sábado, 6 de dezembro de 2014

Amavelmente céptico e com frio




A mensagem fala em frio, muito frio. Vale é que ainda há restos de cores que vão aquecendo os longos dias e mais compridas noites de mil friezas, e assim sobremaneira úteis à vontade desses justos coloridos afagos e carícias. Gestos atestando afinal da presença da cálida delicadeza que nos embriaga de outras quenturas diversas, posto que por ora se é órfão do Sol. Por tais janeiros, assim dizem os mais antigos, cai cedo a noite e então vem um cinzento qual horizonte a esfriar as tintas do quotidiano, lançando confissões que às vezes entristecem pelo peso de tanto casacão, botifarra, cobertor denso sobre o corpo, ceias a desoras e quase sempre esperanças de uma outra frescura mas vinda em roupas brancas. É nisso que apostamos, no regresso de dias gordos e sumarentos enquanto o frio nos enfada com o vagar de quem não faz tenção de abalar. E nesta pólis tamanha, a inverneira tem edições muito caprichosas que lá vão provocando digestão difícil enquanto dura a manhã vestida de frio que regela mais, vindo depois a tarde desconforme a modo de vida infinitamente maís cómodo, seguindo-se-lhe noitada escura que desce em humidade colossal julgando revelar-se como hálito desejado. E entretanto, a pólis dorminhoca ainda agora se voltou para o outro lado. Na minha rua há um homem que veste samarra, uma chaminé de perpétua actividade e uma mulher que enverga xaile, tudo ornatos, agasalhos e utilidades que são fontes de vida na espera de um dia soalheiro útil a gente que acorda cedo e para quem a cura só vem lá para Maio. Porque a verdade é esta; o frio está aqui e que outros lhe façam poemas. Eu não!
 
Mário Rui
___________________________ ________________________________ 

Estarreja - Natal 2014












Mário Rui
___________________________ ________________________________ 

Gatas



Gata cuja presença altera a marcha dos acontecimentos.

E quando o grande não consegue fazer vir até si o pequeno, no mínimo que se mostre alguma soberania. Gatas!





Mário Rui
___________________________ ________________________________ 

Fernando Pessoa


Fernando Pessoa, o mais universal poeta português, o homem que foi muitos homens, morreu há 79 anos (Lisboa, 30 de Novembro de 1935)

Talvez seja miopia minha mas a verdade é que ainda não consegui descortinar linha impressa ou palavra dita no todo do país a lembrar a data e o homem.

Será a profunda e silenciosa presunção moderna a dizer que as coisas passadas se tornaram impossíveis? Já não se pode andar com os ponteiros do relógio para trás?
 

 “Neste mundo em que esquecemos
Somos sombras de quem somos,
E os gestos reais que temos
No outro em que, almas, vivemos,
São aqui esgares e assomos”
 

 

Mário Rui
___________________________ ________________________________