terça-feira, 31 de maio de 2011

Político-pavões




Arranjei mais um litígio com a minha própria consciência. Será verdade que contribuí para a urgente chamada do longínquo que aí está com uma mala cheia de proventos, leia-se dinheiro? E o que vem ele cá fazer? Certamente dar-nos uma mão. Ou será mesmo empurrão para o outro lado? De tanto ouvir economistas, políticos, comentadores, fazedores de opinião, caras novas às dezenas que todos os dias me entram pela casa adentro, doutas criaturas que aos olhos e ouvidos de gente menos avisada mais se assemelham a verdadeiros construtores de falsos impérios, fico com a ideia de que afinal tudo vai mal.
Nem sequer quero falar muito a propósito de tal variedade de gente. Se calhar limitar-me-ia a perguntar onde estavam os primeiros de todos. Sim, os que fazem contas, probabilidades, estatísticas, as inteligências financeiras. Então não avaliaram bem os riscos, ou antes os ricos, antes mesmo de toda esta confusão se instalar no meu país? Ora imaginem lá que médicos e engenheiros agiriam do mesmo modo. Pobres de nós. Já não tínhamos portugueses que povoassem a pequena praça da minha aldeia. Eu gosto de chamar aldeia ao lugar onde vivo. Agrada-me a ideia de compartilhar pequeninos segredos com lugarejos. Aliás já nem tal praça existiria.
Constrangido sim, é como estou. Ainda assim e vá-se lá saber porquê , dá-me vontade de rir. Se calhar tão-só porque estou a ficar surdo (sabe-se lá) e então gostaria que alguém me explicasse em voz alta para que servem mais umas anunciadas eleições. Algum dos que se aprestam para pôr o comboio no carril, pobre carril, ou carruagem?, já vos explicou que volta dar para pagar a factura que está em dívida? Alguém ouviu porventura uma ideia consistente para pôr em marcha de sucesso a caminhada que há-de vir? O que me chega são acusações mútuas vazias de conteúdo, azedumes velhos, discursos inócuos e sem mensagem e nada mais do que isso. Saudaria com alegria tudo o que me anunciasse o aparecimento de uma época nova, mais viril, se quiserem mais guerreira que honrasse outra vez a coragem de quem tem em mãos a ressurreição de uma necessidade. A de elevar Portugal ao estatuto de verdadeira Nação. O problema é que são precisos agora muitos valentes que abram caminho, homens silenciosos mas que em todas as coisas procurem apaixonadamente o obstáculo a vencer. Como não os vejo, apetece-me dizer-vos que, se me decidir pelo não voto, jamais vos desculparei se me acusarem de preferir a praia, o sol, o conformismo, o comodismo, à urna de voto. Não, não é por nada disso que eventualmente não porei lá os pés. E não me falem na alternativa do voto em branco ou nulo como cidadania mais responsável. Eu já conheço bem a facilidade com que os políticos diagnosticam todas as verdades que lhes são incómodas. Se lá não for é porque continuo a não vos reconhecer como merecedores da minha confiança nem sequer, imaginem, para fazer uma pequena caminhada. Já há muito que vos vejo como mestres do quinto acto de uma tragédia e do drama de um País. Agora decidam-se e mudem vocês de atmosfera. Esta já não vos serve e, pior do que isso, está a deixar-nos sem ar. Por mim acho que uma aragem, valor inapreciável, ajudar-nos-ia a consertar muitas imperfeições. Prossigam pois com esta soberba campanha eleitoral e verão depois a taxa de reputação com que iremos infelizmente, todos, mas mesmo todos, ser brindados.





Mário Rui

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quem tem saudades do escudo?



Para os mais novos e para os menos atentos, o Escudo faria agora 100 anos se estivesse em circulação. Palminhas!
Desde já confesso que não sou a melhor pessoa para me lembrar de coisas de há 5 ou 10 anos atrás, mas as circunstâncias obrigam-me agora a recordar como era viver no tempo dos Escudos. E verdade seja dita, tenho algumas saudades disso. Não são aquelas saudades que sentimos por alguém que não vemos desde a semana passada. São umas saudades diferentes, imbecis e cruelmente impostas por alguém que nos decidiu deixar ao abrigo de uma moeda única com a qual me identifico pouco para, passados 9 anos me ouvirem dizer “tenho saudades dos Escudos”, como se fosse uma coisa mais ou menos inevitável.
Tirarem-nos os Escudos das mãos foi muito cruel. Foi como se arrancassem parte de nós das páginas da História e tomassem para si próprios momentos que nós portugueses conquistámos. Sim, porque naquelas moedas e naquelas notas estavam gravados importantes navegadores da época dos Descobrimentos e ao tirarem-nos isso tiraram-nos também um pouco do orgulho de sermos quem somos e do que construímos.
Cruel é também a nova campanha do MiniPreço que afirma que só tem saudades do Escudo quem não compra lá. Mas o que acontece é que 500 Escudos dariam para alimentar meia família na altura e agora os correspondentes € 2.50 não dão sequer para alimentar os peixes do aquário da sala de estar.
A verdade é esta: as pessoas eram muito mais felizes na altura do Escudo e sabiam exactamente com o que contar nas despesas lá de casa e não só. Eu recebia 500 Escudos que me davam para a semana toda e ainda sobrava. E mais, com os Escudos dava para enganar as máquinas de bebidas do liceu, porque uma moeda de 5 rapidamente se transformava numa de 50 ao passar-lhe um comboio por cima na linha ao lado da escola. Queimavam quando lhes púnhamos as mãos, mas eram sacrifícios que estávamos dispostos a fazer…
E ainda há quem guarde os Escudos num baú, tal como fazem aqueles que cremam os entes queridos e guardam as cinzas num pote em cima da lareira da sala. Não dá para vê-los partir assim, aos Escudos. Dói demasiado.
E numa altura de tantas dificuldades como as que agora sentimos, não me parece que as coisas tenham melhorado economicamente com a entrada em vigor do Euro, essa moeda com a qual não temos nada a ver e que só veio encarecer o já débil estado da nossa carteira.
Para hoje é tudo que tenho os Escudos ao lume. Até à próxima



Rui André

Obra de restauro


Muito bonito. A incultura política deste País já reinvidica, desde há muito, mas cada vez de modo mais ignóbil, para não dizer badalhoco, a propriedade alheia para fazer dela seu reduto. Quero lá saber se são comunistas, social-democratas, socialistas ou qualquer outro grupelho de pseudo-intelectuais. Tudo serve para manchar esta terra, este lugar que cada vez mais começa a ser frequentado por gente sem princípios, sem maneiras e, pior ainda, gente que ao invés de mostrar civismo, revela, isso sim, falta de carácter. Qual atitude democrática, qual atitude de cidadania pura e dura. Vão trabalhar! Aproveitem esta alegre campanha e pintem os casebres dos indigentes para quem tanta tinta seria certamente um voto em pintores honestos e dignos do que fazem.
Não percebo o que vos impede de carregarem baldes, trinchas, tintas, vontade e já agora a vossa imbecilidade e assim darem continuidade à vossa saga indecente em borrar Portugal. Comecem pelo Mosteiro dos Jerónimos, depois passem pela Assembleia da República, aquela casa que tão cara vos é, Palácio das Necessidades e, depois, se ainda tiverem ânimo, pintem as vossas próprias caras de modo a que jamais vos possamos reconhecer. Faziam-nos um favor enorme e, se é que usam produto nacional, ajudavam ao nosso défice.
Realmente não vale a pena apostar em gente assim. Por muito que queiramos acreditar que estejam embuídos do melhor dos propósitos, somos forçados a desistir. Desistir de acreditar nos vossos horizontes, na vossa verborreia política que mais não pretende senão, tipo circo, fazer-nos rir tentando dessa maneira captar a nossa simpatia que o mesmo é dizer o voto. Não pintem, não sejam palhaços!
As tais escadarias são propriedade duma notável Universidade. Quando muito são também dos estudantes que lhes dão rosto. Dos que querem ordem, economia e moralidade.
Eu acho que estes estudantes e outros tantos como eles, o povo, só poderá, retorquindo, pintar uma grande faixa, daquelas que se removem logo que se queira, assim inscrita: «Ó pobres políticos! Digam-nos lá. Donde vimos? Para onde vamos? Podemos apenas responder: Vimos donde vós estais, vamos para onde vós não estiverdes» Ah grande Eça...




Mário Rui

Cascatas



segunda-feira, 23 de maio de 2011



Turma da Escola Industrial de Estarreja - Secção de Ovar - 1965/66

Conduzir em Portugal

É certo e sabido que alguns portugueses adoram gabar-se dos seus dotes de condução e quando o fazem já vão em quinta que é para embalarem os outros na sua conversa. Eu nem acho que a maioria dos portugueses conduza mal, atenção! Aliás, até acho que conduzem muito bem, principalmente se o carro for automático.
Agora, aquilo que algumas pessoas fazem ao volante de um carro é igual ao que me fazem quando me obrigam a ver o Porto festejar um campeonato no meu próprio estádio. Chateia e não é pouco!
A condução em Portugal é muito peculiar, principalmente porque foge às regras impostas pelo livro de código que todos nós estudámos com tanta dedicação e que somos capazes de ainda hoje nos lembrar de trás para a frente. Ou então não…
O que acontece é isto: as piores pessoas ao volante nunca se esquecem do cinto, do travão de mão ou de ajustar o banco, mas por uma razão ainda desconhecida têm uma tendência esquisita para se esquecer que nem Portugal é um deserto (ainda), nem a paciência dos outros é ilimitada. E a minha normalmente esgota-se nas rotundas e ao Domingo.
O que acontece com a condução em rotundas em Portugal é o mesmo que acontece em Pamplona com os touros – arrumem-se e salve-se quem puder - com a excepção de que os touros são estúpidos e não pensam e alguns seres humanos pensam que não são estúpidos, mas às vezes são. Conduzir nas rotundas é uma habilidade ao alcance de poucos e graças a Deus que uma das coisas que escasseia em Portugal são rotundas. Ainda assim, eu acho que a faixa mais interior de uma rotunda está lá para alguma coisa, portanto façam o favor de lhe dar algum uso.
Outra coisa que me deixa intrigado em relação à condução em Portugal é a condução ao Domingo. Não sei se os carros amuam quando o dono os tira da garagem, se durante a viagem se ouve música de embalar ou se a potência desses carros se mede em caracóis e não em cavalos, mas ao Domingo os carros não passam dos 40. E ficava tão bem um palavrão agora que só me apetece dizer: tirem essa mmmm... da frente!
Apesar disto, conduzir em Portugal acaba por não ser mau de todo porque não há limites de velocidade ridículos como na Alemanha e as estradas estão sempre em bom estado, ao contrário do que acontece lá. Por isso é que nós aqui podemos andar de Porsche e Mercedes daqueles baixinhos, mesmo que não tenhamos dinheiro para eles, e eles lá não que lhes estraga os carros todos.
Por hoje é tudo que o sinal está verde há algum tempo e já ouço buzinões a 1km de distância. Até à próxima e cuidado na estrada, nunca esquecendo que crianças no banco da frente causam acidentes e acidentes no banco de trás causam crianças.

Rui André

sábado, 21 de maio de 2011

domingo, 15 de maio de 2011

Destino

Não sei o que é ser a pessoa mais importante da vida de alguém (à excepção de eu ser a dos meus pais), mas aposto que deve ser bonito. Apesar disso, não acredito no destino e nas promessas de que ‘fomos feitos um para o outro’ como se isto bastasse para nos deixarmos acomodar a um destino que julgamos como certo. Na verdade, deixei de acreditar nisso e ainda bem!
O destino acaba por ser uma desculpa esfarrapada que usamos para nos mentalizarmos que no final tudo dá certo e se ainda não deu certo, então… vocês sabem o resto. O que é bonito é lutar por esse destino, sermos nós a construí-lo e assumirmos nós mesmos as responsabilidades se esse destino não nos convier quando chegar. É a vida!
É certo e sabido que somos nós que construímos o nosso destino e quem achar o contrário é provável que venha a ter uma grande desilusão. E isto porque aquele ou aquela podem muito bem não ser o homem ou a mulher da nossa vida como pensávamos que eram e porque o que é dado como certo hoje pode ser mentira amanhã. E também porque se continuarmos a sair muito de casa percebemos que há por aí muitas pessoas especiais que nos podem fazer mudar de ideias.
No fundo, eu gosto de pensar no destino como uma coisa que depende exclusivamente de mim e acho que vocês deviam pensar o mesmo. E isto porque é muito bonito culpar as estrelas quando achamos que estas não jogam a nosso favor, quando sabemos perfeitamente que a culpa é toda nossa. Custa mas é assim mesmo!
Por isso, é muito fácil culpar o destino quando as coisas não correm bem, dizendo que afinal o meu destino não era para aquilo, incriminá-lo quando o que achávamos inevitável e para sempre afinal tem um prazo de validade, apontar-lhe o dedo quando percebemos que afinal não era isto que a vida tinha reservado para mim. E é muito fácil agarrarmo-nos ao destino, acomodando-nos e dando-o como certo, porque dá muito mais trabalho lutar por aquilo que queremos dele. Há-de ser sempre assim!
Por hoje é tudo porque eu - e não o destino – assim o quero. Até à próxima, leitores da minha vida. Mas cuidado, porque amanhã podem muito bem já não o ser.

Rui André

sábado, 7 de maio de 2011

O que os Finlandeses precisam de saber acerca de Portugal

Estranhas visões



Indignai-vos!



O “pequeno” e badalado livro Indignai-vos!, de Stéphane Hessel, editado pela Objectiva, já está à venda nas livrarias de Portugal, depois de ter vendido mais de 1 300 000 exemplares em França em apenas 4 meses.
“A minha longa vida deu-me uma série de motivos para me indignar.” Quem o diz é Stéphane Hessel, 93 anos, herói da Resistência francesa, sobrevivente dos campos de concentração nazis e um dos redactores da Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Neste manifesto, Hessel alerta, segundo a Objectiva, para o “facto de existirem hoje tantos e tão sérios motivos para a indignação como no tempo em que o nacional-socialismo ameaçava o mundo livre”. E especifica: “Se procurarmos, certamente encontraremos razões para a indignação: o fosso crescente entre muitos pobres e muitos ricos, o estado do planeta, o desrespeito pelos imigrantes e pelos direitos humanos, a ditadura intolerável dos mercados financeiros, a injustiça social, entre tantos outros.”

Museu do Cinema



Depois de ouvir aquela breve comunicação a propósito da crise, que a julgar pela intervenção de Sócrates afinal não existe, ainda esperei ouvi-lo a pedir/ordenar: "Ó Teixeira diz boa noite".

Já não há cavalheiros como os Antónios. O Lopes Ribeiro e o Melo.