quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Vamos por onde?


Otelo. Golpe militar seria agora mais fácil do que em 74

Otelo Saraiva de Carvalho é contra manifestações de militares, mas defende que, se forem ultrapassados os limites, com perda de mais direitos, a resposta pode ser um golpe militar, mais fácil do que em 1974."Para mim, a manifestação dos militares deve ser, ultrapassados os limites, fazer uma operação militar e derrubar o Governo", defendeu Otelo, em entrevista à Agência Lusa, num comentário à “manifestação da família militar”, no sábado, em Lisboa. “Não gosto de militares fardados a manifestarem-se na rua. Os militares têm um poder e uma força e não é em manifestações coletivas que devem pedir e exigir coisas”, disse. Mas diz compreender as suas razões e considera que as mesmas podem conduzir a “um novo 25 de abril”. “Os militares têm a tendência para estabelecer um determinado limite à atuação da classe política”. Esse limite, considerou, foi ultrapassado em 1974 e culminou com a “revolução dos cravos".Hoje, Portugal está “a atingir o limite”, disse, corroborando o que há seis meses dissera à Lusa: “Se soubesse o que sei hoje não teria possivelmente feito o 25 de abril”.O coronel na reserva acredita que há condições para os militares tomarem o poder e vai mais longe: “bastam 800 homens”. Em comparação com o golpe de 1974 – do qual afirma ser um “orgulhoso protagonista” –, Otelo considera que um próximo seria até mais fácil, pois “há menos quartéis, logo menos hipóteses de existirem inimigos” da revolução.Questionado sobre a real possibilidade dos militares tomarem o poder, como há 37 anos, Otelo responde perentório: “Não tenho dúvida nenhuma que sim”.“Os militares têm sempre essa capacidade, porque têm armas. É o último bastião do poder instituído”, afirmou.“Estou convicto que, em qualquer altura, se os militares estiverem dispostos a isso, podem avançar sempre para uma tomada de poder”, adiantou.O estratega do golpe do 25 de abril faz uma análise crítica dos últimos 37 anos: “Se eu adivinhasse que o país ia gerar uma classe política igual à que está no poder, e que está a passar a certidão de óbito ao 25 de abril, eu não teria assumido a responsabilidade de dar essa alvorada de esperança ao povo”. “Estabelecemos com o povo português um compromisso muito forte que era o de criar condições para um acesso a nível cultural, social e económico de um povo que tinha vivido 48 anos debaixo de ditadura”, acrescentou.“Assumimos esse compromisso, não o cumprimos e não o estamos a cumprir porque entregámos o poder a uma classe política que, desde o 25 de abril, tem vindo a piorar”, afirmou.Otelo considera mesmo que, à medida que o tempo corre, tem-se registado “um retrocesso enorme”.“Gozamos da liberdade de reunião, de manifestação e de expressão, mas começa a haver um caminho para trás”, frisou. Para Otelo Saraiva de Carvalho, a revolução “está agonizante” e há quem disso beneficie.“A classe política – sobretudo o que podemos abstratamente chamar de direita – está a retomar subtilmente tudo aquilo que eram as suas prerrogativas antes do 25 de abril e a passar a certidão de óbito" à revolução.“A minha mágoa é essa”, adiantou, sem esconder o pessimismo em relação ao futuro: “Perdemos o compasso da história”.As associações sócio-profissionais de militares têm marcada para sábado uma concentração nacional em protesto contra as "medidas duríssimas" apresentadas pelo Governo na proposta do Orçamento para 2012, nomeadamente a redução de remunerações e pensões, cortes nos subsídios de férias e de Natal e o aumento generalizado dos impostos.




Por Agência Lusa, publicado em 9 Nov 2011 - 17:28


Antes de mais é meu dever informar os meus leitores que as opiniões deixadas pelo senhor Otelo e atrás transcritas via imprensa de hoje, não o Otelo, o Mouro de Veneza da obra de William Shakespeare, mas antes o Saraiva de Carvalho, tiveram de ser condensadas, isto é, linhas muito apertadinhas já que de outro modo, tanta sabedoria e supremacia militar, seguramente estariam votadas a um desatento e ligeiro passar de olhos a quem eventualmente por elas se interessasse, tal era o comprimento de onda parlapatória dita por esta personagem.


Pois bem, a mim só me apetece comentar uma meia dúzia de opinões, se é que de opiniões podemos falar, a propósito de mais umas charlatanices deste militar perpotente. De facto o 25 de Abril foi muito bom e bonito. Mas o 26 de Abril de 74 já começou por não ser exactamente o dia e a madrugada que eu esperava, o dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância do tempo, tal como poetisou Sophia de Mello Breyner e eu aqui adultero em forma de prosa.


Saberá o senhor porquê? Pela muito simples razão de que, mesmo na bafiente era salazarista, Portugal não era propriamente a Espanha de Franco, a Argentina de Péron ou, se quiser e se lhe agradar, a Cuba de Fulgêncio Batista. Era um pouco mais digna essa era , mais elevada nos princípios, mais eticamente fundada. Se mesmo assim estava mal, estava! Mas não foi com toda a certeza, pesem embora todas as patranhas que o senhor e outros como o senhor nos impinjiram, que estiveram na génese “dessa manifestação da família militar”, citação sua, e muito menos vos deu, ou vos dará algum dia a tal “tendência para estabelecer um determinado limite à actuação da classe política.


Isso é, infelizmente, prática corrrente, mas no Uganda, na Somália, no Sudão, na Etiópia e por aí fora. Sendo Portugal o que é, pobre e desavindo com quem nos (des)governa, não é mais este povo que, a pessoas, militares ou não, dará cobertura aos actos que o senhor defende – “há menos quartéis, logo menos hipóteses de existirem inimigos”. Tome atenção porque o que ontem foi verdade no seio de um povo embrutecido e analfabeto, hoje é mentira no seio de um povo que, apesar de ter evoluído pouco, mesmo assim, sabe o que quer e o que sofre.


Neste capítulo quer-me parecer que bem pode o senhor e os seus militares, sentarem-se à sombra de uma grande pedra e por aí ficarem a apanhar moscas. Quando afirma que “os militares tem sempre essa capacidade, porque têm armas e são o último bastião do poder instituído”, volta a enganar-se e reprovavelmente a enganar os outros que lutam por um amanhã melhor, mas sempre lançando mão de outras armas que não as suas pistolas que terrivelmente abateram alguns bons portugueses que por cá tínhamos. Lembra-se?


A classe política – sobretudo o que podemos abstratamente chamar de direita – está a tornar-se subtilmente ... ... ... ... “ Até nisto o senhor Otelo se equivoca. Qual classe política? A que classe é que se refere? Já não há classe neste país, homem. Exceptuando o povo que ainda anima com lume brando, pudera, o nosso país, depois já só restam pessoas sem classe. E essa velha e rela história da direita e do centro e da esquerda, já nos foi contada tantas ou tão-poucas vezes, que nós já nem lhe damos confiança alguma.


Quanto à sua preferida e amada revolucionária esquerda, a essa eu quero que lhe seja introduzida pelo meio alguma matemática. Não devia, mas mesmo assim vou explicar-lhe porquê; é que queremos, até onde for possível, introduzir a subtileza e o rigor das matemáticas em todas as ciências, até na política; não que imaginemos, com isso, chegar a conhecer bem as coisas; queremos tão só estabelecer a nossa relação com elas e sobretudo o meio de melhor conhecermos com quem não devemos andar e aplaudir.


Não queremos um país de pistolas e de revolucionários. Preferimos uma terra de pensamentos, palavras sensatas, gente de bem e com alguma categoria, categoria q.b., onde a acção só se pode tornar realidade que conduza a nação a alguma, também nao pedimos muita, noção do real. Quanto ao resto, para nos rirmos, vamos ao circo!

Mário Rui