segunda-feira, 12 de maio de 2014

De comboio nos entendemos


















É curioso. Faz já muito tempo que não ando de comboio. Outrora, saudava o chefe da estação, comprava a passagem, embarcava  no cavalo de ferro,  dava em mão ao revisor o bilhete a picar, sentava-me  e finalmente sentia-me a bordo do mesmo trem que muitos outros utilizavam para as suas travessias. Ah, não raras alturas cruzava-me com o maquinista que de janela aberta lá acenava cordialmente. Éramos um todo. Hoje, de quando em vez, vou ao cais. Não tanto para seguir caminho mas antes para expressar boa viagem e então assisto a um mundo admirável de coisas em acelerada globalização - é assim que se diz, não é? - onde me confronto com factores que dizem ser cruciais na nova era que vivemos. Já não consigo saber do chefe. Bilheteira, que era aquele lugar onde trocava dinheiro por vantagem de ir, também já não há. O revisor, que à parte a sua função igualmente me ia dando outras pistas quanto ao curso do percurso, julgo ter sido desclassificado pois que não lhe consigo pôr olho em cima. Só lá dentro da carruagem parece ainda haver tão imenso número de outros o que é sempre bom pois entranha-se-me a ideia de que resiste  uma fracção da espécie humana que não está barrada às nossas experiências diárias. Se bem entendo, das minhas visitas à gare, o que não sei é quem – se alguém – está sentado na cabina de pilotagem. Acredito que até esteja vazia porque agora tudo são trajectórias individuais e o comboio regula-se a si próprio libertando-se assim da mão manipuladora do encarregado do volante. Ouço depois as mensagens animadoras que são emitidas nos altifalantes e mesmo assim fico triste. A notícia comunicada afinal foi gravada num tempo desconhecido, em lugar que nunca irei ver, por pessoa que nunca encontrarei. Dificilmente poderei confiar na sabedoria despersonalizada de coisas só automáticas. Que mais posso eu fazer? Se não sou sociologicamente versado, não sei nem posso vislumbrar a partir daquilo que não experimento e muito menos sinto. Estes sãos os momentos em que se abeira de mim a necessidade de uma imagem da sociedade como bem comum, bem que foge como o comboio que se afasta, afinal história que contei como algo completamente igual ao modo como outrora foi vivida.
 
Mário Rui  
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Fanatismos
























 
O triunfo do juízo sobre a violência e a falta de razão é uma necessidade imperiosa da conservação e evolução do ser humano. Como me cansa assistir ininterruptamente a fanatismos!
Na noite do dia 14 de Abril as aulas dadas numa escola do Estado de Borno, noroeste da Nigéria, foram transformadas num pesadelo para o resto da vida de cerca de 270 estudantes nigerianas. As jovens estudavam no momento em que camiões, motos e carros cercaram os arredores da escola e homens fortemente armados raptaram as meninas. Seria o início de um tormento acompanhado de violência, violações, escravidão e casamentos forçados para as estudantes.
 
Mário Rui
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