sábado, 20 de agosto de 2011

Ilusões



Mas como será possível que pessoas se passeiem tranquilamente dentro de uma piscina sem se afogarem?

Não se trata de uma piscina, mas uma recriação do artista argentino Leonardo Erlich – um criador de ilusões.

Uma velha piscina foi aproveitada para esta ilusão: no topo, foi montada uma estrutura de vidro laminado; sobre o vidro laminado, água.
Uma abertura, no exterior da piscina permite aos visitantes entrarem lá para dentro e experimentarem a sensação de caminhar debaixo de água – completamente secos.
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Interrogações e às vezes certezas

Não que seja minha preocupação falar-vos da multiplicidade de doutrinas, ou se preferirem de religiões, que caracterizam o nosso tempo. Sendo certo que as há de cariz ao mesmo tempo religioso, social e político, também não é menos verdade que outras se ficam apenas pela fé e pelo carácter social de que estão ou são embuídas.

Não é igualmente minha intenção filosofar em redor do que cada uma das muitas que por aí professam, transmitem aos respectivos crentes. Ser-me-ia difícil traduzir em palavras ou até em pensamentos o que verdadeiramente representam tantas doutrinas para cada um dos seus seguidores. Esta dificuldade, é bom de ver, resulta apenas da minha ignorância e impreparação para tratar tal tema com alguma, mínima que fosse, propriedade.

Também não quero fazer juízos de valor em relação às práticas de que cada uma se serviu, ou serve, para levar por diante os seus intentos. Não esqueçamos que, genericamente, todas amaram e amam o próximo e o seu próprio profeta, leia-se Deus, ainda que de maneiras diversas. Todas, ou quase todas, mutilaram, mataram, em nome de uma fé que aos olhos de civilizações tidas como avançadas no tempo, foi, e ainda é, algo de difícil compreensão senão mesmo de inconcebíveis actos.

Quase me apetece dizer que a crença, a religião indistinta, não tem ainda um fim em si mesmo. Às vezes, digo eu, o apreço pelo rebanho é mais antigo e forte que o apreço pelo indivíduo.

Bom, mas como disse no início, não vou dissecar em função destes últimos considerandos, até porque se o fizesse estaria a negar-me a mim mesmo. É que eu também tenho um Deus. Imagino que diferente do Deus de outros crentes, mas mesmo assim o meu Deus. Consola-me e dá-me ajuda manter-me sempre discípulo de um mestre. Não sei se assim é com outros da minha espécie, mas também não é importante que assim seja. Crucial é que nunca deixemos que o joio pretenda passar por trigo.
Vem tudo isto a propósito da recente visita do Papa Bento XVI a Espanha. E o que adiante vou dizer, é igualmente verdade quanto a qualquer outro destino geográfico que o Papa tenha, ou venha a traçar.

Na busca do conhecimento, não o querendo profundo demais porquanto se tornará necessariamente metafísico, quantas vezes já me interroguei sobre a mole humana, de verdadeiros crentes, presumo eu, que sempre acompanham e veneram esta figura papal esteja ela onde estiver. Sinceramente, aplaudo com gratidão este modo religioso de estar do bom e do mau, do pobre e do rico, nobre e plebeu, e todos os outros nomes que engrossam o número de fiéis que sempre dizem “presente, eu estou aqui”.

Interroguei-me e continuo persistentemente com dúvidas, porque me faltam respostas capazes, para tal correnteza de fé. Caberá aqui dizer que a fé, tal como o amor, não se discute. É! E quanto a isto por aqui me fico.

Voltando então ao cântico e à dança em redor da figura católica, apostólica e romana papal e, se quiserem, porque estou aqui de espírito aberto a outras figuras de fé que arrastam multidões, digam-me lá, se este caudal humano é movido por uma espécie de tendência ascensional que a mais não aspira senão a um Mundo melhor, personificado através destas figuras. Será isso?

Confesso que os meus olhos vislumbram sempre, sobretudo aquando da proximidade do Papa, não conhecendo tanto que o mesmo possa dizer em relação a outras religiões, olhares de júbilo, de alegria, de vontade de viver e de sentir que a vida em si mesma não é um fim mas antes um meio. E parece-me tão verdadeira esta maneira de louvar, quer se trate de jovens como de menos jovens que, a mim, mais perplexidade me causa. E, repito, não retrato este quadro em sentido crítico, bem pelo contrário quero fazê-lo na mais pura e tolerante inocência dos meus pensamentos.

A minha grande questão continua a ser, simultaneamente, tentar entender esta alegria que, diga-se em abono da verdade, muitas vezes contagia o longínquo, e a grande causa que a motiva. Se repararem bem, não me interessa estar aqui a fazer a apologia desta ou daquela crença. Importa-me muito mais saber que ela torna felizes alguns seres, e não são poucos, felicidade que em muito se assemelha a algo que é como dizer: “hoje consegui escalar esta alta montanha para pescar peixes”.

É de facto fascinante a existência, em total disponibilidade, de povos, a quem até podeís chamar de vivências apenas medíocres e vulgares que, somados aos mais difíceis, mais delicados, mais subtis, instruídos, e se vos agradar aos mais nobres, se unem num propósito único: o de terem um ideal nobre em vista.

Depois, até se podem separar, cada um para o seu canto, mas eu sempre achei que mesmo após a separação, para estas personagens a dor também é alegria e quantas vezes a noite é um Sol também.

Expliquem-me mais e melhor, se souberem, para além do que eu penso e, se assim for, só vos poderei elevar à condição de sábios. Mas a populaça será também ela toda ouvidos para as vossas justificações.

Mário Rui
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