segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Festa, ainda sim, mas cuide-se a própria sombra


Lisboa, como de resto outras cidades portuguesas, assistiram às festas de passagem do ano com uma das maiores acções policiais de sempre. Estas operações incluíram a colocação de barreiras de cimento e de estruturas com espigões metálicos nos acessos aos locais de festejo, para além de revistas surpresa nas ruas.
É lamentável que outros mundos, que estão neste, a tanto obriguem. E quanto mais maldoso se torna o fanático, mais se entranha nos racionais a indignação contra este mal muitas vezes sem rosto, do qual todos se começam a sentir vítimas. A preparação, a execução e, parece, até o inquérito, tudo isto está agora a cargo dos criminosos. Por agora resta-nos erguer barreiras protectoras que blindem o público. Claro que precaver é preciso e assim sendo cumpre dizer que já não há romaria como antigamente. Agora, arraial é quase como fazer um adeus às relações pessoais ou então dizer-se que não há festa mais bela do que a vigilância. Tudo isto em nome da salvação pública. Assim vai o mundo, afinal uma história para meditar, uma continuada interrogação. Vigiemo-lo pois, se mais não estiver ao nosso alcance. Já começo a perceber os que preferem os cantos da natureza onde tudo seja quieto, pouco passeado, de uma cor sossegada e de solidão quase casta. Pena é que tal se transmita por tradição vinda de coisa má; mundo maluco, perigoso.
 
Mário Rui
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