quarta-feira, 1 de maio de 2013

1.º de Maio


















O fenómeno social mais assombroso e surpreendente – e certamente o menos compreendido – foi, e é, a necessidade do renascimento das velhas lutas por causas que à maioria das pessoas dizem respeito. O direito à saúde, ao emprego, a uma vida digna. Tempo houve em que industrializar significava cada vez mais desenvolver, enriquecer, criar condições e padrões de vida elevados. Tudo isso é hoje alvo de retrocesso. Em suma, todos esses projectos de “qualidade de vida” viram-se destronados por um sistema político e financeiro que continua a abster-se de enfrentar tais desígnios. Sim, afinal o sistema continua é a estabelecer questões de mera sobrevivência. À direita ou à esquerda, as sociedades tidas como modernas não têm aportado grandes oportunidades aos que delas mais necessitam. Então, se tudo segue igual, faz mais sentido concentrar a nossa energia em temas que, de facto, não recebem a atenção dos donos do mundo. Mesmo que nos chamem opositores extremistas, vale sempre a pena perseguir qualquer objectivo que nos possa interessar. As sociedades novas também se edificam mediante a gradual acumulação de tais objectivos e, mesmo se criativamente negativos, acabam por nunca ser meras lutas de soma zero. Ademais, se para outra coisa não servirem, serão garantidamente novas formas de entendermos que as más medidas de emergencia postas em prática são, subrepticiamente, convertidas em procedimentos normais, como que regulamentação imposta em tempo de fartura.”Ir ao povo” para “servi-lo”, “organizá-lo”, conduz normalmente à manipulação e resulta com frequência em antipatia ou hostilidade. É por isso mesmo que o 1.º de Maio continua a fazer sentido.

Mário Rui