quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

O primeiro amor


Dizem que não há amor como o primeiro, que é esse que nos tira o sono e dificulta as palavras quando o encontramos outra vez ao virar da esquina. O primeiro amor persegue-nos, lembramo-nos dele ontem, hoje e amanhã, mesmo que tenham já passado dez ou quinze anos. O primeiro amor não pede licença e afoga-nos com recordações que julgávamos perdidas, com lembranças guardadas na gaveta que pensávamos fechada, com as fotografias que nunca tirámos da parede do quarto. Dói pensar no primeiro amor porque foi esse que nos deu tantas alegrias. Era esse amor que nos fazia completos e nos fazia crer que tudo o resto não importava.
Pode até haver amores melhores, maiores ou amores assim-assim, mas não há nada como o primeiro amor. O primeiro amor faz-nos pensar no que poderia ter sido feito e no que ficou por fazer, no que poderia ter sido dito e ficou por dizer. Faz-nos deitar a cabeça na almofada e desejar entrar num mundo que queríamos que voltasse, aquele mundo que só o primeiro amor tornava especial. Lembrar o primeiro amor é como andar de montanha-russa, é confuso e extenuante, é cair e ter dificuldade em levantar, é levar safanões que nem sabemos de que terra somos.
Ouvir o nome do primeiro amor é agitar águas passadas que julgávamos paradas, é receber aquele clique no coração e pensar “outra vez não!”. Quando se pensa no primeiro amor, o tempo pára e o mundo recolhe à sua insignificância. Quando se pensa no primeiro amor a música naquele bar deixa de fazer sentido para só ouvirmos os ecos das lembranças passadas.
O primeiro amor deixa-nos vulneráveis e com preguiça de virar a página e seguir em frente porque aquele amor é que era o tal. Deixa-nos bem um dia e tristes noutro, porque não há nada como o calor do primeiro amor e como a dor gélida de o ver partir. E porque em cada novo amor há sempre migalhas do primeiro que nos esquecemos de sacudir.
Dizem que não há nada como o primeiro amor…

Rui André de Saramago e Sousa da Silva Oliveira

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