domingo, 26 de junho de 2011

Adriano Correia de Oliveira - Menina dos olhos tristes


Escapei, por um triz, à marcha inexorável da Guerra Colonial. Vivi, muito de perto, a angústia de quem partia e de quem ficava. Emocionei-me com o choro de pais e combatentes que, resignados a uma verdadeira necessidade nacional - em que realmente não acreditavam e ainda bem –, se desligavam da família como se uma fina lâmina de aço os separasse para todo o sempre.

Interrogava-me então a propósito do sentido da arma apontada ao «inimigo». Por toda a parte se pregava uma piedade, e esse papel também a Igreja o desempenhou quantas vezes para a elevação transcendental do supremo disparate e escárnio geral.

Ouvi ainda os gritos de comando que cercavam pelotões de jovens (como os meus e os teus filhos), verdadeiros uivos, que arrogância, que sarcasmo nessas vociferações. E lá rumava p´ro longínquo, com que desprendimento, o barco que havia de ir salvar a Nação.

Tocou-me profundamente todo este desespero da guerra, dos guerreiros, dos que acautelando melhores dias por cá ficaram e desarmados. Desses, muitos, acabaram por perder o pé e a fé. Ainda hoje está por pagar uma dívida de gratidão a essa geração de homens, apenas dependentes uns dos outros, em redor dos quais tudo, ou quase tudo, se tornou tragédia. Quem, em prol da sua boa reputação, não se sacrificou já uma vez?

Mas saber suportar a revolta, revoltando-a, combatendo os hábitos, as crenças más e apesar de tudo conservando a sua boa consciência, é igualmente digno de apontamento.
Obrigado Adriano Correia de Oliveira.

Grandes homens.

Mário Rui


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