sábado, 28 de dezembro de 2013

Diálogos improváveis?














Diálogos improváveis, ou talvez não.

 
António Guterres disse:  «...as leis de imigração propostas pelo primeiro-ministro britânico, poderão estigmatizar os estrangeiros, negar habitação a pessoas com necessidades e criar "um clima discriminação étnica"»

 
Bob Neill, vice-presidente dos conservadores, ripostou:  «... não aceitamos lições sobre como gerir as nossas fronteiras de um socialista português transformado em burocrata não eleito das Nações Unidas»

 
O ministro de Estado e da Presidência do governo de um país sem lei, disse: «...o senhor Presidente da República, sem comprovar, sem fiabilidade das fontes, aparece publicamente a fazer uma declaração tendo como suporte essas falácias e calúnias em relação à Guiné. Foi bastante triste o que aconteceu. Não estava à espera disso pela experiência política que tem o doutor Cavaco Silva e foi extremamente infantil esse posicionamento.»

 
O Presidente da República Portuguesa, disse:  “NADA”!!

 

Considerando os intervenientes, a não similitude de atitudes e a não convergência das palavras ditas, em que sentido se podem chamar “assimétricas” as presentes hostilidades?

 
Eu diria que em ambos os casos estamos perante ingerência externa obviamente não apropriada.

 
Moral da primeira história para os ingleses:   “My country, right or wrong”

 
Moral da segunda história para os portugueses: Os escrúpulos morais são motivo suficiente para ficarmos atormentados.

 

Mário Rui

Novas regras do Código da Estrada


















Novas regras entram em vigor a 1 de Janeiro. Cartão de contribuinte é obrigatório e auriculares duplos proibidos. A partir da próxima quarta-feira, se a polícia mandar parar o seu carro, terá de apresentar os habituais documentos: carta de condução, documento de identificação e papéis do seguro. É o procedimento normal, mas há uma regra nova: passa a ser também obrigatória a apresentação do cartão de contribuinte se o condutor ainda tiver bilhete de identidade. Caso não o tenha, arrisca uma multa de 30 euros.

Até posso fazer um pequeno esforço no sentido de anuir com as novas regras que entrarão em vigor em 2014. Quero crer que terão em conta sobretudo a segurança rodoviária e, desse modo, se possam minimizar situações que ninguém deseja que ocorram. Já o mesmo não direi quanto à obrigatoriedade de trazer o cartão de contribuinte umbilicalmente ligado ao condutor – no caso das pessoas que ainda têm BI, e muito menos quanto à aplicação da coima caso o não apresentem. A menos que me expliquem, pode ser mesmo com recurso a um desenho, qual o contributo de tão precioso testemunho para a segurança dos interessados. Neste particular, o objectivo é meramente o de fazer chegar ‘rapidamente e em força’  mais dinheiro à Fazenda Pública. Bem percebo que o cruzamento de dados com o fisco e com a justiça está de tal modo desenhado que se torna impossível uma articulação fiável entre estes serviços por forma a melhor agilizar o processo de contra-ordenação aos infractores. Mas então é o condutor cumpridor, ou até mesmo o outro, que devem pagar por mais um sistema que há muito devia estar implementado e não está? Mas então seremos também nós culpados pelo facto do Estado, como devia há já muitos anos, não ter ainda instituído universalmente o cartão de cidadão, sabendo-se que até este se faz pagar por cada um de nós? Pagamo-lo bem, mas pelo menos está lá tudo! E ainda por cima, porque assim é efectivamente, vamos pagar mais outra pena, multa, para cobrir estas falhas de um Estado que não providencia meios capazes? Eu bem quero acreditar no porvir mas esta é só mais uma das razões pelas quais a minha mania de fixar os olhos em tal futuro me enche de dúvidas. Em suma, Estado que não está à altura do quotidiano. Razão tinha Ernest Gellner: «Estado odontológico – especializado na extracção pela tortura» .

Apesar de tudo isto, façam por entrar e estar bem em 2014: como dizia há uns dias, não vai ser fácil, mas o sonho só vale a pena se for realizado. Afinal nada do que nos faz mal nos irá fazer falta!
Bom Ano Novo
 
Mário Rui

Portugal precisa de uma ruptura geracional... e mental




















 
Era uma vez um país. Indisciplinado. Com falta de organização. E com um currículo terrível: sempre que viveu em Democracia, faltou-lhe o juízo para ter contas públicas em ordem. Primeiro os seus cidadãos pensaram que era do sistema político. E acabaram com a Monarquia Constitucional. Mas a Democracia manteve os vícios, particularmente a clientela que vivia do Orçamento. Como essa Democracia não funcionou, optou pela Ditadura. Aí as coisas melhoraram: o défice desapareceu e a dívida recuou. Mas foi um equilíbrio falacioso. Resultou de o governo desse período ter aplicado uma "cinta" ao Estado. De tal modo que, quando novamente em Democracia, as coisas voltaram a descambar. Ao ponto de em apenas vinte anos o país ter voltado a perder o controlo das contas públicas. Este é o retrato do Portugal democrático e das suas finanças públicas. "Então o que nos resta? A Ditadura?", perguntará o leitor. Não. O que nos resta é um confronto com o nosso Destino: abstrair-nos da conjuntura para pensarmos naquilo que, estruturalmente, está mal. E que, volta e meia, nos atira para rupturas de pagamentos. Como aconteceu em 1892 (verdadeira bancarrota) e 1978, 1983 e 2011 (pré-ruptura). Quando se olha para o problema com distanciamento, há uma coisa que salta à vista: a nossa governança é medíocre. Alguma coisa está mal com um sistema que não aprende com os erros. E já são muitos: em 35 anos foram três momentos de pré-ruptura de pagamentos! O mínimo que podíamos esperar é que tivéssemos aprendido alguma coisa com essas quase-bancarrotas. Como se viu em Março de 2011 não só não aprendemos como temos meia classe política a defender políticas que, se aplicadas, terminariam numa 4.ª pré-bancarrota. Como mudar isto? Mudando mentalidades (é esse o desafio do livro "Saiam da Frente!"): de nada adiantará fazer sacrifícios brutais, como os que estamos a fazer agora, se, quando livres do polícia que temos à porta, voltarmos a dar "shots" na veia. Estou certo que a maioria dos leitores estará agora a perguntar como é que se faz isso. Porque as tentativas já feitas (criar novos partidos) não serviram para nada… É verdade. Mas o caminho tem de ser outro: mudar os partidos (existentes) por dentro. Essa missão tem de ser precedida por outra: mudar a mentalidade do cidadão comum (não das elites – essas são indigentes). Sim, daquele a quem chamamos depreciativamente "Zé povinho". Enquanto esse cidadão não mudar o "chip" e entrar em modo de "exigência" (para com a classe política) o país não muda. É difícil fazer isso? É. Desde logo porque leva tempo. E porque isso implica, também, perdermos o temor pelos políticos que fizeram a Democracia, mas não souberam fazer o Desenvolvimento. E que se continuam a arrastar por aí como se fossem os donos do nosso Destino. Quais pais com filhos que já entraram nos trinta, mas a quem querem determinar as escolhas…
 
 
Título e Texto: Camilo Lourenço, Jornal de Negócios, 25-12-2013
 
 
 
Mário Rui