quarta-feira, 20 de abril de 2011

Palavras ou silêncios. Para que vos quero?

Está sol e ao mesmo tempo o meu país está pintado de negro. Negro! Já não quero saber de quantos anos de opulência, incompetência, agiotagem, seja lá do que for, mas negro. Ainda assim os nossos políticos ora sorriem e falam demais, ora permanecem mudos e de rosto quase sempre sisudo. Não me agradam nem uns nem outros! Os primeiros porque passam a ideia de que nada de anormal está a acontecer. E se nada de anormal acontece, então agitem-se as bandeiras, batam-se as palmas, cantem-se loas ao supremo líder. Esbocem-se sorrisos de orelha a orelha e, já agora, solidariamente e a uma só voz, grite-se “Zé, o Partido está contigo…”. Com tal veemência até pode transparecer a ideia de que este é o caminho certo. Mas não é! Desiludam-se os que são coagidos a pensar que sim. É tudo pura encenação, mais parece uma convenção à americana, um cenário hollywoodesco. Afianço-vos que assim não vamos lá. Pela minha parte teria preferido discursos sensatos, calma e menos cor na sala, reflexão quanto baste e acima de tudo consciência de que temos um País adiado. Mas é mais fácil acreditar do que pensar. Daí existirem muito mais crentes que pensadores.
Quanto aos que permanecem mudos, o que poderemos nós dizer? É assim que se motiva um povo, uma gente que procura o norte? Com certeza que não! Ficar quedo e calado face ao descalabro em que caiu este Desportugal não ajuda à auto-estima nacional. Presidente que se preze não engole as palavras, não cala as verdades, até porque as verdades que engolimos sempre nos envenenam. Mais tarde ou mais cedo.
Mas é isto que temos. Resta saber se é isto que merecemos. Sou dos que acreditam que, bem vistas as coisas, este é o nosso fado. Tão-só porque pouco ou quase nada fizemos para mudar a letra da canção. Sempre apoiámos péssimos cantores, razão pela qual nunca ganhámos um primeiro lugar. Ou me engano muito ou, por este andar, jamais o conseguiremos.
Pode vir hoje o FMI, amanhã o F.B.I. – eu trocava, que jeito que dava – mas enquanto nós mesmos continuarmos estáticos e nada fizermos, tudo ficará igual. Ouvimos o que não queremos e de quem quer que seja. Dos que estão cá dentro, dos que enviam recados do exterior, de comissários políticos que não eleitos nem pelos vizinhos de bairro, da soviética Angela Merkel, que cresceu na RDA e entrou para a política por ocasião da queda do muro. Fala grosso, agora, qual Cleópatra rainha do Egipto. Bastaram-lhe vinte anitos de política e não sei quantos de democrática vivência na Alemanha de leste para ditar leis ao velho continente. Na prosperidade a mulher esquece aquilo que foi.
Quem sabe se tudo isto se teria evitado se há muito tempo tivéssemos dado ouvidos a Fernando Pessoa:
«…há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.»
A tal travessia ainda pode ser feita e de muitas maneiras. Protestando, chamando à liça a indignação, não desconstruindo o que edificámos por quase 900 anos de história. Mas também a escrita faz da palavra uma nova autoridade, trazendo consigo uma mensagem e um poder enormes. Escreva-se!
Ostentar o verbo sobre a nudez forte da verdade, estender o manto diáfano da fantasia política sobre a minha gente, isso é que não vai ajudar à travessia. Ao invés, ficar calado também não é respeitar a liberdade e a decência de quem luta por um país melhor, o zé povinho.
Ao que fala demais e ao que nada diz, conviria lembrar que este zé povinho não é uma claque mas antes uma Nação.


Mário Rui

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