sábado, 9 de março de 2013

Presidente




















Trinta e cinco dias sem sair de Belém não é hábito presidencial, é a reclusão de quem usa hábito. Assim se pode ler esta clausura, quebrada pela recente visita a uma fábrica de moagem, que bem podia ser entendida como acto de moer a paciência a quem gostaria de ter um presidente verdadeiramente interventor. Foi tudo o que Cavaco Silva nos deu desde 30 de Janeiro último. Não obstante esta aparição, quedou-se pelo silêncio das palavras importantes não ditas, preferindo exaltar dons que só ele reconhece em si próprio; "ninguém tem a experiência que eu tenho", "trabalho 10 ou até 12 horas por dia" e "muitas horas ao sábado e ao domingo." Referia-se aos seus dez anos de primeiro-ministro e aos sete que já leva na Presidência. Foram mensagens muito importantes, o fruto mais precioso da sabedoria humana, por parte de um homem que, medroso, excessivamente prudente, acaba por se distanciar cada vez mais do país ao qual jurou companheirismo na desgraça. Claro que assim, muito poucas das nossas esperanças se realizam, ou seja, contamos com circunstâncias que não ocorrem, actos e palavras difusas que se articulam por modo diverso do que pensávamos. Mas em resposta às críticas de ausência presidencial face à crise económica e social que nos assola, Cavaco Silva escreve um longo prefácio de mais um livro “Roteiros”. Aqui sim, ele abre o pensamento político em todo o seu esplendor para nos dizer, sub-repticiamente, que o estilo deste segundo mandato é para manter. Dá-nos outra novidade, que ninguém ainda tinha percebido, ao acrescentar que o risco de insustentabilidade já não é só social, mas também político, se não houver agenda de crescimento. Há de facto ‘sabedorias’ muito sintéticas. Resumem tudo ao que todos já sabiam! E também há muitas coisas que  alguns presumem saber, julgando-se ‘sábios’,  mas que deveriam ingénua e humildemente confessar como sendo matéria que ignoram por inteiro. É caso para dizer; tanta esperança num homem que parecia dado aos lugares certos, mas politicamente tão insignificante pelo seu procedimento. Mas então um Presidente da República só serve para fazer as exéquias de um Estado?
Mário Rui