sábado, 24 de novembro de 2012

Eu tenho um sonho
























Parece que Portugal virou país de desconfiados, de tenebrosas conspirações, de perseguições a preço zero, de gulag’s aterradores, campos de trabalhos forçados, de tratamentos "educacionais",  de adoecimento pela loucura e outras pestes que tais.

Mas afinal que voz é esta que se levanta contra o visionamento, pela PSP,  das imagens da manifestação em frente ao Parlamento, no passado dia 14 de Novembro? Já há quem lhe chame “Brutosgate”. Sempre havemos de ser uns péssimos copistas no que aos epítetos, e não só, concerne.

Uma entidade extra-terrestre poisou nas instalações da RTP e, sem salvo-conduto, invadiu a régie e sacou as imagens de outros extra-terrestres que, munidos de calhaus e petardos do além, galharda e graciosamente receberam a polícia nas escadarias da casa dos deputados.

Tudo isto e o que mais aí vem, enche páginas e páginas da imprensa nacional. Convocam-se os guardiões do tempo, o de agora, e do templo, a televisão nacional,  para blindar  esta e outras instituições que são o baluarte primeiro da nossa amada vida. E bem. É disso mesmo que precisamos.

Primeiro discutam e entendam-se quanto ao modo como tudo terá acontecido, pois esta é uma emergência portuguesa, nacional. Concluída que esteja esta averiguação e castigados os verdadeiros mentores de tão vil ataque, então sim, ficarão os pobres mais ricos, os doentes mais saudáveis, os impostos a descer e o país a sorrir de contentamento.  Finalmente vamos poder dizer ao mundo que  porfiámos convictamente mas conseguimos lá chegar. Ao estado de júbilo permanente.

De todo o modo não o façam sem que antes tratem de resolver o litígio que põe frente-a-frente o meu canário e respectiva mal amada companheira. A minha gata! E já agora, peço-vos encarecidamente, não esqueçais o veredicto quanto ao roubo das meias do meu vizinho, perpetrado pelo Sabú. O caniche tóto do meu outro vizinho, o senhor Malaquias.

Depois, sim. O país sossegado, tranquilo, sem altercações de monta e prenhe de vazias satisfações, vamos então ao que importa.

Chegado esse esperado momento, é altura de conduzirem aqueles rapazes da bófia, os que marcharam violentamente sobre os tais marcianos (só agora percebi a que planeta pertenciam), mais os que ocuparam a régie da RTP, ao destino final. A forca. Tratadas a contento aquelas questões a que antes aludi, é tempo de lhes acabar com a mania de bater. Bem sei que é castigo pesado mas ninguém os manda andar em duetos de dança, que é mais chique do que dizer pas de deux.

Sim, até porque não se percebe a razão pela qual não foram pedir as imagens ao senhor Balsemão ou à TVI ou, ainda melhor, à CNN. Essas teriam sido as portas certas a bater. E não as facultassem eles e, acto contínuo, estariam todos no desemprego. Também era coisa de somenos. Mais meio, menos meio por cento, e a  taxa de desemprego não tugia nem mugia. Agora ir pedi-las à RTP, não lembra nem ao diabo. Que falta de tino. Francamente.

Bom, de qualquer modo o que está feito, está feito. Ponto final. Em todo o caso, e de posse de todos os dados e roubados que já juntaram, não liguem a prazos para fecharem o processo. Retenham-se por semanas, meses, décadas se preciso for, de modo a que as alegações finais sejam consistentes. Ah, já agora não se esqueçam de ir dando notícias cá para fora. Acomodado e contente como está o povo, e ademais sem outros motivos de preocupação, quaisquer duas páginas por jornal, cinco ou seis noticiários televisivos por dia, uma mão cheia de blocos informativos, p´ra aí uns vinte e quatro, estilo TSF, e um contentor de Marcelos, Daniéis, Pachecos, Miguéis, Claras, Mendes e outros que tais, darão direito a imediata prisão. Queremos muito mais. Muito mais, alma minha gentil!

A despesa sobe, a receita diminuí, mas o que interessa isso quando comparado com a mania que a PSP tem de ir ver televisão para o sítio onde ela se faz. Olhem, para a próxima levem é um televisor portátil na mochila. Assim não têm que chatear ninguém após a refrega.

A todos os que, denodadamente se batem, não batendo em ninguém, por causas e cousas que impeçam a visita da bófia a matinés televisivas gratuitas, eu gostaria de agradecer, posto que sinto estar a crescer, eu e o país, para a riqueza nacional, o bem-estar da população e especialmente para o vosso próprio ego altruísta. Continuem em frente. Vamos longe! Até ao fim. E não há buraco que nos resista!

Mário Rui

Tributo






















Assim foi, ontem à noite. Em ambiente intimista, como devem ser todos os momentos que mais não pretendem senão trazer à memória dos que por cá vão ficando, a chancela dos homens bons que,  indelevelmente, nos marcaram pela sua entrega desinteressada aos outros e à comunidade onde viveram. Parece escrito no modo passado, mas é tão presente a lição que o Martins da Silva nos legou que só podemos dizer; homens há, como as obras de casquinha, que só têm a sua superfície de metal nobre. Gostei do bocadinho da noite. Gosto ainda mais da simplicidade das coisas ilustres que o são. Dói-me que agora só possamos ficar com a memória do cidadão exemplar, do homem cordato, do ‘ensinador’ que, sem ornatos nem enfeites, à sua maneira, determinou a conservação e perpetuidade dos exemplos que tantas vezes nos escapam. Voracidade dos tempos. E como ele soube pintar magistralmente os seus e os nossos tempos! Afinal, a memória é uma faculdade tão prodigiosa que ela só bastaria para provar a existência da sabedoria, sensibilidade e  inteligência de alguns. Eternamente.

Obrigado Martins da Silva, e entregue-se à família que o trouxe de novo a nós o elogio da virtude por tão merecido tributo.  

Mário Rui