sexta-feira, 1 de maio de 2020

Dos muitos “ólogos” do meu país vendedores de fumos e lumes correlativos


É só ver qual deles chega primeiro.

E entretanto chegaram os ideólogos e com eles veio aquele fragor de um choque de ambições e interesses pessoais. Não se fizeram rogados os tudólogos. O seu poder de acção e contágio tornaram-se formidáveis, avassaladores. Vibraram poderosas as suas vozes, magneticamente mesmo. Iguais à voz que saiu da boca dos Apóstolos. Os optimólogos, como a claridade de uma aurora nova, levaram-nos a um raiar afinal igual ao anterior. Às vezes, é bom comparar. Os colapsólogos disseram-nos que vinha o caos. Até o próprio ar que se respirava ia mudar. Já do Céu, juravam, ia ver-se perdido. Chamaram então o ferreiro, julgando-o meio astrólogo, e encomendaram-lhe um corisco novinho em folha. Mudava-se o firmamento, havia novo farol e a navegação passava a guiar-se de noite e de dia da janela deste, que afinal era tecnólogo. Pediu-se depois um fisiólogo, acabadinho de publicar um estudo muito interessante sobre as funções sociais dos treatólogos de hoje. Leram-no os sociólogos e disseram que andavam por aí demasiadas cenas de carregar pela boca. Concordou o filólogo ao alvitrar que a língua da obra era coisa de andar por casa. Ripostou o grafólogo, irritado, quando garantiu que também servia para andar na rua, mas para isso era preciso levá-la. Mas má-língua na rua, como afiançou o ecólogo que na língua papas não tinha, era coisa para fazer só meio-ambiente. Foi quando entrou o geólogo. Para mim, disse ele, já descemos tanto na análise que o melhor é levá-la ao teólogo. E a análise lá foi mas saíu como entrou. Não era aquele o esperantólogo que lhe convinha. Para análise certeira, alguém sugeriu, é chamar o futurólogo. E chegou o dito e disse; - tenho noventa e cinco anos, mas ainda estou em excelente estado de conservação. Para adivinhar é que não. Peçam antes ao pensólogo, ao seu homólogo, ao opinólogo ou mesmo ao sabinólogo. Esses é que entendem da poda. De repente, sai sem se saber donde um acertólogo que logo resolve a dificuldade e assevera; - tenho a solução! Convidem um anatólogo que eu cá sei e é trigo limpo, farinha Amparo. Impávidos ficaram todos os outros “ólogos” e pediram-lhe melhor explicação. É fácil - disse ele. É um anatólogo tão brilhante, professor na Faculdade dos Mentólogos, que colecciona abortos, alguns dos quais são já hoje seus colegas de cátedra. E tudo ficou esclarecido. E mais! Todos os “ólogos” do país ficaram ainda mais sabichólogos. Finalmente a República podia dormir. Reinava o sossego, e com sapiência. Boa noite.



Mário Rui
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