quinta-feira, 4 de abril de 2013

Apropriados abandonos

























Miguel Relvas pediu a demissão do cargo de Ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares. Boa notícia, para que se instale, ainda que de forma ligeira, algum decoro pessoal por parte de quem se achava capaz de governar o que quer que fosse. Não sei se a demissão se ficou a dever às trapalhadas da ‘licenciatura’ ou então, o que acho altamente improvável, à tomada de consciência da sua própria incapacidade para o desempenho do cargo que outros lhe confiaram. Se a razão radica na primeira hipótese, então devo desde já acrescentar que não é por isso que lhe tiro o chapéu. Afinal há por aí montes de outros iguais, ou piores, a começar por Sócrates e licenciaturas ao domingo sendo que, neste caso, não só não teve a coragem de fazer as malas a tempo e horas, como também foi intérprete de trapalhadas mil. Feio, igualmente muito feio! Não conseguindo ver, neste particular, diferenças entre os dois, apenas me resta a alternativa de os considerar iguais; gente que julga que o seu mérito é superior à sua sorte. E não é! Invariavelmente acabam mal e disso mesmo já deram exemplos de sobeja. O mundo actual privilegia o desenvolvimento destas dimensões anacrónicas, sacrificando muitas vezes, no altar do progresso material, numerosos valores morais. Mas não são casos virgens, os referidos. Há muitos mais que concorrem para o processo intentado contra a defesa de valores sérios. E há também muita gente a desmistificá-los, a relativizá-los, o que por si só retira toda a fundamentação ao dito quadro de valores que, isso sim, deveria servir de base a qualquer acção humana e muito especialmente às acções de quem se diz legitimado através do voto popular. Retomando então a notícia inicial, julgo que a saída de Relvas se fica a dever, não ao reconhecimento da sua incapacidade para levar a ‘carta a Garcia’, perante um auditório de tolos até os néscios fecundam, mas antes à vergonha que dele se apossou, e bem, tantas foram as abstracções, os erros e as discórdias que alimentou. Daí que seja agora altura para lhe desejar boa viagem e com bilhete único. A ele e já agora aos que, como ele, encerrados num egoísmo corporativo estúpido, nos deixaram ao sabor das ditaduras partidárias que tudo cobrem, encobrem e perdoam. Mesmo com a saída deste e já que outros infelizmente retornam, acho que estas ‘obras artísticas’ a que me refiro não vão dar melhor estetização ao nosso quotidiano. Seria necessário muito mais.

Mário Rui

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