quinta-feira, 26 de maio de 2011

Quem tem saudades do escudo?



Para os mais novos e para os menos atentos, o Escudo faria agora 100 anos se estivesse em circulação. Palminhas!
Desde já confesso que não sou a melhor pessoa para me lembrar de coisas de há 5 ou 10 anos atrás, mas as circunstâncias obrigam-me agora a recordar como era viver no tempo dos Escudos. E verdade seja dita, tenho algumas saudades disso. Não são aquelas saudades que sentimos por alguém que não vemos desde a semana passada. São umas saudades diferentes, imbecis e cruelmente impostas por alguém que nos decidiu deixar ao abrigo de uma moeda única com a qual me identifico pouco para, passados 9 anos me ouvirem dizer “tenho saudades dos Escudos”, como se fosse uma coisa mais ou menos inevitável.
Tirarem-nos os Escudos das mãos foi muito cruel. Foi como se arrancassem parte de nós das páginas da História e tomassem para si próprios momentos que nós portugueses conquistámos. Sim, porque naquelas moedas e naquelas notas estavam gravados importantes navegadores da época dos Descobrimentos e ao tirarem-nos isso tiraram-nos também um pouco do orgulho de sermos quem somos e do que construímos.
Cruel é também a nova campanha do MiniPreço que afirma que só tem saudades do Escudo quem não compra lá. Mas o que acontece é que 500 Escudos dariam para alimentar meia família na altura e agora os correspondentes € 2.50 não dão sequer para alimentar os peixes do aquário da sala de estar.
A verdade é esta: as pessoas eram muito mais felizes na altura do Escudo e sabiam exactamente com o que contar nas despesas lá de casa e não só. Eu recebia 500 Escudos que me davam para a semana toda e ainda sobrava. E mais, com os Escudos dava para enganar as máquinas de bebidas do liceu, porque uma moeda de 5 rapidamente se transformava numa de 50 ao passar-lhe um comboio por cima na linha ao lado da escola. Queimavam quando lhes púnhamos as mãos, mas eram sacrifícios que estávamos dispostos a fazer…
E ainda há quem guarde os Escudos num baú, tal como fazem aqueles que cremam os entes queridos e guardam as cinzas num pote em cima da lareira da sala. Não dá para vê-los partir assim, aos Escudos. Dói demasiado.
E numa altura de tantas dificuldades como as que agora sentimos, não me parece que as coisas tenham melhorado economicamente com a entrada em vigor do Euro, essa moeda com a qual não temos nada a ver e que só veio encarecer o já débil estado da nossa carteira.
Para hoje é tudo que tenho os Escudos ao lume. Até à próxima



Rui André

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