Umas
vezes tirano, outras amigável, é assim o ‘feicebuque’. Em certas ocasiões
encarnação da sedução, esbanjando simpatia, docilidade e alegria, no mais dos
casos pronto para sentenciar o fim do outro. Se calhar, uma diversão que jamais
sacia. Que coisa louca, diria a minha avó, e não sei se com toda a razão. E
então se soubesse como é possível transformar um contacto único numa olimpíada
de beijos, dir-me-ia certamente para ter cuidado com os que me querem impor
goela abaixo misérias embelezadas. Porque assustadoramente livre, esta rede sem
rede, talvez ainda me lembrasse da necessidade de não fazer parte de um rebanho
de presas fáceis. Mas pronto, lá vou eu subindo a ladeira do progresso,
supersticioso, de quando em quando crédulo, inabalável e não raras vezes com o
orgulho às avessas. Mas é preciso viver o progresso, andar nesta lambança ora
tosca e vazia, ora nesta senda dos autoproclamados progressistas. Há que viver
todas estas banalidades e convocá-las, enfim, para o desafio que é o entusiasmo
de viver neste tempo. Em não sendo possível imitar um passado também ele
cenograficamente recheado de outras coisas boas, mas cada vez mais distante de
qualquer tipo de realidade, melhor será, se saudade houver, parar um pouco para
o rever. É coisa simples de fazer. É só um pequenino momento para a ressaca do
que se foi pois o passado nunca está concluído. E não obstante tudo, ainda quer
pôr no mundo um querer. E se um dia o presente me perguntar o que foi o
passado, falo-lhe de uma claridade velada que amaciou relações cheias da
mansidão benévola dos sãos. Fiz-me no tamanho dele e comigo ele foi a toda a
parte. Na sua bonomia de velho, deixou-me as portas abertas deitando correntes
de ar, espargindo vontades e forças na azáfama dos prazeres mais em voga ao
tempo. Esses prazos antes do presente tinham olhos que não mentiam no que
deixavam adivinhar. Mas não é por isso que deixo de gostar do presente. Tenho
medo é do futuro.
Mário
Rui
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