terça-feira, 26 de novembro de 2013

São as cores de uma vida





















Os lápis que nos riscam a vida. Escrevem-nos o que não somos capazes de guardar tão-só na mente. A cores, a traço fino ou grosso, eis que assim se define no papel uma terrena existência. Não sei se em sítios mais vagos, talvez não menos importantes, a linha não será em tudo igual. Corrida, igualmente colorida e com fim marcado. Pode ser ténue a sua impressão mas não importa; fundamental é que deixe rasto, coisa que se veja e, se possível, algo que pinte marca. Distintiva do que somos e muitas vezes não parecemos. São as ilusões do colorido que dão pitoresco à nossa passagem pelo fio do tempo. Quando o colorido e o brilho se juntam, as possibilidades são infinitas, ternurentas. Eu sei que os filósofos da antiguidade ensinavam o desprezo pelo trabalho e se o fizeram foi porque nunca acharam a verdadeira cor da cor. Disseram que o trabalho das cores e dos afectos eram um travão às nobres paixões dos homens. Sempre me pareceu estarem errados já que paixões são ofícios divinos e, quando se está na ordem dos deuses, pode-se pintar o que se quiser. Apenas são necessários os lápis, os pintores, o tema, e depois então vem o resto das profissões; de governantes, de polícias, do clero, da magistratura, dos exércitos, da prostituição, das ciências, mais os juros e os dividendos. Ò concorrência absurda e imoral, como é colossal essa diminuição da cor. Todos se rodearam de pretorianos mantidos numa improdutividade laboriosa. Apenas para reprimirem o inimigo interno; o lápis e a cor! Colorido é que é bom. Quem não pinta, não come.

Mário Rui