quinta-feira, 12 de julho de 2012

A Europa jaz, posta nos cotovelos


















A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz, fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos, lembrando.
O cotovelo esquerdo é recuado;
O direito é em ângulo disposto.
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra onde, afastado,
A mão sustenta, em que se apoia o rosto.
Fita, com olhar sphyngico e fatal,
O Ocidente, futuro do passado.
O rosto com que fita é Portugal.

Fernando Pessoa

Portugal-Pin


























Há uma nova epifania – não sei se terá alguma coisa a ver com manifestação divina -  que de há uns anos a esta parte tem ‘atacado’ os políticos portugueses, nomeadamente quando em funções governativas e/ou parlamentares. Trata-se do uso de um pin na lapela do casaco, ostentando a bandeira portuguesa. Se antigamente era usual mostrar o emblema do clube predilecto, hoje parece ser moda a ostentação de outros símbolos. Não vejo mal algum  nisso mas, há sempre um ‘mas’ quando se trata de política, esta recente prática, cheira-me a esturro. É certo que o uso destes adereços foi sempre comum a muita gente e da mais variada natureza. Sem querer comparar o lado estético da coisa, veja-se o exemplo de Laurent Kabila do Congo que usava sempre um barrete vermelho. Kadafi  ficava-se pelo gorro árabe. Kim-Jong-il , esse messiânico democrata da Coreia do Norte, não largava os óculos escuros  mesmo que chovesse a potes e o Sol se escondesse da face da terra. Kumba Yalá, ex-presidente da República da Guiné-Bissau enfiava um barrete à Pai Natal e, fosse qual fosse a razão, nunca mais se destapava. Enfim, são apenas alguns exemplos. Os presidentes americanos, pelo menos os mais recentes, também não deixaram por mãos alheias um certo orgulho, quanto à ostentação do seu símbolo nacional. Se por um lado somos uns copistas, e se calhar somos apenas e só isso, é bom que percebamos das razões que eventualmente tenham estado na origem  deste novo ornamento. Será por orgulho, será para motivar outros a um patriótico sentido de Nação? Não tenho respostas muito acertadas para o facto mas temo que este estilo, por começar a ser exagerado, se acabe tornando ridículo. Já lá vai o tempo em que um qualquer político, mesmo os aspirantes a tal condição, se ornamentavam com gravata monocolor. Depois todos lhe seguiam o gesto e era vê-los de “bacalhau” azul, vermelho, rosa, mas tudo sem pintinhas, não fosse a ‘pinta’ borrar a pintura… Será que com o dito pin estaremos na mesma periclitante conditio sine qua non e, desse modo, dificilmente se subirão os degraus que levem a um certo estatuto quando não respeitada a condição pin? Portugal é muito de modas, como o são outros países. Quando falamos de moda estamos a falar de um mundo amplo, muito complexo e muitas vezes de contornos pouco claros. Moda, pode, e é de facto, uma forma de nos integrarmos na sociedade ou de pertencermos a um determinado grupo. “Estar na moda é algo mau?” Não! Afinal, todos nós, de certa forma, estamos dentro de um contexto social e, consequentemente, usamos uma moda. No entanto, não é justo que percamos a nossa liberdade – e também o nosso dinheiro – para obedecer à ditadura da moda. Não é justo que uma pessoa, influenciada pela propaganda, gaste além do que pode para se sentir melhor e tentar ser mais “feliz”. E se a moda vem dos políticos, então a coisa torna-se um pouco mais perceptível. Acho eu. Sim, é que pode ser só uma moda da consciência e do discernimento e estes dois atributos, em tais mãos,  são coisa que pode dar para os dois lados. Má ou boa consciência e pouco ou nenhum discernimento.  Já dizia São Paulo “Tudo me é permitido, mas nem tudo me convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma”. Cuidado com a moda-política.

Mário Rui