bom, de qualquer modo o que está feito, está feito. Ponto final. Em todo o caso, e de posse de todos os dados e roubados que já juntaram, não liguem a prazos para fecharem o processo. Retenham-se por semanas, meses, décadas se preciso for, de modo a que as alegações finais sejam consistentes. Ah, já agora não se esqueçam de ir dando notícias cá para fora. Acomodado e contente como está o povo, e ademais sem outros motivos de preocupação, quaisquer duas páginas por jornal, cinco ou seis noticiários televisivos por dia, uma mão cheia de blocos informativos, p´ra aí uns vinte e quatro, estilo TSF, e um contentor de Marcelos, Daniéis, Pachecos, Miguéis, Claras, Mendes e outros que tais, darão direito a imediata prisão. Queremos muito mais. Muito mais, alma minha gentil!

A despesa sobe, a receita diminuí, mas o que interessa isso quando comparado com a mania que a PSP tem de ir ver televisão para o sítio onde ela se faz. Olhem, para a próxima levem é um televisor portátil na mochila. Assim não têm que chatear ninguém após a refrega.

A todos os que, denodadamente se batem, não batendo em ninguém, por causas e cousas que impeçam a visita da bófia a matinés televisivas gratuitas, eu gostaria de agradecer, posto que sinto estar a crescer, eu e o país, para a riqueza nacional, o bem-estar da população e especialmente para o vosso próprio ego altruísta. Continuem em frente. Vamos longe! Até ao fim. E não há buraco que nos resista!

Mário Rui

Tributo






















Assim foi, ontem à noite. Em ambiente intimista, como devem ser todos os momentos que mais não pretendem senão trazer à memória dos que por cá vão ficando, a chancela dos homens bons que,  indelevelmente, nos marcaram pela sua entrega desinteressada aos outros e à comunidade onde viveram. Parece escrito no modo passado, mas é tão presente a lição que o Martins da Silva nos legou que só podemos dizer; homens há, como as obras de casquinha, que só têm a sua superfície de metal nobre. Gostei do bocadinho da noite. Gosto ainda mais da simplicidade das coisas ilustres que o são. Dói-me que agora só possamos ficar com a memória do cidadão exemplar, do homem cordato, do ‘ensinador’ que, sem ornatos nem enfeites, à sua maneira, determinou a conservação e perpetuidade dos exemplos que tantas vezes nos escapam. Voracidade dos tempos. E como ele soube pintar magistralmente os seus e os nossos tempos! Afinal, a memória é uma faculdade tão prodigiosa que ela só bastaria para provar a existência da sabedoria, sensibilidade e  inteligência de alguns. Eternamente.

Obrigado Martins da Silva, e entregue-se à família que o trouxe de novo a nós o elogio da virtude por tão merecido tributo.  

Mário Rui

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Jogos perigosos / Agora falo eu


















Editorial – Jornal de Angola on line


Jogos perigosos

12 de Novembro, 2012

Camões, faminto de tudo, até de pão, na hora da partida desta vida, descontente, ainda foi capaz de um último grito de amor. Morreu sem nada, mas com a sua ditosa e amada pátria no coração. Ele que sofreu as agruras do exílio e foi emigrante nas sete partidas, escorraçado pelos que se enfeitavam com a glória de mandar e a vã cobiça, morreu no seu país.

O mais universal dos poetas de língua portuguesa deixou-nos uma obra que é o orgulho de todos os que falam a doce e bem-amada língua de Camões. Mas também deixou, seguramente por querer, a marca das elites nacionais que o desprezaram e atiraram para a mais humilhante pobreza. O seu poema épico acaba com a palavra Inveja. Desde então, mais do que uma palavra, esse é o estado de espírito das elites portuguesas que não são capazes de compreender a grandeza do seu povo e muito menos a dimensão da sua História.

Nós em Angola aprendemos, desde sempre, o que quer dizer a palavra que fecha o poema épico, com chave de chumbo sobre a masmorra que guarda ciosamente a baixeza humana. A inveja moveu os primeiros portugueses que chegaram à foz do Rio Zaire e encontraram gente feliz, em comunhão com a natureza. Seres humanos que apenas se moviam para honrar a sua dimensão humana e nunca atrás de riquezas e honrarias.

A inveja fez mover os invasores estrangeiros nesta imensa terra angolana. Inveja foi o combustível que alimentou os beneficiários da guerra colonial. Inveja foi o estado de alma de Mário Soares quando entrou na reunião do Conselho da Revolução, que discutia o reconhecimento do novo país chamado Angola, na madrugada de 10 para 11 de Novembro de 1975. Roído de inveja e de cabeça perdida porque a CIA não conseguiu fazer com êxito o seu trabalho sujo contra Angola, disse aos conselheiros, Capitães de Abril: não vale a pena reconhecerem o regime de Agostinho Neto porque Holden Roberto e as suas tropas já entraram em Luanda. Uma mentira ditada pela inveja e a vã cobiça.

A inveja alimentou em Portugal o ódio contra Angola todos estes anos de Independência Nacional. E já lá vão 37! Os invejosos e ingratos para com quem os quer ajudar estão gastos de tanto odiar. Que o diga a chanceler Ângela Merkel, que ajudou a salvar Portugal da bancarrota, mas é todos os dias insultada. Recusam aceitar que foram derrotados depois de alimentarem décadas de rebelião em Angola, de braço dado com as forças do “apartheid” de uma África do Sul zelosa guardiã da humilhação de África.

As elites políticas portuguesas odeiam Angola e são a inveja em figura de gente. Vivem rodeadas de matilhas que atacam cegamente os políticos angolanos democraticamente eleitos, com maiorias qualificadas. Esse banditismo político tem banca em jornais que são referência apenas por fazerem manchetes de notícias falsas ou simplesmente inventadas. E Mário Soares, Pinto Balsemão, Belmiro de Azevedo e outros amplificam o palavreado criminoso de um qualquer Rafael Marques, herdeiro do estilo de Savimbi.

Os angolanos estão em festa pela Independência Nacional. Em Portugal, a nova Procuradora-Geral da República foi a Belém onde deve ter explicado a Cavaco Silva as informações que no mesmo dia saíram na SIC Notícias e no “Expresso”, jornal oficial do PSD, que fizeram manchetes insultuosas e difamatórias visando o Vice-Presidente da República, Manuel Vicente, que acaba de ser eleito com mais de 72 por cento dos votos dos angolanos. Militares angolanos com o estatuto de Heróis Nacionais e ministros democraticamente eleitos foram igualmente vítimas da inveja e do ódio do banditismo político que impera em Portugal, neste 11 de Novembro, o Dia da Independência Nacional. A PGR portuguesa é amplamente citada como a fonte da notícia. A campanha contra Angola partiu do poder ao mais alto nível. Mas como a PGR até agora ficou calada, consente o crime. As relações entre Angola e Portugal são prejudicadas quando se age com tamanha deslealdade. A cooperação é torpedeada quando um ramo mafioso da Maçonaria em Portugal, que amamentou Savimbi e acalenta o lixo político que existe entre nós, hoje determina publicamente o sentido das nossas relações, destilando ódio e inveja contra os angolanos de bem. Da boca para fora, são sempre amigos de Angola e dos angolanos, da Alemanha e dos alemães. Enchem os bornais de dinheiro, à custa de Angola, comem à custa da Alemanha. Sobrevivem à miséria, usando como último refúgio a antiga “jóia da coroa”, feliz expressão do capitão de Abril Pezarat Correia. Mas na hora da verdade, conspiram e ofendem angolanos e alemães, usando a sua máquina mediática.

“De sorte que Alexandre em nós se veja,/ sem à dita de Aquiles ter inveja.” Estes são os dois últimos versos de Camões no seu poema épico. Os restos do império, que estrebucham na miséria moral, na corrupção e no embuste, deviam render-se à evidência. Angola não é um joguete! Nós somos Aquiles! Tão grandes e vulneráveis como ele. Mas não tenham Inveja do nosso êxito, porque fazemos tudo para merecê-lo

Jornal de Angola on line - 12 de Novembro 2012


AGORA FALO EU  

Como eu compreendo o silêncio das supostas autoridades portuguesas face ao desconchavo deste editorial. Se de facto contássemos com gente de vertical aprumo, independentemente das razões que possam, ou não, assistir a quem assim escreve, assunto que de resto nem ao trabalho de melhor perceber me dou, então a esta hora Portugal estaria a responder condignamente à nomenklatura angolana. Não com iguais e ultrajantes palavras como as usadas por semelhante editorialista, mas antes com a dignidade que deveria ter quem se assume como governo de um país livre, honrado, pobre é certo, mas nunca vassalo de um qualquer aprendiz de feiticeiro. Mas não! Não temos gente para esta peleja. Não é que esteja desaparecida em combate. O problema é que quando se está comprometido, dificilmente se pode ser independente, lutador, defensor de valores. Este quadro de referências também já não faz parte do carácter de quem manda no meu país. Como havemos de clamar por seriedade e honradez no trato que os outros nos dispensam se nós próprios não nos respeitamos?

Fica-me uma mágoa imensa por saber que todos nos maltratam. Os de fora, os de dentro e pelos jeitos os que certamente hão-de vir. Até quando, até quando? Nós, sociedade civil, dado não termos quem nos defenda destes torpes ataques vindos do exterior, havemos de parar para pensar. E se vociferamos contra quem nos rouba o sustento do corpo, sejam os de cá, ou os de fora, não entendo a omissão quanto aos que nos arrebatam ardilosamente a alma lusitana. Convoca-se gratuitamente, em desespero de causa, Camões! Como se a qualquer um fosse dado o direito de invocar o símbolo maior da identidade da pátria portuguesa. Não haverá por Angola uma outra figura que materialize o sentimento dos que se acham ofendidos pela “inveja que faz mover os invasores estrangeiros nesta imensa terra angolana”? Dava jeito uma certa ‘produção nacional’ para o efeito. Talvez assim não vulgarizassem aquele que vos deu argumentos para serem povo. Mas leiam, leiam muito Camões, só isso vos pode fazer bem, desde que dele não se sirvam para adulterar a nossa portugalidade. Comecem por aqui e não percam a fé;

Ditoso seja aquele que somente
se queixa de amorosas esquivanças;
pois por elas não perde as esperanças
de poder n'algum tempo ser contente.

Quanto a «…nós somos Aquiles! Tão grandes e vulneráveis como ele», nunca olvidem que se trata de mitologia grega. No meu país, sempre tratámos as coisas de forma mais terrena. Ainda assim, e mais uma vez, não estudaram bem a lição o que resultou, de novo, em asneira! Aquiles era invulnerável em todo o seu corpo, excepto no seu calcanhar. Tinha dois e um era realmente o seu ponto fraco. Quantos calcanhares terá esta nomenklatura de Angola?

Mário Rui