terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Os erros de uns e os mal-disfarçados cinismos de outros




















De facto devemos prestar provas perante nós mesmos de modo a que sempre possamos demonstar que nascemos para sermos independentes e, acima de tudo, coerentes. E devemos fazê-lo a tempo e horas. É, em minha opinião, o que faz o articulista neste artigo. É importante que não fujamos a essas provas, ainda que possam ser um jogo perigoso e mesmo que sejamos as únicas testemunhas de um tempo não muito longínquo. Hoje, e relativamente a este líder político, até parece que ninguém mais é juíz! Até os que ontem abominavam Cunhal e dele faziam uma ideia acertada quanto ao modelo errado que nos queria impôr, até esses, agora lhe atribuem a condecoração de homem com "sentido histórico". Nao é digno dessa elevação, como dignos não são os que hoje choram lágrimas de crocodilo. O primeiro porque outra cousa não fez senão idealizar uma sociedade que se queria reclamar de um só ditame e uma só doutrina. Até parecia que não tínhamos acabado de pulverizar uma. Os segundos porque simulam uma genuína maioridade mas ainda não perceberam que é o juízo que a confere, e não a idade. Pode parecer opinião a despropósito, mas acho que é isto que nos faz passar de país pobre a pobre país. Os erros de uns e os mal-disfarçados cinismos de outros!

Mário Rui



O fascismo de Álvaro Cunhal continua vivo

É sempre cómica a forma como o jornalismo português transforma um fascista vermelho num grande democrata. Ontem, uma jornalista até disse que "Cunhal sempre lutou por um partido livre e transparente". Um sujeito ouve isto e fica a pensar "mas ainda há células do PCP nas redações?". Meus amigos, Cunhal lutou toda a sua vida contra a democracia. Cunhal tinha uma concepção totalitária da política: só compreendia a linguagem da força, só aceitava um regime de partido único (o dele) e toda a sociedade, dos romances aos tampos das sanitas, tinha de obedecer a um plano central (o de Moscovo). Por outras palavras, Cunhal era fascista.
Antes de 1974, Cunhal fez a vida negra às oposições democráticas, porque o PCP não queria uma transição para a democracia. É ler Norton de Matos, Eduardo Lourenço, Sophia, Sousa Tavares, Alçada Baptista, Bénard, Cunha Leal. Todas estas figuras contestaram, ao mesmo tempo, Salazar e Cunhal. Nos anos 50, Cunha Leal e Norton de Matos afirmaram que Cunhal era pior do que Salazar. No final dos anos 60, Eduardo Lourenço declarou que a oposição democrática não podia dançar o tango com a oposição autoritária (o PCP), porque Cunhal era uma fotocópia de Salazar. Moral da história? Durante o Estado Novo, o grande alvo do PCP não foi Salazar, mas a restante oposição. Daí nasceu esta guerra civil entre as esquerdas (tornada explícita em 1975) e a ditadura intelectual do PCP junto dos meios jornalísticos e intelectuais. Algo que ainda perdura em reportagens que cantam loas a Cunhal em 2012.
Depois do 25 de Abril, Cunhal continuou a lutar contra a democracia. Em actos e palavras, Cunhal foi claro: Portugal não podia caminhar no sentido democrático. É por isso que o líder do PCP sempre desprezou os actos eleitorais. Cunhal passava a vida a dizer que a sua "maioria política" era mais importante do que as "maiorias aritméticas" das urnas. Ou seja, a violência da rua e dos militares do PCP eram mais importantes do que o respeito pelos processos democráticos. Em 2012, os jornais e TV estão cheias de pessoas a dizer que "ora, ora, com tanta manif na rua, o governo perdeu a legitimidade e deve cair". O fascismo de Cunhal continua vivinho da silva.




Henrique Raposo in jornal Expresso de 3 de Dezembro de 2012