quarta-feira, 9 de maio de 2012

Um fim amargo





















Lembro-me bem: era uma noite quente de Verão quando nos beijámos na praia. Sentia-me confiante, seguro e talvez por isso não tenha perdido tempo. Não hesitei. Acabei por partilhar contigo as minhas paixões e motivações e tu as tuas. Atraía-me o teu cheiro, a forma como te vestias e como parecias tão genuína naquilo que dizias e fazias.

As SMS no final da noite já a caminho de casa, as mensagens no vidro embaciado do carro, as surpresas a meia da noite, tudo fazia parte da forma como eu encarava a nossa relação. O problema é que eu a encarava não como ela era na realidade, mas como eu desejava que ela fosse.

A pouco e pouco a verdade dos teus actos e das tuas palavras deixou de fazer sentido, mesmo que eu não quisesse nunca acreditar nisso. Custava-me acreditar nisso. E um dia, sem que eu quisesse acreditar também, despediste-te de mim e abandonaste os sonhos e as pontes que tínhamos construído para atravessarmos os dois os pontos longínquos que davam para o nosso futuro.

Disseste-me fria e cruelmente que não dava mais e deixaste de estar ali presente. Por isso pensei baixinho “vai à merda!”, querendo convencer-me de que isso me fizesse deter a raiva que passava a sentir por ti.

Eu sentia-me bem na pele de protector e sentia que tinha de cuidar de ti, das tuas fragilidades e inseguranças. Talvez por isso tivesse doído mais. Mas agora estou bem! E apesar de já cá não estares ainda continuas presente - tão presente. E quando tento tocar-te ou alcançar um pedaço que seja de ti, dou por mim a arrastar inutilmente o braço e o corpo, mas sempre sem te conseguir chegar.

Demasiado tarde percebi que tentações já não havia. Deixara de haver. Tudo deixara de haver. E como continuo sem te conseguir tocar, penso invariavelmente “vai à merda!”. Afinal a única tentação eras tu. E talvez ainda sejas!

Rui André  (in http://achobem.tumblr.com/)

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