domingo, 1 de fevereiro de 2015

Sussurro Descuidado


 
 
Uma, duas ou três nostalgias que embirram com a sombra dos dias cinzentos de chuva. Cinzentos que de nada servem para crestar a vida e lá caem as folhas secas que o vento desprega dos ramos. Às vezes são lufadas do nordeste, sopros de maus instintos, e é aí que mais toca a necessidade de um furor de aventuras, ânsia de que se fazem os gozos dos dias abertos e quentes. Chuva não é coisa que espicace curiosidades e frio também só serve para penetrar carnes. Nada disto é enlevo e só faz dos dias causa rasa de quietação plena chocada pela sinceridade do agreste que não ajuda à impaciência. Inverno, é coisa séria. Olhos no chão, mordidela no lábio e lá vamos como quem reflecte no cair da tarde, sítio onde o Sol não aparece, não mergulha no mar e cerco onde a sua grande riqueza de pinturas não sobressai. Valha-nos aquela música onde se pode lamber mel. Poeta? Não! Só raios quiméricos, galhos de uma faina de fortuna que tarda em chegar, quando muito também morna modorra de noite que se apresta afogando-nos a face no desaforo escuro e frio de invernosa desafinação. E depois? Bom, talvez amanhã haja arraial de baladas candentes, faço os meus arranjos e para lá devo ir.


Mário Rui
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