terça-feira, 30 de abril de 2013

Vitória




















Mário Rui

O que faremos se o sistema já não conseguir criar trabalho?





















O que faremos se o sistema já não conseguir criar trabalho?


(Alexandra Prado Coelho – jornal Público, 21-4-2013)

No capitalismo, é a relação com o trabalho que nos define, diz o filósofo Anselm Jappe, em Lisboa a convite do Teatro Maria Matos. Mas o sistema é um "castelo de cartas que começa a perder peças". E é tempo de repensar o conceito de trabalho

O capitalismo distorceu a ideia de trabalho, desligando-a das necessidades reais da sociedade. Trabalhamos a um ritmo cada vez mais acelerado apenas para alimentar a lógica do sistema. Mas este parece ter entrado numa rota de autodestruição porque, com a exclusão de cada vez mais gente do mercado de trabalho, há também cada vez mais gente excluída do consumo, afirma o filósofo Anselm Jappe, nascido em 1962 na Alemanha e que hoje vive entre França e Itália.

Jappe - que tem três livros editados em Portugal pela Antígona, entre os quais As Aventuras da Mercadoria (2006) - faz uma conferência, na próxima terça-feira, dia 23, no Teatro Maria Matos, no âmbito do ciclo Transição. Na conferência (em português), com curadoria de António Guerreiro, Jappe vai explicar por que devemos repensar o conceito de trabalho.

A sua conferência chama-se Depois do Fim do Trabalho: A caminho de uma humanidade supérflua? O fim do trabalho está no nosso horizonte?

Essa afirmação teria espantado muita gente há algumas décadas, porque a sociedade moderna é por definição uma sociedade do trabalho, onde se coloca sempre mais gente a trabalhar. Mas o trabalho, nesta lógica, não é uma coisa que tenha existido sempre.

Existe desde quando?

Na Antiguidade, não existia uma palavra "trabalho" que incluísse todas as actividades. Seria impossível imaginar, por exemplo, que a actividade de um padre, de um camponês, ou de um escravo fossem consideradas trabalho. Cada actividade servia para realizar um fim. O que contava era esse fim - ter coisas para comer, realizar um serviço de Deus, fazer uma campanha militar, etc. O que contava era a satisfação de uma necessidade e o trabalho era o meio para isso.

Com a sociedade industrial, é o contrário, trabalhamos o mais possível porque é o trabalho que nós dá o dinheiro, e toda a satisfação das necessidades vem depois. É preciso trabalhar sempre mais para aumentar a produção. Um trabalho é um gasto de energia que se mede em tempo. Se eu faço uma mesa ou dou uma aula na universidade, são duas coisas completamente diferentes, mas posso sempre dizer "trabalhei uma hora". Esse tempo exprime-se numa quantidade de dinheiro.

Que é valorizada de forma diferente se for o trabalho de um professor universitário ou de um operário.

Uma hora de um trabalhador especializado pode valer mais do que uma de um não-especializado. É uma diferença quantitativa, mas não tem nada a ver com o conteúdo da produção.

Temos uma sociedade industrial que se baseia no uso de máquinas e de tecnologia, que servem para economizar trabalho. Seria lógico que precisássemos de trabalhar menos porque teríamos todas as nossas necessidades preenchidas com um mínimo de actividade. É exactamente o contrário que acontece. Trabalhamos hoje muito mais do que antes. Basta fazer uma comparação entre o nosso ritmo de vida e o dos nossos avós.

Hoje tudo gira em torno do trabalho. Podemos ser trabalhadores ou desempregados, mas somos sempre definidos pela nossa relação com o trabalho.

No sistema capitalista, o valor não é dado pela utilidade das coisas, mas pelo trabalho que foi necessário para as fazer. Quanto mais trabalhamos para fazer uma coisa, mais isso acrescenta valor ao produto. O lucro do capitalista provém de trabalharmos mais do que o necessário, aquilo a que Marx chama mais-valia.

Por outro lado, o capitalismo fez do trabalho o carburante da vida social. Nas sociedades anteriores, essa vida social baseava-se em questões como a dominação directa do solo, as ideias de honra ou as ideias religiosas. Na sociedade moderna somos todos definidos pelo trabalho.

Mas nas últimas décadas o trabalho começou a esgotar-se. Há cada vez menos trabalho por causa da evolução tecnológica. Podia ser uma boa notícia - vamos trabalhar menos e ter tudo o necessário. Mas é o contrário que acontece. As pessoas vão para o desemprego, não há uma verdadeira redistribuição da actividade, e os que estão no desemprego são também afastados do consumo.

O que contraria a lógica do sistema.

Sim, os que já não podem trabalhar já não têm dinheiro para consumir. É uma espécie de auto-abolição do capitalismo. Numa fábrica faz-se uma camisa em cinco minutos quando anteriormente um artesão precisava de uma hora. Isto significa que há menos trabalho investido na camisa. Numa sociedade racional diríamos "vamos fazer a mesma camisa que anteriormente, mas trabalhando apenas cinco minutos". Mas é o contrário que acontece: obriga-se o operário a trabalhar mais, a fazer mais camisas, e depois é preciso vendê-las. Se se produz cada vez mais, é para contrariar o facto de que em cada mercadoria é investido menos trabalho e portanto a mais-valia é mais reduzida.

Mas nem sempre a substituição dos humanos por máquinas retira valor ao produto final. Se eu for tomar um café, ele pode ser-me servido por uma pessoa ou ser retirado de uma máquina e mesmo assim eu pagar o mesmo por ele.

É aí que está a contradição - se uma empresa substituir um trabalhador por uma máquina, ela vai ganhar mais porque a máquina tem um custo menor. As pessoas pagam o café como antes, mas a empresa gasta menos em salários. Mas se todas as empresas fizerem o mesmo, é o próprio sistema que perde porque há menos utilização da força de trabalho. As empresas são contra o interesse do sistema. Foi assim desde o princípio.

E, no entanto, as máquinas deixar-nos-iam mais tempo livre para nos dedicar-se a outras actividades, eventualmente com maior utilidade.

Isso seria a situação ideal. Mas no sistema capitalista nem todas as actividades são valorizadas, apenas as que podem reproduzir o capital investido. O que fazemos para nós ou para os nossos amigos não é considerado trabalho porque não entra na lógica do mercado. A actividade útil para nós ou para os outros é muito diferente do que é considerado trabalho no sistema capitalista. Podemos dizer de um casal que ele trabalha numa fábrica, é trabalho, a mulher não trabalha, ocupa-se dos filhos e do sogro que está doente. A definição do trabalho não tem nada a ver com o conteúdo da actividade.

As actividades produtivas estão necessariamente ligadas à produção de mercadorias?

Não, mas têm que entrar num ciclo em que o capital se reproduz. Vejamos uma fábrica: o operário faz um carro, o carro é vendido no mercado e isso representa um lucro para o capitalista, e portanto é um trabalho produtivo. É preciso também limpar a fábrica, mas os que o fazem não dão nenhum lucro, é apenas uma despesa necessária, que não contribui em nada para o lucro, pelo contrário.

Tendemos a ver o capitalismo como um sistema alimentado por alguns e imposto a outros. Mas não é assim que o vê.

O capitalismo tem uma lógica anónima, impessoal. Os capitalistas executam apenas as leis de um sistema que os ultrapassa. Existe, claro, responsabilidade individual, mas isso conta menos do que a lógica de todo o sistema. Hoje há de novo uma forte tendência de pensar que o problema é que há um grupo de pessoas que são demasiado ávidas, os especuladores, banqueiros, etc., que exageram e põem em risco todo o sistema baseado em trabalhadores honestos.

Há uma tendência para a personalização, que se encontra também muito em movimentos como os Indignados ou o Occupy Wall Street. Isto pode ser perigoso porque é um pouco o que aconteceu nos anos 30 com o sistema fascista, em que a cólera social se voltou contra um grupo de pessoas, nesse caso, contra a finança judaica.

O verdadeiro problema é que não há uma distribuição das actividades em função das necessidades sociais, como faria uma sociedade razoável, mas há simplesmente esta necessidade de trabalhar seja no que for para produzir coisas que não sabemos para que servem. Isso é algo que mesmo a esquerda desvalorizara, porque se preocupou sempre muito com a questão da justiça social, por perceber por que é que uns ganhavam mais do que outros.

Se as pessoas tendem a personalizar, é porque é muito difícil lutar contra um sistema sem rosto.

É mais fácil ir para a rua protestar contra os banqueiros. Mas é fácil dizer que nós somos apenas as vítimas, quando a verdade é que todos fazemos parte deste sistema, desta lógica.

Parece difícil estar fora do sistema .

Sim, participamos todos, por exemplo, na lógica da concorrência, é algo que nos invadiu completamente. Estamos sempre a tentar vender-nos, ser mais fortes do que os outros, ter sucesso no mercado. Absorvemos completamente a lógica capitalista, que não é natural, porque, no passado, a concorrência tinha um papel muito menor na vida quotidiana.

Mas não considera positiva a ideia de que muita coisa depende das nossas capacidades, e que não estamos condenados a um lugar determinado, como num sistema de castas?

A modernidade apresentou-se como uma espécie de libertação em relação ao sistema feudal, mas é uma liberdade aparente, porque é uma lógica destruidora que leva as pessoas a fazerem tudo o que podem fazer, e a considerar o mundo como uma espécie de material onde se podem realizar as próprias aspirações. É verdade que o modernismo tem um dinamismo que faltava às sociedades anteriores, mas a pouco e pouco este dinamismo tornou-se uma espécie de individualismo que tomou conta das pessoas nos países ocidentais.

Olhamos para nós próprios como empreendedores, como alguém que está sempre em busca de oportunidades. É preciso fazer desporto para estar em boa forma para trabalhar, ou frequentar meios em que se conheçam pessoas que possam ajudar-nos a ter outro trabalho interessante.

Mas, pelo menos teoricamente, as coisas dependem mais da nossa vontade individual.

A ideologia oficial diz que cada um pode fazer da sua vida o que quer, que não somos marcados pelo facto de termos nascido na Suécia ou em África, mas na realidade não é assim. Não é como no Monopólio, em que todos começam com a mesma quantia. Não há uma igualdade de oportunidades.

Mas mesmo que ela existisse, era preciso perguntarmo-nos o que queríamos fazer. Uma sociedade razoável organizaria um acordo colectivo sobre o que é necessário fazer para vivermos bem, e depois pensaria como o optimizar com o mínimo de esforço possível, com cada um a contribuir com a sua parte para a vida colectiva e durante o resto do tempo a dedicar-se a fazer o que quisesse.

Existe um espaço fora do sistema?

É evidente que sofremos cada vez mais com esta situação. As pessoas que trabalham sofrem, fala-se cada vez mais de suicídios ligados ao trabalho, há uma pressão enorme nas grandes empresas, sabe-se que se vai despedir no próximo ano metade das pessoas, e então todos trabalham como loucos para agradar a este deus que é a lógica da rentabilidade. E os que não trabalham sofrem porque são socialmente desvalorizados.

Existe actualmente uma série de iniciativas ligadas ao decrescimento, economias alternativas, grupos de trocas locais, ou de regresso ao campo, trocas entre produtores biológicos. Tenho muito a criticar-lhes, mas penso que, pelo menos, demonstram um interesse real de encontrar um caminho que não seja apenas uma gestão alternativa da mesma sociedade industrial baseada no dinheiro.

Durante muito tempo a esquerda limitou-se a propor uma distribuição mais justa desses conteúdos. Hoje existe pelo menos a tentativa de procurar ir para além disso. Mas há sempre muitas forças sociais que, pelo contrário, continuam a querer apanhar o último pedaço deste bolo que é cada vez mais pequeno.

O capitalismo está moribundo?

Muitas vezes o ser humano não é rentável do ponto de vista do sistema, e isso significa que vai também deixar de poder consumir. Na Europa distribui-se ainda algum dinheiro pelos que já não são rentáveis, mas também aí há uma pressão enorme para cortar, cortar. Há esta sensação de que existem pessoas que são supérfluas do ponto de vista do sistema. Para a Alemanha, a Grécia tornou-se um país supérfluo. E dentro dos países há camadas da população às quais já não se sabe o que fazer.

Os Governos falam num regresso ao crescimento, todos querem exportar para os novos mercados emergentes.

Todos querem exportar, ninguém quer importar. Mas não é possível um mundo em que todos exportem e ninguém importe. Aquilo a que chamamos o milagre económico chinês baseia-se também nas exportações, sobretudo para os EUA. Se os países pequenos entram na lógica liberal das exportações, é terrível. Há países que em África produziam o suficiente para se alimentarem - viviam modestamente, mas com o suficiente - e quebraram tudo em nome das exportações, hoje só produzem bananas e se de repente o mercado das bananas cair é toda a economia que cai.

É preciso libertarmo-nos desta ideia de produzir em primeiro lugar para um mercado mundial.

A globalização aproximou-nos de outras culturas. Se nos fechamos nas aldeias...

A mobilidade global é bastante unilateral. Nunca tivemos na Europa fronteiras tão guardadas em relação a tudo o que é exterior. Há uma mobilidade para os turistas, e uma mobilidade para os que têm que ir procurar trabalho.

A alternativa não seria nem um regresso aos Estados-nações - isso parece-me uma ideologia bastante perigosa. Uma sociedade pós-capitalista deve ter uma base quotidiana nas realidades locais, comermos maçãs que cresceram no pomar do vizinho e não na Nova Zelândia. Isso, claro, não impede uma comunicação cultural e intelectual com pessoas que vivem noutros locais. Há pessoas que optam por trabalhar menos e reduzir as suas necessidades materiais, organizando-se com outras para terem uma vida satisfatória que não passa necessariamente pela compra de produtos ou serviços.

Mas disse que é crítico também desses movimentos. Porquê?

Porque pensam que é suficiente limitarem-se a essas medidas. Comprar os nossos produtos no produtor biológico pode ser um primeiro passo.

Qual seria o segundo?

Um movimento social que ocupasse directamente os ateliers, as fábricas. O capitalismo abandona muitas capacidades produtoras, porque já não são rentáveis, mas estas poderiam ainda funcionar bem.

Está a falar de ocupações, de gestão comunitária, faz lembrar o 25 de Abril.

Há uma memória histórica que vale a pena recuperar. Evidentemente que não vamos começar do zero.

Mas o sistema integrou rapidamente essas experiências.

Não quer dizer que as coisas se passem da mesma maneira, porque hoje em dia o sistema está muito mais enfraquecido. Hoje vivemos um momento inverso ao dos anos 70 e 80. O sistema está em recuo. Os que pertencem ao ciclo produção-consumo são cada vez menos, mesmo nos países mais ricos. Há um número cada vez maior de pessoas que não encontram lugar dentro do sistema. Se uma fábrica foi abandonada porque foi deslocalizada, seria possível tomá-la e fazer nela alguma coisa de útil.

Uma mudança depende de uma espécie de contrário social prévio. É necessário um número elevado de pessoas.

Vejo aí outro risco - isso pode facilmente tornar-se uma espécie de gestão da pobreza. A pobreza está a aumentar e o Estado poderia muito bem dar uma parcela da gestão social a este género de economia alternativa, dizendo: "Desenrasquem-se".

É ridículo, por exemplo, ver as pessoas que recuperam no final do mercado os legumes que foram deitados fora. Isso torna-se uma valorização da sobrevivência no dia-a-dia que é absurda se se continua ao nível social global a desperdiçar imenso. A ideia da simplicidade voluntária pode abrir um discurso de valorização da pobreza.

Para criar um sistema pós-capitalista usamos modelos anteriores ou é preciso inventar tudo?

O capitalismo cumpriu tão pouco as suas promessas que encontramos hoje em alguns meios uma espécie de nostalgia de regresso ao passado. Mas é certo que não vamos voltar atrás, o risco aí é o de arcaísmos violentos. É claro que a solução só pode estar à nossa frente. Podemos ter uma vida satisfatória com uma produção muito reduzida em relação ao que temos hoje.

Vê o futuro ideal como um mundo em que as pessoas trabalham menos, o trabalho é mais bem distribuído...

... em que se definem as necessidades, aquilo que queremos fazer na vida e como o podemos realizar com o menor esforço possível. É preciso começar a pensar a partir dos resultados e não do trabalho. Muitas das necessidades de hoje são compensações pelo trabalho. Uma vida dedicada apenas ao trabalho é tão pouco satisfatória que é preciso depois ter compensações, televisão, carros, viagens, jogos de computador.

Até que ponto é que essa mudança passa pela política?

Quando pensamos em política, pensamos na ideia de que o Estado deve garantir uma melhor distribuição das coisas. Mas vemos que a política não é solução, porque depende estruturalmente do dinheiro. Como há menos dinheiro à disposição do Estado para ser distribuído, o Estado tem cada vez menos poder. A esquerda, os alter-mundialistas, evocam sempre um papel mais forte do Estado. Como se o capital fosse o pólo negativo e o Estado o positivo. Mas se o Estado já não pode cobrar impostos, já não tem nada para redistribuir.

Sem Estado, como é que garantimos a protecção aos mais desfavorecidos? Não há um risco de que a lógica local seja a da caridade da aldeia?

O Estado social ainda é muito jovem e começa já a ser desmantelado um pouco por todo o lado. Existem muitos Estados onde não há praticamente ajudas públicas. Enganamo-nos se pensamos que as preocupações sociais são o coração do Estado.

Que organização social defende?

A auto-organização baseada nos bairros das cidades, unidades pequenas que decidem da sua própria vida, e depois se organizam a um nível federal com outras. Neste momento, o capitalismo é um castelo de cartas que começa a perder as peças. Não é possível dizer quanto tempo demorará a cair, mas os sinais são cada vez mais evidentes.

Mário Rui

sábado, 27 de abril de 2013

Saint-Exupéry





















As histórias simples que nos encantaram.

Mês de Abril 2013; 'O Pequeno Príncipe' completa 70 anos ;

Era uma vez um menino que vivia num castelo, como um rei. Sonhava em voar e inventava bicicletas com asas. Cresceu, virou piloto de avião e passou a reinar pelos céus.

Deixou um herdeiro: um principezinho cheio de ensinamentos, personagem de um dos livros mais famosos do mundo, "O Pequeno Príncipe", que completa este mês 70 anos.

Antoine Marie Roger, conde de Saint-Exupéry, escreveu um dos mais famosos best-sellers do pós guerra, O Pequeno Príncipe (1943), uma parábola em forma de conto que questiona o ponto de vista racional dos adultos. Os seus romances, diários e ensaios transmitem uma filosofia de vida que pretende melhorar as relações entre as pessoas, mediante a utilização ética da técnica, além de exaltar a amizade e a fraternidade, que conduzirão até o auto sacrifício, se necessário. Os seus temas têm por base suas experiências como piloto. Depois de cumprir o serviço militar na Força Aérea francesa, trabalhou para linhas aéreas privadas da Europa e da América. Na primeira fase da Segunda Guerra Mundial, foi piloto de ensaios e de combate. Em 1940, juntou-se à Força Aérea dos Estados Unidos e realizou voos de reconhecimento para os aliados. Empreendeu então uma viagem à Córsega, da qual nunca regressou. Outras obras importantes são Correio do Sul (1929), Voo Noturno (1931), Terra de Homens (1939) e Piloto de Guerra (1942).

Mário Rui

sexta-feira, 26 de abril de 2013

Contumaz



























É-me indiferente se se chama Isaltino, Virgolino ou Osvaldino. Na minha terra, que o mesmo é dizer no seio da gente que me viu nascer, criou e educou, sempre me disseram que a honra tem hora em que é mais cara que a própria vida. É claro que dito assim pode parecer uma forma exagerada de exprimir a verdade de que a reputação – a opinião que os outros têm de nós – é absolutamente necessária se desejamos fazer algum progresso no mundo. Pode parecer exagerada, mas de facto só parece! Sendo certo que nem todos comungarão deste princípio, o progresso de um país ou do mundo não é assunto que lhes assista, antes importa promover o próprio movimento para diante, nem por isso, eu, e os que tiveram a felicidade de receber e preservar educação que enobrece os simples, abdicaremos dessa maneira de estar em sociedade. A séria, eticamente de bem connosco e com os que nos rodeiam. Já outros assim não pensam. E é lamentável que tal aconteça. Aquilo que mais se vê é, individualmente ou, pior ainda, com a matreira cobertura do próprio Estado, a promoção dos maiores dislates no que à honra de uma comunidade diz respeito. Coisa deste modo fundada, e está realmente “legalmente” instituída, só pode acrescentar descréditos ao país que somos. Nascido que foi o dia de todas as esperanças, o 25 de Abril, tudo o que de bom nos foi dado foi ordinariamente enxovalhado por gente que sempre olhou mais para o seu próprio umbigo e quase nunca para as necessidades dos semelhantes. Exagero? Não! Há um presidente de câmara preso e nem sequer é minha intenção fazer juízo de valor relativamente às circunstâncias que o levaram ao cárcere. Mas está preso! Presumo que por motivos tidos como suficientes por quem tem a espinhosa incumbência de julgar dos actos de terceiros. E estando na prisão, o mínimo que as leis desta república das bananas deveria acautelar, seria não permitir a barbárie do preceito ou regra estabelecida por direito? que lhe confere a faculdade de governar uma autarquia desde a cadeia. Esta realidade só tem semelhanças com o livre-arbítrio de quem faz regras em países do terceiro ou quarto-mundo, pois até esse já existe! Mas não sejamos ingénuos. A política que continuadamente faz parir esta pronográfica teatralização do que deve ser justo e do que não deve ser feito, é uma magia que apenas pretende encantar-nos. Sim, ou será que as leis do país não são discutidas e aprovadas na casa da democracia de uns tantos, os que fazem parte do chamado grupo do elogio mútuo? Como eles sabem defender-se! Como é possível que ainda não tenhamos percebido que esta falsa ciência oriunda de tão nobre casa, mas tão mal frequentada, não aumenta o nosso saber, a nossa dignidade, mas só agrava a nossa ignorância. É assim mesmo que nos é servida a refeição preparada pelos que dizem tratar da coisa pública. Não adianta julgar de outro modo. Interessa pois é termos como certo que um desengano oportuno corresponde sempre a um benefício importante para os sérios. E o que mais temos tido, apesar de tudo felizmente, são desenganos. Mas cuidado, por este andar, e na defesa das suas possessões, ainda há-de chegar o dia em que os mandantes de Portugal irão fazer do presídio, evidentemente que pela sua ciência, experiência, virtudes e melhor conhecimento da natureza dos males e suas fontes, a verdadeira sede da governação nacional. Vai ser, aliás já é, uma ordem maravilhosa, mesmo com aparência de desordem, posta que esta é a solução achada para a completa gestão de uma autarquia deste grande enigma que se chama Portugal. Grande medida! Gente que isto permite, leis são feitas por pessoas, acha que muito sabe sobre a virtude e, afinal, é justamente gente do menos virtuosa que se pode encontrar. Como a atenção do povo português se desloca entre acções participativas e o repúdio pelas incompreensíveis, tudo o que se consegue com uma hierarquização de valores do teor antes referido, é desânimo de participação popular. Mais; quando não há respeito pelos que ainda vão acreditando, desconfiando, no pilar da justiça, então aí já estamos numa fase em que não se visa tanto um suposto inimigo declarado mas, antes, declarar um inimigo. Eu já sou um desses. Agradeço a oportunidade que me deram por poder travar esta luta. Vou continuá-la já que, ou me engano muito, ou estes reles vícios que nos querem inculcar vão persistir. Não me fazem falta nenhuma! Catem-se; estes vícios e os que lhes dão cobertura! Sobretudo alguma hedonista ralé política que se assume como sendo o fim da inspiração íntima e proba de cada um de nós.

Mário Rui

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A vitória

















(Clicar para aumentar)


Em 1588 a Armada Invencível ("Grande y Felicíssima Armada"), também referida como "la Armada Invencible" foi uma esquadra reunida pelo rei Filipe II de Espanha para invadir a Inglaterra. A Batalha Naval de Gravelines foi o maior combate da não declarada Guerra Anglo-Espanhola e a tentativa de Filipe II de neutralizar a influência Inglesa sobre a política dos Países Baixos Espanhóis e reafirmar hegemonia na guerra nos mares. Mesmo com uma armada altamente eficiente e dotada dos melhores meios disponíveis na altura, Espanha saíu da refrega derrotada. O episódio da Armada foi uma grave derrota política e estratégica para Coroa espanhola e teve grande impacto positivo para a identidade nacional inglesa.

Não obstante se tratar de peleja de natureza diferente e com um diferente opositor, se alguma relação se pode estabelecer entre este histórico episódio e o que teve lugar ontem, no campo do Bayern de Munique, na disputa da primeira mão da meia-final da Champions, então poderíamos resumi-la a: todos os ídolos têm pés de barro. À míngua de melhor explicação para o sucedido, recorro ao génio de Pessoa para transcrever a verdadeira definição de vitória;

«« … estão cheias as livrarias de todo o mundo de livros que ensinam a vencer. Muitos deles contêm indicações interessantes, por vezes aproveitáveis. Quase todos se reportam particularmente ao êxito material, o que é explicável, pois é esse o que supremamente interessa à grande maioria dos homens. A ciência de vencer é, contudo, facílima de expor; em aplicá-la, ou não, é que está o segredo do êxito ou a explicação da falta dele. Para vencer - material ou imaterialmente - três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar oportunidades, e criar relações. O resto pertence ao elemento indefinível, mas real, a que, à falta de melhor nome, se chama sorte. Não é o trabalho, mas o saber trabalhar, que é o segredo do êxito no trabalho. Saber trabalhar quer dizer: não fazer um esforço inútil, persistir no esforço até o fim, e saber reconstruir uma orientação quando se verificou que ela era, ou se tornou, errada. Aproveitar oportunidades quer dizer não só não as perder, mas também achá-las.»»

Fernando Pessoa, in 'Teoria e Prática do Comércio'

Mário Rui

segunda-feira, 22 de abril de 2013

The Dark Side of The Moon



























The Dark Side of The Moon (1973)

Para os da minha geração, e naturalmente para a que se seguiu, ainda que de forma certamente menos marcante, este prisma a reflectir um feixe de cores representou um tempo que jamais será esquecido. Foi o tempo em que mais nos lembrámos de nós próprios posto que tudo tínhamos para dar e muito para receber. De muita gente e de gente no singular que nos enleava com doçuras que só os verdes anos sabem dar e dizer. Era uma espécie de tempo com duração interminável e, mesmo quando rápido se escoava, sempre nos sobrava uma espécie de caminhar com leveza mas com muita certeza. Ausência de dúvidas que só nos conferia impulsos bons. E que importava se fossem contrários às regras e ideais por gente cinzenta traçados? Nada! Afinal éramos nós os donos do mundo, do prazer , da conquista, e que importância haveríamos de dar a quem não queria seguir caminho a nosso lado. Para nós nunca foi o lado escuro da Lua mas, isso sim, o lado rosa das nossas então jovens e sedutoras loucuras. Que bom foi. Sobra agora a obrigação, digo bem, obrigação, de agradecer a esta gente maior pelo bem que nos fez. Com eles sonhámos, idealizámos, conseguimos e demos rumo às nossas afortunadas existências. Fecham-se ciclos de templos cheios de tesouros e depois vem-nos à ideia o tesouro do templo que erigimos! Que mais nos resta? Fiquem bem. “Us and them”

O criador da tão icónica capa do LP dos Pynk Floyd, Dark Side of The Moon, chamava-se Storm Thorgerson e morreu na passada quinta-feira, 18 de Abril, aos 69 anos de idade. Thorgerson, que em 1960 fundou a Hipgnosis, foi o principal responsável pelas famosas capas dos álbuns dos Pink Floyd (e também de outras bandas como Led Zeppelin, Muse ou do músico Peter Gabriel). Além do The Dark Side of The Moon, outros álbuns tiveram capas míticas, como o Atom Mother Heart, o Wish You Were Here ou a espectacular imagem do The Animals com o famoso porco voador.

Em comunicado, os Pink Floyd lamentaram a perda de um "amigo", "colaborador" e "génio gráfico" da banda.

Mário Rui

sábado, 20 de abril de 2013

Terrores


















Boston foi por estes dias a capital do terror. Inocentes massacrados às mãos de propósitos insondáveis e, por isso mesmo, altamente reprováveis aos olhos de quem aspira por uma sociedade justa e mais fraterna. Sobretudo uma sociedade despida de loucas intenções que a mais não levam senão à selvagem carnificina de existências humanas. Às cenas vividas nas últimas horas em chão americano, poderíamos juntar milhares de outras que nos tocaram profundamente, quer tenham acontecido nesta parte do mundo ou em qualquer outra zona do planeta. Matar, é matar, e quaisquer que sejam as razões invocadas para o fazer, mesmo que sem luta não haja avanço, tirar a vida ao semelhante há-de ser sempre um meio destituído de princípios, forma ignóbil de lidar com o próximo! Se quisermos dissecar todas estas disfunções da raça humana, só podemos chegar a uma conclusão que, de resto, é tão válida para os que matam como para os que potenciam o acto. Assim sendo, é bom que tenhamos sempre presente uma verdade insofismável; aqueles que professam a liberdade e que repetidas vezes combatem a agitação dos outros, não podem ser homens que querem colher sem semear. Há, antes de mais, investimento produtivo, humanista, a fazer. De outro modo estaremos permanentemente ao sabor das chamadas sociedades do espectáculo que acabam frequentemente como vítimas das suas próprias falsificações. Na América dos meus sonhos, na terra que educou o meu avô e que dele fez homem, tudo o que desejo é que não se trabalhe pela paz com métodos violentos. Será um bom sinal para todos e em especial para os inocentes que das leis desta vida incerta se vão libertando, pondo os seus corpos na frente de uma batalha que não provocaram, e da qual, afinal, saem como verdadeiros combatentes. Valem muito mais que o aceno de apreço que lhes possamos dedicar. Muito mais! Mas atenção, pois que na ressaca do triste acontecimento, uma vez infelizmente sucedido, há mais convicções a manter e recados a dar aos demais, aos radicais. Como não podemos acumular todos os bens nem todos os males da vida humana, então será medida certa, a aplicar aos fanatismos vindos de alguns que se acham mandatados por voz supostamente ‘divina’, que se lhes repita a ideia de que os males de que se queixam lhes deram também ocasião aos seus maiores bens. De uma coisa deveriam livrar-se rapidamente; do tal impulsão ‘divino’ que lhes confere o direito a ceifarem vidas que jamais os atraiçoaram! Claro que todos o homens têm instintos como os animais , mas também têm a razão para os controlar e regular. Os que partem inocentemente, esses, jamais se poderão queixar!
Mário Rui

quinta-feira, 18 de abril de 2013

A destradicionalização



Podemos sempre dar um ar renovado à actual sociedade global em que vivemos. Não vem mal ao mundo pelo facto de lutarmos por novos valores, mesmo que diferentes entre si, sendo que a condição essencial para atingir tal desiderato deve ter como pano de fundo o percorrer de caminhos racionais que a essa meta conduzam. O que se lamenta é que, hoje em dia, quando se fala na emergência da renovação, se ponha sempre à frente a ideia de que destradicionalizar é sinónimo de avanço civilizacional. Com base nesta ideia inconsistente, algumas formas do chamado pensamento pós-moderno têm apostado no abandono das tradições, sobretudo das que devem ser defendidas, e desse modo têm permitido que  símbolos, memórias, bons hábitos e outros aspectos da vida social quotidiana se vejam irremediavelmente perdidos. A velha dicotomia entre o que deve ser transmitido de geração em geração e o que não deve ser objecto de transferência, tem dado lugar aos mais variados fóruns de discussão mas, parece-me, sem resultados agregadores ou sequer vantajosos para as comunidades que vivem paredes-meias com o problema. A pobreza crescente e a antípoda  riqueza , que em ambos os casos podem resultar  da condição social, da existência do bem material ou da estrutura mental, têm dado, cada uma a seu jeito, contribuições importantes para a aludida discussão. É certo que falamos de contributos de natureza diversa e, por isso mesmo, quando em confronto, acabam por defraudar expectativas relativamente ao resultado obtido.  Se por um lado os mais desfavorecidos, fruto das difíceis condições de vida em que se vêm envolvidos, e aqui entra o anseio por um emprego, mesmo que precário, ou a oportunidade que não pode escapar, são por vezes compelidos ao aligeiramento do conceito de fidelidade às boas tradições, bem assim como ao princípio de passagem das mesmas às gerações vindouras, já a outra parte toma posição ainda mais brusca. Essa, a que resulta da riqueza imanente, obtida por bem material ou intelectual, no mais das vezes erradica simplesmente a ideia de que os factos favoráveis fatos ou mesmo os dogmas devam ser transmitidos de geração em geração. Neste último caso, fica-se com a ideia que atitude assim assumida não tem tanto a ver com a dita riqueza material, mas antes com a mental, que acaba por alinhar com a vertiginosa velocidade a que se move a sociedade globalizada dos nossos dias. Esta velocidade que perturba a razão e a serenidade do espírito, não é com toda a certeza conduta acertada a tomar já que, tal obsolescência, qualquer que seja a natureza e ramo de actividade donde possa provir, apenas tem levado as sociedades à adopção de uma modernidade que, em todo o caso, sabe a muito pouco. Nesta linha, o que mais se tem visto é o surgimento da chamada sociedade de risco, conceito que, invariavelmente, tem propiciado a existência de riscos sociais, políticos, económicos e mesmo individuais. Junte-se a este caldo, característico da sociedade dita moderna, o abandono da tradição que funda solidariedade de interesses, união de pessoas ligadas por ideias .ideiasou por algum objectivo comum. Os exemplos de sociedade disfuncional assentes nas circunstâncias enunciadas, são muitos. Parece tratar-se de uma sociedade virada para o espectáculo, mas com cenas muito tristes e cada vez mais fora do controlo das pessoas, das instituições, dos governos. Afinal, é espectáculo que irrompe na continuidade da modernização que é cega e surda aos seus próprios efeitos e ameaças. Quase apetece dizer que, perante tal cena, estamos todos a viver o ‘regresso da incerteza à sociedade”. Sendo certo que não tenho soluções que minimizem a perturbação do funcionamento das nossas sociedades, o que de resto não me causa estranheza sendo eu quem sou, nem por isso deixo de cismar sobre as razões que nos conduziram ao estado presente. Estudiosos do assunto apontam inúmeras causas que justificam o facto da sociedade moderna se ter tornado um tema e um problema para ela própria. Quero acreditar que a resolução de todas estas dificuldades se faz no dia-dia e com a ajuda de quem melhor sabe enfrentar a equação. Mesmo assim, continuo a pensar que falta uma variável na expressão. Aquela de que tenho vindo a falar; não destradicionalizar, julgando-se com isto estar-se a evoluir. Conseguir que as situações da vida humana sejam controláveis, com racionalidade, com vista a um futuro mais risonho, só será propósito ao nosso alcance se os elos da tradição e do que há-de vir se entrelaçarem. Se assim não for, tudo o que o tempo que vivemos nos pode oferecer, são equívocos difundidos.
Mário Rui

quarta-feira, 17 de abril de 2013

terça-feira, 16 de abril de 2013

Boston, Abril 2013- de novo o terror!
































A verdade é que a sociedade moderna não acredita que possa estar em segurança sem, consciente ou inconscientemente, tomar medidas para salvaguardar essa segurança. Estas medidas significam, antes de mais, a orientação e a vigilância da conduta humana; significam controlo social. Este, por sua vez, pode ser exercido de duas maneiras. Podemos colocar as pessoas numa situação que as impeça de fazer coisas que não queremos que façam; ou colocá-las numa situação que as encoraje a fazer coisas que queremos que façam. Não queremos que certas coisas sejam feitas por serem julgadas prejudiciais à ordem social. Desejamos que outras coisas sejam feitas porque julgamos que irão perpetuar e revigorar a ordem social. Quer queiramos evitar a conduta indesejável quer queiramos incentivar a acção desejável – proporcionar as condições apropriadas é a tarefa crucial. Mas esta tarefa divide-se em duas: a prevenção e o incentivo. A prevenção é o objectivo da administração, se existe razão para se crer que, deixadas ao seu critério, as pessoas se comportarão de maneira contrária à conduta que a manutenção da ordem social exige. O incentivo é o indicador, se acreditamos que outras pessoas, se lhes for dada oportunidade, optarão por acções que julgamos irem reforçar a devida ordem das coisas. É a isto que diz respeito a oposição entre heteronomia e autonomia, controlo e auto-controlo, arregimentação e liberdade.

Zygmunt Bauman

Mário Rui

domingo, 14 de abril de 2013

O povo que definha!





































Estas decisões, mesmo se percebidas, participam de um mundo onde a 'violência' causada aos fracos já não visa um inimigo declarado, a dívida, mas visam, antes, declarar um inimigo. O povo que definha! É isso mesmo, esta gente ainda não percebeu que o modo de ultrapassar dificuldades posto em prática, só encoraja o desencanto das pessoas e só prepara a sua ingratidão futura. Há-de haver uma ética mínima, o povo está farto de desordem governativa, de anarquia e de medidas utópicas, já que impossíveis, que o matarão à míngua. Estamos cansados da facilidade com que se diagnostica e muito mais do modo como se aplica. O dever-fazer imperioso tem sempre alternativas que a todos devem tocar. Poupem os que menos podem e lembrem-se que já são muitos os desesperados. Há os outros, os que ainda não se sacrificaram por coisa nenhuma!

Mário Rui

sábado, 13 de abril de 2013

O sonho da reforma ou a reforma do sonho.



















O sonho da reforma ou a reforma do sonho. O último estádio da amputação do nosso esforço de gestão participativa

"As opções podem incluir a aplicação de uma tabela salarial única, a convergência da legislação laboral e dos sistemas de pensões do setor público e privado", escreveu Pedro Passos Coelho, numa carta enviada na quinta-feira ao Fundo Monetário Internacional (FMI), à Comissão Europeia (CE) e ao Banco Central Europeu (BCE). ‘Jornal i’


 
De facto convém mesmo mudar esta gente, este sistema, este regime, este modo de fazer política (ler aqui). Todo o mundo sensato já há muito percebeu que o fosso em que nos meteram tem, e deve, de ser pago aos que nos resgataram. Mas não se julgue que por piedade quanto aos mais desfavorecidos, estes resgatadores de almas, os de dentro e os de fora, nos vão ajudar verdadeiramente! Até nos podem remir, mas sempre e só a troco de dinheiro, de presentes envenenados, de vidas extorquidas a quem julgou estar a erguer uma pátria digna desse nome. Nós! A quarta pessoa que, em primeira análise, a única que se deve fazer, retrata uma ou mais gerações perdidas de um Portugal que jamais se erguerá entre as brumas da memória. Simplesmente finou-se! Como diria Alfred Keil, sendo que agora é também tempo de o contrariar, já nem os raios de uma aurora forte, que eram como beijos de mãe que nos guardavam e nos sustinham contra as injúrias da sorte, já nem esses, nos enchem de esperanças. Aos juízes que confirmaram a inconstitucionalidade das leis e que de facto não assinaram qualquer resgate com a troika, não podem ser endossadas culpas pelo estado a que outros nos votaram. Não nos distraiam os políticos com falsas histórias quanto à actuação do TC. O único pecado que lhe atribuo está no facto de aceitar a indigitação partidária para tão alta e nobre missão. Jamais assim deveria ser uma vez que, nestes termos, fica muito triste a condição de um sábio velho que se fez recomendável pela sua ciência e longevidade, mas quase tudo deita a perder quando aceita a má companhia de certos políticos julgados finórios. O Tribunal tem de ser mais que isso! Não poder ser a blindagem de uns tantos interesses partidários, mas antes o fiel depositário das justas aspirações de quem mais sofre. Independente da cáfila da desventura portuguesa. Só espero que no futuro, essa genuína maioridade que a todos aproveita e na qual ainda acreditamos, ainda que dela já desconfiemos, se livre dessa canga de bois que tudo reprime, tudo força e só nos oferta sujeições. A política que nos governa há tantos e tantos anos. Está aí mais uma derrocada social perpetrada pelos mesmos de sempre e com a assinatura dos mesmos de sempre: Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia, Banco Central Europeu e, por fim, apesar de não menos importante, governo português. Os nossos ‘amigos’ resgatadores devidamente acompanhados pelos abusadores de nós próprios. Destinatários de mais esta injustiça? Os mesmos de sempre, os que trabalham. Mas antes de prestar informação concisa e amiga a estes últimos, convém sempre pedir licença aos reais donos do país. Triste gente esta, a do nosso governo. Gente vassala! A que se subjuga pacificamente, tudo come e tudo cala e nos come as papas na cabeça. E ainda há quem diga que a indignação não nos paga a dívida. Pois não! Então fiquem-se esses que assim entendem, carregados só de frustrações e ressentimentos e continuem a criar apenas momentos de interpretação deste tautológico saldo contabilístico. Não tirem é aos espoliados o devir, a justeza do protesto! Quanto ao mais, sempre convirá lembrar que já vimos o que nos deram, até hoje, os figurantes que seguraram este infausto poder. Entrincheirados como estamos entre estas duas ou três eternidades que se alternam e sem resultados a contento dos que precisam, talvez seja altura de as varrermos de vez de cena. Há outras realidades e de uma coisa eu estou certo: pior não farão certamente. Já não é possível. Ora, assim sendo, só podemos contar, mesmo que em pequena dose, com melhor. Só falta abrirmos portas diferentes. Façamo-lo!

Mário Rui

sábado, 6 de abril de 2013

A conquista















Pode ser por breves instantes, não importa, mas a verdade é que quando o ego de muita gente se enche de alegria, é sinal que quase todos perceberam a hora da feliz emoção . Até quem perde reconhece a alegria da conquista, ainda que de outro, sabendo tratar-se de um direito que não pode ser negado ou vendido. Sendo pertença de quem o merece, nunca pelos outros deve ser condenado ao alheamento. Afinal a  pergunta é; qual pode ser a contribuição do momento bom da coisa conquistada? É simples! Mesmo quem morre de sede pode sempre dar passos a caminho de uma fonte. Em qualquer actividade humana. Até no futebol.

Mário Rui

Onde está o leme?


















De Sócrates a culpar Cavaco pelo fim do seu governo, de Cavaco a não pedir a fiscalização preventiva, a tempo e horas, do Orçamento, de Catroga a receber 430 mil euros pela EDP em 2012 até Mexia que arrecada 3,1 milhões, passando depois por Arménio que quer a cabeça de Passos, não esquecendo o Tozé que fala na aparição de “um novo Abril” e na promessa de que vai governar para os pobrezinhos, incluíndo o Tribunal Constitucional que deixa o país em suspenso, qual orgão político a decidir sobre o futuro de Poor...tugal, até ao novo aumento ilimitado de impostos que aí vem e atravessando a burra ideia de que o importante é fazer assim em vez de reduzir a despesa pública, tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado. Que grande mulher, ao estilo dos melhores pensadores deste século, Amália pensou mais; «perguntaste-me outro dia se eu sabia o que era o fado. Disse-te que não sabia. Tu ficaste admirado, sem saber o que dizia. Eu menti naquela hora. Disse-te que não sabia, mas vou-te dizer agora...» É o manicómio que passou a ser gerido pelos seus utentes, entrou em auto-gestão, organização do rodízio para despejar o urinol - dito mesmo assim, grosseiramente. A conclusão é minha e não da fadista a que aludi. Desiludam-se os que julgam que finalmente se repôs a verdade dos factos, a justiça para os mais desfavorecidos, a inversão das más políticas governativas. Abril está à porta e mesmo os empregados e operários que valorizam a implicação pessoal e procuram um investimento útil no trabalho que os faça sair das trevas, mesmo esses, esqueçam melhores dias. Esta meia caridade agora nascida com laivos de ‘sentimentalo-mediática’ do T.C. não só nos deixa mais preocupados como, ainda por cima, vem agravar a nossa causa. O problema desta terra assenta no facto de já ninguém se achar capaz de dar rumo certo a qualquer política amiga e respeitável, tão-só porque já não existe mais nada no absoluto que sequer encoraje o homem público a devotar-se a qualquer ideal. Pessimista, profeta da desgraça, eu? Os exemplos falam por aí. Depois contraditem-me! E vem aí o Verão. O Verão, o cruel Verão que sob uma temperatura que alguns dizem ser de gestação, nos há-de obrigar a abrir ainda mais a camisa, a limpar o súor abundante do nosso descontentamento e a não encontrar refresco que nos alivie o peso de carregarmos um país ingovernável. É caso para dizer; o que é verdadeiramente inconstitucional é a bancarrota! Então clamemos pelos juízes do povo, não os que pensam que votando leis iníquas nos elevam à condição de gente com fibra, mas os que decidem que banir o narcótico mais eficaz para um cérebro em convulsão – a ilusão – é de facto a medida ideal, a acertada! E, deste jeito, o manicómio encerrará, por falta não de drogas desvairadas, mas de tolos que felizmente se curaram.

Mário Rui

quinta-feira, 4 de abril de 2013

I have a dream


Para que a memória não se apague - 45 anos depois.

4 de Abril de 1968: Martin Luther King é assassinado

"I have a dream that my four little children will one day live in a nation where they will not be judged by the color of their skin but by the content of their character".

Luther King

Líder da luta pelos direitos civis, Martin Luther King, 39 anos, foi assassinado com um tiro no pescoço. Encontrava-se sózinho na varanda do hotel em que se hospedara, em Tennessee, quando foi alvejado. Conduzido imediatamente ao hospital, morreu instantes após ter sido internado, sem dizer uma só palavra, nem esboçar qualquer gesto.

Recebeu postumamente a Medalha Presidencial da Liberdade em 1977 e a Medalha de Ouro do Congresso em 2004; O Dia de Martin Luther King Jr. foi estabelecido como sendo um feriado federal dos Estados Unidos em 1986. Centenas de ruas nos EUA também foram renomeadas em sua homenagem.
Mário Rui

Apropriados abandonos

























Miguel Relvas pediu a demissão do cargo de Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares. Boa notícia, para que se instale, ainda que de forma ligeira, algum decoro pessoal por parte de quem se achava capaz de governar o que quer que fosse. Não sei se a demissão se ficou a dever às trapalhadas da ‘licenciatura’ ou então, o que acho altamente improvável, à tomada de consciência da sua própria incapacidade para o desempenho do cargo que outros lhe confiaram. Se a razão radica na primeira hipótese, então devo desde já acrescentar que não é por isso que lhe tiro o chapéu. Afinal há por aí montes de outros iguais, ou piores, a começar por Sócrates e licenciaturas ao domingo sendo que, neste caso, não só não teve a coragem de fazer as malas a tempo e horas, como também foi intérprete de trapalhadas mil. Feio, igualmente muito feio! Não conseguindo ver, neste particular, diferenças entre os dois, apenas me resta a alternativa de os considerar iguais; gente que julga que o seu mérito é superior à sua sorte. E não é! Invariavelmente acabam mal e disso mesmo já deram exemplos de sobeja. O mundo actual privilegia o desenvolvimento destas dimensões anacrónicas, sacrificando muitas vezes, no altar do progresso material, numerosos valores morais. Mas não são casos virgens, os referidos. Há muitos mais que concorrem para o processo intentado contra a defesa de valores sérios. E há também muita gente a desmistificá-los, a relativizá-los, o que por si só retira toda a fundamentação ao dito quadro de valores que, isso sim, deveria servir de base a qualquer acção humana e muito especialmente às acções de quem se diz legitimado através do voto popular. Retomando então a notícia inicial, julgo que a saída de Relvas se fica a dever, não ao reconhecimento da sua incapacidade para levar a ‘carta a Garcia’, perante um auditório de tolos até os néscios fecundam, mas antes à vergonha que dele se apossou, e bem, tantas foram as abstracções, os erros e as discórdias que alimentou. Daí que seja agora altura para lhe desejar boa viagem e com bilhete único. A ele e já agora aos que, como ele, encerrados num egoísmo corporativo estúpido, nos deixaram ao sabor das ditaduras partidárias que tudo cobrem, encobrem e perdoam. Mesmo com a saída deste e já que outros infelizmente retornam, acho que estas ‘obras artísticas’ a que me refiro não vão dar melhor estetização ao nosso quotidiano. Seria necessário muito mais.

Mário Rui