terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Parabéns Ronaldo e vão três




Não sei, também não é importante que saiba, quem votou para os prémios da FIFA entregues hoje. Há no entanto uma constatação inequívoca a reter. Desde logo a supremacia em termos de distinção para técnicos e jogadores alemães o que, não querendo dizer que não a mereçam, me causa alguma estranheza. Parece-me que nestas peças há sempre uma parte típica, às vezes intraduzível, e que pela sua natureza íntima faz esquecer outros tantos com igual ou mais mérito para estas obras. Mas enfim, quem pode manda e, assim sendo, o resto da plateia que se contente com elementos, artísticos sim, mas de categorias subalternas.
 
Outra nota a salientar tem a ver com a língua de que cada um dos premiados se serve para dizer o que sente. Todos o fazem na sua língua de origem, e bem, pois mostram o que ela tem de raro e finamente original, sendo que no caso da portuguesa se recorre abundantemente à fuga da corrente de vida indígena que nos devia ligar ao resto do mundo. A nossa marca distintiva, a verve do diálogo lusitano, o imprevisto de certos lances linguísticos, o jogo cénico de falar portugalidades, é algo que só nos assiste por encanto de breves e quase sempre esporádicos episódios, vá-se lá saber porquê. Será que dizer em português ameaça a integridade do lar e da família? Será a nossa língua objecto macarrónico de tradução? Ou será que traduzir neste caso é, para alguns, concessão separatista? Bom, é verdade que qualquer transplantação diminui literariamente o que se explica aos estrangeiros, mas então decidam-se. Ou falamos na língua de Camões ou então não digam que são de cá. Fiquem calados ou expliquem-se por gestos, mas nunca esqueçam que falar em português é seguramente um excelente lugar de cultura, mesmo para os que não nos entendem.
 
Ah, não me esqueci, não. Ronaldo ganhou mais uma bola de ouro. Parabéns Ronaldo, parabéns Portugal. És grande rapaz e serás muito maior quando os teus encantos e cantos de grande autor da bola mostrarem ao mundo os dotes artísticos de um Portugal que diz como Pessoa «a minha pátria é a Língua Portuguesa». Quer durante os começos, intervalos e não só no epílogo da merecida festa, na última parte do discurso, na qual se faz uma leve recapitulação das razões principais que nele entraram. Sempre em bom português já que só isso fará de nós boas suficiências hereditárias. Quanto ao estranho grito de guerra, não o percebi, mas também não tem importância pois se isso quis significar o génio da nação, então mereces de novo o meu aplauso. Gosto de gente que puxa por nós e esse grito teve fragância. Parabéns, outra vez!
 


Mário Rui
___________________________ ___________________________

Paris Free Expression

 
 
 
 
Mário Rui
___________________________ ___________________________