quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Onde nascem as reformas?

Como dizia há dias, num dos meus escritos, a saga continua. Os acampados em Espanha, as batalhas na Grécia, as manifestações em Israel, os incêndios em Londres, as pilhagens em Birmingham, Liverpool, Nottingham e Bristol. Polícias e ladrões. Os bons contra os maus. A lei contra a anarquia.


Mas agora quero acrescentar a esta lista mais alguns episódios que fazem capa nos jornais ditos de referência que estampam outras realidades, afinal não muito diferentes das primeiras, ainda que mais pacíficas em termos de actuação.


Se bem que os contestatários de Bento XVI tenham levado porrada pelo facto de estarem contra os gastos da visita do Papa a Espanha, ainda assim, o que podemos ler na imprensa dos últimos dias tem mais a ver com; Estado gasta por ano 57 milhões de euros em rendas, crise fez aumentar em 23% o fecho de empresas nos 3 primeiros meses do ano, propostas de Sarkozy e Frau Merkel para o reforço da (des)governação europeia não convenceram os mercados, Messi derrota José Mourinho e Ronaldo – e aqui deixem-me salientar o que um tio meu, quando o tema da conversa versava futebol – sempre dizia e com gozada razão: “ … pois, pois, continuem a falar de futebol já que sempre que se marca um golo, o mundo pula e avança…” – subida de preços dos manuais escolares, câmaras cortam 633 postos de trabalho, mas despesa aumenta, o que é um serviço público de TV, e a isto junto que em 2002 um "grupo de trabalho" entregou as conclusões ao governo de Durão Barroso. Não foram aproveitadas e desde então a RTP torrou 2 mil milhões de euros públicos.


A conclusão principal do tal estudo seria a de diminuir os encargos com a TV do Estado, mas foi precisamente o contrário que sucedeu. Cá por mim não tenho grande opinião sobre o assunto porque a RTP não me interessa enquanto estação de TV do Estado uma vez que não se distingue das demais e consome muito mais recursos públicos.
Logo, privatizar ou não é-me indiferente. E só não o será para aqueles que "mamam" habitualmente no úbere do Estado cada vez mais depauperado, incluindo os respectivos trabalhadores cuja produtividade em alguns casos deve ser lendária.


É certo que outros destaques também contidos nesses jornais, nos vão transmitindo, ainda que com pouca convicção, alguma esperança de uma vida melhor, aspectos da actividade quotidiana do País e do Mundo.


Numa rápida vista de olhos pelos principais títulos parece-me de todo importante relevar da recente descoberta de 17 novos anticorpos contra o VHI e que podem vir a ajudar a desenvolver uma vacina conta a sida. Evidentemente que todos nós nos regozijamos com esta descoberta.


Aqui sim, haverá com toda a certeza um bom motivo para que nos alegremos, nem que seja por escassos instantes. Chama-se a isto e a tais factos similares, «civilização» ou «humanização». Ou, então, se preferirem, chame-se-lhe simplesmente sem louvor nem censura, e se quiserem também com uma forma mais ou menos política, o verdadeiro movimento democrático do mundo e da Europa em particular.


Ainda a propósito dos destaques que nos vão dando alguma necessidade de crença, li que, um tal de Warren Buffett, lá da terra tio Sam, pediu ao congresso norte-americano, para deixar de mimar os super-ricos. Esse apelo de “por favor cobrem-me mais impostos que eu já me estou a sentir mal” surgiu depois de conversar com os seus amigos mega-milionários a quem os impostos só têm feito cócegas. Como? Percebi bem? Voltei a ler o artigo, e é assim mesmo, ipsis verbis.


Como eu gostaria de saudar, ou só acenar um leve cumprimento a este homem que, sendo um dos três mais ricos do Mundo, sem medos e sem preconceitos, diz abertamente o que pensa. E a atitude, pouco me importando de onde lhe veio tanto dinheiro, é, quer se queira ou não, atitude de quem possui a grandeza de se tornar não apenas superior na acção, mas também uma consciência de louvada justiça.


Pena é que, como diria o pensador, «o que nós fazemos de bom, raramente, ou mesmo nunca, é compreendido, mas somente louvado ou condenado». Ao que julgo saber, assim aconteceu e 12 membros do super comité do congresso norte-americano que tem como missão reduzir o défice, recusaram sequer trocar umas ideias sobre o assunto. Lamentamo-nos de uma Europa que perdeu o Norte e consequentemente se perdeu no caminho. Pobre América que também já não se poupa à vergonha de tal consolação.


Pobre Mundo este que não percebe que cada um dá o que pode e quer, e ainda assim é vilipendiado na praça pública. No nosso pequenino País, com fortunas pessoais colossais, nunca assisti a tal oferenda, ou melhor a tanta humildade que só poderia vir de alguém com muitos sonhos, de alguém que sempre tenha estado em permanente vigília quanto à má sorte dos outros.


Esse, a existir, seria o verdadeiro reformador de consciências, desconfiando eu, no entanto, que seria também condenado qual Warren Buffett.


Acabo já. Só gostaria de rematar os meus pensamentos acrescentando que, da Europa já esperamos tudo. Mas se calhar o mal vem mesmo da América. Acabou-se o bom tempo de outrora, e foram alguns narcóticos desse paraíso passado que nos intoxicaram e nos traçaram o destino que há-de vir.
Mário Rui
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