sexta-feira, 11 de julho de 2014

Rádio Voz da Ria

 
 
 
 
Mário Rui
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Espírito nada santo



BES para cá, BES para lá, tudo parece ser como se de festa brava falássemos. A mim, não cuidado nestas matérias da banca desleal que campeia em roda livre pelo país, o que se me afigura certo é que como em Pamplona, festas de San Fermin, tudo se resume à luta pela sobrevivência. Touros desembolados persistem em investidas ante o pacato zé-ninguém que, em lugar de confiar em enxergão amigo que ponha ao abrigo das mentes matreiras a sua economia de uma existência, decide inocentemente colocar a sua vida nos bolsos e na mente moída de gente ávida de sucessos pessoais. É uma luta por sobrevivência que a uns sabe a eclosão de sentimentos expostos na banca da feira das vaidades e a outros a mais não corresponde senão a barafunda, palco da dor pessoal de quem se sente exposto a estes testemunhos públicos de assalto aos tronos que conferem poder, mas também aniquilação completa do carácter cívico de quem os pratica. Bem pode o BdP vir acalmar as consciências mais inquietas, desassossegadas e com razão, pois que ao invés do que se afirma, tudo isto não é mera arte nova, é antes caso de polícia. E como caso de polícia que se assume ser, só há uma solução para estas torpezas do espírito que não é nada santo; uma extorsão assim metodizada só pode ter o caminho da condenação. A mais não se pode aspirar e acrescente-se mesmo o nosso riso legítimo e a nossa pequenina vingança se todos estes espíritos vierem a tombar. Se nos são prejudiciais, que mais podem esperar? Ah, e cabe-nos apupá-los mesmo depois de condenados. Afinal está decididamente instalado o caos, ninguém sabe onde começa e muito menos onde acaba o romance em torno do grupo espírito santo – com letra pequenina, como deve ser – quer se trate do BES, BESI, BESA, empresas, holdings, offshores e circo restante que gira à volta do nome. O cenário é a prova provada que vivemos um tempo e um país que se arroga o direito de dar alcova impune a entrudos mascarados de toureiros que assim desempenham o martírio destas lides. Repito, se as pessoas de Pamplona cedo se vestem de branco mas depois é o vermelho que predomina, então não há grande diferença quanto ao que por cá se passa. A existir, ela reside basicamente no facto de, no meu país, igual vermelho corresponder tão-só à sangria que rapidamente tomou conta de todos nós. Por culpa do nosso tempo que acabou por englobar certos homens em três categorias; os maus, os bons e os burros, ou seja, os animais de ataque, os animais de trabalho e os que vivem de fantasia. Todos são culpados, mas a ajustar este estado de coisas, eu começaria por transaccionar os maus cobrando-me da mesma moeda que usam para com a nossa boa consciência, depois diria aos bons para se afastarem do convívio dos atacantes e finalmente recomendaria aos burros, eu mesmo, que se vissem melhor ao espelho de modo a achar a careta mais adequada para cada um dos efeitos cénicos da triste vida em que os espíritos prevalecentes nos meteram.
 
Mário Rui
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