sábado, 6 de dezembro de 2014

Amavelmente céptico e com frio




A mensagem fala em frio, muito frio. Vale é que ainda há restos de cores que vão aquecendo os longos dias e mais compridas noites de mil friezas, e assim sobremaneira úteis à vontade desses justos coloridos afagos e carícias. Gestos atestando afinal da presença da cálida delicadeza que nos embriaga de outras quenturas diversas, posto que por ora se é órfão do Sol. Por tais janeiros, assim dizem os mais antigos, cai cedo a noite e então vem um cinzento qual horizonte a esfriar as tintas do quotidiano, lançando confissões que às vezes entristecem pelo peso de tanto casacão, botifarra, cobertor denso sobre o corpo, ceias a desoras e quase sempre esperanças de uma outra frescura mas vinda em roupas brancas. É nisso que apostamos, no regresso de dias gordos e sumarentos enquanto o frio nos enfada com o vagar de quem não faz tenção de abalar. E nesta pólis tamanha, a inverneira tem edições muito caprichosas que lá vão provocando digestão difícil enquanto dura a manhã vestida de frio que regela mais, vindo depois a tarde desconforme a modo de vida infinitamente maís cómodo, seguindo-se-lhe noitada escura que desce em humidade colossal julgando revelar-se como hálito desejado. E entretanto, a pólis dorminhoca ainda agora se voltou para o outro lado. Na minha rua há um homem que veste samarra, uma chaminé de perpétua actividade e uma mulher que enverga xaile, tudo ornatos, agasalhos e utilidades que são fontes de vida na espera de um dia soalheiro útil a gente que acorda cedo e para quem a cura só vem lá para Maio. Porque a verdade é esta; o frio está aqui e que outros lhe façam poemas. Eu não!
 
Mário Rui
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