domingo, 31 de julho de 2011

Dizer primeiro, pensar depois


Que raio de homem é este que, segundo a edição do Público, perante o caso do "copianço" dos futuros advogados e estabelecendo o paralelo com o do "copianço" dos futuros magistrados, em que neste caso defendeu a exclusão da profissão e, no dos advogados, se fica pela mera anulação da prova, diferenciando assim:


"Não, não devem ser excluídos. Os juízes vão julgar os outros, é diferente."


Não percebo esta atitude e, pior que isso, até acho que este bastonário prestou um mau serviço aos seus pares de função com mais esta tirada, tirada de facto de uma mente que às vezes devia pensar primeiro e dizer depois. Mas não: parece que primeiro diz e só depois pensa. Seja ponderado nas suas palavras Sr. Bastonário. Para que os do seu ofício o ouçam, se possível de boca aberta, há que começar por merecê-lo, isto é ganhar a sua confiança. Só assim a sua incomensurável sabedoria fará sentido. O que dizemos hoje não pode, ou não deve, ser diferente do que proclamamos amanhã. E até eu, insípido comentarista que não outra coisa, tal como o corcunda de Notre-Dame, nunca consegui estudar Direito, mas consigo perceber contradições que em nada ajudam a formar o carácter a quem um dia terá de lidar com a defesa ou acusação de pessoas. De gente como nós. Simples.
Mário Rui


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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Dos ricos e dos pobres



De repente deu-me para falar a propósito dos ricos. Ou pelo menos para me lembrar que de facto existem, e em grande número. Claro que não me ocupo na elaboração de listas que os mencionem mas, de quando em vez, sou confrontado, através dos média, com o cardápio onde se inscrevem os seus nomes.

Antes mesmo de prosseguir, devo dizer que nada me move contra os ditos cujos, conquanto o seu dinheiro tenha sido obtido através do súor do seu trabalho e o façam distribuir de modo igualitário e justo em relação a quem os ajudou a enriquecer. Os outros, de quem raramente ouvimos falar.

Só que, como não sou poeta, logo pouco sonhador, não resisto à malvada tentação de achar que muito deste riquismo provém de negócios muito escuros, eu diria mesmo pouco saudáveis para mentes impolutas. Mas enfim, assim vai o mundo em que vivemos.

E é curioso porque tanto quanto consigo perceber, a cada ano que passa, a riqueza desta gente, como que por artes mágicas, vai engrossando na justa medida em que os pobres vão ficando mais pobres.

Continuam a nascer crianças em todo o mundo condenadas à morte precoce, por falta de alimentos, de cuidados médicos. E a Etiópia, Eritreia, Somália, Sudão, Quénia, Uganda e Djibuti, a Zâmbia, o Malawi, Zimbabwe, Lesotho e a Swazilândia, desapareceram do mapa? E continuam ainda a morrer milhões de africanos, à fome, à sede, vítimas das secas, das inundações, das guerras, dos conflitos políticos, religiosos e da ganância de alguns.


Eram quase mil milhões de pessoas sem alimentos ou subnutridas. Já não se ouve falar disto? Ou já acabaram por morrer todos e não demos por isso? È que dos ricos todos os dias temos novidades. Que mundo injusto o nosso!
Dos ricos há também alguns que adoram o povo pobre e combatem por ele mas pouco mais o julgam do que um meio; a meta a atingir é o domínio do mesmo povo pelo qual parecem sacrificar-se. Só tal atitude pode justificar o sacrifício, a morte lenta de milhões de pessoas que mais não pedem senão água e pão. Tão pouco.


A isto também se chama opressão. E com toda a certeza que nós, os menos ricos e não tão pobres como os outros, também somos culpados quanto às tragédias humanas que por aí vagueiam quais abutres esperando o momento de dilacerar a carne de quem já não tem força tão-só p´ra balbuciar por ajuda.


É que o nosso compromisso também pode tornar-se necessário para que a vida se mantenha. Se não nos for possível ajudar de outro modo, pelo menos saibamos criticar a atitude egoísta, cruel e desumana como os ricos, enquanto indivíduos ou nações, se arrogam o direito de ajudar (pouco) quem precisa, mas com a mente sempre posta no que de proveitoso daí possa resultar em seu próprio benefício.


Deixemos pois uma centelha onde até aí apenas a treva se cerra e, já agora, ajudemos os que se arrojam – também os há – a combater todas as formas de infortúnio pessoal, quer seja a fome ou mesmo a pobreza de espírito. Esses resistentes da vida é que merecem toda a nossa consideração, quer seja pela dádiva a quem dela carece, quer seja pelo cansaço que um dia-a-dia desta nobre natureza sempre provoca. Pena é que, mesmo no século XXI, a história continue a ser escrita pelos vencedores e raramente pelos vencidos da vida.

Apetece-me falar novamente dos ricos só para perguntar se ainda existem pobres?
Mário Rui
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quarta-feira, 27 de julho de 2011

Assim fica a música mais pobre ...



A música fica sempre mais pobre quando os génios que lhe dão brilho deixam este mundo para se juntar àquele misterioso e oculto universo dos que já cá não estão.
Mais pobre fica também o pequeno mundo daqueles que, como eu, se conseguem emocionar de alma e coração com a arte, engenho e algo mais que nem sempre é fácil de explicar dos que produziram obras que coisa alguma será capaz de substituir, quanto mais de apagar.
Depois da genialidade das suas obras pungentes e intemporais que perdurarão para sempre no espaço e no tempo, vem o infortúnio das ilusões e a fuga da realidade que esses mesmos génios julgavam insuficiente, para aí se refugiarem no vil e perigoso mundo que é o da droga.
Muitos foram os que, não resistindo à tentação e às ilusões que uma vida assim representa, se lançaram nesse labirinto sem fim, nesse mar revolto e nessa montanha-russa sem retrocesso que uma vez começada não termina nunca sem feridas profundas e, na pior das hipóteses, numa morte trágica.
Ao refugiarem-se nesse mundo não estavam sequer a alimentar o negócio pelo qual os idolatravam - e idolatram - e sobre o qual recaíam sobre eles todos os focos do mundo. Aí, não estavam a alimentar senão o já por si abominável mundo das drogas, aquele que pensavam ser o único capaz de satisfazer todas as suas ambições e algo mais.
A droga é um negócio perigoso. Que o confirme os finais trágicos de Jimi Hendrix, Janis Joplin, Jim Morrison, Kurt Cobain e mais recentemente Amy Winehouse, esses a quem a ilusão de uma vida alheia às preocupações e tormentos do mundo real se sobrepôs a essa realidade que eles já não suportavam ou julgavam fugidia.
Sem perceber que com a música também é possível mudar o mundo imperfeito que é aquele de todos nós, acabaram por mudar o deles… e para pior. Aquela viagem tornou-se tão incontrolável que acabaram por ficar escravos da fantasia e da ficção que criaram para si. Tão incontrolável que desejariam que a sua sorte estivesse entregue às mãos de qualquer coisa que os pudesse salvar de um fim inevitavelmente funesto. E não salvou!
Agora não nos resta senão lamentar a ausência daqueles que com a genialidade das suas obras nos apanharam na viagem das nossas vidas, ficando para sempre a mágoa de vê-los partir e a infelicidade de saber que nem sempre aquilo que vai volta.

Rui André

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Hélio, o homem sem medo


O medo é uma coisa que se manifesta de diferentes formas…e cheiros. Tenho muito amor à vida e por isso tenho de confessar que o medo é uma coisa que a mim me assiste em grandes quantidades. O medo da dor, por exemplo, está para mim como o medo dos ratos está para as mulheres. Adiante.
O medo que tenho dessa e de outras coisas faz-me invejar os mais corajosos, mas não confundamos coragem com estupidez. A coragem supõe uma grandeza da alma, a estupidez não. A coragem é muitas vezes abstracta e louvável. A estupidez é palpável, concreta e reprovável. E descer uma estrada nacional em cima de um skate a uma velocidade alucinante, escapar milagrosamente a um carro que vem em sentido contrário e cair no meio da vegetação – sorte não ter sido no asfalto - que se encontra na berma da estrada, é certamente sinónimo de estupidez.
O vídeo da queda de Hélio Catarino, aquele a quem o medo não assiste, é o vídeo português mais visto de sempre na Internet e isso coloca Portugal de novo no mapa europeu pelos piores motivos: toda a gente se ri de nós.
O fenómeno – se assim lhe quiserem chamar - de Hélio e o mediatismo que alcançou vieram revelar que a Internet é, de facto, a mais poderosa ferramenta de comunicação e que o Hélio também é um bocado parvo. Mas boa pessoa, no fundo (daquela berma).
Quem não deve estar nada contente com isto é o Paulo Futre que vê cair o seu índice de popularidade baseado nas bacoradas que disse para um concorrente muito mais forte: Hélio, um cozinheiro de 27 anos das Caldas da Rainha, com bigode e queda para o skate.
Por este andar e à semelhança do que aconteceu com Futre – e ele que se cuide – não é de estranhar que também Hélio seja convidado para ser a próxima cara em campanhas publicitárias de algumas marcas nacionais conhecidas. Boa ideia, Hélio! Vamos todos fazer vídeos caseiros que envolvam um grau assinalável de dor e teremos uns trocos garantidos.
Ainda que para ele a dor seja uma coisa que não lhe assista, a mim doeu-me só de ver. Mas o que teria sido daquela semana penosa sem o vídeo do Hélio?

Rui André

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quinta-feira, 21 de julho de 2011

Outros tempos, outras lutas



Velho casario



A Lua e os líderes



Comemorou-se ontem, 20 de Julho de 2011, o quadragésimo segundo ano da ida à Lua, altura em que um homem a pisou pela primeira vez.
Uma grande vitória da América sobre a União Soviética, uma missão ambicionada por JF Kennedy um ano antes: ""I believe that this nation should commit itself to achieving the goal, before this decade is out, of landing a man on the Moon and returning him safely to the Earth." Vista por cerca de dois milhões de pessoas na RTP, uma dessas era eu, José Mensurado assegurou durante 18 horas a emissão, que entrou pela madrugada fora. Foi a confirmação da televisão como a mass media mais poderosa e a melhor ilustração do conceito de "Aldeia Global", defendido por Marshall McLuhan precisamente um ano antes. É certo que o feito foi de uma dimensão verdadeiramente universal, e dele se tiraram lições que depois vieram a dar lugar a avanços importantes nos mais variados campos da ciência e não só. Não pretendendo escamotear essa realidade, apetece-me falar sobretudo a propósito de homens ditos líderes, como foi o caso de John Fitzgerald Kennedy, homens que hoje escasseiam ou mais simplesmente não existem. Homens que um dia sonharam e passaram à prática os seus ideais. Ideais que, acredito, lhes estavam impregnados em todo o seu ser, como disso foram exemplo para a humanidade Willy Brandt, Martin Luther King, Mahatma Gandhi, Winston Churchill, e tantos outros que, a seu jeito, deram o empurrão final para que o Mundo se tornasse um lugar bem mais agradável e onde todos se sentissem cidadãos de pleno direito. Bem sei que nem todos foram bafejados por essa lufada de ar fresco, não passaram a gozar uma vida melhor só porque tais líderes os governaram ou conduziram Nações à condição de verdadeiras terras dignas de serem habitadas por gente. Mas uma certeza eu tenho. Esses homens lutaram realmente por um ideal para que os outros se sentissem felizes com a sua companhia. E se na época, alturas houve em que grupos de cidadãos se revoltaram, se indignaram com o estado das coisas, isso foi sinal de que conquistaram mais uma liberdade, mais uma felicidade, mais um direito. Estavam lá os líderes de que vos falo para darem resolução a essas trovoadas humanas. Vou acabar, mas não sem antes lançar o desafio que me deixa quase sempre sem resposta. Digam-me lá onde poderei encontrar hoje os timoneiros que não nos conduzam ao entrincheiramento das situações difíceis. Os que as degolam para gáudio e bem-estar das sociedades tidas como modernas. O que é isso de moderno? Talvez seja apenas uma ideia nova. Não mais que isso!


Mário Rui

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terça-feira, 19 de julho de 2011

LIXO?


A empresa norte-americana de notação financeira Moody's decidiu classificar o nosso querido país à beira mar plantado como ‘lixo’ para os investidores, apesar do esforço económico-financeiro que as nossas famílias têm feito.
Uma coisa muito bonita de se fazer - isso de chamar ‘lixo’ a um país - se isso não representasse para nós uma afronta e um insulto e se não soubéssemos nós que ‘lixo’ é aquilo que se considera dos que querem fazer do resto do mundo seus súbditos.
Não é de estranhar que a arrogância e o despotismo a que já nos habituaram algumas autoridades e instituições americanas resultasse nisto, mas é de estranhar que a sua falta de sensibilidade e a sua prepotência os faça crer que ninguém dará pelas suas tentativas disfarçadas de dominar o mundo.
Não é de estranhar, também, que ofender um país numa situação já frágil como a nossa é ofender o seu povo. E este país que eles agora consideram ‘lixo’ é o mesmo que, através da sua gente, lhes deu a conhecer novos mundos, que lhes abriu as portas a novas conquistas e cuja língua, a oitava mais falada no planeta, terceira entre as línguas ocidentais, é representada por cerca de 230 milhões de pessoas.
Cuidado porque este país que agora ridicularizam e humilham viu também nascer um império maior do que aquele que eles alguma vez terão, suportou riquezas que eles nunca possuirão e deu à luz génios que eles nunca terão.
Considerar um país assim como ‘lixo’ em nome de interesses mesquinhos e medíocres que só pretendem salvaguardar os proveitos da maior potência mundial – porque será? - é um sinal de pobreza de espírito, falta de carácter e desrespeito próprio daqueles que julgam poder dominar o mundo com as suas manhas.
O que eles não sabem é que o mundo se conquista como nós o conquistámos: com a simpatia e a hospitalidade deste povo bom e afável, com aquilo que o nosso país oferece aos de dentro e aos de fora e com aquilo que já demos a conhecer ao mundo.
Lembrem-se: nem a pior crise de sempre - a vossa de 1929 – se resolveu com arrogância e sede de poder. Esta também não se resolverá assim – pelo menos aqui - porque nós não vamos deixar!
Rui André

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segunda-feira, 18 de julho de 2011

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Missão e profissão


O Presidente executivo da Mota-Engil respondeu, durante uma hora e meia, a todas as perguntas do Negócios. Disse que ser governante é uma "missão e não uma profissão" e revelou que esteve quase a lançar um jornal antes de aceitar o convite para liderar a Mota-Engil. Sem falsas modéstias, diz que foi o "salvador" da SIC e da TVI.Uma realidade que as pessoas esqueceram.
In "Jornal Negócios"


Só me faltava mais este! Então segundo o mesmo, «ser governante é uma "missão e não uma profissão". Bonito. O salvador da SIC e da TVI, que nos tornaram seres mais felizes e abastados, o mesmo que no dia em que caíu a ponte em Castelo de Paiva, sem culpa alguma que lhe queira apontar a propósito dessa tragédia, resolveu demitir-se do cargo que ocupava no Governo. Mas porquê? Então esse não era o momento certo para exercer a tal "missão"? Ou estaria no momento em fase de "profissão"? Oh Dr. Jorge Coelho, quando se está verdadeira e profundamente ocupado numa "missão", está-se sempre acima de qualquer embaraço.

MárioRui

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Liberdade 21


Não sei como era a vida antes do 25 de Abril e às vezes não sei sequer como é a de agora. Pelo menos a minha. O que eu sei é que as coisas mudaram um bocadinho. Se para melhor ou pior, nos dirão os mais velhos.

Sei também, por aquilo que dizem os livros de História, que com o 25 de Abril se conquistou a liberdade em Portugal e que isso foi muito bonito porque nos garantiu coisas tão banais – veja-se só - como a democratização do país, reflectida nas primeiras eleições livres de 1975, a descolonização, a extinção da polícia política e da Censura, o regresso de líderes políticos da oposição no exílio e uma outra série de mudanças político-sociais que as gerações de agora preferem não tomar como exemplo.

A luta pela liberdade de então era o espelho de um povo aguerrido, ciente do que podia e devia fazer e, sobretudo, daquilo que não podia tolerar dos ditames vindos do alto pedestal do poder. Neste caso, digamos que os bons exemplos vieram de baixo, porque o povo, em pleno da sua consciência e em nome da mais alta justiça, será sempre quem mais ordena.

Infelizmente, a luta pela liberdade de hoje em nada se compara ao espírito corajoso, audaz e destemido de outrora e por isso digno de constar nos livros de História. Compara-se, isso sim, a uma luta amorfa e apática, uma luta de braços cruzados e bandeira branca hasteada, perfilhando o caminho de uma derrota que, inevitavelmente, damos como certa todos os dias.

Mas atenção que não foi isso que a História nos ensinou! Por isso, às agências de rating, aos sucessivos governos e às demais autoridades públicas deste país, tenham cuidado, porque se há lição valiosa que a nossa História nos deixou é que a liberdade e a justiça se alcançam com suor e lágrimas. Ensinou-nos que a luta se pronuncia em nome das exigências, das carências e da infelicidade de um povo que, infelizmente, ano após ano, tem de levar com a incompetência daqueles que nos (des)governam. A História ensinou-nos também que o adiamento da defesa das nossas causas favorece quem lucra com o poder e quem lá se mantém. E ensinou-nos que nenhuma conquista pelo bem-estar do povo é fácil… mas ensinou-nos que vale a pena. E ainda há quem se lembre disso!

Por isso, não esqueçamos que as conquistas de outrora só foram possíveis porque alguém as fez por nós. E as próximas? Fazemo-las nós ou esperamos que outra geração resolva o mundo?
Rui André
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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Vamos lá ver se o discurso corrresponderá à acção!

Regionalização


Já temos dois belos exemplos de regionalização. Açores e Madeira. Vejam os resultados.
Os políticos dizem que é uma prioridade não prioritária. Alguém percebe isto?
O que eu acho mesmo é que a regionalizar o País se criem então duas grandes áreas. Sobretudo nesta altura.
Então seria assim: o Sul passaria a ser o ALLGARVE (já o quiseram fazer mas parece que não colou). O resto seria POOR...TUGAL. Concordam?


Mário Rui

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domingo, 10 de julho de 2011

Facundo Cabral - No soy de aqui, ni soy de alla



Me gusta el mar y la mujer cuando llora
las golondrinas y las malas señoras
saltar balcones y abrir las ventanas
y las muchachas en abril

Me gusta el vino tanto como las flores
y los amantes, pero no los señores
me encanta ser amigo de los ladrones
y las canciones en francés

No soy de aquí, ni soy de allá
no tengo edad, ni porvenir
y ser feliz es mi color
de identidad

Me gusta estar tirado siempre en la arena
y en bicicleta perseguir a Manuela
y todo el tiempo para ver las estrellas
con la María en el trigal

No soy de aquí, ni soy de allá
no tengo edad, ni porvenir
y ser feliz es mi color
de identidad


Cabral tinha actuado na cidade de Quetzaltenango e regressava de carro à capital da Guatemala quando o seu veículo foi metralhado por desconhecidos.
Desconhece-se até ao momento o motivo do ataque, nomeadamente se se tratou de uma tentativa... de assalto ou se Cabral era um alvo a abater. A Guatemala apresenta uma das mais elevadas taxas de homicídio do mundo devido à abundância de armas, à tensão política e social e à presença de narcotraficantes.
A morte de Cabral está a deixar a América Latina em estado de choque. O cantor, uma das vozes contra as ditaduras militares na região, foi particularmente popular durante os anos 70 e 80.
A guatemalteca Rigoberta Menchu, Prémio Nobel da Paz, deslocou-se ao local do crime, visivelmente abalada. O Presidente da Guatemala, Alvaro Colom, comunicou a morte do cantor à homóloga argentina Cristina Kirchner, que ficou igualmente chocada pela tragédia.

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quinta-feira, 7 de julho de 2011

Consciências e almas


Como vos disse há umas semanas atrás, persisto em litígio com a minha própria consciência. Já lá vai algum tempo. O problema tem vindo a agudizar-se a ponto de agora achar que este litígio começa também a roçar-me a alma o que se me afigura como coisa ainda mais complicada.

É que a alma não pensa, só sente. E aí reside verdadeiramente o problema pois, sem ter com quem dialogar cá por dentro de mim mesmo, custa-me recorrer à dita consciência. É que essa sempre pensa, e quando eu e ela estabelecemos raciocínios logo concluímos haver muito pouca coincidência de pontos de vista. Com efeito, ambos estamos sobrecarregados de uma era tecnologicamente muito avançada e que, bem vistas as coisas, não nos tem dado lá muitas alegrias e ainda menos proventos.

Deve ser especialmente por causa do campo da comunicação que de forma quase radical não nos temos entendido quanto às nossas comuns existências. A minha consciência parece apontar como nefasto, e portanto causador destes desentendimentos tudo o que de mau nos rodeia, e às vezes até me lança reptos no sentido de me obrigar a pensar se, mesmo o lado tido como bom, não será o responsável primeiro por tal estado de coisas.

Convictamente, já não distingo com total lucidez o bom do mau. Já não sei se deva atribuír a culpa às “janelas de Gates”, se às agências de notação fnanceira – e já agora esclareçam-me lá se essa treta da notação é um requisito indispensável para a obtenção de dinheiro
do vizinho - se à idílica geração de sessenta, se aos seres aculturados da nossa sociedade. Isto penso eu.

A minha consciência ainda me segreda de outro modo. Adianta-me que todos nós já não dependemos apenas de comida, bebida, abrigo e saúde para sobrevivermos, mas também de um alimento chamado de informação. Ora aí está o tal modo desavindo em que temos vivido ultimamente. Eu, a consciência e, agora, parece-me, a alma. Por mim, e como causa de tantos conflitos interiores ,inclino-me mais para a possibilidade deste facto se ficar a dever a tanta informação dada de bandeja a tanta gente desinformada e que, se calhar, não percebendo que melhor seria pouco saber, me vai patologicamente afectando.

Mas, de novo, a minha consciência me sussura conselho. Diz que o problema reside basicamente no facto dos meus mecanismos perceptivos me estarem a fornecer cenários pouco confiáveis. Fico algo preocupado porque, como antes disse, esta pensa.

Bom, mas seja qual for a real causa do problema, fico-me com a minha. Estou com fé que gente que nada sabe a respeito da única coisa que importa, deixa-se às vezes, para não dizer quase sempre, levar por uma ilusão de falsa ciência: para conhecer , o melhor é desmontar. E o que me diz a alma? Só me faltava mais esta.

Não a escarneço, até porque sou dos que pensam que é a ela que devemos os nossos sentimentos ou, se preferirem, a sombra dos nossos sentimentos. Mas ela nada me diz, apenas sente, e tudo o que eu devo esperar de quem apenas sente, é compaixão, virtude e que se me exprima por relações. E isso ela faz! Logo, eu só tenho de estar de bem com esta alma pese embora o tal litígio que me pareceu querer juntar-se à consciência. Certamente ter-me-ei enganado.

Quero ficar de boas relações com este sentir, com este estado de alma. Não o tinha pensado antes mas se calhar é por isso que eu qualifico de fúteis os financeiros, alguns políticos e de razoáveis as bailarinas. Não que eu despreze por completo a obra dos primeiros. O que eu não percebo é a arrogância que eles mostram, a segurança e a satisfação de si próprios .

Acham-se o termo e o fm e a essência, quando não passam de criados. Começam logo por servir as bailarinas. Será que em boa parte é esta civilização que me traz disputas interiores? Quem sabe! Não vos falei já das tais ‘agências de nota são fnanceiras’?

Mário Rui

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terça-feira, 5 de julho de 2011

Quando nos deixamos cativar, é certo e sabido que algum dia alguma coisa nos há-de emocionar.

Grécia, não queremos Portugal assim!



Todas as vezes que a reforma da totalidade de um povo se malogra e só consegue fazer surgir seitas, pode-se concluir que esse povo é composto de elementos muito diversos e começa a desprender-se do rebanho. É um estado transitório significativo que se tem o costume de insultar em nome da decadência dos bons costumes. Cuidado Portugal.
MárioRui

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Dormir faz bem...



Dizem que dormir faz bem à saúde e eu também acho que sim. O senhor retratado em jeito de 'repouso do guerreiro', que não tinha habilitações académicas, era um tipo grosseiro e juntava mais mil e um defeitos, dizia-se, tinha tudo p'ra dar errado. Afinal deu tudo certo. Grande Lula, mesmo a dormir, imaginem, acabou o seu mandato a emprestar dinheiro ao FMI. E voltou a pôr o Brasil, agora sem o ouro que já ao tempo o português esperto lá fora buscar, ou sacar?, na rota das grandes Nações deste planeta.


Com muitas habilitações e das mais variadas naturezas, ainda por cima acordados, os nossos governantes não têm conseguido dar conta do recado. Quem sabe se não será por dormirem pouco. Mas aproveitem e, de quando em vez, ou até muitas vezes, durmam, durmam. Oh homens, dormir também pode ser uma opinião! Às vezes com bons resultados.

Mário Rui

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Ser jornalista em Portugal


Edição bibliográfica sobre os Jornalistas portugueses.
"Ser Jornalista em Portugal" (Ed. Gradiva) vai ser apresentado pelo Prof. Paquete de Oliveira na próxima 5ª feira (dia 7), pelas 18h30, no ISCTE (Av. Forças Armadas), em Lisboa.
Mário Rui

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domingo, 3 de julho de 2011

Fazer a mesma vida gastando metade

Não vos peço muito. Leiam só o pensamento de mais um jornalista-fatela. Inacreditável como se pode pensar e, sobretudo, escrever assim num jornal nacional. Tal como hoje se enviam para reformatórios adolescentes carecidos de afecto, haverá um dia instituições onde isolar os que enlameiam a reputação e a dignidade da classe média. Surgirão novos juízes e delegados de justiça que não mais administrarão em formalismo e impostura, mas sim em verdade e bom-senso.



Eu bem vos falava dos «jornalistas-fatela», ainda há pouco tempo, e olhem aí está mais um. Para além do mais, nem o meu desaparecido professor da escola primária me teria permitido uma redação destas.


As empresas têm de ser aliviadas, porque criam emprego, e os pobres não podem ser mais sobrecarregados; tem de ser, pois, a classe média a pagar a crise.
A classe média vai ter de pagar a principal factura da crise. Não pode ser de outra maneira: as empresas têm de ser apoiadas, porque são elas que geram riqueza e criam emprego, e os mais débeis não podem ser mais sacrificados.

A esquerda está sempre a falar nas grandes fortunas, na banca, nos lucros das grandes empresas – como se aí estivesse a salvação do país. Ora, já não estamos no tempo da revolução soviética. Os patrões já não são aqueles seres ignóbeis e gordos que apareciam nas caricaturas e que só se preocupavam em encher os bolsos e enriquecer à custa do trabalho dos explorados.

Esse tempo, se chegou a existir, passou. Os empresários são quase sempre pessoas que subiram a pulso, que trabalharam no duro, que tiveram a coragem de arriscar e investir, que criam emprego, que sofrem quando se aproxima o dia de pagar aos trabalhadores e aos fornecedores.

É esta gente que cria riqueza – porque o Estado, sendo indispensável, só consome, não produz. Um país precisa de médicos, precisa de juízes, precisa de polícias, precisa de militares – e esta gente toda tem de receber. Mas donde vem o dinheiro? Dos impostos. E onde vai o Estado buscar os impostos? Às empresas e aos particulares.

Significa isto que, quanto mais lucros as empresas tiverem, mais rendimentos terá o Estado. Mas para as empresas terem lucros terão de ser aliviadas de diversos encargos. O que uma empresa paga hoje por um trabalhador, além do que este recebe, é uma enormidade. Para o leitor ter uma ideia, numa empresa como o SOL, por cada empregado que leva para casa 1.390 euros, a empresa tem de desembolsar 2.300. Ora, com este regime, quem é que quer investir e contratar gente?

Além disso, há que aliviar a burocracia e facilitar a vida aos que investem. O grande problema de muitos políticos é nunca terem trabalhado em empresas privadas e não conhecerem a lógica de funcionamento do mercado.

Mas, se as empresas não podem ser mais sobrecarregadas (para poderem crescer e ter capacidade para investir) e os pobres também não, tem de ser a classe média a pagar a crise.

Sucede que na classe média há muita gente que pode gastar metade do dinheiro que hoje gasta e fazer quase a mesma vida.

Na classe média esbanjam-se dinheiro e recursos de uma forma às vezes chocante. Nos restaurantes desperdiça-se comida. Quantas vezes não vemos as travessas voltarem para dentro com quase metade da dose que veio para a mesa? Essa comida vai para o lixo. Por que não se reduzem as doses, diminuindo um pouco os preços? Aproveitar-se-ia melhor a comida e os clientes agradeceriam.

Nos mais pequenos pormenores é possível poupar. Um dia destes, com o café, trouxeram-me um pacote de açúcar branco, outro de açúcar escuro, outro de adoçante e um pau de canela! Eu só usei parte de um dos pacotes de açúcar e tudo o resto foi para o lixo. Ora esse ‘resto’ tinha um valor. Custou dinheiro a produzir – para ir directamente para o lixo.

Ainda no campo da alimentação, mas noutra vertente, há que dizer que em muitos casos não existe motivo para consumir produtos estrangeiros, pois há produtos nacionais equivalentes. Por que se bebe água Vittel, Vichy ou Voss, e não água do Luso, do Vimeiro, das Pedras ou do Castelo? Por que se bebe cerveja Heineken ou Carlsberg em vez de Super Bock ou Sagres? Não há nenhuma razão a não ser esta: por peneiras. Para mostrar aos outros que temos gostos mais requintados e dinheiro para os pagar.

E quem fala das águas e das cervejas fala dos vinhos e dos espumantes. É possível beber um óptimo vinho português cinco vezes mais barato do que um vinho francês. E nas ocasiões festivas por que não optar por um honesto espumante Raposeira ou Cabriz em vez de champanhe Cristal ou Moët & Chandon?

E nos vícios como o tabaco (para já não falar em deixar de fumar, que seria uma enorme vantagem sob todos os aspectos) por que insistir no Marlboro ou no Chesterfield em vez do Português Suave ou do SG?

Finalmente, quando vamos ao supermercado ou à praça, há que ter em mente que sai mais barato e é mais saudável comprar legumes e fruta de origem nacional, e na respectiva época, do que produtos estrangeiros.

Estes princípios aplicam-se também ao vestuário. Se em lugar de um fato Hugo Boss ou Armani comprarmos um Dielmar ou Do Homem, ficaremos igualmente bem servidos e o preço será metade ou um terço. E a mesma regra vale para toda a roupa e para o calçado: se não capricharmos em comprar produtos de ‘marca’, é possível comprar camisas, pólos ou sapatos excelentes a um preço módico.

Neste ponto da conversa, há sempre quem recorde que ‘o barato sai caro’. Mas isso é um mito. Um dia, ainda no tempo do escudo, vi uns sapatos numa montra que me saltaram à vista, entrei na sapataria, experimentei-os, gostei e mandei embrulhar. Quando a empregada disse o preço – 80 contos – eu ia desmaiando. Mas já não tive coragem para voltar atrás. Pois bem: as principais características do calçado são o conforto, a segurança e a durabilidade. Ora esses sapatos – ingleses, marca Church’s – não eram confortáveis, não eram seguros nem se mostraram duráveis, pois resistiram bastante menos do que outros muito mais baratos. E digo que não eram seguros pois escorregavam perigosamente em superfícies muito lisas, como as calçadas de Lisboa, em que as pedras estão polidas pelo desgaste. Por pouco esses luxuosos sapatos não me causaram quedas aparatosas.

Mas há muito mais coisas em que o leitor pode poupar. Por exemplo, não fazer férias no estrangeiro, evitando ainda por cima aqueles horríveis tempos mortos nos aeroportos e o risco da perda de bagagens. Faça férias cá dentro. Haverá coisa melhor e mais cómoda do que entrar no carro em frente de casa e sair em frente da porta do hotel ou do apartamento onde vamos passar férias?

AudiA propósito de carro, por que não escolher sempre um modelo abaixo daquele que ‘normalmente’ iríamos comprar. Em vez de um Mercedes E, um Mercedes C; em vez de um 6, um Audi 4; e assim sucessivamente. E só falo de carros caros pois é onde se pode poupar mais dinheiro.

Se formos para o hotel, por que não experimentar um de três ou quatro estrelas em vez de escolher às cegas um de cinco?

E, se teimarmos em ir de avião, não custará nada viajar em turística em vez de 1.ª ou Executiva, pelo menos nos voos de duração inferior a três horas. Chega-se ao mesmo tempo e paga-se metade.

As novas tecnologias são outro excelente terreno para poupar. Se não capricharmos em ter sempre um computador, um telemóvel, um iPhone ou um iPad de última geração e nos contentarmos com uns modelos ‘ultrapassados’, também pagaremos muitíssimo menos e não ficaremos pior servidos. Também aqui é uma questão de ostentação. Quantas vezes o modelo ‘ultrapassado’ não é tão ou mais eficaz do que o último grito?

E por falar em telemóveis, quantas chamadas fazemos por dia que são perfeitamente desnecessárias? Talvez 90%. E, pensando nos computadores, não poderemos poupar imenso no material de escritório, deixando de fazer prints por tudo e por nada? Basta que, quando vamos dar uma ordem de print, pensemos se ele é mesmo necessário.

Outra norma simples é evitar ligar o ar condicionado. Até porque é prejudicial à saúde, sendo responsável por muitas gripes e outras doenças.

Quando se passa do material de escritório para o mobiliário, é bom pensar que existe um abismo entre comprar nacional ou estrangeiro. E o mesmo sucede quando se trata de equipar uma casa. É indispensável procurar materiais portugueses – azulejos, mosaicos, pavimentos, papéis de parede, torneiras, toalheiros, louças, etc. –, até porque os há de excelente qualidade. Às vezes pensamos que os estrangeiros são melhores por serem mais caros, mas é um engano: o aumento do preço tem apenas que ver com o facto de serem importados.

E já não falo nos luxos e extravagâncias – os perfumes, cremes, desodorizantes, espumas de barbear, after shaves, sais de banho, lacas, etc., etc. – que enchem as prateleiras das nossas casas de banho e que podem ser reduzidos a metade ou um terço, ou substituídos por outros menos dispendiosos.

A propósito, os detergentes e os produtos de limpeza também são uma rubrica onde se pode poupar muitíssimo, pois as diferenças de preço são enormes entre os produtos de marca e os produtos brancos, e a qualidade é semelhante.

Finalmente, é possível seguir uma regra simples: em cada cinco visitas ao cabeleireiro, ou à esteticista, ou à depilação, ou à manicura, ou à massagista, reduzir uma. Não custa nada e representa uma poupança de 20% nessas despesas.

Podia continuar, mas não vale a pena: o leitor já percebeu que pode gastar muito menos do que gasta sem ter de mudar de vida. Basta apenas um pouco de disciplina. Basta ‘racionalizar as despesas’. Eu já fiz a prova e sei do que falo.

Até lhe digo: sentir-se-á melhor. Porque, ao não desperdiçar, ao reduzir o consumo, sabe que está a contribuir, por exemplo, para não estragar mais o planeta. E para não aumentar mais a dívida do país, visto que muito do que consumimos é importado. Simultaneamente, ao preferirmos produtos portugueses, estamos a estimular a produção nacional, a criar emprego e a reduzir a dependência do país relativamente ao exterior.



Como vê, a crise pode contribuir para vivermos melhor – com menos. Não é necessariamente um problema – é uma grande oportunidade para mudarmos alguns hábitos.


José António Saraiva in jornal 'O SOL'




sábado, 2 de julho de 2011

The Doors - Riders on the storm

As constipações dos sábios


Alguns rapazes sem habilidade, nem estudo que lhes suprisse a incapacidade do engenho, apareceram aí a pinchar como sapos de lameiro em tarde trovejada de Julho. Dizem que me lastimam porque a ciência aumentou, reformou-se. Dizem que os meus livros são vendidos a oitenta reis o quilo; que estou velho e doente; que sou patriarca de uma escola que desapareceu com o governo despótico. Dizem que os meus romances são do tempo em que as constipações se curavam com cozimentos de passas e chá de flores de borragem e erva-cidreira. Este sincronismo tem uma profunda crítica disentérica. Para as constipações dos sábios, a veterinária não tem adiantado nada. (...)

Camilo Castelo Branco


Será que é isto mesmo que hoje está acontecendo, quando se jogam ao lixo verdadeiros mestres de ofícios vários que, quer seja pela idade mais avançada, pela diferença de opinião ou outra razão irrelevante, são simplesmente excomungados por uma certa prole de novos-sábios ?
Mário Rui