quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Vocações e equívocos ou a origem da velha nova ganância nacional



Falo-vos da cegueira e desatino dos tempos que correm porque são destinos a que alguns se habilitam envergonhando a nobreza da nossa terra. Cuidem-se as estrelas os cometas e até os planetas pois mesmo o Céu já foi injuriado por esta ânsia de apetites aconchegados nos mais ocultos segredos deste mistério que hoje é Portugal. E assim dito e melhor pensado, de outro modo não o escreveria, aproveito também para, tendo em vista atender ao termo da sofreguidão desta sede que nunca se farta, acrescentar que é altura de correr as cortinas, para cima, bem entendido, de feição a que possamos mostrar ao Mundo esta nossa triste história chamada de passado, presente e quiçá futuro. Nós, os de cá, não gostamos mesmo nada deste curso reviralho que nos infligem mas os de fora rir-se-ão a bandeiras despregadas com este carácter dos coveiros nacionais, força discreta o suficiente que actua directamente em rede e cuja pujança indemonstrável é de uma grandeza tão irredutível, mas tão irredutível, que sentada, de pé, caminhando ou fazendo o que quer que seja, só edifica em altura e volume a vileza em que se tornou este português pântano de saqueadores. Quando a maioria finalmente decidir a favor da abolição desta imoral maneira de maltratar os outros, inteiramente injusta e desnecessária à vida que levamos, talvez aí possamos sonhar com país onde o futuro da democracia e da moral deixe de ser pessimamente projectado através dos livros escritos por estes ladrões de estrada. Mas votando, ou melhor, talvez até não votando, mas decidindo apenas (pois eu tenho a impressão que no que toca a voto, e se acompanhados por esta seita de mercadores, apenas vejo nessa forma de escolher agressão mortal à democracia e à liberdade) ainda havemos de tomar providências efectivas de modo a que possamos ter de volta toda a quantia que nos roubaram e, ao mesmo tempo, cautelas para que não sejamos novamente roubados. Gente assim, que come à má fila no restaurante dos outros, e fá-lo muitas vezes, tem o mau hábito não só de ingerir o alimento como o de comer o próprio cardápio e se esta prática nem com cárcere se esfuma, como é que há-de desaparecer com o tempo? Cuidemo-nos, pois!
 
Mário Rui
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