sexta-feira, 26 de abril de 2013

Contumaz



























É-me indiferente se se chama Isaltino, Virgolino ou Osvaldino. Na minha terra, que o mesmo é dizer no seio da gente que me viu nascer, criou e educou, sempre me disseram que a honra tem hora em que é mais cara que a própria vida. É claro que dito assim pode parecer uma forma exagerada de exprimir a verdade de que a reputação – a opinião que os outros têm de nós – é absolutamente necessária se desejamos fazer algum progresso no mundo. Pode parecer exagerada, mas de facto só parece! Sendo certo que nem todos comungarão deste princípio, o progresso de um país ou do mundo não é assunto que lhes assista, antes importa promover o próprio movimento para diante, nem por isso, eu, e os que tiveram a felicidade de receber e preservar educação que enobrece os simples, abdicaremos dessa maneira de estar em sociedade. A séria, eticamente de bem connosco e com os que nos rodeiam. Já outros assim não pensam. E é lamentável que tal aconteça. Aquilo que mais se vê é, individualmente ou, pior ainda, com a matreira cobertura do próprio Estado, a promoção dos maiores dislates no que à honra de uma comunidade diz respeito. Coisa deste modo fundada, e está realmente “legalmente” instituída, só pode acrescentar descréditos ao país que somos. Nascido que foi o dia de todas as esperanças, o 25 de Abril, tudo o que de bom nos foi dado foi ordinariamente enxovalhado por gente que sempre olhou mais para o seu próprio umbigo e quase nunca para as necessidades dos semelhantes. Exagero? Não! Há um presidente de câmara preso e nem sequer é minha intenção fazer juízo de valor relativamente às circunstâncias que o levaram ao cárcere. Mas está preso! Presumo que por motivos tidos como suficientes por quem tem a espinhosa incumbência de julgar dos actos de terceiros. E estando na prisão, o mínimo que as leis desta república das bananas deveria acautelar, seria não permitir a barbárie do preceito ou regra estabelecida por direito? que lhe confere a faculdade de governar uma autarquia desde a cadeia. Esta realidade só tem semelhanças com o livre-arbítrio de quem faz regras em países do terceiro ou quarto-mundo, pois até esse já existe! Mas não sejamos ingénuos. A política que continuadamente faz parir esta pronográfica teatralização do que deve ser justo e do que não deve ser feito, é uma magia que apenas pretende encantar-nos. Sim, ou será que as leis do país não são discutidas e aprovadas na casa da democracia de uns tantos, os que fazem parte do chamado grupo do elogio mútuo? Como eles sabem defender-se! Como é possível que ainda não tenhamos percebido que esta falsa ciência oriunda de tão nobre casa, mas tão mal frequentada, não aumenta o nosso saber, a nossa dignidade, mas só agrava a nossa ignorância. É assim mesmo que nos é servida a refeição preparada pelos que dizem tratar da coisa pública. Não adianta julgar de outro modo. Interessa pois é termos como certo que um desengano oportuno corresponde sempre a um benefício importante para os sérios. E o que mais temos tido, apesar de tudo felizmente, são desenganos. Mas cuidado, por este andar, e na defesa das suas possessões, ainda há-de chegar o dia em que os mandantes de Portugal irão fazer do presídio, evidentemente que pela sua ciência, experiência, virtudes e melhor conhecimento da natureza dos males e suas fontes, a verdadeira sede da governação nacional. Vai ser, aliás já é, uma ordem maravilhosa, mesmo com aparência de desordem, posta que esta é a solução achada para a completa gestão de uma autarquia deste grande enigma que se chama Portugal. Grande medida! Gente que isto permite, leis são feitas por pessoas, acha que muito sabe sobre a virtude e, afinal, é justamente gente do menos virtuosa que se pode encontrar. Como a atenção do povo português se desloca entre acções participativas e o repúdio pelas incompreensíveis, tudo o que se consegue com uma hierarquização de valores do teor antes referido, é desânimo de participação popular. Mais; quando não há respeito pelos que ainda vão acreditando, desconfiando, no pilar da justiça, então aí já estamos numa fase em que não se visa tanto um suposto inimigo declarado mas, antes, declarar um inimigo. Eu já sou um desses. Agradeço a oportunidade que me deram por poder travar esta luta. Vou continuá-la já que, ou me engano muito, ou estes reles vícios que nos querem inculcar vão persistir. Não me fazem falta nenhuma! Catem-se; estes vícios e os que lhes dão cobertura! Sobretudo alguma hedonista ralé política que se assume como sendo o fim da inspiração íntima e proba de cada um de nós.

Mário Rui