quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Amanhã nunca é tarde


E depois, quando vier uma solidão, quando o dia mostrar o negrume do seu manto, mesmo que venha a bruma espessa e turva, havemos de melhorar e daí virá uma obsessiva necessidade de compreender. Talvez o último dos refúgios onde repousarão profundos e experimentados olhos feitos de um tempo de tragédias. Chegada a altura de nem chorar nem deplorar, mas apenas da entrega ao futuro, resoluta será uma vez mais a natureza quando atingida a meta da sua criação. Voltaremos à vida das coisas e de novo sujeitos às mesmas leis que controlam as marés, as estrelas, os dias, talvez os números e mesmo as quantidades. Vale dizer progredir sim, ainda que ignorar não, posto que por agora o morrer, assim como o nascer, só ocorre uma vez.  E não são necessárias mais contendas que adoeçam a razão do viver. Já se chorou demais, já se viveu de menos, desgraçadamente. E por muito viva que seja a alegria de estar com todos, é ainda mais triste a de nos irmos embora sozinhos. A grande tarefa agora não é justificarmo-nos. É antes percebermos que o valor absoluto do acontecido tem forçosamente de ser maturidade para amanhã. Afinal as flores surgem no seio da lenha morta e ramos queimados, secos, partidos, vestem-se de verde e reerguem-se.
 
 
Mário Rui
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Os “espreitas”


Mesmo no sítio onde se pode ler um enigma que pede destrinça, há sempre alguém que espreita. Ainda que sob uma árvore de vagares pendam pensamentos, quem sabe, para Eros, nunca o sossego pode ser tomado no sentido exacto do termo. Os “espreitas” são uns presumidos!

Mário Rui
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